segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

MACÁRIO - Capítulo 29: "As Tentações de São Macário (II)"

Olá.
Passaram-se quinze dias. No momento em que escrevo, é noite de uma segunda-feira. Mas ainda é o dia de colocar no ar um episódio inédito de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO. E vamos nós...
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de sedução, de assédio sexual, de fanservice, de efeitos do abuso de drogas e de maus tratos (não intencionais) a mulheres.



Isso tudo já estava indo longe demais...
Vou resumir depressa:
Justo quando estava a caminho da minha faculdade, aceitando a carona que Luce ia me oferecer, e quando a gostosa da Âmbar ia junto conosco, eu fui sequestrado. Sequestrado por um carinha que pode gerar vários braços e por uma garota que se transformava em motocicleta. Membros de uma gangue de “monstros”, formada por um masoquista que enfiava alfinetes na pele, uma garota com braços de borracha, um rapaz javali, um roqueiro com dentes de piranha, um rapaz com língua de cachorro e a versão jovem da Cruella De Vil... e todos sob a liderança de uma garota pantera.
Mas os captores não fizeram nada comigo. Nada de ruim. Só me convidaram para ouvir a música da banda que eles mantinham.
E tinha gente conhecida entre os que estavam ouvindo a música também, os convidados. Uma garota tubarão e um rapaz com serpentes no lugar do cabelo... Então, nada de ruim iria acontecer comigo... até onde podia constatar.
O pior é que eu conhecia a líder dos meus simpáticos captores. A garota pantera. Essa era a pior parte. Era alguém com quem eu havia transado, e depois matado... em uma dimensão paralela, acessível através dos sonhos. E, pelo que entendi, através de alguma poção, encantamento, sei lá, mas é imprescindível que as duas partes estejam com sono para uma invadir a mente da outra.
E a líder dos captores, essa garota pantera, me flagrou no momento em que eu estava fugindo (nesta realidade), e me puxou para o quarto dela. Me fez entrar, e fechou a porta.
Ela disse que era seu quarto. E, de fato, até parecia um quarto. Pois tinha uma cama. E só.
A gangue estava, pelo que posso constatar, ocupando ilegalmente aquela casa abandonada, que estava necessitada de uma reforma. E não dispunham de móveis. Usavam qualquer coisa como móveis. Na sala de estar, usavam almofadões. Na cozinha, só a pia e uma caixa de isopor como geladeira – o resto estava ocupado com equipamentos de som e instrumentos musicais. E aquele quarto... só tinha uma cama. Espero que tenham mantido, ao menos, as porcelanas do banheiro...
A cama daquele quarto era muito velha e usada. Pelo aspecto, havia sido encontrada em um depósito de lixo e reaproveitada. Assim como o colchão pouco confortável, e pelo jeito muito gasto, onde Fifi pediu para eu sentar. Cobrindo o colchão, um edredom remendado. A cama estava desarrumada, então ela devia estar dormindo pouco antes de eu chegar aqui.
E, pelo jeito, a cama era um direito apenas da líder do grupo. Não era preciso muito para entender que Fifi era a dona da cama. Pelos cantos, haviam trouxas de cobertores, acolchoados, colchonetes usados, tudo jogado no chão sujo. Eram as outras “camas” de quem dividia o quarto com Fifi – provavelmente as garotas. Tudo cheirando a bolor, apesar da janela aberta para arejar e iluminar o local, apesar do sol do fim de tarde.
Para guardar as roupas, haviam apenas grandes malas de viagem, aquelas retangulares, para guardar grandes volumes. Malas com rodinhas. E bem velhas, muito usadas. É, aquele é o quarto das meninas, nos malões só haviam roupas femininas, e muita bagunça, as roupas todas misturadas – o que demonstrava uma vida com pouca responsabilidade, o sonho de qualquer adolescente.
Os Animais de Rua viviam uma vida bastante despojada. Seus bens mais caros eram mesmo os instrumentos musicais, que estavam soando lá na cozinha, agora mesmo – a banda estava ensaiando, cantando umas canções próprias para mostrar a Morgiana e Beto Marley. Espero que Morgiana não tenha notado minha ausência ainda. Espero que ninguém, naquela cozinha, tenha notado minha ausência.
Fifi se sentou ao meu lado, na cama. E seus pés ficaram quase pendurados, visto que ela tinha baixa estatura. Ela até precisou dobrar as pernas da calça jeans para encolhê-la. Ela vestia roupas que pareciam largas nela, coitada. E pareciam de segunda mão. Estava com os pés descalços, e do topo de sua cabeça saíam duas orelhas felinas, que se moviam de um lado para outro, como pequenas antenas parabólicas. Um dia cheguei a achar que as orelhas eram falsas.
- E aí, Macário, gostou da casa? Do nosso “cafofo”?! Nyah...
- Hã... como posso dizer? É tudo tão... hã... simples.
- Bem, eu e meus amigos somos adeptos da cultura freegan.
- Cultura o quê? – ergui a sobrancelha.
- Freegan. Não sabe o que é isso? Vivemos apenas com o básico para sobreviver. Não somos interessados em luxo e vida baseada em consumo, estamos interessados apenas em um lugar dentro da sociedade. O que é lixo para a maioria é luxo para nós.
- Tipo hippismo?
- Hã... quase isso. Digamos que seja uma... hum... uma versão punk do estilo de vida hippie. Nyah.
- Puxa...
Outro conceito interessante.
