segunda-feira, 27 de agosto de 2018

MACÁRIO - Capítulo 42: "As Últimas 48 Horas Livre - Parte 7"

Olá.
Duas semanas depois - ultimamente só estou conseguindo postar coisas de duas em duas semanas - volto com mais um episódio de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO. Que mais querem que eu diga?
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de mau comportamento, de coisificação do corpo feminino e de consumo de bebidas alcoólicas.



A reação de Geórgia foi repentina e explosiva: uma bofetada na minha cara.
Ela veio me ver, em meu apartamento. Mas não do jeito como ela imaginava a princípio...
Era a segunda vez que Geórgia me flagrava com mulheres no meu apartamento. Mas, desta vez, eu não podia negar que havia acontecido aquilo.
- Seu... seu porco burguês!! – Ela gritou. – Seu mulherengo desgraçado! Seu...
Estremecia, acudindo a bochecha (não doía tanto), enquanto Geórgia despejava uma série de insultos em cima de mim. Ela estava visivelmente alterada.
- Menina, comporte-se! – falou Âmbar, tentando conter Geórgia, que já se preparava para me dar outro tabefe.
- Que comporte-se o quê, sua... sua perua! – Geórgia gritou na cara de Âmbar.
- Perua, eu?! – Âmbar se assustou.
- Perua, sim!! Perua e ainda por cima vadia! Olhaí, andando quase pelada aqui!! Perua, vadia e ainda por cima...
- Meninas, por favor, não briguem... – falou Andrômeda, ainda apertando a compressa gelada na cabeça. – E, principalmente, não gritem... minha cabeça dói...
Geórgia se voltou para as duas.
- O que vocês estavam fazendo com o Macário, hein?! – vociferou, e depois, voltando-se para mim: – Você não aprende mesmo, né, Macário, seu mulherengo?! Para você a vida é só prazer, enquanto eu fico sofrendo de...
- Geórgia, por favor! – pedi. – Se acalme, por favor!
Mas nada parecia adiantar. Geórgia já chorava.
- Seu... seu porco burguês... (soluço)
- Porco burguês, eu?! – exclamei. – Geórgia, se puder se acalmar e explicar o que está havendo, afinal!
- Isso mesmo. – falou Andrômeda. – Que eu saiba, você agora está namorando o nosso amigo Breevort. Por que razão você invade o apartamento do Macário para fazer essa cena?!
- Por acaso, você ainda gosta do Macário, Geórgia?! – pergunta Âmbar.
Geórgia parou, como que pega em flagrante.
- N... não, não é isso... – Geórgia pareceu se atrapalhar para explicar. – O... O Macário aí pra mim foi só mais um caso. Foi, sim. Vim procura-lo por outro motivo... Eu... Eu...
- Você o quê, mocinha? – pergunta Andrômeda.
- Eu... hã... quem são vocês, afinal? – Geórgia mudou de assunto.
- Nós... – começou Âmbar – somos clientes do Macário.
- Clientes?!
- Ele já nos serviu drinques no bar. E... bem, confesso que a gente não resistiu. Digo...
- Pois é... – falou Andrômeda. – Não resistimos em... hum... dormir com o garçom para ganhar uns drinques grátis... eh, eh, eh... ai, minha cabeça...
- Macário!! – vociferou Geórgia. – Verdade isso?!
- Não. – respondi. – Não foi por causa de drinques grátis. E... Geórgia... estas aqui são...
- Permita-nos, Macário. – falou Âmbar. – Meu nome é Âmbar. O dela é Andrômeda.
- Âmbar... eu... ei, você que é a Âmbar?! – pergunta Geórgia, arqueando a sobrancelha.
- Hum... o Macário já falou de mim para você?!
- Você quem deu o celular novo para o Macário?!
- Celu...
Levei um susto. Geórgia ainda se lembrava! Ela estava no meu apartamento no dia em que eu ganhei um telefone celular novo de presente.
- Ah, sim, o celular. Bem, sim, fui eu. Aliás, ele está bem cuidado, Macário?
- Ei!! Agora eu tenho certeza!! – Geórgia esbravejou. – Minhas suspeitas se confirmaram! Ela é mesmo mais gostosa que eu!! Macário, seu mentiroso!!!
