terça-feira, 19 de março de 2019

MACÁRIO - Capítulo 56: "Geórgia Sherlock"

Olá.
Para compensar os lapsos de tempo entre os episódios de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO - no início deste ano, aconteceu de eu ter ficado mais de 15 dias sem publicar capítulos - esta semana estou entregando, sete dias depois do capítulo anterior, um novo capítulo. E há previsão de que, se tudo correr bem, na semana que vem entregue mais um. Daí, a publicação voltará a ser quinzenal. Espero.
ATENÇÃO: Leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de intimidação psicológica.



Meu coração deu um salto, meu olho instintivamente se arregalou, sempre olhando para Geórgia, ali parada.
Ao contrário das outras garotas, ela não foi embora, não se afastou de mim. E não ia se afastar enquanto não esclarecesse o que queria que fosse esclarecido, ainda em plena rua. E, logo na primeira pergunta, tive a certeza...
Ela sabia!
Geórgia se lembrava de Luce!
Geórgia se lembrava do rapaz sorridente que oferecera carona para ela e eu!
Eu havia dito às outras garotas que Luce era meu primo. Mas, pelo jeito, Geórgia sabia que não era verdade.
- C... Como disse? – perguntei, com apreensão, me fazendo de desentendido.
- Macário, fale a verdade. – Geórgia sempre de cara amarrada. – Ultimamente, você só sabe mentir. Você pode contar historinhas para suas outras garotas, mas eu que não vou acreditar nas suas lorotas... Todas nós levamos mordidas no pescoço. Elas podem acreditar em qualquer coisinha que você conte, e eu gostaria de saber como você consegue fazer isso, mas eu sou a mais interessada na verdade. Você sabe de alguma coisa, apesar de ter levado uma mordida também.
- Mas... mas...
- Mas nada. Agora que estamos só nós dois, me fale a verdade. Começando por aquele sujeito. O Luce, ele não é seu primo.
- Você...?
- Eu sei, Macário, só de ter observado. O Luce não é seu primo. Vocês não são parentes. E ainda te instruiu a mentir para as outras.
- Geórgia...!
Mas ela não estava me deixando argumentar.
- Está até sem palavras, Macário. Por que você disse que o Luce é seu primo? Por que está escondendo a verdade?
- Bem, Geórgia, eu...
- Me fale a verdade, Macário, ou vou gritar aqui na rua. Quem é o Luce, afinal?!
Respirei fundo.
- Bem... ele... o Luce... sim, ele não é o meu primo, digo... Ele não é meu parente. É um amigo.
- Amigo, simplesmente?
- Só amigo. Ele é um dos clientes do bar. Ele que insistiu em ficar amigo meu, apesar de eu ser apenas um bartender.
- Cliente... Ah, sei. Clientes que, de repente, resolveram se tornar mais que meros clientes seus, Macário... Ele é amigo, inclusive, daquelas mulheres que estavam no seu apartamento naquela manhã. Elas também são clientes que se tornaram mais que amigas suas, não é isso?
- São, sim.
- Bem, Macário, eu demorei um pouco, mas eu sei quem é o Luce, de verdade. Só não falei nada porque as outras garotas estavam por perto, sabe. Lembro do cara, sim. Ele pode mudar o penteado do cabelo, tentar se transformar em outro quando penteia o cabelo para trás, mas eu reconheci ele, sim. O tiete do Marto Galvoni. Aquele cara que ficava pajeando o Galvoni no dia daquela exposição no bar! E aquele cara que nos deu uma carona naquele dia! Sim, são o mesmo... o mesmo cara esquisito que estuda comigo no curso!
- Cara esquisito?
Luce é colega de Geórgia no curso de Letras.
- Sabe, Macário. Lá no curso, ele é do tipo que se esconde no meio dos outros, não se manifesta, prefere ouvir as aulas como se não estivesse lá, ou se só estivesse lá em espírito. Os outros não reparam nele, mas eu reparo.
- Ah... Hum... E... E você já tentou puxar conversa com ele?
- Não. Eu noto a presença dele na aula, mas eu faço como os outros, deixo ele em paz, com os pensamentos dele, pois assim ele também nos deixa em paz, não é? E eu acho que sei por que ele quis que você fosse morar com ele...
- Sa... sabe?!
- Sei. Você também mentiu, Macário, dizendo que ele é hétero...
