quinta-feira, 24 de abril de 2014

Filme: SPACEBALLS - S.O.S. TEM UM LOUCO SOLTO NO ESPAÇO

Olá.
Hoje, vou falar de filme. E hoje vou, para espairecer desta realidade tão absurda quanto a ficção, vou recomendar a vocês uma divertida comédia.
Antes, vou apresentar a vocês o diretor, um cara pouco lembrado nos dias de hoje, mas que se tornou uma grande influência das comédias...


MEL BROOKS
Sim. Mel Brooks, ator, diretor, roteirista, comediante e uma das maiores referências do gênero sátira – seus filmes mais conhecidos fazem sátira a muitos filmes e gêneros cinematográficos “sérios”, na tradição das sátiras do grupo inglês Monty Phyton.
Hoje, o gênero sátira parece estar vivendo uma fase histérica, principalmente depois da cinessérie Todo Mundo em Pânico – a sátira a grandes sucessos do cinema contemporâneo, na recriação das cenas mais famosas de um jeito cômico, tem recorrido a piadas mais grosseiras e de fundo sexual. Bem diferente das sátiras feitas por Mel Brooks – ao menos, do filme do qual vou falar hoje.
Nascido Melvin Kaminsky, em 1926, o cineasta estadunidense ainda está na ativa. Seus filmes mais conhecidos, todos do gênero sátira, dependem do gênero satirizado: tem faroeste (Banzé no Oeste, 1974), filmes mudos (Silent Movie – A Última Loucura de Mel Brooks, 1976), histórias bíblicas (History of the World – Part 1, 1981), ficção científica (Spaceballs – S.O.S. Tem um Louco Solto no Espaço, 1987), épicos (A louca História de Robin Hood, 1993) e terror (O Jovem Frankenstein, 1974, e Drácula – Morto, mas Feliz, 1995). Sem contar também as participações especiais que ele fez em filmes, como Muppets, o Filme (1979) e Os Batutinhas (1994), além de ter emprestado a voz para personagens dos filmes de animação O Príncipe do Egito e Robôs. Pelo seu trabalho, Brooks também foi bastante premiado – ele recebeu o Oscar de Melhor Roteiro Original por um de seus primeiros filmes, The Producers (Primavera para Hitler), de 1968. Esse filme ganhou um remake em 2005. Brooks foi um dos poucos artistas a ter conseguido receber, em toda a sua carreira, os prêmios Oscar, Grammy (de música), Emmy (de televisão) e Tony (de teatro). Ele também é lembrado como o co-criador da série Get Smart (Agente 86), exibida entre 1965 e 1970.
Mel Brooks também é pai do escritor Max Brooks (nascido Maximilian Brooks em 1972), conhecido como grande especialista em zumbis, autor dos livros O Manual de Sobrevivência Zumbi e Guerra Mundial Z, recentemente adaptado para o cinema (isso interessou vocês agora, né, safados?).

O FILME ESCOLHIDO...
Pois, para falar de Mel Brooks, o filme escolhido acabou sendo SPACEBALLS – S.O.S. TEM UM LOUCO SOLTO NO ESPAÇO, que podemos considerar a sátira definitiva das ficções científicas espaciais, ou space operas. A matéria-prima do filme, evidente que foi o grande sucesso das décadas de 70 e 80, a cinessérie Star Wars – Guerra nas Estrelas, de George Lucas.
SPACEBALLS foi produzido em 1987, pelo estúdio MGM, com Mel Brooks no triplo papel de produtor, diretor e ator (mas não principal). O roteiro foi escrito por Brooks, Thomas Meehan e Ronny Graham. A trilha sonora é de John Morris.
O filme se sobressai bastante pela sátira, pelos efeitos especiais convincentes, apesar de o filme ter um orçamento mais modesto que Star Wars e pelo roteiro cheio de piadas, metalinguagem e críticas subliminares ao excessivo merchandising de Star Wars ou de qualquer outro blockbuster. Além de Star Wars, o filme contém cenas que satirizam outros sucessos das space operas, como Jornada nas Estrelas, Alien e Planeta dos Macacos. E, antes da existência da cinessérie de Michael Bay (embora as HQ e desenhos animados já existissem na época), a Transformers!
A trama de Brooks, apesar de apoiada em Star Wars, desenvolve um roteiro próprio, que parece mais uma fábula infantil espacial que um roteiro de intrigas intergalácticas complexas.