- Mentiroso? Eu?! – arqueei a sobrancelha.
- E ainda por cima você disse que ela andava com o corpo muito coberto! E que ela era rica!! Mas olhe só... rica ela não parece, vestida como uma... uma...
- Uma o quê, mocinha?! – pergunta Âmbar, franzindo o cenho.
- Meninas, por favor, comportem-se! – pediu Andrômeda, ainda apertando o saco de gelo na têmpora. – Sem brigas, por favor.
- Não se meta nesse assunto, gorducha! – falou Geórgia, com grosseria. – Depois que eu acabar com essa perua, será a sua vez!!
- Gorducha, eu?! – Andrômeda se escandalizou.
Âmbar deu uma risadinha. Geórgia se voltou para ela:
- Ainda não acabei com você, sua... Não gosta de ser chamada de... hum... prostituta, moça?! – pergunta Geórgia, irônica. – Então, por que se veste como uma?! Olhe aí você, com essas roupas... aliás, isso aí é roupa mesmo?! Isso aí nem lingerie deve ser, pois é feita de couro... ou teve sessão de masoquismo também?!
- Que tem minha roupa?! – pergunta Âmbar, olhando para as próprias roupas, a blusinha e a minissaia. Depois, dando um sorrisinho: – Oras, lembre-se que eu passei a noite aqui, que problema tenho se estou à vontade?!
- Mas eu lembro que você estava vestindo uma roupa assim naquela noite, no bar... Que você e aquelas outras três estavam cercando o Macário...
- E? O que tem?!
Geórgia parecia chocada. Âmbar parecia não estar se importando em ser censurada abertamente.
- Geórgia, menina. – falou Âmbar – Por que você está me censurando?! Pensei que você conhecia o Macário, soubesse como ele é mulherengo... e, aliás, eu conheço seu atual namorado. O Breevort. Ele conta algumas coisas a seu respeito que...
- O Breevort não é meu namorado. – Geórgia respondeu com um muxoxo. – Ainda.
- Hein?! Você não está namorando o meu amigo Breevort?! – Âmbar se surpreendeu. E eu também.
- Bem... não, digo... não namorando, namorando mesmo. É que tem um segundo homem no páreo, e... bem...
Suspirei. Ela ainda devia estar saindo com o Marto Galvoni, o pintor italiano. Enquanto saía com o Breevort.
- Acho que nenhuma de nós está se entendendo. – pergunta Âmbar. – Se você está namorando...
- Namorando não... paquerando!
- Oh, paquera?! Então é só paquera?! Mas o Breevort está amarrado em você, sabia?!
- Ele está?! – Geórgia pareceu surpresa.
Até eu estava com cara de ponto de interrogação com tal diálogo. Nem eu estava achando aquilo com sentido. Nem Andrômeda, que ficou praticamente de lado nessa conversa – Geórgia estava dando mais atenção para Âmbar.
- Claro que está. – prosseguiu Âmbar. – Ele está sinceramente apaixonado por você. Ele me contou. E... voltando à pergunta: se você está paquerando o Breevort, e você disse que tem mais um, por que você está com raiva do Macário?! Você não disse que ele era só um caso a mais?!
- Bem, eu... eu... – Geórgia se retraiu. – Droga!! Eu aqui sendo repreendida por... por uma mulher da qual eu sei que não posso ganhar!!! Eu sou mesmo uma azarada!!! – Geórgia derramou mais uma lágrima.
- Como assim?!
- Olhe só para você, mulher... você... (soluço) você é tão bonita, e... você tem esse corpão... – dava para ver que, entre lágrimas, Geórgia estava de olho nos seios de Âmbar, olhando-os com inveja – tenho de admitir que você tem um corpão... e é claro que o Macário não pode resistir a você, e... bem, olhe para mim! Bem pra mim!! Comparada contigo, eu sou uma... uma Olívia Palito!!
Dizendo isso, Geórgia estica a camiseta para baixo, para deixar aparente que seus seios eram menores que os de Âmbar.
