sexta-feira, 22 de abril de 2011

CALVIN E HAROLDO - O tigre e seu menino

Olá.
Depois de uma semana particularmente difícil, estou de volta!

E, aproveitando este feriadão de páscoa, hoje vou trazer - nessa empolgação infantil de espera pelo coelho da páscoa - uma HQ infantil.

Até há algum tempo atrás, esta HQ estava entre as favoritas de 10 entre 10 leitores de quadrinhos. É uma série estrangeira, mas que não perdeu em nada seu caráter universal e atemporal. É uma das tiras mais reproduzidas em livros didáticos, jornais e sites (incluindo, há algum tempo atrás, o quadritiras - http://www.quadritiras.com.br/).

Pelo título do post, é claro que vocês já deduziram: trata-se de CALVIN E HAROLDO.

Eles foram criados em 1985, por William (Bill) Watterson. Tal como muitas tiras clássicas, ela não emplacou logo de início, porém, com o tempo, foi uma das tiras mais difundidas em todo o mundo. É considerada a última grande kids strip (tirinha de HQ com uma criança como protagonista). Sim, pois, depois de CALVIN, nenhuma outra HQ infantil criada depois de 1985 conseguiu grande relevância. Na verdade, quando CALVIN veio ao mundo - inicialmente como um personagem secundário - , a onda do momento eram os quadrinhos dirigidos ao público adulto. Regados a sexo, violência e questionamento da sociedade, os quadrinhos, a nível mundial, já não eram mais os mesmos. Já não eram mais "coisa de criança". Se investia mais, agora, nos gibis e nas graphic novels, enquanto que o formato tiras perdia importância. E, assim, desde CALVIN, poucas tiras de HQ conseguiram divulgação em escala global - uma das exceções é o Dilbert de Scott Adams.

Bem. CALVIN E HAROLDO iniciou-se em 1985 e foi publicado até 1995 - a exemplo da HQ argentina Mafalda, de Quino, a publicação durou dez curtos - mas intensos - anos. Ainda há o fato de que Watterson era avesso a dar entrevistas, e todos os contatos com a imprensa terem sido feitos por sua esposa. Só recentemente Watterson concordou em conceder algumas entrevistas a fãs, e todas pela internet. Nelas, Watterson desmentiu alguns boatos a respeito do personagem - por exemplo, que ele teria sido criado com base em algum filho dele. Não, na época de criação do personagem, Watterson não tinha filhos.

O fim da tira teria sido decretado por Watterson por causa das pressões em licenciar o personagem para merchandising (estampar produtos como camisetas, bonecos, etc.), coisa com a qual ele nunca concordou. Vejam bem, apesar de dar vontade em algumas pessoas de ver, sequer existe uma série em desenho animado do personagem. E, embora vejamos algumas camisetas e adesivos com CALVIN estampando, essas com certeza foram feitas de forma clandestina. Logo, o melhor material do personagem são mesmo os álbuns compilando suas tiras.

Atualmente, a editora que está publicando as tiras de CALVIN E HAROLDO no Brasil é a Conrad, com nova tradução e letreiramento. As tiras do personagem também já saíram por outras editoras, como a Martins Fontes e a Opera Graphica.

Recentemente, adquiri de uma só vez dois álbuns do personagem: Deu "Tilt" no Progresso Científico e O Ataque dos perturbados monstros de neve mutantes e assassinos, respectivamente o sétimo e o oitavo álbuns lançados pela Conrad - que também já publicou E foi assim que tudo começou, O mundo é mágico, Yukon Ho!, Criaturas bizarras de outro planeta, Tem algo babando debaixo da cama e A hora da vingança.

Bem. Sobre o personagem.

CALVIN E HAROLDO (Calvin and Hobbes no original) trata das aventuras de um típico garotinho americano de seis anos, de grande imaginação e um pestinha de marca maior. Ele é criativo, cheio de ideias, no entanto ele nunca utiliza essas ideias nas áreas que eralmente importam, como a escola e a convivência com os pais. Ele não confia em ninguém - nem nos pais, nem nos amigos - , vive questionando todo mundo, e seu único amigo é o tigre de estimação, Haroldo, que ganha vida na presença dele - mas que é apenas um tigre de pelúcia normal na presença de outras pessoas.

