domingo, 22 de outubro de 2017

MACÁRIO - Capítulo 20: "As Inacreditáveis Noites Seguintes VII"

Olá.
Duas semanas depois, domingo, é dia de episódio inédito de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO. Os riscos agora são maiores depois que resolvi eliminar o aviso de classificação do blog para adultos (segundo as políticas do Blogspot). Ainda mais em tempos de discussões sobre o que é ou não é arte, Queer Museu e limites entre arte e pornografia... Este autor está correndo riscos. Mas corajosamente coloca o capítulo no ar...
ATENÇÃO: leitura terminantemente não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de sexo, consumo de drogas, estupro, violência (mas sem incitação às mesmas) defenestração (ato de jogar pessoas ou coisas pelas janelas) e autoflagelo.



Abro os olhos devagar.
Sob minhas pálpebras, passava uma fraca luminosidade filtrada, aquela sensação de que acenderam a luz do meu quarto – ou talvez o dia já havia clareado, e estava entrando pela minha janela – que eu tinha certeza de ter fechado.
O rádio estava ligado baixinho, transmitindo uma música de saxofone; mas ouvi uma voz se sobressaindo à música. Uma voz feminina.
- Macário? Acorde, seu preguiçoso... nyah...
Ei: tem uma garota no meu apartamento?! Como é que ela entrou...
Mãe, é você?! Você apareceu de surpresa para me visitar?...
Não, não é a voz da minha mãe. Então...
Vi... Viridiana, você já voltou da viagem?
Não... Não era a voz da Viridiana, nem da Maura, nem da Créssida, nem da Geórgia... nem de nenhuma outra garota que eu pudesse lembrar – não dei cópia da chave do meu apartamento para nenhuma delas. Era uma voz mais aguda e melíflua, miada. Já havia ouvido essa voz uma vez, mas, de onde mesmo?
Aí, senti que havia alguma coisa em cima de mim, pesando sobre minhas pernas. E essa coisa se mexia, pulsava.
A primeira coisa que distingui, ao abrir os olhos, foram dois olhos felinos.
Dois olhos de gato em uma face humana, feminina e sorridente, quase apoiada sobre mim.
Sento na cama, assustado, e a criatura quase cai para trás. Mas...
Ei, meu quarto! Este não é o meu quarto! Este...
Eu tinha certeza de que havia deitado em minha cama, verificado tudo antes de deitar, jogado minha colcha em cima de mim...
A luz estava acesa. E...
Olho em volta: ei, este é o meu quarto, sim! Reconheci a coberta que me cobria, o roupeiro, a escrivaninha, o despertador, marcando dez da noite... Dez da noite?! Fui deitar eram sete horas da noite, mais ou menos... E... é meu quarto, é, sim. Tudo reconhecível, tudo no lugar... A única coisa que havia de diferente no cenário era...
...uma garota, sentada em cima de mim.
- Mas que p... – fui dizendo. Mas a garota, sempre sorrindo, me interrompeu:
- Ah, acordou, hein, seu preguiçoso? Nyah...
Ei: eu conhecia essa garota! Era...
Era a... Fifi!!!
Eu só a havia conhecido melhor na noite da exposição do Marto Galvoni, ela resolvera acompanhar o trio Âmbar, Morgiana e Andrômeda. Ela participava das festas que os “monstros” faziam no bar, mas ela sempre ficava misturada ao restante do pessoal, praticamente sumia no meio dos outros, inclusive ficava complexada por sua baixa estatura. Não fazia parte do círculo principal da turma do Luce, pelo que sei... Ela nem estava junto quando a máquina de chope foi instalada no bar... Mas...
- Dormiu bem, Macário?
- Fi... fi... fi...
- Sim, Macário, sou eu, a Fifi. E é só Fifi, viu? Não é “Fififi”... São somente dois “fi”, viu? Ah, ah...
Custei a acreditar. Esfreguei os olhos e constatei que era ela mesma. Philomene... ou melhor, Fifi. Mas... como ela veio parar no meu quarto?!
Ela estava sentada, em cima de mim, na cama. Aí, ela ficou em pé, ainda em cima de mim. E... ela estava vestida com roupas bem sumárias. Um... parecia ser um biquíni com textura de pele, duas peças, cinza-escuro. Na parte de baixo, no traseiro, estava grudada uma cauda de gato. E mais luvas compridas, meias até as coxas, também cinza-escuro, uma coleira, com um guizo e... pelo que parece, uma tiara com orelhas de gato, mas arranjada de tal maneira que a armação se escondia dentro do cabelo claro, liso, comprido e escorrido. E aquelas orelhas eram bem realistas, pareciam de verdade. Estava, desse modo, vestida como uma gatinha sensual. E... sensual era ela. Muito. Apesar da estatura baixa, ela tinha um corpo irresistível.
- Desculpa, Macário. Interrompi o seu sono?
- Fi... fi... Hum... Fifi! Mas como você veio parar aqui?!
- Este aqui que é o seu apartamento, Macário?
- Sim!
- Uau! Deu certo, então! Nyah...
- O... o que deu certo?
- O portal mental, Macário. Mas eu fiz um caminho inverso ao das outras. Ao invés de eu te trazer para minha casa, fui eu que vim para a sua! Nyah...
- Po... portal mental?!
- Sim. A nossa técnica secreta que estamos usando para invadir... a sua vida, seu gostoso. E pode crer, se a Âmbar, a Andrômeda e a Morgiana podem, eu também posso. E olhe, Macário, eu já vim prontinha.
E passou as mãos pelo corpo, mostrando as “vestimentas”, sensualizando. Aah, estava difícil me segurar. E não era hoje que eu ia entender esse lance de portal mental...
- Fifi...
- Diz aí, Macário... não sou boa para o sexo? Mesmo eu sendo baixinha?