Bem, para entender SPACEBALLS, imaginemos o seguinte: um Star Wars diferente, com personagens e motivações bem diferentes do que o público viu. Sem Luke Skywalker, sem Obi-Wan Kenobi e sem o robozinho R2-D2. Assim: imaginemos que o vilão Darth Vader seja baixinho e que, debaixo da máscara, esconde um cara de óculos e com mais jeito de nerd atrapalhado que de vilão; que o imperador Palpatine seja um engravatado com jeito de burocrata incompetente, e que os uniformes dos stromtroopers sejam mais simples, com capacetes redondos; que a princesa Leia, ao invés de uma guerreira exilada e determinada, seja uma princesa mimada e arrogante; que o robô C3PO seja transformado em “mulher”; que o mercenário Han Solo seja um caubói espacial desleixado, que seu parceiro Chewbacca seja um atrapalhado meio-homem, meio-cachorro, e que a nave Millenium Falcon seja um ônibus-trailer com asas; que o nojento Jabba the Hutt seja ainda mais nojento, só que todo feito de pizza; que o sábio Yoda tivesse objetivos muito diferentes que a manutenção da paz da galáxia; e, finalmente, que o Império Galático tivesse um objetivo bem mais ridículo e algo prosaico que a conquista da galáxia. Deu pra imaginar? Então, vamos prosseguir.
A sátira já começa na introdução, copiando o famoso letreiro com o texto inicial explicativo inclinado que “some” no espaço. E, a seguir, com um longo plano-sequência de uma enorme nave espacial avançando pelo espaço – a nave dos vilões do filme.
Antes de prosseguirmos: a realidade de SPACEBALLS combina o futurismo de Star Wars com características do bom e velho modo de vida americano, sem preocupação constante em “modernizar” cenários como um gabinete de um presidente ou um restaurante de beira de estrada localizado em uma plataforma espacial. Nada de figurinos futuristas e chocantes: os heróis usam roupas muito mais próximas da que nós, terráqueos comuns, usamos.
O vilão principal do filme é o desengonçado Dark Helmet (Rick Moranis, o eterno cientista Wayne Szalinski de Querida, Encolhi as Crianças, Querida, Estiquei o Bebê e Querida, Encolhi a Gente, e que também interpretou o Barney Rubble na primeira adaptação cinematográfica de Os Flintstones), baixinho, nervoso e com uma armadura de segunda mão, com o capacete bem maior que a própria cabeça. Ele responde pelo planeta Spaceballs, um império de homenzinhos cruéis e bastante estúpidos. Para compensar o desperdício da atmosfera de seu próprio planeta, os spaceballs, governados pelo trapalhão e pouco competente Presidente Skroob (Mel Brooks), planejam roubar a atmosfera do pacífico planeta Druidia, que vive um meio-termo entre a Idade Média e a Era Espacial. Dark Helmet é assessorado, na nave Spaceball-1, pelo histriônico Coronel Sandurz (George Wyner). Sandurz, assim como os outros integrantes da nave, fazem Dark Helmet parecer o mais inteligente de todos os spaceballs – e, quem passar o líder para trás, corre o risco de levar uma rajada de energia nas partes baixas.
Ocorre que a atmosfera de Druidia está protegida por um escudo protetor que os spaceballs não podem quebrar – para entrar e sair do planeta, há uma porta na estratosfera, acessível por código. Para forçar o rei do planeta, o simpático Rei Roland (Dick Van Patten), uma espécie de Luís XIV espacial, a fornecer o código para abrir a porta, os spaceballs planejam raptar a filha do rei, a bela princesa Vespa (Daphne Zuniga).
Vespa, naquele momento, está para se casar com o sonolento príncipe Valium (Jim J. Bullock). Mas, no momento em que ia subir ao altar, Vespa simplesmente pega sua criada, a impertinente e reluzente robô-mulher dourada Dot Matrix (Lorene Yarnell, com voz de Joan Rivers), passa pelo altar, pega a nave espacial e sai do planeta, disposta a ser livre e se livrar desse casamento arranjado. Mas, no momento seguinte, a nave da princesa é pega pelo raio trator da Spaceball-1.