Como ele é uma criança ainda - e, como toda a criança, se acha o centro do mundo -, seus defeitos são perdoáveis: Calvin é mal-educado, metido a esperto, cabeça-dura, nunca aprende a lição como deveria e, além disso, é misógino (detesta meninas). Talvez isso se deve porque a única menina com quem ele convive seja a vizinha e colega de escola Susie Derkins, tida como certinha, mas que nunca perde a chance de revidar as sacanagens que o garoto lhe prega. Porém, Calvin é inteligente e possui um vocabulário sofisticado para uma criança da sua idade - ele mesmo se considera um "gênio incompreendido".

Oh: não por acaso, os nomes dos personagens fazem referência ao líder religioso suíço João Calvino (fundador do Calvinismo, a corrente mais radical da religião protestante) e ao filósofo britânico Thomas Hobbes, que, segundo Watterson, teriam sido os fundadores da moral e da religião norte-americanas que são colocadas em xeque pelo garoto (Watterson, antes de se dedicar à profissão de cartunista, era cientista social).

Os pais dele tentam educá-lo da melhor forma possível. Quem se sai melhor é o pai, que sempre dá um jeito de "construir o caráter" do menino através de respostas que não fazem sentido a ele ou de viagens de acampamento ou fins-de-semana desagradáveis. O que só aumenta a dor de cabeça da mãe, e da babá Rosalyn, designada para tomar conta do pestinha enquanto os pais saem à noite.

Na escola não é melhor. Além de ser sempre acossado pela professora, a Sra. Wormwood, por causa que ele nunca aprende o que deveria aprender na escola, Calvin é vítima constante do valentão Moe. É nessa parte que dá raiva: Calvin sofre bullying na escola, porém ele não faz o que deveria fazer: pedir ajuda.

Desse modo, o único amigo em que ele confia é em Haroldo. Os dois brincam juntos, dividem opiniões sobre as coisas e o mundo (algumas das tiradas são realmente geniais, insuperáveis mesmo!), porém também brigam: enquanto que Calvin é cabeça-dura e não admite estar errado, Haroldo é irônico e, vez por outra, reafirma a superioridade dos tigres com relação ao ser humano. Não por isso, Haroldo sempre ataca Calvin enquanto ele está distraído ou quando ele chega da escola. Ah, sim: Haroldo, ao contrário de Calvin, gosta de Susie, e vive fazendo insinuações sobre o relacionamento dos dois. E, ainda por cima, Calvin, na época do Natal, vive se encrencando para resistir à tentação de acertar uma bola de neve em Susie e, assim, mostrar ao Papai Noel que é bonzinho e merece ganhar presentes - mesmo que durante o ano ele nunca tenha sido um anjinho.

Na parte das brincadeiras, Calvin faz coisas inimagináveis: ele arrisca a vida com Haroldo em passeios de tobogã ou de carrinho em morros verdes ou cobertos de neve; faz atrocidades com bonecos de neve; tem um jogo esquisito, o Calvinbol, no qual a regra mais importante é "vale tudo o que o jogador inventar" (por isso, o jogo permite alguns abusos); tem um clube exclusivo, o G.R.O.S.S.O. (Garotas Ranhetas Nojentas Sumam Logo), no qual Calvin é o Supremo Ditador Vitalício (mas disputa o cargo com o único outro membro do clube, o Primeiro Tigre Haroldo); e ainda faz máquinas malucas a partir de uma simples caixa de papelão - desde uma máquina do tempo até um duplicador, que ele usa para fazer cópias de si mesmo, bem como o transmogrificador, que ele usa para transformar coisas em outras. E isso sem contar as sugestões que ele dá à sua mãe e seu pai - nunca, porém, aprovadas, para nosso alívio.