- Fifi!...
- Aah, Macário, não me recuse, por favor... Já foi difícil conseguir que você reparasse afinal em mim... Por favor, diga que eu não sou de se recusar...
E já foi tirando o sutiã. Ai meu Deus, ela também tinha peitões! Aliás, ela tinha um perfil corporal meio atarracado, condizente com sua estatura: seios grandes, quadril largo, pernas grossas. Era uma versão ligeiramente miniaturizada de Âmbar e Andrômeda.
- Fifi... eu... eu não estou acreditando que...
- Pois acredite, Macário. – disse, sentando sobre minhas pernas novamente, apoiando-se em seus braços. – Mais da metade das garotas que aparecem no bar... elas estão doidinhas para ter uma noite com você. Mas que bom que os eventos estão a nosso favor... ou melhor, a meu favor... nyah... não tem ninguém para atrapalhar... nenhuma das suas namoradas humanas... podemos invadir sua mente e derrubar os limites entre a realidade e o sonho... Aah, Macário... sinta aqui... sinta...
E me fez apalpar seus seios. Eram bem macios. Fifi gemeu e miou bastante, não só quando apalpei, mas também quando avancei com minha boca nos bicos daquelas... daquelas... bolas de futsal. É, acho que foi o melhor comparativo. Bolas de futsal, é.
Estava acontecendo mais uma vez aquela loucura. E eu... eu não vou conseguir resistir. Macário, seu sortudo nojento, mais uma noite que você só pega mulher gostosa. Mas o que será que ela quis dizer com “suas namoradas humanas”?
- Aah, Macário... Nyah... você é tarado, hein? Já estou sentindo o teu p(...) levantar aqui, embaixo das cobertas... peraí... nyah...
E tirou a coberta da cama de cima de meu corpo. Não tinha como não reparar em minha ereção. Depois, tirou minha cueca. E se surpreendeu ao ver que eu já estava “animadão”. Mas eu vou tentar me controlar. Não vou me jogar em cima dela agora... porque de alguma forma sabia qual seria o próximo passo... ela vai...
Oh, Fifi, tira a mão daí... oh, não, a boca não... não faça isso... oral não... não passe a língua no meu... oohhh... não... não lamba o “picolé” desse jeito... eu vou “disparar” na sua boca... e não vai ser legal... pare... mesmo que esteja bom... pare, oh, pare, não, não, nãããããooooo...
Aarrrgh...
Foi o melhor oral que recebi até hoje! Não consegui impedir a “catástrofe”. Fifi limpava a boca suja de fluidos impuros, sujando as luvas escuras. E sorria.
- Uau... nyah... parece que você não recebia um b(...) há tempos, Macário...
- Ahh, Fifi... Não devia ter feito isso...
- Por que não? Você não gostou?
- Eu... adorei. Você sabe fazer... oral.
- É uma vantagem em ser baixinha. O p(...) fica mais fácil de alcançar sem precisar curvar tanto as costas, posso ficar em uma posição confortável... Ah, ah...
- Aah, mas eu vou precisar de um tempinho para me recuperar...
- Sem pressa, meu amor... enquanto isso... que tal ir fazendo outras coisas?
E tirou a parte de baixo do biquíni, com o rabo e tudo, e abrindo as pernas. Oh, céus. Ao contrário das outras, ela não depilava a virilha... ou melhor, só depilava um pouco em volta, reduzindo a penugem.
- Vem, Macário. Retribui.
Bem, acho que só me resta aproveitar. Já que eu conseguia sonhar com sexo sem acordar no clímax... mas algo me deixava um pouco apreensivo: de alguma forma, eu vou acabar sendo morto depois, para daí acordar. De alguma maneira, Fifi iria me matar depois que terminássemos. Mas...
Caí de boca nas “partes proibidas” daquela baixinha. E ela começou a miar, a gemer, a gritar, a tremer... o guizo da coleira tilintava sem parar... a música de saxofone no rádio adequada para a ocasião... os pelos pubianos faziam cócegas no meu nariz...
- Aah, Macário... aahhh, nyah... aahhh, não faça isso... ooooohhh... assim não... as-s-s-s-simmm nãããooo... nyah... aah-sim, aaaaahhh-sssiiiiimmmmm... uuuhhh... nyaaaahh...
Não demorou muito para ela gozar. Ela quase desmaiou. E olha que eu não apliquei nela minha melhor técnica de oral. Ela ficou deitada, respirando forte, exibindo aquele corpo irresistível. Não fosse aquelas formas voluptuosas, eu daria a ela muito menos idade, tipo, uns catorze anos. Eu já estava me sentindo um pedófilo asqueroso...
- Hmmm... nyah... – Fifi se recuperou. – Macário...
- Fifi...
- Foi gostoso demais... – e fez um som de ronronar de gato.
- Hm, Fifi... perdão a pergunta, mas... qual é a sua idade?
- Minha... idade? – ela se surpreendeu. – Bem, vou completar vinte anos daqui a quatro meses.
- Ah... é mesmo?
- Por que a pergunta, Macário?
- Hã... só para saber. Só para ter certeza de que... hum... não estou fazendo nada ilegal.
- Aah, Macário... por que essa preocupação? Nada ilegal. Eu sou mais velha do que a princípio se supõe. E você não é o primeiro que me pergunta isso... Estava com medo de estar fazendo sexo com uma... menor de idade, Macário? Ah, ah...
- Confesso que sim.
- Aah, Macário, eu pareço tanto assim uma menininha?!
- Bem, você parece ser bastante jovem... tenho de ter certeza que...
- Hmm, nyah... E qual é a sua idade, Macário?!
- Também vou completar vinte. Daqui a... dois meses. É. Dois meses.
- Aah... a diferença então é mínima.
- Puxa.