Enquanto isso, as ações de Dark Helmet são observadas, no planeta Spaceball, pelo Presidente Skroob e pela sua assessora direta, a Comandante Zircon (Leslie Bews). Numa das cenas, Skroob vai até a sala do controle usando teletransporte – e, devido a um erro de programação, a cabeça do presidente acaba virada para trás!
O rei Roland, então, decide pedir ajuda ao herói de aluguel Lone Starr (Bill Pullman). O desleixado herói espacial, que dirige a nave Winnebago – o tal ônibus-trailer com asas, que ele nem se preocupa em limpar, com lixo pra todo lado – tem como parceiro o atrapalhado Barf (John Candy), um ser meio homem e meio cachorro, gordo e que vive batendo a cauda no que estiver em sua volta. Os dois, há poucos instantes, receberam uma ameaça do mafioso espacial Pizza the Hutt (voz de Don de Luise), um ser feito de queijo derretido e outros ingredientes de pizza (perceberam o trocadilho com a famosa multinacional Pizza Hut?), para pagarem uma dívida exorbitante. Ao receberem o pedido de ajuda do Rei Roland, Lone Starr e Barf veem nesse resgate uma chance de poderem pagar a dívida.
Primeiro, Starr e Barf, para não serem detectados pela Spaceball-1, neutralizam o radar... jogando um pote de geleia na antena (e o operador do radar, o ator Michael Winslow, empresta a Brooks o seu talento para o beatbox, que ele usou bastante na cinessérie Loucademia de Polícia). Depois, conseguem tirar Vespa e Dot Matrix – e toda sua bagagem – sem problemas da nave delas, simplesmente usando uma escadinha entre as naves, em pleno vácuo do espaço!! Pouco depois de recolherem a nave vazia, os spaceballs iniciam a perseguição à nave de Lone Starr, um “velho conhecido” de Dark Helmet.
Aí que vem a melhor cena do filme: quando os heróis usam a velocidade da luz para escapar em alta velocidade, a Spaceball-1 decide persegui-los usando a insana “velocidade burlesca”, superior à da luz. E Dark Helmet, que se recusou a usar cinto de segurança, acaba indo para trás com o empuxo da nave, e depois bate a cabeça nos controles quando a nave é freada bruscamente! A Spaceball-1 acaba ultrapassando, e muito, a Winnebago.
Infelizmente, a nave de Lone Starr fica sem combustível e acaba caindo em um planeta desértico. Até aquele momento, Starr e Vespa não haviam se visto pessoalmente. O aventureiro e a princesa passam boa parte do filme gritando um com o outro – principalmente porque Vespa é muito mimada e mandona, e insiste em levar sua pesada bagagem no deserto – mas ambos acabam se apaixonando. Talvez o maior empecilho para o romance dos dois, além da perseguição dos spaceballs, seja o “alarme de virgindade” de Dot Matrix, que até nos movimentos imita a excessiva “fleuma” de C3PO. Ah: Lone Starr, que é órfão, possui um medalhão cheio de símbolos que ninguém consegue decifrar, e que pode dizer algo sobre sua origem. E, para deleite dos marmanjos, à medida que o filme avança, o vestido de Vespa fica cada vez mais “estrategicamente” rasgado.
O modo como Dark Helmet e equipe localizam os heróis é a grande piada metalinguística do filme: devido a uma “revolução no mercado de home vídeo”, é possível obter o filme em fita cassete antes mesmo do filme em si terminar! E é com uma cópia de SPACEBALLS, o filme, que mal chegou na metade, que os spaceballs conseguem localizar os heróis!
Starr, Barf, Vespa e Matrix penam no deserto, mas são ajudados por duendes que imitam os Jawas, com capuz e tudo. Eles conduzem o grupo à morada do sábio espacial Yogurt (também interpretado por Brooks), dono do poder do Schwartz, um equivalente da Força – e ensina Lone Starr a usar esse poder. E é Yogurt que apresenta o merchandising do filme. A partir da metade do filme, a marca SPACEBALLS aparece em tudo quanto é produto que aparece na fita – e antes de esta terminar: livros de colorir, lança-chamas, lancheiras, bonequinhos, lençóis de cama, papel higiênico, creme de barbear... Enfim, Brooks acabou prevendo uma tendência atual da cultura pop: a de que os produtos de merchandising de muitos filmes – bonecos, roupas de cama, alimentos, etc. – são vendidos antes mesmo da estreia dos blockbusters nos cinemas! É a segunda maior piada metalinguística da produção.