- Ah, menina, não é verdade. – disse Âmbar, abraçando Geórgia pelo ombro. – Você é tão bonita... E olhe só que charme, essa pintinha no seu olho... acredite em mim, ser gostosa às vezes atrapalha mais do que ajuda. Que o diga minha amiga aqui – e apontou para Andrômeda.
Esta arqueou a sobrancelha. E parece que, nesse ponto, Geórgia reparou em Andrômeda, e até arregalou o olho em ver que ela tinha cabelos prateados.
- Eu é quem tenho inveja de você, Geórgia – Âmbar continuou falando, sem dar tempo para uma reação de Andrômeda, de Geórgia, ou minha – A seu modo, você é tão atraente. O Macário aqui tem uma sorte danada em lhe ter como amante...
- Ah, pare com isso... – falou Geórgia, encabulada. – Bajulação não adianta. Sei que não sou nada para o Macário aqui. Ele vive no prazer, o playboy aí vive trazendo mulher para o apartamento, uma mais bonita que a outra, enquanto eu fico sofrendo com...
Playboy, eu?!
- Não, Geórgia – chegou minha vez de me manifestar. – Como assim, você não é nada para mim?! Eu também me preocupo com o seu bem estar. Fico preocupado quando recebo notícias de que você não está bem. E estou preocupado com a sua mordida.
- Mordida?! Ah, sim... minha mordida no pescoço. – Geórgia pôs a mão no local da mordida. Reparo que Andrômeda ficou vermelha.
- Com o que você está sofrendo, aliás, Geórgia? Posso saber?! – pergunto, olhando nos olhos de Geórgia.
- Eu... hã... hum...
Segue um momento perturbador de silêncio. Ninguém falou nada. Ninguém sabia o que falar. Sentia que Geórgia não queria falar: ela deve ter percebido que eu percebi, só olhando em seus olhos, que ela tinha consumido alguma substância – provavelmente, remédios antidepressivos – antes de vir me procurar. Olhar de futuro médico, e até fiquei contente de não ter perdido o jeito, apesar de toda confusão dos últimos dias.
O silêncio prosseguiu. Até que eu me manifestei.
- Hã... se... Se me permitirem... eu... eu vou me arrumar para minha aula. Quem sabe vocês três queiram ter uma conversinha enquanto eu... eu já volto.
E, devagar, fui me afastando.
- Hã... claro, Macário, à vontade. – fala Andrômeda.
- Então, Geórgia, vamos nos entender. – falou Âmbar. – Vamos ser amigas. Eu quero ser a sua amiga, ela aqui – e apontou Andrômeda de novo – quer ser sua amiga, e, bem, somos amigas de um de seus... paqueras. Vamos ser amigas. Vamos ser amigas também do Macário e... ah, tem uma garrafa de vinho sobrando aqui, vamos beber um golinho. – e Âmbar puxou, do engradado no canto da cozinha, a garrafa de vinho que sobrara da noite anterior. – Aceita, Geórgia?
Geórgia parecia hesitante. Não fiquei para ver qual seria sua decisão: me retirei para o meu quarto, para me vestir. Suspirei.
Enquanto eu me vestia, fiquei com o ouvido atento para ver se haveria gritos, ou risos ébrios. Mas elas todas pareciam estar falando baixinho.
Enquanto eu me vestia, eu suspirei. Lembrei que Luce, quando sugou o sangue de Geórgia naquela noite, falou que ela usava remédios. Bem, eu não podia culpar Geórgia de nada: ela levava uma vida desregrada, e reclamava muito de azar em sua vida. Aspirante a poetisa. Devia, portanto, estar sofrendo de depressão, e tinha flutuações constantes de humor. Oh, mais uma garota com problemas mentais com a qual me envolvo. Me assusto com a possibilidade de eu ter mesmo algo a ver com isso. Mas já bastava a Valtéria e a Viridiana me causando problemas...
O despertador marcava 16:45 – quinze para as cinco da tarde.
Quando terminei de me arrumar, e voltei para a sala, mochila nas costas, as três pareciam mais descontraídas, pareciam estar se entendendo. Por que algo me dizia que aquele súbito entendimento entre as três teria sido por causa da garrafa de vinho, nas mãos de Âmbar, que agora estava pela metade?
- Então, Geórgia – Âmbar, bebericando de uma xícara – você é poetisa?!