- E aí, Macário, o que vamos fazer agora?
- Eu que pergunto...
- Não vai continuar me “comendo”, Macário?!
- Eu... Espere aí...
E, delicadamente, removi de suas pernas as meias, de seus braços as luvas, de seu pescoço a coleira...
- Vou fazer você suar, Fifi. Melhor que não esteja com nada no corpo.
- Hmmm, Macário... Nyah...
Porém, quando fui remover a tiara com as orelhinhas, ela me impediu.
- Não, Macário! Não mexa nas orelhinhas. Por favor.
Mas eu me perguntava se aquilo era mesmo uma tiara com orelhinhas... porque aquelas orelhas felinas eram bem realistas. Será que elas não haviam sido fixadas de alguma forma em sua cabeça? Porque, mesmo com os movimentos que ela fazia com a cabeça, a armação da tiara não aparecia sob o cabelo... E, pensando bem, suas orelhas humanas sequer apareciam sob o cabelo... Será que... Hum... Não, vamos deixar para pensar nisso depois.
- Hum... está bem.
Ela levantou rapidamente e tirou o apanhador de sonhos do meu pescoço, jogando-o em um canto.
- Isto também vai atrapalhar...
- Oh.
Mas algo me dizia que não deveria ter feito isso. Mas essa voz se calou no momento em que Fifi abriu as pernas diante de mim.
- Agora me f(...), Macário...
- Espera...
E peguei uma camisinha na cômoda.
- Não, Macário, camisinha não...
- Já sei... você não está no período fértil e não tem nenhuma doença, né? – respondi, pensando no que Âmbar, Andrômeda e Morgiana também me disseram.
- Sssiiiiimmmmmmm... nyah... Com camisinha é tão chato...
- Mas...
- Não se preocupe, Macário, você não vai ter “gatinhos” se transar comigo sem camisinha hoje... Aah, não enrola, Macário... quero leitinho... dá leitinho para sua gatinha... nyah...
Fazer o quê.
- Está bem... mas... venha por cima, Fifi... – propus, pensando em nossas diferenças de altura; eu, mais alto, poderia machucá-la se fosse por cima; a cabeça dela iria bater em meu peito e dificultar sua respiração.
- Eu posso?! – ela pareceu feliz com a proposta.
E, sem se fazer de rogada, ela foi. O “bernardão” desapareceu dentro dela, deliciosamente. Fifi era apertadinha. E ela começou a se mexer, me estimulando.
- Macário... ahhh... nyah... me f(...) como um louco...
- Fifi... aahhh... você é tão gostosa... tão macia...
- Aahhh Macáriooohhh...
Minhas mãos passavam pelo seu corpo, apalpando aquela pele de textura aveludada.
- Oohhh... por que você dá tanta importância à sua altura?! Você já tem mais que o suficiente para deixar um homem como eu louco... Hmm... Esses seios... Essa bunda... Essas pernas... Essa b(...)!...
- Aah, Macário... fale mais... fale mais coisas sujas pra mim... me elogia... nyah... Eu vou te comer inteirinho...
- Eu é que vou te comer inteirinha... hmmm...
E foi apertando, estimulando, babando...
- Aah, nyaahhh... Aah Macário... Aaaaahhh Macário... MACÁRIO!...
Até que eu acabei gozando...
Cerca de meio segundo depois que ela gozou.
- MACÁRIOOOHHHHH...
Senti meu peito, onde suas mãos estavam apoiadas, sendo arranhado dolorosamente. E isso que suas unhas sequer eram compridas como garras, como as de Âmbar.
E Fifi caiu em cima de mim, ofegante, trêmula. O “bernardão” saiu de dentro dela, espalhando fluidos pelo colchão.
- Macário... nyaahhh... que gostoso...
- Hmm, Fifi...
Eu já estava feliz em ter lhe dado um orgasmo de primeira. Apesar do corpo já brilhante de suor, ela não dava sinais de que havia cansado. E, no rádio, que estranho, só estava passando uma programação de músicas para “ritual de acasalamento”... músicas de saxofone, das que costumam ser escolhidas para tocar em motéis.
- Quero mais... eu não vou te deixar dormir... nyah...
Mas eu estava trêmulo e ligeiramente esgotado.
- Fifi... tenha piedade de mim...
- Que foi, Macário?! – perguntou, notando que o “bernardão” já começava a murchar em sua mão. – Só aguenta uma?!
- Preciso de mais um tempinho para me recuperar...
- Hmm... Você precisa de mais um estímulo, isso sim... Peraí...
Ela alcançou a coleira do chão, apertou o guizo, abriu-o e dele tirou um comprimido.
- Tome isto, Macário. Sabia que seria útil trazer isto...
- O que é isso?
- Estimulante. É parecido com o satyricon que você tomou ontem.
- Isto é...
- Engula.
Será que acessar os tais portais mentais também envolvia acessar as lembranças das noites anteriores? Só assim para ela saber que andei tomando afrodisíaco...
E me fez engolir, sem água nem nada para ajudar a descer.
Aquele comprimido instantaneamente se dissolveu em minha saliva, e, descendo pelo meu esôfago, foi rapidamente absorvido pelo estômago, e aquela sensação de queimação que antecedia a virilidade voltou, percorrendo meu corpo inteiro. Uma descarga irracional de adrenalina. As energias foram renovadas. O “bernardão” aumentou de tamanho. Até rugi.
- Aarrhhh...
- Uau, Macário!...
Não conseguia mais pensar em nada além de f(...) aquela gostosa... O que estava acontecendo comigo?! Que substância era aquela?!
- Uurrhhh, agora sou eu que não vou te deixar dormir, sua...
- Aai, Macário, vem cá... me trata como uma p(...)
- Você que pediu...
