domingo, 26 de maio de 2013

XIRU LAUTÉRIO CONTRA A MORTE - sabemos que não morreremos, porque de nós vai ficar...

Olá.

Hoje, voltamos a falar de álbum de quadrinhos. E de um personagem que deu o que falar no ano passado e no retrasado.
Atualmente, o personagem Xiru Lautério, o gauchão grosso criado pelo santa-mariense Jorge Ubiratã da Silva Lopes, o Byrata, se tornou conhecido em todo o Brasil – graças aos seus três álbuns mais recentes, sua fama extrapolou o Rio Grande do Sul. E isso que os álbuns do personagem são relativamente recentes.

Bem. A primeira publicação com o personagem foi um álbum, de 1978, compilando as tiras publicadas a partir de 1975 em jornais de Tupanciretã e Cruz Alta. Depois disso, o personagem teve outras tiras, publicadas em jornais de Santa Maria.
Só bem mais tarde, após um período de desespero para os quadrinhos nacionais, chegaria um novo álbum com o personagem: o primeiro álbum da série Xiru Lautério e os Dinossauros, de 2007, compilando as tiras que foram publicadas entre 2003 e 2006 na revista Quadrante X, do Núcleo de Quadrinhistas de Santa Maria – Quadrinhos S. A..
Em 2009, saiu Xiru Lautério e os Centauros, um passeio pela história da aviação e da mitologia, que ganhou inclusive uma indicação ao Prêmio Ângelo Agostini. Deste já falei aqui no blog.
Só em 2010 Byrata completaria a série Xirú Lautério e os Dinossauros. Foi o segundo álbum que deu projeção ao gauchão, graças, inclusive, à divulgação do amigo paulista Bira Dantas, que incluiu o Xiru – e mais uma porção de personagens gauchescos, incluindo ai também o Cruzaltino – em tiras do seu personagem Tatu Man. Deste também já falei aqui no blog.
E, em 2012, saiu o mais recente álbum do Xirú. Hoje, vou falar de XIRU LAUTÉRIO CONTRA A MORTE.
Pela editora Rio das Letras, de Santa Maria – RS, veio mais este álbum. Mas não se trata de uma história inédita do Xiru. Trata-se, na verdade, da compilação de uma série de tiras publicadas no jornal A Razão de Santa Maria, em 1986. Essa publicação durou dois meses, com o patrocínio, da época, do Supermercado Tchê.
Esta compilação tem introdução do próprio Byrata e prefácio do renomado cartunista gaúcho Renato Canini e de sua mulher Maria de Lourdes, a Lurdinha.
Bão, vamos começar, então: XIRU LAUTÉRIO CONTRA A MORTE mostra, desde as primeiras páginas, que não se trata de uma história inédita. A arte de Byrata é diferente do estilo atual. Enquanto que a arte de Os Centauros e Os Dinossauros é um tanto mais simplificada, mais “dura”, em CONTRA A MORTE a arte é mais detalhista, mais cheia de hachuras, mais solta e mais fluida, conferindo aos personagens muito mais movimento, e ao Xiru um estilo mais jovial que o observado em Os Dinossauros, por exemplo. Mas a capa é, evidentemente, recente.
A história ganhou novos balões, com letras padronizadas, além de um glossário no canto das páginas, com os termos gauchescos proferidos pelo Xiru ao longa de sua jornada. Mas, em algumas páginas, dá para se encontrar alguns balões de fala da antiga versão, com letras feitas à mão, que o Byrata, certamente, esqueceu de editar.
Quanto ao roteiro, ele mostra o Xiru Lautério bem como foi concebido, e como Byrata não abre mão: homem típico dos campos gaúchos, rude, valente, pronto para a briga, pouco afeito a questões filosóficas nunca abrindo mão de certos hábitos, como o chimarrão e o churrasco, e tendo por companheiros inseparáveis o cavalo e o revólver “chimitão” (marca Smith e Wesson). E olha que eu pus esses termos em linguagem que o pessoal de fora do Rio Grande do Sul, leitores deste blog, possam entender.