Após literalmente passar o “pente fino” no planeta, Dark Helmet consegue localizar o templo do Yogurt, e consegue capturar Vespa e Matrix. Lone Starr, que recebe de presente do sábio um biscoito da sorte e um anel, vai atrás da princesa. Mas tarde demais: os spaceballs, ameaçando fazer uma plástica no nariz da princesa, obtém o código da abertura da porta de Druidia com o rei Roland. E partem para sugar a atmosfera do planeta.
Numa cômica sequência de ação – onde até mesmo Vespa, de metralhadora na mão, emula o Rambo de Sylvester Stallone – Lone Starr salva a princesa e a robô. E precisam impedir os spaceballs de sugarem a atmosfera de Druidia.
Aí é que vem a sátira a Transformers: para sugar a atmosfera de Druidia, a nave Spaceball-1 se transforma em... uma empregada doméstica gigante! E, com seu aspirador de pó gigante, começa a sugar a atmosfera do planeta, mas Starr, usando o Schwartz, consegue reverter o processo. E está prestes a começar a grande batalha final entre Lone Starr e Dark Helmet diante do botão de autodestruição da nave, com lâminas de energia e tudo...
Pode crer que, até o happy end hollywoodiano do final (alguém duvida que Lone Starr e Vespa ficarão juntos no fim?), muita confusão é o que vai ter. E as piadas metalinguísticas não param: em uma cena, ao desligar um monitor de comunicação, o Coronel Sandurz, acidentalmente, desliga também a imagem do filme; na cena do resgate no planeta Spaceball, os soldados parecem ter capturado os heróis e, quando vão ver, acabaram capturando os dublês dos atores! E, durante a batalha entre Lone Starr e Dark Helmet, o vilão acaba acertando sua lâmina de energia em um dos membros da produção do filme!
Embora os efeitos especiais sejam convincentes e bem-feitos, algumas cenas são toscas, devido às limitações da equipe de FX – em 1987, a computação gráfica ainda não havia sido popularizada. É o caso da cena do restaurante, onde um alien sai da barriga de um dos clientes para fazer depois um número musical em cima do balcão. O alien, em animatronic, tem muitas limitações de movimento, o que comprometeu sua “performance”. A equipe dos FX preferiu concentrar seus esforços no voo das naves espaciais do filme e em tornar os movimentos das orelhas de Barf convincentes.
SPACEBALLS, como dissemos, é a sátira definitiva das space operas. Mesmo depois de tantos anos, o filme ainda é engraçado e pode ser compreendido pelas novas gerações. Por que então Mel Brooks não é tão lembrado quanto antes?
Durante anos, cogitou-se uma continuação para o filme, ainda não confirmada, e insinuada pelos atores. Só o problema é que John Candy faleceu em 1994, não podendo, portanto, reprisar sua atuação como Barf. Em compensação, SPACEBALLS ganhou, em 2008, uma série em animação, pelo canal Super Channel, do Canadá! A animação, com 13 episódios, infelizmente ainda é inédita no Brasil – e com as vozes de Brooks, Moranis e Zuniga no elenco de dublagem.
Em compensação, SPACEBALLS, o filme, pode ser facilmente encontrado em DVD. O mercado de Home Vídeo e as reprises na TV ainda são o principal modo de sobrevivência do acervo dos estúdios MGM, que declararam falência no final da década de 2000. E a dublagem brasileira é excelente. Só com ressalvas de terem traduzido o nome de Barf para “Baba”, e Schwartz como “A Salsicha”. Estranho?
Para encerrar, o já tradicional desenho meu. Já faz algum tempo, meu ex-colega do Curso de História da UFSM, Alexandre Maccari, pediu-me algumas ilustrações para o projeto Uma História a Cada Filme, de comentários de grandes produções do cinema à luz da história e da filosofia. Não tive mais informações sobre o andamento dos projetos referentes aos Ciclos de Cinema. Mas eis aqui, hoje, uma das ilustrações inéditas para o projeto: Alex, de Laranja Mecânica, encontrando Darth Vader, de Star Wars. Olhando assim, este Darth Vader está mais para Dark Helmet... Admito que este não foi meu melhor desenho para o projeto.
Em breve, mais filmes para vocês.
Até mais!

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