E penetrei de novo nela. Desta vez, ela ficou de quatro. Depois, eu fiz ela sentar de novo sobre mim. E ela miava, gritava, gemia, suava, salivava...
E foram três vezes, três gritos de prazer que ela deu, uma porção de miados, até que eu caí para trás. E ficamos recuperando o fôlego. Daqui a pouco só falta os vizinhos começarem a bater em minha porta e esmurrar as paredes, pedindo para ficarmos quietos e acabar com aquela p(...)...
Eu, de repente, me senti trêmulo, fraco. Meu coração batia além de sua capacidade normal. Mal conseguia respirar. Parece que o efeito daquele estimulante durava menos tempo que o tal satyricon... com aquela outra substância, eu conseguia f(...) com três garotas por um espaço maior de tempo... mas, com aquele comprimido, e apenas uma garota...
- Oohhh... – gemi. – Agora esgotei...
- Aah, Macário... nyah... Não para, não... – gemeu Fifi, querendo mais, muito mais do que eu podia dar... – O estimulante não pode estar perdendo efeito agora... logo agora que estava gostoso...
- Tenha piedade de mim, gata... eu vou acabar morrendo desse jeito...
- Nunca! – ela gritou. – Eu ainda não estou satisfeita!
- Fifi...
- Exijo que você se recupere agora! E continue a me f(...)! Não vou admitir que você...
Estranhei aquela atitude. Ela ia me matar...
- Fifi, por favor...
- Vamos continuar... eu não vou deixar o teu p(...) murchar... só saio daqui quando estiver transbordando de “leite” pelas orelhas... eu vou... hmm...
E começou a fazer outro oral.
Não Fifi, pare... eu vou morrer desse jeito... aai, eu não vou aguentar...
Então vai ser assim que eu vou morrer hoje?! Amanhã o meu corpo vai ser usado na aula de anatomia do meu curso... e vai ser humilhante eles começarem a cortar meu corpo... com o pênis ereto!... Aah... eu vou... eu...
IAU!
Senti uma dentada violenta.
Dei um pulo para trás. E acudi o “bernardão”. Até Fifi acabou caindo para trás, no susto.
- Você... você me mordeu!!! – exclamei. – Você mordeu o meu p(...)!
- Opa! Foi sem querer, Macário... – ela se desculpou, sorrindo. – Mas será que assim ele não acorda? Ah, ah...
De repente, fui dominado por uma estranha sensação de raiva. Aquele sorriso sarcástico foi demais, sua tarada...
- Você me mordeu...
O sorriso de Fifi se desfez de repente.
- Me desculpa, Macário, eu não quis fazer isso... Foi sem querer, eu disse... – ela falou, me olhando com um olhar de medo.
Eu estava fazendo uma cara tão feia assim?
A adrenalina invadia meu cérebro. Uma sensação de raiva...
Ah, não, tem coisas que eu não admito. Uma delas é que mordam o meu pinto! Porque isso me dá vontade de...
- Você mordeu o meu p(...)! E ainda ri, sua... – rangi os dentes.
- Ma-ma-ma... Macário... eu... eu...
- Venha cá, sua p(...)!!!
- Macário, o que você vai...? AAAIIIII!!!
Avancei para cima de Fifi. E fiquei cego, dominado pelas sensações. Tudo o que passava pela minha mente era: se aquela p(...) queria mais, eu vou dar mais para ela... só de raiva!!! Aarrhhhhh... E eu só pensava em causar dor naquela tarada... Em f(...) aquela sem-vergonha sem deixar ela reagir... Grrr... Não bastasse ela invadir meu quarto e quase me matar de “prazer”, ainda morde o meu p(...)?! Uurrhhh...
Por trás da raiva, eu podia ouvir Fifi gritando:
- Macário, pare!! Oh, pare! Não, não... pare! Pare!! PAREEE!!! Não faça isso... Aaahhh... Não, por favor, não faça isso...
- Cala a boca, sua p(...)... Não era isso que você queria, que eu te tratasse como uma p(...)?!
- Macário... Oh não... Assim não... nyah... Eu não queria assim... Não faça... Por favor, pare... Eu... Não, não... NÃÃÃÃOOOOOOO... Nyaaaahhhhh...
Só parei depois que gozei. Que sensação gloriosa...
A descarga de serotonina foi suficiente para que eu pudesse me acalmar e ir recuperando a visão e a razão.
A nuvem diante de meus olhos se dissipou. Sentia fluidos ainda escorrendo pelo “bernardão”. E, quando recuperei a plena visão...
Olhei, estarrecido, para Fifi, jogada de bruços sobre minha cama, suja de fluidos e respirando forte. Seu rosto expressava dor.
Oh, meu Deus! Não me diga que eu... eu... eu fiz algo que não deveria!
- Macário... – ela sussurrou, soluçando.
- Fifi...! Você... você...
- Você... me estuprou, Macário?!
Uma lágrima escorria pelo seu rosto.
- Fifi... eu... eu não queria, eu...
- Você... – ela voltou seu olhar para mim, um olhar de raiva e muita fúria, apertando os punhos. – ...me  ESTUPROU, Macário?!
Até eu fiquei surpreso com o que fiz. Foi como se eu tivesse sido dominado por uma força maligna... Mas eu não ia conseguir explicar isso para Fifi...
- Fifi, eu... não sei o que me deu... eu só...
Ela se levantou, e me encarou raivosa.
- Eu apenas dei uma mordidinha de nada no seu p(...)... e você... me estupra, seu... seu... animal?!
- Juro que eu não... Eu devo ter sido... Fifi?!