Arregalei o olho.
- Ge...!
- Ele na verdade é!...
- Não, quanto a essa parte eu não menti, Geórgia! Aí você me ofendeu! Claro que o Luce é hétero! Não é nada disso que você está pensando!
Só faltava mesmo que o Luce tentasse me sodomizar em algum momento. Ainda tinha em mente o tamanho do p(...) dele, ereto, enquanto transava com Âmbar, Morgiana e até com a mana Andrômeda...
- É hétero mesmo, hein? – Geórgia não queria acreditar. – Então por que aquelas atitudes estranhas dele? Aqueles gestos teatrais?
- É só o jeito dele. Excêntrico. Não quer dizer que ele seja gay. Como você disse, é teatro. Eu já vi, sem querer, ele transando com mulheres.
- Mulheres? E ele é bom de cama?
- Claro.
Estava evidente que Geórgia não estava acreditando em mim.
- Aham... E ele certamente deve ser rico.
- Como sabe disso também?
- Ah, você confirma que o cara é rico?
- Isso eu confirmo.
Geórgia estava tão adivinhona e dedutiva quanto um Sherlock Holmes!
- Eu já suspeitava desde o dia da carona, Macário. Afinal, só para circular com aquele carro diferentão, ele deve gastar um bom dinheiro com autorizações e, pela despreocupação dele, dinheiro não deve ser problema. Além do mais, as roupas com as quais ele vem ao curso são roupas boas. Nunca tinha reparado? Ele praticamente contrasta com as roupas do resto do pessoal. Os outros vem com roupas velhas, informais, mas eu consigo reparar que as roupas dele são de boa marca.
- Bem...
- Macário, que tipo de interesse está lhe guiando?
- Interesse? – arqueei a sobrancelha.
- Ah, Macário. Não acha estranho um cara rico convidar um garçom para dividir apartamento com ele?!
- Não é de minha parte, Geórgia. Foi ele quem propôs.
- Ele, é?
- E não vá pensando besteiras, porque está muito enganada se acha que estou tirando algum tipo de vantagem. Vou ter de pagar parte do aluguel, e cada um tem seu espaço intocável. Nada de “o que é meu também é seu”.
- É mesmo?
- Mesmo. E a ideia é mais excentricidade de rico, sabe. Ele tem a sua mansão, mas foi mais uma daquelas ideias excêntricas que alguns ricos tem de querer se misturar com as classes baixas, conviver com os pobres... Puramente isso.
- Aham.
- É verdade, Geórgia. Isso é verdade. Só a parte do primo que não é verdade. E eu mesmo fico me perguntando: por que eu? Dentre tantos no mundo, por que fui eu o sorteado nessa Loteria da Babilônia?!
Geórgia ainda me olhava impassível. Ela não ia aceitar que eu estava sofrendo (na verdade, nem parecia mesmo que eu estava sofrendo). Aos seus olhos, ainda sou um... porco burguês. Mas ela preferiu mudar de assunto:
- E a irmã do Luce... A sua prima gorda... é uma daquelas peruas, não?
- Que peruas? – arqueei a sobrancelha.
- As que estavam no seu antigo apartamento naquele dia. Aquelas duas peitudas. Acho até que a tal “prima gorda”, na verdade é aquela do cabelo prateado. Aquela mais gordinha. Aí você mentiu também. Você passou outro fim de semana, na verdade, com uma gostosa, não é? E foi legal... Você não foi obrigado, você foi seduzido... Você não se deu mal...
Até disso ela sabia! Desse jeito ela ia deixar de ser poetisa para seguir carreira de detetive.
- Maahhh...
- É verdade... Foi com outra gostosa, como sempre, não é, seu sacana?! E você gostou!! E creio até que aquela outra peituda... a p(...) bêbada... ela também foi pro seu novo apê, não é verdade?!
Os olhos de Geórgia começaram a se encher de lágrimas.
- Bem, Geórgia, eu não posso negar...
- Foi aquela quem lhe deu o celular, não foi? A... A Rê Bordosa aquela. Como é mesmo o nome?
- Bem, eu... É... É Âmbar.
- Âmbar... E acho até que teve mais mulher aí, não é mesmo? Como aquela... aquela morena atlética da exposição! Acha que eu esqueci dela também?!
- Bem, eu...
- Eu sabia!! Você não se deu mal!! Enquanto as mulheres sofrem nesse mundo, você... Você!... E... E quem mais, Macário?! Quem mais, seu mulherengo?!
- Foram... foram só essas, Geórgia. Essas três.