- Aspirante – falou Geórgia, bebericando de outra xícara. – Material da vida não me falta.
- Você parece mesmo estar sofrendo tanto nesta vida, menina... por quê? Pobreza? Opressão do mundo? Azar no amor? Pressão nos estudos ou no trabalho?
- Um pouco de tudo... e... vem cá, por que suas unhas são tão compridas?!
- Questão de estilo... além disso, é só uma forma de me defender, sabe, na hora em que resolverem abusar da minha paciência, é só eu... – e Âmbar fez uma mímica de ataque com as unhas.
- Boa ideia, eh, eh... e, diz aí, por que o cabelo dela é prateado? – e Geórgia aponta para Andrômeda. – Nunca vi um cabelo assim, prateado... já vi cabelos grisalhos, cinzentos, mas prateados, assim...
- Éééé... é só uma tonalidade novíssima de tintura. Tem tanta gente pintando o cabelo com cores antinaturais, sabe, roxo, azul... em breve, o prateado será moda, menina.
E ambas riram.
Andrômeda, encabulada, não estava segurando xícara. E, decerto, Geórgia e Âmbar estavam improvisando, bebendo vinho nas xícaras.
- Oh, Macário, aí está você. – Âmbar sorriu. – Aceita um gole de vinho? Olha, tivemos de improvisar, estamos aproveitando as xícaras...
- Hã... não, obrigado. – respondi. – Isso lá é hora de tomar vinho?!
- Era o que eu estava dizendo. – Andrômeda falou. – Depois de tudo o que ela bebeu na noite passada... Eu não aceitei porque estou ainda sentindo os efeitos da ressaca de ontem à noite...
Mas Andrômeda já não usava o saco com gelo.
- E por que não impediu?!
- Porque a moça aí aceitou. – Andrômeda aponta para Geórgia.
Geórgia ergueu a sobrancelha.
- Ah, só uma... xícara de vinho, Macário. E... bem, tenho de admitir que elas duas são simpáticas, apesar de tudo. Vamos ser amigas. Vamos nos ver mais vezes... Ih,, ih...
- Viu só, Macário?!  - falou Âmbar. – A raiva passou. Eu sei. Eu posso ver...
- Sim. Esse vinho é diferente, Macário. – Geórgia olhou para sua xícara. – De onde você tirou, Âmbar?
- Minha irmã. Ela quem me conseguiu umas amostras. Ela lida com vinhos...
Engoli em seco. Lembrei daquela noite, em que Anfisbena, irmã de Âmbar, misturou substâncias na minha bebida. Será que Âmbar teria misturado substâncias ao vinho para acalmar Geórgia?!
- Bem, e aí? – pergunta Andrômeda. – Vamos embora, amiga? O Macário está pronto para ir para a aula dele, e estou vendo que ele faz questão de frequentar o curso dele...
- Hum... está bem. – falou Âmbar. – Vamos, mesmo. Já enchemos muito a paciência do Macário. E ele ainda vai ter de trabalhar... Ah, e você Geórgia, não tinha algo a falar com o Macário?!
- Hã... eu vou com ele, vamos conversando no caminho. – falou Geórgia, olhando estranho para mim. – Se... se não aparecer mais ninguém para atrapalhar.
- Então está bem. – falou Andrômeda. – Vamos, então? Digo...
- Hã... não se incomodem. – falei, olhando em volta, o apartamento bagunçado, as garrafas ainda espalhadas. – Depois que eu chegar em casa, eu arrumo a bagunça deixada.
- Âmbar, você vai sair vestida assim?! – pergunta Geórgia. – Vestida desse jeito?!
- Hã... ah, não. Eu... eu tenho algo para sair da rua... Deve estar no quarto do Macário, ainda... esperem aí...
Âmbar se dirigiu para o meu quarto. Poucos segundos depois, ela saiu de lá vestindo um casaco comprido, por cima das roupas mínimas, e com uma bolsinha a tiracolo. Não mudava muita coisa – o casaco cobria até a minissaia, mas deixava as pernonas muito expostas.
- Agora sim, vamos.
E nós quatro saímos do apartamento.
Já na porta da rua, Âmbar sorriu para nós, e Andrômeda acompanhou.
