Olá.
Depois
de um tempo de férias, vou aos poucos tentar retomar o ritmo de minhas
atividades. Isso inclui a atualização dos blogs da Rede Rafelipe.
Hoje,
volto a falar dos trabalhos de um cartunista do qual falei há algum tempo
atrás. Por que demorei tanto para voltar a falar a respeito dele? Por causa do
recesso dele, e das notícias a respeito dele: o cearense Carlos Henrique Santos
da Costa, o Guabiras, faturou, neste início de 2017, um prêmio nacional!
Esta
semana, foram anunciados os vencedores do Prêmio Ângelo Agostini, importante
premiação específica dos quadrinhos nacionais, promovida pela Associação dos
Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo – AQC-SP. Dentre os
contemplados da edição de 2017, está Guabiras, vencedor, via voto popular, da
categoria Melhor Cartunista!
Faz
cerca de oito meses desde que falei a respeito do “maior cartunista do nordeste”. Desenhista do jornal O Povo de
Fortaleza, CE; promotor e participante ativo de eventos em seu estado natal;
fanzineiro; dono de um estilo caricatural e punk; criador do Zé de Aurim e do
Jhown William Rói Rói; às vezes, personagem de suas próprias tiras, junto com
sua família; e principal divulgador da culinária cearense pela via gráfica. O
mais representativo cartunista – que eu consigo lembrar – fora do Centro-Sul.
Além
do blog próprio, principal veículo de divulgação de seus trabalhos através da
internet, Guabiras tem por principal voz própria os seus fanzines. Há vezes em
que ele disponibiliza, para download gratuito, via solicitação das redes
sociais, a versão digital de seus fanzines, para leitura em computadores. Quem
não tem como adquirir a versão impressa dos fanzines, tem de fazer uso desse
recurso, mesmo, para poder conferir de que forma Guabiras trata das mazelas
humanas através do desenho, regando tudo com cerveja e comida gordurosa e
altamente apimentada.
E
qual não foi minha surpresa quando o próprio Guabiras me comunicou que a
postagem referente a ele, publicada no Estúdio Rafelipe em maio de 2016, foi
incluída em uma exposição, promovida pelo próprio, com sua vida e obra! Sinal
de que o Estúdio Rafelipe é um blog conhecido em terras mais distantes que o
Rio Grande do Sul – do mesmo modo que o blog do Guabiras já é conhecido aqui no
Rio Grande do Sul!
Nesta
ocasião, vou tratar de quatro novos fanzines da última leva, adquiridos via
download. No catálogo geral, ele tem muitos mais. Todos foram lançados em 2016.
ASILADOS POR PANELADA
Sem
data.
Quem
conhece o trabalho de Guabiras, também já viu a defesa ferrenha que ele faz da
panelada, o ultracalórico cozido de vísceras de bode. Ele diz que é a melhor
comida do mundo, mas eu tenho minhas dúvidas – não sou chegado nem ao equivalente
gaúcho desse prato, a buchada de boi, que costuma ser servido até mesmo em
festas beneficentes. Me repugna até mesmo sentir o cheiro do bucho sendo cozido
em alguma cozinha. Bem, cada um com seu gosto, nada tenho contra quem goste de
vísceras de qualquer animal. Bem, na defesa que uma pessoa faz da iguaria
favorita, por que não torna-la personagem de uma HQ? É o que Guabiras faz nesse
fanzine, uma coletânea de tirinhas estreladas por uma banda de rock formada
por... ingredientes de panelada! Conheçam os Asilados por Panelada, banda punk
formada por Mário Tutano, Unha de Nervo, Tripinha e Panelinha de Pressão – três
ingredientes de panelada e uma panela de pressão que, inexplicavelmente, ganham
vida e fazem um som cheio de fúria. Eles são truculentos e o mais hardcore
possíveis, entregando o que prometem – uma alternativa à pasteurização e ao
mercantilismo presentes em nossa música! Sucesso entre a gurizadinha
inconformada. A cada show, há duas garantias: a de que o truculento vocalista
Mário Tutano vai vomitar em cima de você do palco, e a de que você vai sair do
show cheirando a carne cozida. A microssérie de tiras trata das aventuras (ou
seriam desventuras?) da banda dentro e fora dos palcos, do sucesso meteórico
até o final trágico, com a morte de um dos integrantes. A trajetória dos
Asilados praticamente reflete a formação cultural do próprio Guabiras, regada a
punk rock e quadrinhos underground. No final do fanzine, uma matéria apaixonada
de quatro páginas, onde Guabiras faz a defesa de seu prato predileto. Se a
panelada for mesmo tudo o que ele diz nesse texto, então, nas próximas férias
ao Ceará, você já sabe o que pedir no restaurante. Talvez o maior pecado desta
microssérie foi ter se fixado demais em apenas dois personagens – em Mário
Tutano e em Panelinha, que acha que apenas dizer “yeah!” é prova mais que
suficiente de ser altamente hardcore. Unha de Nervo e Tripinha quase não tem
voz ativa dentro da série, são praticamente periféricos. Mas, no mais, é fome e
vontade de dizer o que realmente se pensa unidos em um único fanzine. 19
páginas, capa e miolo coloridos – as tiras em tons de ocre e amarelo, e a
matéria totalmente colorida.