Aí, Fifi começou a se transformar diante de mim. Suas feições começaram a se tornar felinas. Seu rosto se transformou em um focinho de... de onça, pantera, leoa, sei lá... Começaram a crescer pelos em seu corpo, cobrindo-o com uma pelagem cinza-escura. Os seios praticamente sumiram sob o pelo. Até uma cauda comprida cresceu em seu traseiro! E suas mãos se transformaram em patas, com garras afiadas. Mas o cabelo permaneceu, bem como as orelhas... que agora estou vendo... não eram orelhas falsas, eram... dela mesma!
Oh não... ela estava se transformando em... em uma espécie de...
Mal consegui pensar. Ela já foi avançando com aquelas garras para cima de mim. Tentou me arranhar. Consegui evitar o primeiro golpe, e ela quase trombou na minha escrivaninha. Desesperado, eu fugi em direção à cozinha.
Essa não... era assim que eu ia ser morto hoje?! Por uma... garota pantera?! Que avançava em mim, rugindo, raivosa?! Uma garota pantera de pelo cinza e cabelo claro?!
Mas Fifi foi mais rápida. Ali, no meio da sala-cozinha, ela consegue me derrubar de costas, e queria passar as unhas afiadas sobre mim, mas consegui segurar suas patas. Usei meus pés para jogá-la para trás, e ela caiu no meu sofá. E começamos uma luta. Aquela sensação estava me dominando novamente. Consegui, depois de um tempo, dominá-la.
- Fifi, me escute... eu não tive intenção de...
- Aah, cale a boca, seu monstro!!!
E ela conseguiu arranhar meu rosto. Com isso, ela se desvencilhou do meu domínio.
- Fifi!!! – gritei, sentindo o sangue escorrer.
- Eu nunca poderia imaginar, Macário... que você poderia ser tão... monstruoso! – Fifi rugia. – Que você seria capaz de estuprar alguém, seu... Por que você fez isso comigo, seu...?!
- Eu já disse, Fifi, não foi minha intenção, eu não sei o que me deu, eu...
- Agora eu quero seu sangue, seu...!!! Eu não vou deixar você fazer mal às outras garotas, seu...!!! Graoorrr...
E avançou para cima de mim de novo, atingindo meu peito, fazendo o sangue respingar nas paredes. O corte não foi profundo, mas doeu.
Fui dominado por um instinto de sobrevivência. Aquela sensação de raiva e selvageria voltou... Não importava que aquela garota pantera fosse alguém com quem havia transado há pouco. De repente, fui dominado por uma força assassina... similar ao que eu comecei a sentir quando os cães demoníacos estavam prestes a me atacar, naquele beco, naquele dia...
E recomeçamos a luta. Não sei o que me deu... só uma vontade de matar e me defender... Não, eu não vou ser morto dessa maneira hoje! Não devorado por uma garota pantera! Já fui devorado por uma fêmea de louva-a-deus, por uma vampira e por tubarões... mas por uma garota pantera não!
Avançamos com tudo um para cima do outro. Ela quase conseguiu arranhar o outro lado de meu rosto... e ainda tentou arrancar meu p(...) com aquelas garras... ah, não, o “bernardão” não! Foi por pouco.
Consegui ser mais rápido: consegui segurar a sua garra e morder seu pulso. Enquanto ela sentia a dor na pata, peguei seu corpo e consegui empurrá-la para trás, com toda minha força... Em direção à janela. A janela que dava para a rua. Não tinha grade nem venezianas, era apenas o vidro. A vidraça se estilhaçou com o impacto.
Sim: empurrei a garota pantera na janela, e ela, sem sequer tentar se segurar, acabou caindo para trás, gritando:
- Macáriooooooo...
A névoa da raiva passou, afinal. Aquela sensação de paz, a serotonina ajudando a diminuir a descarga de adrenalina, ajudou a desanuviar meu olhar. Mas, instantaneamente, a sensação de paz foi substituída pela sensação de... desespero. Afinal...
Eu havia transado com uma garota. Até um certo momento, havia sido muito bom. Por uma mordida no meu pinto, eu acabei violentando-a... Ela me atacou, transformada em pantera... e, no final... acabei jogando-a da janela de meu prédio! Meu apartamento ficava no terceiro andar, portanto...
Olhei para fora, para o grande buraco deixado em minha vidraça... e vi Fifi, sob a luz do poste, transformada novamente em humana, nua, jogada no chão, estatelada na calçada, com sangue e cacos de vidro em volta. E não havia ninguém na rua, nem carro estacionado.
Eu... eu joguei Fifi do terceiro andar de um prédio!!! Eu... Eu a matei!!!
A vizinhança, atraída pelo barulho, já começava a se movimentar, acendendo as luzes de seus apartamentos, aparecendo nas janelas.
O mais que consegui fazer, naquele momento, foi gritar:
- NÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOO...
Aí, ouvi uma risada atrás de mim. E uma voz em tom de sarcasmo:
- Oh, não, Macário, o que você fez, cara?! Transa com a garota e depois a mata?! Isso não se faz...
Olho para trás: era a massa de sombras que atormentava meus sonhos! O vampiro! Aquele cabelo claro... Estava mais nítido agora!!!
- Você!! – gritei. – Você transformou minha vida em desgraça!
- Eu não. – a voz falou. – Foi você, amigão. Quem matou a menina foi você. Mas tanto faz, a transformação já se completou. Agora você é um de nós, Macário... Um... “monstro”.
Monstro, eu?!
- Não! NÃÃÃÃOOOOO!!!
E avancei para cima daquele desgraçado, sem pensar direito no que ia realmente fazer, mas ele segurou meu rosto com sua mão fria, me impedindo.
- Seu tolo! – seu sorriso horrível se sobressaía por entre as sombras. – Já está na hora de acordar, colega... Já está na hora de romper o portal mental. Eu estarei esperado você esta noite para lhe contar umas coisinhas...
E seu rosto saiu parcialmente das sombras. Mal pude distinguir aquele rosto, mas ele era familiar... era...