- Bem, Macário, tenha uma boa aula. – ela falou – Você vai para o bar esta noite, não vai?
- Vou, Âmbar. Claro que vou. Tenho de ir.
- Eu também irei, Macário. – falou Andrômeda. – Esta noite eu irei.
- Legal... Eu estarei atendendo, como sempre.
- Você também, Geórgia. – falou Âmbar. – Vamos nos ver de novo. Vamos ser amigas.
- Hã... claro. – falou Geórgia, meio murcha. – Vamos nos ver de novo.
- Então... – disse Andrômeda. – Até mais, Macário. E obrigada pela noite.
- Obrigada mesmo. – falou Âmbar, piscando.
E ambas se afastaram. Dei um aceno final e comecei a andar do lado oposto. Geórgia me seguiu.
- Macário.
- Bem, acho que somos nós dois agora. – falei. – Não vem mais nenhum rosto conhecido na rua... E... Vem cá... você não devia estar no seu trabalho?
- Estou de licença médica. – ela respondeu. – Ganhei uma semana de licença médica por causa daquela mordida.
- Ah... e você está aproveitando essa “folga” inesperada para me ver..
- Estou. – responde Geórgia. – Eu... bem... queria conversar com você porque... bem...
- Diz aí, Geórgia... – interrompi. – Como está com o Breevort e com o Galvoni?
- Hum?!
- Geórgia. Não tinha dois homens lhe cortejando? E...
- Pois é, tem. Só que eu não consigo decidir qual dos três.
- Como assim, qual dos três?!
- Ai, Macário... Não são só dois homens... são três. O Breevort... o Galvoni... e você.
- Eu?! – me assustei.
- Eu... Macário, de algum modo, eu não consigo parar de pensar em você, naquela noite, eu... Macário, eu não queria contar na frente das outras garotas, mas... eu não... apesar de tudo, eu não consigo parar de pensar em você... mas você... não para de partir meu pobre coração...
- Oh, Geórgia... eu entendo.
- Entende, é?! – Geórgia não acreditou.
- Pensa que você é a única que se apaixonou por mim, mesmo sabendo que eu... sou eu?! Eu... sinto muito, Geórgia.
- Sente muito, hein?! – Geórgia chorava, de cenho franzido.
- Oras... por acaso você não está gostando do Breevort ou do Galvoni?
- Eu estou sim, Macário. Eu gosto deles, sim. Eles dois são tão... incomuns. Não falo apenas das tatuagens, do visual... ai, Macário, eles dois não parecem humanos...
Suspirei. Ela nem faz ideia de como está certa...
- Bem, mas é em você quem eu penso mais, Macário. – prosseguiu Geórgia. – Tenho tido uma série muito doida de sonhos com você... desde aquele dia que eu acordei no hospital... desde que eu amanheci com estas marcas no pescoço... Sonhos impróprios para menores, Macário...
E me lembro, de repente, daquele pesadelo que tive. Em que o MC Claus apertava o meu pescoço e também o de Geórgia.
- Aai, Macário... estou enlouquecendo! – Geórgia quase gritou.
- Eu também estou enlouquecendo, Geórgia...
- Pare com isso, Macário... você não entende!!
- Entendo sim, Geórgia...
- Não entende não!!! – ela quase gritou. – Você não entende nada do coração de uma garota... nem se importa que eu esteja sofrendo... e continua... continua trazendo mulheres para o seu apartamento, seu Don Juan...
- Não sou eu quem estou levando as mulheres, Geórgia. Elas que estão me procurando.
- Elas que estão te procurando, hein?! Acredito, seu...
- Não comece com essa história de porco burguês, Geórgia, por favor! Vocês que não entendem! Eu também não estou com minha cabeça no lugar! Estão acontecendo tantas coisas... Ooh, essa vida que eu levo está cobrando seu preço, Geórgia. É isso que eu ganho por ter decidido dormir de dia e trabalhar e estudar à noite! Garotas gritando comigo!
- Não tente me sensibilizar, seu... seu... seu... seeeeuuu... – Geórgia começou a ficar nervosa, estremecer, apertar os dentes...
E, no fim, ela avançou em cima de mim, me agarrou e me tascou um beijo na boca, em plena rua. Levei um susto.