CRIATURAS NOCIVAS # 2
Lançado
em maio de 2016.
Quase
dois anos após lançar o primeiro número desse título, estrelado pelo coelho
hardcore Jhown William Rói Rói, Guabiras dá à luz o segundo número de CRIATRAS
NOCIVAS, estrelando Zé de Aurim, seu personagem mais representativo. Reunindo
todo o material publicado até a data acima, nos fanzines e nos jornais, com o
maloqueiro feioso e gozador – segundo informações, inspirado em um amigo do
cartunista. Quem não conhece o vagabundo de dentes podres, nariz sempre
escorrendo, infecto da cabeça aos pés e que está sempre dependendo da caridade
alheia para descolar um rango ou uma bebida – e às vezes devolvendo essa
“caridade”, feita muitas vezes de má vontade, com um insulto – tem neste
fanzine um banquete de verdadeira sordidez, humor negro e risadas com o “pus seco
da pereba viva”, em todas suas facetas! As tiras e quadrinhos são distribuídos
em ordem aleatória, ignorando datas de elaboração – mas dá para encontrar as
primeiras tiras com a presença do ilustre cidadão das pocilgas de Fortaleza. As
tiras são distribuídas por temas – tem Zé de Aurim mendigando, bancando o
bicheiro, tratando dos dentes, “assaltando” restos de comida nos restaurantes...
e não podem faltar a HQ longa clássica Apenas
Dando um Rolê, com a participação do próprio Guabiras, e o arco de tiras O Livro de Aurim, o maloqueiro como
único sobrevivente do apocalipse terrestre. Também não faltam aqui as matérias Zé de Aurim é o Cara!, toda feita de
fotomontagens com Zé de Aurim e gente famosa, e Finalmente Zé de Aurim Mostra a Cara!, um dossiê a respeito do
homem (real) que inspirou o personagem. Também estão presentes as aparições de
Aurim em cartuns de um quadro e os anúncios que o personagem faz de alimentos
de qualidade duvidosa. Prepare seu estômago e divirta-se! 46 páginas, capa
colorida e miolo preto e branco.
LIXO HUMANO # 1
Lançado
em julho de 2016 (ou melhor, 3018).
Como
tantos outros fanzines do autor, este aqui, até o momento em que escrevo,
estacionou no número 1 e ficou. Da presente leva, é o mais pesado dos fanzines:
como sugere o nome, é uma reunião de tiras, cartuns e desenhos que criticam,
com raiva e ferocidade, as mazelas humanas: o consumismo, o culto aos ídolos, a
internet, a rebeldia “modinha” e... o próprio Guabiras. Nem ele escapa da
autocrítica, em suas aventuras etílicas e lembranças sórdidas de acontecimentos
do passado. Dentre os destaques: a história curta de duas páginas, Encosta, Vagabundo!, com Guabiras
levando uma dura da polícia; a republicação da sequência de tiras A Culpa é do Aquecimento Global (do
fanzine Toicim # 1), com
atualizações; as sequências inéditas Histórias
Reais da Vida Virtual, Lixo Humano e No
Problem!, criticando tudo o que foi exposto acima (as tiras são, por isso,
em boa parte, carregadas de sexo e escatologia); e a HQ curta Pulseira VIP, ocupando
as duas capas internas. De resto, cartuns variados – incluindo a “prova” de que
Sid Vicious, o ex-baixista dos Sex Pistols, está vivo. 22 páginas, capa
colorida e miolo preto e branco.