O vampiro, no fim, me empurrou da janela, da mesma maneira que empurrei Fifi. Atravessei o buraco na vidraça, arranhando-me nos restos de cacos de vidro que ainda estavam presos na moldura da janela.
Foi minha vez de cair, gritando... nu, jogado de um prédio... vendo o corpo sem vida de Fifi se aproximando do meu olhar... eu vou morrer... eu vou... eu vou!... Eu!!!...

Acordo, assustado.
Eu estava... eu estava...
Estava vivo! Em meu quarto!
Aquele era meu quarto, era sim! A cama onde deitei! Meu roupeiro, meu despertador... marcando 14:30, duas da tarde... de segunda-feira?
No rádio ainda ligado, passava uma música pop, típica da programação vespertina. Quando terminou, o locutor transmitiu a data e o horário do dia.
Levantei, assustadíssimo, reparando na cama outra vez emporcalhada com minha p(...). Esperando encontrar...
Não. Nenhum sinal de que houve luta no apartamento.
Nada fora do lugar. Peladão, fui vasculhando tudo. Fui para a cozinha: nenhum sinal de luta. Nenhum rastro de sangue. Estava tudo organizado. Olhei meu corpo, meu rosto... Nenhuma marca de garras. No meu peito, ainda estava o apanhador de sonhos.
A vidraça estava inteira. Olho para fora, na rua: nenhum sinal de que um corpo havia despencado do terceiro andar. Nem sangue, nem cacos de vidro. E nenhum burburinho da vizinhança. Estava tudo calmo, normal, sob um dia parcialmente nublado.
Foi sonho! Menos mal...
Mas não havia motivo para me sentir aliviado.
Corro para a área de serviço.
Não... não havia nenhuma calcinha ali.
Volto para o quarto. Olhem só o que eu fiz nas cobertas da cama, de novo! Macário, seu p(...) sem vergonha... Aí, olho para o chão, após sentir ter pisado em alguma coisa: encontro, jogada... a coleira que Fifi usava. Com o guizo aberto.
Desta vez, não havia acordado fraco, ou cansado, ou faminto. Mas não estava tranquilo.
Levando a gargantilha comigo, fui para o banho, maquinalmente, me lavar, depois de tirar as cobertas da cama e colocar para lavar. Deixei a coleira junto ao apanhador de sonhos em cima do vaso tampado, antes de entrar embaixo do chuveiro frio.
Desta vez, não me deu vontade de “descascar uma” debaixo do chuveiro. Para quê... que eu havia feito uma coisa horrível, ainda que em um sonho?!
Será que foi mesmo sonho o fato de eu ter transado com uma garota... e depois tê-la estuprado... e matado?!
Não me vesti imediatamente ao sair do banho. Fiquei zanzando, tonto, pelo apartamento, peladão, sem saber o que fazer em seguida. Na minha mão, a coleira, que peguei automaticamente.
E, afinal, acabei caindo sentado em um canto, e me encolhi numa posição fetal. E ali, fiquei chorando... sendo observado pelo meu retrato.
Não havia reparado que o meu retrato ainda estava ali... O retrato que o italiano Marto Galvoni me deu de presente. Aquele retrato meu, que me encarava com um olhar perverso, com um sorriso maligno, com aquela taça na mão, onde o olho boiava no líquido, também me observando. Oh, céus. Será que era aquela mesmo a minha verdadeira face?! Será que o italiano captou este meu lado quando nos encontramos pessoalmente?! Tive de virar o quadro ao contrário para continuar chorando. Aquele Macário do quadro não pode ser o mesmo Macário que agora estava chorando.
A minha sanidade estava cada vez mais sendo questionada. Eu devo estar ficando louco. Meu subconsciente estava manifestando um lado maligno, repleto de luxúria e de violência – assim explico esses “sonhos”. Mas... não, isso não faz sentido. Era a primeira vez que eu manifestava um lado violento, um lado inaceitável de um ser humano! Com Âmbar, Andrômeda e Morgiana não havia acontecido isso. Eu não as violentei. Pelo contrário, elas que me “violentaram” após o sexo. Âmbar me devorou na forma de uma louva-deusa gigante; Andrômeda sugou meu sangue como uma vampira; e Morgiana e suas irmãs me devoraram... sim, os tubarões que me devoraram naquela piscina só podiam ser elas mesmas!
Mas então... por que fui violento apenas com a Fifi, garota que eu mal conhecia?! Mas aí, lembrei: deve ter sido aquele comprimido! Sim! Aquele remédio que ela disse ser estimulante... Só pode ser isso! Aquele remédio tinha um efeito colateral, deixava o usuário sexualmente ativo, mas depois o tornava violento, ainda que por alguns minutos! Mas nem disso eu tenho certeza... se realmente tomei o remédio... e se eu estava no plano de realidade certo.
Neste plano aqui, meu apartamento estava no lugar. Em outro plano, em algum universo paralelo, a vidraça estava quebrada, e provavelmente a polícia já foi acionada pelos vizinhos, e de repente eu já poderia estar na prisão, acusado de assassinato... eu provavelmente estava peladão também, mas dentro de uma cela... eu... eu...
Eu só sei que, ainda que tenha sido um sonho, eu fiz algo do qual acabei me arrependendo amargamente. A educação que recebi me orientava que roubar, matar e estuprar era errado, em qualquer situação, não importando se era em legítima defesa ou não. E não foi legítima defesa... ou foi? Afinal, fui mordido, atacado, quase devorado... Mas a agressora em questão não merecia isso. Não merecia!! Ela não fez por querer... Aquela risadinha foi involuntária... Mas então... por que eu fiz isso?! Por que não acordei no momento em que a garota pantera avançava para cima de mim? Por que não me deixei devorar? Por que o sonho continuou depois disso?! Por que o sonho não foi interrompido no momento em que consumei o crime?!