Sentia que ia ter um acesso de diarreia em plena rua.
Geórgia amarrou a cara e apertou os punhos. O que ela ia fazer? Gritar em plena rua, à noite? Me dar outro tabefe? Até apertei os olhos, esperando o impacto no rosto.
Mas o tabefe não veio. Depois de alguns segundos, ela, por fim, respirou fundo e, por fim, falou, deixando a lágrima cair:
- Seu mulherengo asqueroso.
- Não vai me bater?
- De que vai adiantar? Quantas vezes lhe dei bofetada, e você...! (soluço)
- Começo a achar que você está com ciúme... e você paquerando dois homens, dois tatuados.
- Não muda de assunto, seu...!
- Ah, Geórgia... Eu... Eu não posso negar mesmo. Sou um mulherengo asqueroso, mesmo. Mas não foi por que eu quis. Foi o Luce quem promoveu uma festa para comemorar a mudança de apartamento, e, bem... Acabou ocorrendo também que elas beberam e... Mas eu juro, foram só aquelas três.
- Só aquelas três?!
- Confesso. Estive com três mulheres enquanto vocês... bem... vocês, garotas, estavam sofrendo. Mas não foi porque eu realmente quis. Não era minha intenção dar bolo, nem fazer garotas chorarem. Essas três mulheres me forçaram, digo, elas vieram me seduzindo, e me deixei levar... Como qualquer homem se deixaria levar. Acredite, mulher, eu daria tudo por uma noite tranquila. Até isso me foi tirado.
- Aham... – foi o que ela disse, ainda de cara amarrada.
Será que ela ainda acha que quem organizou a tal festa fui eu? Ah, mas isso não ia ficar por isso mesmo...
- Mas como você sabe?! Alguém lhe contou? Foi... foi o Breevort, não foi? Ele me dedurou.
Pude ouvir Geórgia engolindo em seco.
- Bem... não. Ele não dedurou, mesmo. Ele só fez umas... suposições. Encontrei ele hoje e ele falou de umas coisas... Ele falou de uma festa que ele foi, do seu apartamento novo... E ele disse: “tenho certeza de que o Macário deve estar agora se divertindo com as mulheres da festa. Ele merece.” Bem assim... Que você ainda merece!!
Tatuado filho da p(...).
- Não sei por que ele disse isso, Geórgia. Eu não mereço.
- Seu hipócrita. Eu sei da sua natureza, Macário. Sei que você é um mulherengo, mas... É tão suspeita essa combinação de desejo carnal e satisfação material... Vamos, confessa, claro que você está tirando vantagem disso tudo. O Luce te apresentou ao alto escalão. Você faz parte da elite econômica agora.
- Não faço não... Só se for como mordomo. E mordomo também se f(...).
- Aham... Posso levar o tempo que for preciso, Macário, mas vou fazer você confessar todas as suas mutretas. Você está armando para cima de nós. E não me sai da cabeça que você está envolvido até o pescoço – a-t-é-o-p-e-s-c-o-ç-o – na mordida que levei.
Oh, não. Agora só falta que ela tenha descoberto que Luce é um vampiro. O dom detetivesco dela estava indo longe demais. Será que Breevort contou a ela de sua verdadeira natureza? Não, pelo jeito não. Parece que Breevort ainda não teve coragem de contar a ela que era um elfo negro. Tatuado filho da p(...).
- Macário, mais uma coisa.
- Que é agora?!
- Agora que vocês falaram do menino...
- Que menino? Ah, sei.
- Você, Macário... O trombadinha que vocês estavam falando... que roubou minha bolsa. Era desse menino que a Créssida estava falando?
- Você descobriu?
- Macário... Você conheceu o trombadinha que roubou minha bolsa?!
- Conheci, sim. Por acaso. Ele esteve no hospital universitário, sabia? Porque cortaram sua orelha. E o pior é que eu ainda estou com essa orelha em casa! E desconfio, sabe... que quem cortou a orelha do garoto tenha sido o Breevort!
Geórgia deixou o queixo cair.
- Não é possível, Macário! O Breevort?! Ele não seria capaz disso! Ele é tão manso! Apesar da aparência assustadora, ele é manso!
- Bem, claro que há mais suspeitos.
- Não pode ser, Macário...
Ah, parece que finalmente consegui desarmá-la.
- Foi muita coincidência eu ter ido ao hospital justo no momento em que o menino estava sendo tratado. Justo o menino que roubou sua bolsa. E, bem, conseguiram recuperar sua bolsa. Mas ao custo de uma orelha.
