sábado, 5 de dezembro de 2009

A GARRA CINZENTA - nossa primeira HQ de terror

Olá.
Hoje, vou falar de um clássico dos quadrinhos brasileiros.
Muito já se falou nos dias de hoje dessa história. Vou então me juntar à lista...
Vou falar de A GARRA CINZENTA, considerado por muitos especialistas a primeira HQ de terror do Brasil, antes mesmo de o gênero explodir por aqui em meados dos anos 50.
A GARRA CINZENTA, que começou a ser publicado em 1937 no suplemento A Gazetinha, do jornal Gazeta de São Paulo, fez um sucesso tão grande em sua época que chegou a ser exportado para o México, a Bélgica e a França. Porém, os franceses acharam, de início, que a HQ fosse mexicana, e não brasileira. A descrença nas HQ brasileiras, portanto, não é de hoje.
Outra curiosidade da obra fica por conta de seus autores. A obra foi desenhada por Renato Silva (1904 - 1981) e escrita por Francisco Armond. A bem da verdade, Francisco Armond - do qual até recentemente se sabia apenas que era jornalista - era o pseudônimo usado por Helena Ferraz de Abreu, que, junto com o marido, Manoel Ferraz (Manoel ou Maurício? Em alguns lugares consta Manoel, em outros Maurício), dirigia a Livraria Civilização e os jornais Gazeta de São Paulo e Correio Universal, do Rio de Janeiro. Na Gazetinha, foi publicado ainda Nick Carter, também escrita por Helena Ferraz/Armond e desenhada por Renato Silva, e as obras de Messias de Mello, tais como Audaz, o Demolidor e Pão Duro. Já no Correio Universal, foram publicadas duas obras do historiador e pintor Francisco Acquarone, ambas em formato álbum: João Tymbira em Redor do Brasil e O Guarani, a primeira adaptação para HQ do romance de José de Alencar que se tem notícia. Como se nota, o casal Ferraz também deu uma importante contribuição para a história das HQ nacionais.
A propósito da identidade secreta de Francisco Armond, ela só veio a público através de uma pesquisa realizada por Sérgio Augusto, cujo resultado seria depois publicado na revista Mundo dos Super-Heróis no. 9, de 2008. O artigo foi escrito por ninguém menos que Gedeone Malagola, o criador do herói Raio Negro. Helena Ferraz também assinava poemas como Álvaro Armando (junção dos nomes de seus dois filhos).
Bem, mas o importante é que A GARRA CINZENTA é nossa primeira HQ de terror. A bem da verdade, trata-se de uma história policial, mas com níveis de violência, mistério e suspense elevados para sua época. A quadrinização não tem o mesmo dinamismo das histórias de hoje. Parece mais uma série de ilustrações legendadas, que não formam uma sequência envolvente, cinematográfica. No entanto, além das legendas, os personagens falam através de balões. Alguns personagens, entretanto, parecem não ter mais que uma expressão facial, deixando a expressão corporal falar por si. Mas é nítido que Renato Silva tinha um bom domínio do claro-escuro, dando um clima noir ao roteiro de Armond/Ferraz. E as sequências de ação não deixam a desejar.
A história trata de um gênio criminoso que aterroriza uma cidade. Pelos nomes usados nos personagens, se deduz que a história, provavelmente, passa-se nos EUA - já que os filmes de mistério produzidos na época eram os que vinham dos EUA, e o Brasil não possuía uma tradição em histórias policiais.
No início, a polícia tenta saber quem é o misterioso criminoso que comete assassinatos na cidade. Todas as vítimas, antes da morte, recebem um cartão com uma garra desenhada. À frente das investigações, está o inspetor Higgins. Após o assassinato de um empresário, ele consegue uma pista junto ao filho da vítima - que trabalhava para uma organização criminosa secreta. Essa organização é comandada por ninguém menos que o Garra Cinzenta, um gênio criminoso que utiliza uma máscara de caveira. Extremamente maquiavélico, o Garra Cinzenta ainda utiliza parafernálias científicas à frente de sua época - como plataformas elétricas, pistolas de ar comprimido e até um protótipo de televisão. Além disso, ele tem como ajudantes Flag, um estranho robô gigante, e a Dama de Negro.
No decorrer da história, aparecem inclusive monstros - além de Flag -, chineses, máquinas, alçapões, passagens secretas e belas mulheres. Tudo o que não pode faltar em uma história do gênero. Com exceção, é claro, do sangue. Mas o Garra Cinzenta mostra por que é considerado o nosso primeiro anti-herói.
A GARRA CINZENTA tem mais de 100 capítulos de uma página. Todos esses capítulos foram reunidos pela primeira vez em 1988 por Worney Almeida de Souza, na revista Seleções da Quadrix no. 3, hoje esgotada. Hoje, existe uma versão em PDF disponível para download na internet - reunindo metade da série, entretanto. Mas bom para quem quiser conhecer. Essa HQ pode ser encontrada no site Nostalgia do Terror (www.nostalgiadoterror.com/).
Em tempo: nesse mesmo site, podem ser encontrados também biografias de autores, amostras de suas obras e outros quadrinhos clássicos do terror brasileiro para download. O gênero terror foi um dos que mais fez escola no nosso país, e consagrou nomes como Eugênio Collonese, Gedeone Malagola, Júlio Shimamoto, Nico Rosso, R. F. Luchetti, Rodolfo Zalla e muitos mais. No Nostalgia do Terror, você fica conhecendo um pouco sobre cada um deles.
Para encerrar, um novo desenho que fiz do Garra Cinzenta, desta vez envolvido em sombras.
Conheçam e prestigiem nossos quadrinhos! Vocês com certeza não irão se arrepender.
Até mais!

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