quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Estranho Caso de Robert Louis Stevenson

Olá.
Hoje, vou falar novamente de adaptações literárias para HQ.
Esta foi feita no exterior, e recentemente publicada no Brasil. Trata-se da adaptação literária de O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson.
Antes, vou falar um pouco da obra em que a HQ se baseia.
O MÉDICO E O MONSTRO, cujo nome verdadeiro é O Estranho Caso do Dr. Jekyll e de Mr. Hyde, publicada em 1886. Seu autor, o escocês Robert Louis Stevenson (1850 - 1894), possui uma biografia tão interessante quanto os livros de aventura que escreveu. Ele também é o autor de A Ilha do Tesouro (1881), considerado um dos maiores romances de pirataria de todos os tempos e um dos livros favoritos de uma geração de fãs de literatura de aventuras.
Bem. O MÉDICO E O MONSTRO é considerado um dos melhores romances de terror de todos os tempos - Drácula, de Bram Stoker, e Frankenstein, de Mary Shelley, fecham a tríade. Ah: foi lançado, há algum tempo atrás no Brasil, uma edição que reunia esses três livros juntos.
Bem. O MÉDICO E O MONSTRO foi concebido após um pesadelo. Stevenson, que conviveu toda sua vida com uma tuberculose crônica, teve um pesadelo certa noite. Mas, ao ser acordado por sua esposa, ele protestou ao ter sua "historinha" interrompida. Mas ele conseguiu concluir seu "drama fantástico testemunhado por cidadãos comuns", que consolidou sua fama e tornou Stevenson financeiramente independente - ele pôde comprar uma mansão na Polinésia, onde faleceu.
Ambientado em Londres, então uma cidade gélida, com seu ar contaminado pelos gases industriais e escurecido pela forte neblina, o romance de Stevenson faz uma severa crítica à sociedade londrina, industrial e estratificada.
Sim: é bem conhecido o fato de que, na época da Revolução Industrial, no século XIX, era evidente a separação de classes sociais - burguesia e proletariado. E isso ficava evidente nas habitações da cidade: de um lado, as luxuosas casas dos ricos industriais; de outro, a sordidez dos bairros pobres. E a vida das classes mais baixas era horrível na época, já que o trabalho não oferecia segurança, o trabalho era extenuante e o pagamento era uma ninharia.
É nesse cenário que se desenvolve a bem conhecida história de Henry Jekyll, um brilhante cientista que, acreditando existir dois lados dentro das pessoas - um bom e outro ruim, o bem e o mal - procurou separar esses dois lados através de uma poção. Assim, nasceu a figura assustadora de Edward Hyde, alter-ego de Jekyll, o lado mau do cientista. E a experiência acaba fugindo do controle do cientista quando Hyde começa a cometer crimes.
Bem, essa parte é bem conhecida - já foi bastante adaptada em filmes, televisão, desenhos animados. Mas no livro a coisa funciona de modo diferente: a gente só fica sabendo que Edward Hyde e Henry Jekyll são a mesma pessoa no final do romance, quando Jekyll conta tudo numa carta de confissão. Até lá, segue-se a investigação processada pelo advogado Gabriel Utterson, amigo pessoal de Jekyll, para apurar a verdade sobre Mr. Hyde, que havia cometido um assassinato - matou um homem da alta sociedade a bengaladas. Tanto as atitudes de Mr. Hyde quanto as do Dr. Jekyll são suspeitas aos olhos do advogado - entre elas, o fato de Jekyll ter colocado Hyde como seu testamentário, mas tê-lo retirado depois do assassinato perpetrado pelo beneficiado.
O livro também possui um precedente filosófico: afinal, dentro de cada um de nós, independente de apresentarmos virtudes que nos tornem respeitáveis, se esconde um monstro, pronto para fugir ao controle de nós mesmos e a despertar ao mínimo motivo? Não deixa de ser verdade. Não chegamos, às vezes, a assumir a aparência de um Mr. Hyde, mas sim, revelamos às vezes um "lado mau" dentro de nós.
Bem. Esse romance não é difícil de encontrar nas livrarias. Várias editoras o tem em seu catálogo. A edição que vocês vêem aqui é da editora Ática, coleção Eu Leio. Tradução de Heloisa Jahn, ilustrações de Edgar R. Souza. Uma das melhores edições, completa com biografia do autor, notas e breve análise de especialistas. Texto integral.
A ADAPTAÇÃO EM QUADRINHOS
Esta adaptação da obra para HQ foi produzida nos EUA, pela editora Stone Arch Books em 2009. Foi escrita pelo americano Carl Bowen e ilustrada pelo mexicano Daniel Perez. Foi publicada no Brasil pela editora On Line, no início deste ano.
Esta adaptação do livro de Stevenson para HQ pretende seguir ao máximo o texto original: a mesma estrutura narrativa, os mesmos fatos. Dividida em cinco capítulos. E, para isso, se utiliza de quadros grandes e texto reduzido - numa adaptação literária para HQ, é bom pular os parágrafos descritivos, que são representados graficamente.
Os desenhos de Perez são muito bem-feitos, e a colorização dá o clima certo à história. Quer dizer, não chega a ser sombria, a maior parte é feita em cores vivas, mas com tons obscuros. Quase não se faz o uso de sombras em preto. E a reconstituição da época da história é perfeita.
A adaptação peca, mesmo, em não ser tão impactante - afinal, é um livro de terror, mas a violência é rarefeita - apesar da caracterização de Edward Hyde condizer com seu caráter. O Hyde é o monstro deformado como estamos acostumados a imaginá-lo.
Some-se a isso a diferença em relação ao original: na HQ, o homem assassinado a bengaladas por Hyde é Hastie Lanyon, cientista colega de Henry Jekyll e o primeiro a conhecer o segredo do "médico". No livro, o homem assassinado se chama Danvers Carew. E Lanyon falece de morte natural. Mesmo assim, em ambos Hyde começa a ser procurado por assassinato. Mas certos fatos que são melhor explicados no livro não possuem uma explicação ampla na HQ.
Os personagens mais importantes do livro aparecem todos: Gabriel Utterson, Lanyon, o mordomo de Jekyll, Poole.
Além disso, há o problema dos quadros grandes. Ficou a impressão que Bowen e Perez pretendiam fazer uma espécie de HQ de super-heróis com o enredo de Stevenson. Apesar de proprocionar aos leitores momentos de alívio para os olhos, o espaço da quadrinização poderia ser mais bem-aproveitado. Sobra bastante espaço nas páginas.
No mais, a adaptação não ficou ruim. Segue a estrutura do romance, com Jekyll só confessando sobre seu alter-ego no final. Só poderia ter sido mais emocionante. Não ficou, por assim dizer, digna de um clássico literário. Ainda mais que a revista foi impressa no formato americano comum, uma revista que, sem a devida atenção, pode ser confundida com qualquer outra nas bancas.
De qualquer forma, é possível encontrar a obra nas bancas, pelo preço "módico" de R$ 8,90.

Para encerrar, um desenho que faz referência ao assunto do livro de Stevenson: a existência de um lado bom e de um lado ruim em cada um de nós. Qual lado é mais forte? Aquele que nós alimentamos, diz a sabedoria.
Até mais!

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