QUADRINHOS PUNKS # 1
Também
lançado em julho de 2016 (ou melhor, 21016).
Também
tem tiras e cartuns punks, mas sua violência é mais moderada que no Lixo Humano – se excetuarmos, claro, os
desenhos violentos e retratando mutilações.
Há muita republicação de material antigo – várias das tiras publicadas,
estreladas por Guabiras, saíram anteriormente nos fanzines Pataca, Toicim e Guia
Ilustrado do Alcoolismo. O mesmo para tiras estreladas por Zé de Aurim,
alguns cartuns e falsos anúncios. Mas calma, turma, tem material inédito
também! Como na HQ curta Zé de Aurim
Tirando o Ranho, publicado anteriormente no formato de mini-fanzine. E
alguns cartuns que foram publicados pela primeira vez na internet. E isso é
tudo, por enquanto. Mais recomendado para quem perdeu algum material publicado
por Guabiras. 20 páginas, capa colorida e miolo preto e branco.
Bem,
foi pouquinha coisa, mas significativa. Agora, com o reconhecimento nacional, é
pouco provável que segurem o nosso Guabiras de agora em diante. Inclusive já
foi anunciado mais fanzines e mais material inédito com Zé de Aurim. Estamos
aguardando ansiosamente pra ver. E te prepara para encarar a panelada: não
duvido que constará no menu nos próximos meses – e anos, se o Grande Desenhista
do Universo permitir.
O
que será que Guabiras dirá desta postagem?
PARA ENCERRAR...
...resolvi
desenterrar mais um personagem criado no passado!
Apresento
a vocês, hoje, Camicaos, o masoquista!
Quando
ainda estava fazendo tiras por hobby, se bem me lembro foi antes de 2003,
quando entrei para a faculdade; enfim, dentre alguns experimentalismos que fiz,
concebi um sujeito cuja atividade é a automutilação. A inspiração veio de uma
matéria da revista Superinteressante, da Editora Abril, mostrando um grupo
performático chamado Kamikaos, que, dentre outros feitos, costumam enfiar
agulhas em partes do corpo e se pendurar por ganchos presos à pele. O
espetáculo é grotesco e chocante.
Bem.
A partir daí, esbocei um cara que vive uma vida comum, mas, em casa, pratica o
autoflagelo – se chicoteia, enfia agulhas no corpo, dorme em cama de prego... e
sustenta tudo isso trabalhando em escritório. Como tantos projetos de infância,
nunca mostrei esse a ninguém. Não é do tipo de trabalho que sai em jornais
convencionais, é mais udigrudi, estilo Chiclete
com Banana.
Para
a presente ocasião, me ocorreu de dar uma reativada no personagem. E produzi
seis tirinhas com o personagem. Perdão pelos defeitos no desenho, usei uma
canetinha cuja tinta já estava no fim. E esse momento, durante o embalo da
arte-final de um trabalho, é piiih.
Gostaram?
Se o povo quiser, produzo mais. Ideias para a continuidade da série eu tenho,
depende do pessoal, agora. Deixem seu comentário.
Tem
dias que dá vontade mesmo de produzir quadrinhos udigrudi. Como se eu já não
fosse “udigrudi” só com o que tenho feito até agora... Ainda me encontro no submundo...
Não sou do tipo elegível para faturar um Ângelo Agostini. Vou ter de trabalhar
mais. Por hora, este blog é o veículo de que disponho para ajudar outro a serem
notados e, quem sabe, ser notado.
Aguardem
novidades.
Até
mais!
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