- Minha nossa... Eu... estou sem palavras.
- Não espere que eu lhes dê essas palavras, Geórgia. E...
- Macário...
- Geórgia, eu...
Houve uma pausa. Geórgia devia estar reorganizando as ideias. Enquanto isso, agora eu deixava a lágrima rolar.
- Macário... – por fim, Geórgia começou a falar. – O que conversamos agora... Bem, fica entre nós dois, tá? Fique tranquilo que eu não vou contar a ninguém.
- Eu... Posso confiar?
- Ainda vou juntar os outros cacos de pistas sobre suas mutretas, Macário. Ainda tem mais poeira nas palhas da sua vassoura! Você pode ter tentado varrer as evidências para debaixo do tapete, mas ainda tem poeira grudada nas palhas da vassoura. Ainda há algo de podre no reino da Dinamarca! Enfim, Macário. Vocês não estarão a salvo, você e seus amiguinhos do alto escalão, que ficam roubando a Nação com a ajuda do governo, transformando o país inteiro num puteiro porque assim se ganha mais dinheiro...
- Precisa mesmo desperdiçar metáforas, Geórgia? Precisava mesmo citar Cazuza?
- Lembre-se, sou uma estudante de Letras. Sou uma poetisa. E só porque você é estudante de Medicina, e ainda por cima bartender aparentemente honesto, você não vai se safar, seu mulherengo. Você não está acima de qualquer suspeita.
- Nunca quis estar. E eu ainda pergunto: por que eu?!
- Você é o mais excêntrico de toda a faculdade, até onde sei.
- Eu?!
- Não encontrei aí outra pessoa que realmente dormisse de dia e trabalhasse à noite. E que fosse tão bem relacionado a ponto de um ricaço convidá-lo para dividir o apartamento.
- Eu tenho é sorte. Uma sorte que nem sei se mereço ter. Não sou um iluminado, sou um ensombrecido.
- Não tente se imiscuir, Macário.
E, afinal, nos calamos.
E, quando nos demos conta, já estávamos na frente do bar. O bar onde eu agora tinha de trabalhar. Nem havia me dado conta de que estávamos andando pela rua, à noite, tão envolvidos na conversa estávamos. Será que alguém na rua ouviu o casal discutindo?
- Puxa, já chegamos ao bar? – pergunta Geórgia, sem jeito.
- Nem eu reparei.
- Bem... Acho que nós... Estamos conversados... né?
- Hum... hã... Não gostaria de entrar e tomar uma... uma xícara de café?
- Não será muito incômodo? – ela sorriu, afinal.
- Vai que o Breevort venha hoje.
- Hum... Bem, já que estou aqui... Acho que depois dessa preciso de um copo de cachaça.
- Mas eu vou ter de entrar pela outra porta, dos fundos. Então... Nos encontramos no balcão.
- Está bem.
E, com um sorrisinho, cruzou a porta.
E me afastei, afinal, de Geórgia. Muito atordoado. Tenho de me controlar para não chorar.
Mas não consegui. Enquanto pegava meu uniforme no armário, tive de soltar uns três ou quatro soluços, deixar cair umas lágrimas. Só assim para aliviar-me dessa pressão toda, desse cerco policialesco.
Geórgia... Eu desconfio de suas reais intenções.
Aquela mulher iria fazer de tudo para arruinar minha vida, mesmo depois de tudo que fiz para ela. Depois de ter salvo sua vida de cães demoníacos, de ter tratado seus ferimentos, de ter lhe dado sexo... De ter lhe dado atenção.
E, dentro de instantes, de lhe servir cachaça.
Quando apertei a gravata borboleta, eu já estava mais calmo, já estava pronto para encarar o balcão.
Não posso fazer nada agora, além de ajudar a turbinar a maldade do mundo com bebida alcoólica.

E mais, será que Luce e os Monstros vinham hoje?

Próximo capítulo, como já dito, daqui a 7 dias, se tudo correr bem.
Até aqui, como está ficando? Está bom? Ruim? Deve continuar nesse ritmo? Parar ou continuar? Devo reestudar as ilustrações? Manifestem-se nos comentários!
E até mais!

2 comentários:

Anônimo disse...

Está quase impossível você conseguir comentar alguma coisa usando o Google crome! O negocio não vai por mais que tente!

Anônimo disse...

Depois de muito tempo consegui comentar, e fico feliz por vc continuar mantendo o seu blog com assuntos interessantes, parabens pelo trabalho!!!!