Por quê?!
Afinal, levantei daquele canto, depois de gastar meu estoque de lágrimas. Esfreguei os olhos. Fui ao banheiro, joguei água no rosto, voltei à cozinha. Eu ainda estava naquele plano de realidade... onde meu apartamento estava arrumado, e nenhuma vidraça quebrada, e nenhum crime havia acontecido. Mas, na minha mão, ainda estava aquela coleira. Eu estou ficando louco... Ooh, Macário, sexo demais deixa a pessoa mentalmente vulnerável... Para um homem qualquer, seria motivo de orgulho, mas para mim não estava sendo... Eu não sou homem, mais?!
Mas não posso contar nada para ninguém... provavelmente vão dizer, confirmar, que eu estava ficando louco. E, ainda por cima, o louco ainda está zanzando pelo apartamento, em plena luz do dia, peladão... apesar de estar em atitudes aparentemente normais. De toda forma, iriam começar a me evitar... E aí, adeus, vida sexual. Adeus, vida que eu amava.
Mas eu sentia necessidade de contar a alguém o que eu sentia. Mas quem? Quem poderia...
Aí, em cima da mesa, avisto um papelzinho. Nele, um número de telefone e um nome: Geórgia.
Sim! Geórgia! Talvez eu ligue para ela, e...
Senti receio. Eu, contar o que estava acontecendo para Geórgia? Macário, o que você está pensando?!
Mas algo estava me dizendo que era o mais sensato a fazer naquele momento – ligar para uma amiga, aquela amiga. Que também já estava envolvida com os “monstros”, que voltou para o meu mundo em circunstâncias... singulares. Afinal, ela não estava sendo cortejada pelo Breevort e pelo Marto Galvoni? Suspeitos de haverem decepado a orelha de um menino favelado? Então...
Antes que eu sequer pensasse de novo em desistir da ideia, eu já peguei o telefone desligado, apertei o botão de liga-desliga, esperei o sistema iniciar, e disquei o número de Geórgia. E esperei, sentado no chão...
Após o segundo toque, ouvi a voz feminina.
- Alô?
- Geórgia?
- Quem está falando?
- É... É o Macário...
- Macário?! – ela pareceu surpresa. – Uau! Pensei que você nunca ia ligar...
- Você... estava esperando eu ligar?
- Confesso que sim... Como é que você está?!
- Eu... eu não estou bem, Geórgia...
- Nossa, dá para notar. Você está com uma voz abatida, Macário.
- Estou?!
- Está, sim. O que aconteceu com você?
- Hã... eu tive uma noite atribulada, Geórgia. Um... pesadelo. Já faz três noites que tenho pesadelos...
- Puxa. Não está sendo fácil, hein?
- Mas e quanto a você?
- Eu? Estou no trabalho, Macário. Estou no escritório. Ainda bem que está vazio agora, não chegou cliente ainda, e o doutor está atendendo, então acho que podemos nos falar... Mas e você?
- Estou em casa... e estou pelado...
- Pelado, cara? Ei, por acaso você não está sugerindo...
- Que é isso, Geórgia, não estou sugerindo nada. Estou pelado porque, hum, recém saí do banho. É que eu não sei se vou para a faculdade e trabalhar hoje... estou muito abalado. Nem de me vestir tive coragem até agora...
- Oh. Que é isso, Macário. Vai se deixar abater por um pesadelo? Era tão violento assim o monstro que perseguiu você? Que te jogou dentro do moedor de carne ou algo assim? Foi isso?
- Mas...
- Nem parece o Macário que conheço. O Macário que foi capaz de tirar humor de uma orelha decepada...
- Eu...
- Veja, ainda são... três e quinze da tarde! Não é à noite que você sai? Tem tempo ainda para se recuperar... Não pode ficar em casa, deprimido e peladão só por causa de um pesadelo... Só porque caiu da cama mais cedo... Três e quinze da tarde é cedo para você, certo? O mundo está esperando uma reação sua, reação de homem de ação, e não que você aja como um caracol... Foi assim comigo, não sabe?
- Bem, eu...
- Eu também já passei por experiência traumática antes, Macário, lembra aquela noite? Claro que lembra... E sabe onde estou agora? No trabalho! E você? Vai se deixar levar por um... pesadelo de nada?!
Pesadelo de nada?! Mas... hum, não, melhor que eu não conte o pesadelo em detalhes... E foi só um pesadelo! Sim!
- Eu... Ah, Geórgia, tem razão... É, foi só um... um pesadelo. Foi assustador, mas... É, foi só um pesadelo...
- Olhaí, Macário, você parece bem melhor, agora, hein?
- Pois é... – eu já me sentia mais animado, quem diria.
- Mas que bom que você ligou, Macário. Eu tenho umas tantas coisas para contar para você... Ou melhor, contar para alguém... A minha colega de apartamento ainda não voltou de viagem, e...
- É... Eu também, Geórgia... e você foi a primeira pessoa em que pensei. Quer dizer... a primeira pessoa cujo telefone encontrei.
- Ah, Macário, entendo...
- Hum... escuta, Geórgia. Talvez pelo telefone não seja apropriado a gente conversar sobre... sobre essas coisas estranhas... Eu devo estar atrapalhando seu trabalho, e...
- Eu sei... Escuta, Macário, quer me encontrar esta noite?
- Hum?
- Digamos, depois do teu trabalho, Macário. A gente pode se encontrar ali, no teu trabalho, pra gente bater um papo, e contar o que a gente está sentindo, um ao outro. Me disponho a ir de madrugada pro bar e aí... Você sai ali pelas três da manhã, certo? Que tal? Pelo menos isso vai tirar você de casa, dessa fossa...