- Geórgia!!! – exclamei, me afastando.
- Surpreso, Macário? – Geórgia deu um sorrisinho.
- Muito... – falei, encabulado.
- Não consigo mais resistir. Eu ando com tanto azar, Macário. Toda vez que eu tento te procurar, que eu tento lhe pegar sozinho, eu te encontro com o apartamento cheio de mulher... você... ooh, você... Eu... eu só tenho azar, Macário... e você é... apesar de tudo, eu te acho um cara legal, mas... ooh, sou eu que ando cheia de azar... azar, azar, azar... droga...
Engoli em seco.
- Geórgia, procure se controlar.
- Me controlar pra quê, seu mulherengo?! Eu... eu ainda quero ter uma chance, cara. Macário, eu... aah, queria saber que ainda tenho uma chance... pois eu não consigo ganhar das suas mulheres... nem daquela Âmbar... que... a Âmbar é tão... é tão peituda, e... (soluço) e aquela Andrômeda, ela também é tão opulenta e... (soluço) aah, Macário, perto daquelas duas eu pareço tão... (soluço) eu pareço uma flagelada do Nordeste, eu... (soluço)
- Não é verdade, Geórgia. – procurei ser sincero. – Você é bonita à sua maneira. A Âmbar não mentiu para você. Pare com isso.
- Parar por quê, ô Macário, seu...
- Geórgia, procure se acalmar, por favor! Eu só lhe peço isso, garota: se acalme!!!
Geórgia começou a estremecer. Ficou parada, por alguns minutos, cabisbaixa. Por fim, falou:
- Seu mulherengo.
- Tá, Geórgia. Sei que sou mulherengo. Mas também me preocupo com as mulheres. Principalmente se elas se acidentam, acabam no hospital, e se comportam desse jeito... histericamente.
- Eu estou histérica?!
- Sinto muito, Geórgia. Mas o que eu posso fazer?! Você acha que é a única com problemas?! Nós dois estamos ficando loucos, Geórgia. Todo mundo anda ficando louco ultimamente. E... Geórgia... por acaso as coisas não estão bem entre você e o Breevort?
- Hã... Não. Não estão muito bem. Nem entre o Breevort, nem com o Galvoni. Eles... eles...
- O que tem eles?
- Os dois... são muito cheios de segredos. De alguma forma, não querem que eu saiba de alguma coisa... e... eu achei que você... você... você, Macário... você está agindo igual a eles!
- Eu?!
- Você também anda muito evasivo. Tem alguma coisa que você não quer que eu saiba?!
- Hã... desculpe, Geórgia, mas tem. Não consigo mentir pra você. Tem coisas que você não pode saber. Não que eu não queira contar, mas... é que pediram que eu não contasse para ninguém. Sinto muito.
Geórgia me olhou, atônita. Por fim, me abraçou. E acabo retribuindo. Quem passa pela rua pensa que somos um casal de namorados em plena discussão – afinal, quantos casais escolhem a rua para resolver seus casos?
- Hã... está bem, Macário. Acho que eu estou lhe pressionando muito, não é mesmo?
- Agora a ficha caiu, hein?!
- Não sei por que eu não consigo não gostar de você, cara. Por que eu não consigo odiar você? Eu ando numa frustração, Macário... você pode fazer ideia?
- Acho que posso. Mas por favor, não ponha a culpa em mim por isso. Eu também não posso controlar o que está acontecendo. Se eu pudesse, Geórgia... Mas eu só tenho vinte anos. Ou quase isso.
- Nós dois andamos loucos, Macário. Nós dois entramos de repente em um mundo que não podemos controlar. Nós dois estamos comendo mais do que conseguimos digerir... eu só espero que não tenhamos de enfrentar isso sozinhos... por favor... estou com tanto medo...
Me pergunto se Geórgia, na verdade, já não teria se encontrado com as criaturas fantásticas, assim como eu. Teria Breevort revelado sua verdadeira forma para Geórgia? Hm, não, talvez não, mas...
- Não, Geórgia, pode contar comigo. – falei, com sinceridade. – Se tiver algum problema, pode me procurar.
- Posso?!