Pois, neste álbum, o Xiru, conforme diz o título, enfrenta uma aventura tenebrosa: encara a Morte, frente a frente, e no sentido, digamos, físico. E também no filosófico, pois o Xiru é representante de uma categoria que está em extinção: o gaúcho campeiro tradicional, do "sistema antigo" tão decantado pelo cancioneiro gaúcho. A luta de Lautério contra a morte também é a luta para que os gaúchos de bota e bombacha - e, de quebra, o quadrinho brasileiro "de raiz", que retrata o homem brasileiro longe das imposições dos comics norte-americanos e dos mangás japoneses - não desapareça, se não com a morte, nas névoas do esquecimento, dentro de nosso próprio país.
A história começa quando o Xiru, ignorando os conselhos de um velho, resolve cruzar um local ermo, um grande desfiladeiro conhecido como “Passo do Inferno”. Durante a travessia, o Xiru e sua égua (na aventura, é uma égua a fiel montaria do Xiru) caem em um “forge” (buraco profundo), e, no momento seguinte, se depara com a própria morte, que está decidida a levar o herói.
A Morte é representada por Byrata do jeito tradicional: um esqueleto ambulante, nu, portando uma foice. Nada de capa com capuz. Com um linguajar terrível e um olhar mais terrível ainda, a morte trava um corpo-a-corpo com o Xiru. Nesse corpo-a-corpo, a primeira vítima é a pobre égua do herói. O Xiru se defende primeiro com o “chimitão”, depois com a faca, e a seguir, com as palavras, tentando retardar a ação da morte através da bravata. O Xiru quase consegue uma vantagem, cortando o cabo da foice da Morte quando as palavras falham, mas a “Indesejada das Gentes” provoca um novo desmoronamento e faz o Xiru cair em um precipício.
O gauchão sobrevive por pouco: ele cai em cima do corpo da égua. E se vê, agora, preso em um buraco, onde não passa luz, mas tem água e madeira para que possa fazer uma fogueira. O Xiru mateia, mas passa mal por causa da água salobra. É obrigado a comer a carne da própria égua. E o que é pior, tem por companhia um bando de corvos, sinais de mau agouro. Num acesso de raiva, o Xiru chega a pegar os corvos, um por um, e juntá-los, amarrados pelos pés, numa bola.
A salvação do Xiru chega em um novo desmoronamento e numa série de explosões... Mas conseguirá o Xiru enganar os planos da morte?
A história até que se desenvolve bem. Mas há quem acaba achando o final absurdo, mesmo em um enredo fantástico como esse. Mas este álbum contribui para aumentar a fama de Byrata como um de nossos mais representativos quadrinhistas. Vale a pena.
Para completar a coleção, agora só está faltando achar o gibi de 1978, hein? Mas as páginas escaneadas ainda podem ser vistas no Blog do Cruzaltino, que o Henrique Madeira publicou com a autorização de Byrata.
Bão. Se ainda tiverem sorte, o álbum ainda pode ser adquirido ao preço de R$ 10,00. Escrevam para: byrata@hotmail.com.br.
É isso aí, gurizada.
Para encerrar, uma dose dupla de cartuns do meu gauchão, do Teixeirão.
O primeiro é outra referência sobre o escândalo do leite adulterado, que começou no RS. O caso ainda está em andamento, então dá tempo de fazer alguma referência. Esta charge já foi publicada no blog próprio do Teixeirão: http://naestanciadoteixeirao.blogspot.com.br/.
E o segundo cartum é uma referência direta ao presente álbum. O próprio Teixeira encarando a Morte! Porém, resolvi vestir a Morte com o tradicional capuz. Será sonho ou realidade o que o Teixeira está vivenciando? Decidam vocês.
É isso aí, gurizada! Todo nosso apoio ao quadrinho feito aqui!
Até mais!

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