Ah, sim: Calvin, em diversas situações, assume identidades "secretas", personalidades que só existem em sua imaginação, como o super-herói Homem-Estupendo, o defensor da justiça (no sentido como Calvin concebe a justiça); o detetive Tiro Certo (que até mesmo fuma e bebe); o Cosmonauta Spiff, intrépido explorador do espaço (e com a professora, os pais e amigos imaginados como horríveis alienígenas canibais); e o Calvinsauro, um terrível dinossauro devorador de gente.

A imaginação de Calvin é o ponto ainda mais intrigante - ele não apenas inventa desculpas, como ele próprio acredita nelas. Ele não sabe andar de bicicleta? A culpa não é do garoto, é da bicicleta que sempre o ataca. A mesa do jantar está sempre uma bagunça? A culpa não é de Calvin, é a comida que sempre o ataca. Ele aprontou alguma coisa? Não foi ele, foi um clone que ele criou com um de seus aparelhos. O modo como vemos - e acreditamos - nas fantasias de Calvin só é possível porque Watterson, com seu desenho singular e difícil de copiar, transita à perfeição entre a realidade e a fantasia. Acreditem: na infância, pelo menos uma vez, agimos como Calvin - e, hoje crescidos, nos colocamos na posição dos adultos. Calvin é, assim, uma criança normal, como uma criança é realmente, e não como alguns programas infantis de hoje concebem como ela deve ser. Por mais que queiramos negar.

O bom dessas coletâneas de tiras é que não precisamos comprar a coleção toda: cada álbum pode ser lido independentemente, pois todas as tiras presentes são, de certa forma, geniais. Desenho bonito e cheio de experimentações artísticas bem-sucedidas, texto de alto nível, e ideal para todas as idades. Talvez algo que falte aos quadrinhos dos dias de hoje. Pena que as edições da Conrad sejam todas em preto-e-branco, o que tira um pouco do encanto das páginas dominicais, originalmente coloridas.

As tiras presentes são em três formatos: tiras simples, independentes; tiras em arco, interligadas por uma situação comum (como a história de um gibi); e histórias de uma página, as páginas dominicais, com situações que dificilmente poderiam ser condensadas numa tirinha de quatro ou cinco quadrinhos.

Difícil não gostar de Calvin. Pena que seu tempo de vida tenha sido muito curto. Assim, de presente de páscoa, em vez de ovo de chocolate, por que não dar um álbum de Calvin? Eles podem ser facilmente encontrados nas melhores livrarias e bancas de revistas.

Como há muito o que se falar de CALVIN E HAROLDO, acho que não vou me dar ao trabalho de falar dos álbuns cujas capas vocês vêem acima. Até porque eles têm tudo o que eu falei acima, e muito mais: Calvin em conflito com os pais, com a babá, com a professora e com a Susie; batalhas com a bicicleta; partidas de Calvinbol; reuniões do G.R.O.S.S.O.; surras do Moe; bagunça na mesa; missões do Cosmonauta Spiff; atrocidades com bonecos de neve (e confusões quando eles criam vida e se multiplicam); investigações do Tiro Certo; jogos de beisebol furados; viagens no tempo; aparições do Calvinssauro; o garoto andando de cabeça para baixo e crescendo até ficar maior que a galáxia ao invés de fazer a lição de casa; clones criador pelo duplicador (incluindo um que materializa o lado "bom" do garoto); missões do Homem-Estupendo; Calvin se debatendo para mostrar ao Papai Noel o quanto ele é bonzinho; os tradicionais ataques do Haroldo; e por aí vai.

Não é à toa que CALVIN E HAROLDO é um clássico. E ninguém vai tirar seu status.

Nem mesmo a minha personagem Letícia, embora eu tenha colocado nela algumas características de Calvin. Buá!

Falando nela, para encerrar por hoje, eis aqui mais três tirinhas fresquinhas da personagem. E marcando o retorno de Gatudo, depois de alguns arcos de tiras sem aparecer!E continuem acompanhando as tiras antigas, publicadas em ordem cronológica, em http://leticiaquadrinhos.blogspot.com/.

É isso aí.

Até mais!

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