- Só não espere passar a noite comigo, Geórgia... só lhe peço, menina, que não fique me atacando aos tabefes se você me flagrar com gente que... bem... eu ainda estou colecionando calcinhas, viu?
- Eu sei, Macário. É que eu... eu só estou com medo. Eu... eu me sinto sozinha. Eu estou assustada, Macário... eu...
- Geórgia. Melhor você ir para casa, descansar a cabeça. Quem sabe depois desta conversa, você esteja mais tranquila... eu... posso ver que você está mais calma.
- Hum... eu... sim, estou mais calma. Eu só estou assustada, Macário, insisto... estou...
Geórgia me olhou sorrindo. Acho que consegui acalmá-la.
- E aí... você já vai para o seu curso? – ela perguntou.
- Vou, sim. Vou ser médico, ainda. Preciso ser médico.
- Isto tudo parece um grande pesadelo, Macário...
De repente, por alguma razão, eu me lembrei do pesadelo que tive. Os Animais de Rua, zumbificados, me devorando... E, quando me dei conta, eu estava em uma parte do caminho da faculdade que...
- Macário?! O que houve?
Eu reconheci aquele trecho do caminho que tomei. Foi onde eu...
- Macário?!
Não sei o que me deu.
Só sei que, de repente, comecei a correr. Não em direção à faculdade. Peguei outro caminho. O caminho que eu estava lembrando... o caminho que, há umas duas tardes atrás, eu percorri em cima de uma motocicleta, ou melhor, de uma mulher que podia se transformar em motocicleta.
- Macário!! Volte aqui!! – eu ouvia a voz de Geórgia atrás de mim.
Apesar de estar ouvindo os gritos, eu não parei de correr, nem para trás eu olhei. Por um longo tempo, corri. Corri, percorrendo esquinas, virando esquinas... e só parei quando me encontrava em frente a uma casa. Uma casa condenada, naquele bairro afastado.
O “cafofo” da gangue dos Animais de Rua.
Será que eles estão vivos, depois do ataque dos Carniceiros?!
- Macário!! – Geórgia gritava.
Olho para trás: Geórgia estava esbaforida, atrás de mim. Eu também me encontrava esbaforido, mas não tanto quanto ela.
- Geórgia! (puf) Por que (puf) você veio atrás de mim?! (puf)
- Eu (puf puf) que pergunto!! (puf puf) Por que você começou a (puf) correr e (puf) fugir de mim e (puf)...
Respirei fundo e comecei a recuperar o fôlego.
Por fim, me voltei em direção a casa.
- Macário... (puf) o que estamos fazendo aqui?! (puf)
- Eu vim ver uma coisa aqui.
- Nesta casa?! (puf) O que é que tem nesta casa?! (puf)
Fui me aproximando. A casa parecia deserta. Estava fechada, portas e janelas fechadas... Nenhum som saía de lá de dentro...
Mas, aí, uma música começou a sair de dentro da casa. Uma música de rock.
- Macário, que música é essa?
Eu conhecia aquela música, aquela canção, aquele solo de guitarra. Oh céus... os Animais de Rua ainda estariam vivos?!
A porta da frente estava fechada. Mexi na fechadura, e ela abriu.
E, com a visão que tive, ao abrir a porta, eu não sabia se ria ou se chorava.
Ali estavam, tal como eu os encontrei aquele dia: Pauley, Boland e Gil, sentados em almofadões no cômodo que parecia a sala. Pauley, enfiando alfinetes na pele; Boland e Gil se agarrando. E, da porta fechada atrás deles, vinha uma música abafada, o rock familiar estava soando.
Assim que abri a porta, eles voltaram seus olhares para ela, e sorriram.
- Macário!!!
- Oh, Macário!!! Você está vivo!!!
- Você está de volta, amigão!!!
E eles vieram correndo me abraçar, histericamente felizes.
Eu procurei me controlar.
E Geórgia, que entrou na casa atrás de mim, estava sem entender o que estava acontecendo.

Próximo episódio daqui a 15 dias. E vamos ver se desta vez consigo postar alguma coisa entre os episódios...
Até aqui, como a história está ficando? A qualidade diminuiu? Aumentou? Devo continuar? Parar?
Manifestem-se!
E até mais!

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