- Hum... Está bem. Pode ser. Depois do trabalho. Eu... eu acho que é isso que estou precisando. Contar tudo o que estou sentindo.
- Beleza. Espero ter ajudado até agora.
- Sim, Geórgia, eu... eu já me sinto melhor agora.
- Combinado, então? Oh, vou ter que desligar, Macário... Chegou cliente. Só um momentinho, senhor... Nos vemos depois, Macário.
- Está bem. Tchau, Geórgia.
- Tchau, Macário. Beijo.
E desliguei.
Levantei do chão.
A Geórgia estava certa. Eu fiz algo terrível nos sonhos, mas... foi sonho! Eu tenho de ter em mente a seguinte convicção: eu posso ser um no plano dos sonhos, mas no plano real eu sou outro. Além do mais, eu não matei a garota. Se foi sonho... Se estiver certa a teoria dos portais mentais... Fifi agora deve estar na sua casa, abalada, porém viva! Ela deve ter acordado no momento em que bateu no chão, e acordado em sua cama... Sim. Quando todos os monstros tiverem voltado da tal excursão em que saíram, Fifi vai estar entre eles, viva, e...
...e talvez ressentida comigo.
Não, Macário, não pense nessas coisas...
Siga sua vida, apenas. Nada indica que você cometeu um crime. Não neste plano de realidade onde você se encontra agora.
Fifi nunca esteve aqui. Deve haver outra explicação racional para a presença daquela coleira. Talvez ela tenha caído de algum bolso do seu casaco... alguém deve ter colocado a coleira no bolso do casaco enquanto você estava distraído...
Não, espere aí: como se explicam aquelas calcinhas na minha gaveta, então?!
Examinei a gaveta: sim, ainda estavam ali. As calcinhas deixadas por Âmbar, Andrômeda, Morgiana e suas irmãs... junto com as de Viridiana, Maura, Loreta, Créssida, Geórgia.
Bem... eu não fiquei com a calcinha de Fifi. A experiência não foi legal para ela...
Ah, depois eu penso nisso. Não posso ficar torrando neurônios por causa disso... até ter certeza de que eles já não estavam torrados, ou transformados em geleia. Preciso ter certeza de que não estava mesmo ficando louco.
Ainda pelado, fiz o desjejum, com pão com manteiga e café com leite. Mas hoje não foi preciso comer vorazmente. Não estava fraco. Fifi não sugou minhas energias. Quase, mas não sugou.
Fui buscar o apanhador de sonhos, ainda largado no banheiro. Devia ser isto que estava me protegendo, claro, a proteção que o pajé Mateus me conferiu. Queria saber o que ele está fazendo agora...
Só depois fui me vestir, colocar pelo menos uma cueca e uma camiseta, e ajeitar meu quarto. Vai vir acréscimo na conta de luz por causa daquele rádio ligado há quase vinte horas ininterruptas...
Depois, fui ajeitar minha roupa de cama no varal. Já estava lavada, limpa. Preciso controlar essas poluções noturnas. Se a garota não esteve aqui, a minha p(...) foi liberada livremente no ar, com resultados desastrosos... Se continuar assim, vou gastar uma fortuna com água e sabão em pó.
Porém, quando estendi as cobertas no varal, do meio de um cobertor que estava embolado, cai...
Essa não...
Era, sim, a calcinha de Fifi! Com textura de pelo... e aquela cauda de gato pendurada! Estava misturada à roupa de cama, sabe-se lá como! Então não foi apenas a coleira...
Pendurei no varal... mas tive de bater a cabeça na parede para que a depressão não voltasse.
Agora, capaz de pensar como um rapaz racional... Depois procuro uma explicação racional para a presença daquela coleira e daquela calcinha... E de todas aquelas outras calcinhas! Ih, ih, ih!
Fui me vestir para ir para a faculdade. Procurei afastar da mente todo e qualquer pensamento não racional. Apertei o apanhador de sonhos na mão, pedindo alguma proteção a Tupã, o provável Deus do pajé Mateus, que ele devia cultuar em segredo dos cristãos com quem convivia.
Sob o sol já fraco das cinco horas da tarde, ganhei a rua. Nenhum conhecido dentre os que cruzei, na saída do prédio, indicava sinais de ter sido acordado no meio da noite... Me cumprimentaram normalmente, boa tarde, vizinho, como vai, eu vou bem, e você, parece que vai chover... Estavam todos se portando normalmente. Digo, com relação ao rapaz esquisito que dormia durante o dia e saía à noite, e nos finais de semana trazia garotas para dormir com ele... Nada em seus olhares indicava suspeitas que aquele rapaz possa ter cometido algum crime, possa ter empurrado uma garota de uma janela. Ou que ele precisava parar com toda aquela barulheira que ele fazia durante a noite...
E fui retomar minha vida, pensando apenas no meu curso universitário, no meu trabalho, e no meu encontro marcado com Geórgia naquela madrugada. A gente só ia dividir nossas experiências, não ia rolar mais nada. A iniciativa de “algo mais” não ia ser minha hoje. Chega de sexo por enquanto.
Bem, parecia tudo normal na vida do senhor Macário mulherengo.
Tudo parecia normal...
Tudo...
Exceto por uma estranha revolta em meu estômago. Como se o desjejum não estivesse me caindo bem...

E uma leve agulhada em meu pescoço, no local onde recebi aquela mordida.

Próximo capítulo daqui a 15 dias.
Até aqui, como está a história? Continuo? Paro? Mudo? Deixo como está? Devo ser condenado pelas ideias absurdas e inaceitáveis que ando tendo?
Tem alguém realmente lendo este folhetim?
Manifestem-se! É tudo que peço.
Em breve, a história deverá atingir o seu clímax. A partir do próximo episódio, devem iniciar as revelações do enredo!
Até mais!

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