- Bem, aos olhos da sociedade, praticamente somos como mendigos. Ocupamos casas abandonadas, reclamando direito a um telhado. Comemos comida achada no lixo. As pessoas desperdiçam muita coisa que pode ser aproveitada, então a gente aproveita. E preferimos usar e vestir objetos de segunda mão. Tentamos evitar ao máximo o uso do dinheiro. Enfim. Uma vida o mais possível freegan. Só não é total porque temos os nossos luxos... nyah. Os nossos instrumentos musicais, que garantem que, pelo menos, paguemos a energia elétrica necessária para fazer o conjunto funcionar, e a água para tomar banho... E, bem... a maioria dos freegans é vegetariana, mas eu... e alguns dos outros membros... comemos carne, ovos, leite... nyah.
Dizendo isso, ela lambia o pulso, como uma gata.
- Hã... muito interessante. – falei, apreensivo. – Mas... Se a vida de vocês se baseia assim, no despojamento... hã... por que vocês andam com o bando do Luce?
- Eu poderia dizer que estamos nos aproveitando, mesmo. O Luce é rico, e está interessado na nossa banda, por que desperdiçar essa chance, de um patrocinador? Nyah... Mas a verdade é que tem mais que isso. Você vê, Macário, somos criaturas, monstros, que não podem andar livremente entre os humanos. Temos de nos camuflar. Temos nossos meios de nos disfarçar entre os humanos, ou, no máximo, nos fazer passar por humanos excêntricos. Olha meu caso...
Ela levantou da cama e, diante de mim, começou a se transformar em pantera. Não totalmente: estava vestida com a camisa e a calça, e mantinha a cabeleira clara, mas seu rosto assumiu feições felinas, e seus braços se cobriram de pelos. Seus dedos das mãos e dos pés encolheram, incharam e ficaram felinos, com garras nas pontas. Uma cauda comprida saiu de suas costas. Fifi virara uma pantera antropomórfica, de desenho animado. A autenticidade só não era maior por causa da baixa estatura – talvez fosse mais adequado dizer que Fifi era um puma, ou uma jaguatirica, ou outro grande felino de pequeno porte, não uma pantera. Talvez seja um daqueles casos em que o crescimento encruou, o ser em questão desenvolveu alguma forma de nanismo. Depois eu pergunto.
- Se você conheceu os outros da gangue, sabe por que não podemos ter uma vida assim como... a sua, Macário. Não o tempo todo. Mas... aah, nyah... o Luce nos arregimentou, e nos aceita assim como somos. Não sei bem o propósito, mas tanto ele quanto nós... nos vemos como iguais.
- Puxa.
Logo depois, Fifi reassumiu a forma humana, mas deixando as orelhas e a cauda.
- E ele aceita humanos, também. Desde que eles aceitem nossa condição. Há humanos puros entre os nossos, também.
- É mesmo?... É o meu caso, agora.
- E não sei por quê... nyah...
Fifi me olhou enviesado. Ela obviamente estava se lembrando daquela noite. Engoli em seco.
- Fi... fi... fi...
- Eu já disse, Macário... é só Fifi. – ela ronronou, aproximando as garras afiadas no meu nariz. – Só dois “fi”... nyah...
- Fifi... eu... hã... sabe... olhe... – fiz um esforço para achar as palavras exatas. – Eu... eu acho que sei porque você me mandou trazer até aqui...
- Sabe, é?
- Acho que sei... acho que você... acho que você me odeia, né?
Fifi levantou uma sobrancelha.
- Te odeio? Como assim?
- Hã... bem... a Âmbar meio que já explicou como funciona o tal do portal mental.
- Ela que explicou? – Fifi voltou a franzir a testa. – A... perua em esqueleto de louva-a-deus?
- S... sim. E... bem... acho que você ainda está ressentida daquela noite. Eu sei, eu te tratei muito mal, te violentei, te joguei da janela. Ainda que tenha sido em uma dimensão paralela, eu... eu... – comecei a lacrimejar. – Eu juro que não queria, Fifi... eu... por favor, me perdoa, eu... (soluço) Foi aquela droga que você me deu pra tomar... (soluço) ela me deixou maluco eu... (soluço) longe de mim eu querer maltratar uma mulher, mas foi aquele remédio (soluço)... eu sei que foi aquele remédio esquisito... eu...
Já era a segunda vez naquele dia que eu começava a chorar. Mas agora, diante de uma mulher. Ooh, eu estava virando um maricas...
Mas Fifi apenas começou a sorrir, perto de meu rosto.
- Mas Macário, eu não estou te odiando.
- Na... não?!
- Bem, foi na dimensão paralela, e ainda bem. Olha pra mim, estou viva, e diante de você, intacta. Nyah. E, bem, fui eu quem levou a tal situação, invadindo seu sono. Além do mais, eu bem que devia ter desconfiado daquela pílula que a Andrômeda me deu.
- A... a Andrômeda? – enxuguei as lágrimas.
- Foi ela quem me deu o comprimido, dizendo que era um tipo de Viagra caso você ficasse fraco. Bem, se era para induzir minha morte para poder voltar ao plano normal da realidade... eu devia desconfiar que aquela sanguessuga gorda ia usar um truque muito escuso. Nyah.
Foi minha vez de levantar as sobrancelhas. A Andrômeda, usando truques... oras, quem diria?! E ela parecia na verdade uma mulher frágil! Espere, mas quem sabe não haja um “lado B” nessa história?
- Eu devia desconfiar que aquele comprimido tinha por finalidade deixar você violento, Macário. Nyah, só pode ser isso. Afinal, como é que com as outras você foi tão gentil... comigo você foi tão gentil, me deu prazer... e daí você ficou violento, depois que tomou aquela droga? Só podia ser uma droga de manipulação de mente. Só pode! Aquela... sanguessuga gorda!! Nyah!
Fifi apertava os punhos.
- Ou talvez tenha sido o Luce, mesmo. – falei.
- Hein?
- Estou pensando se não foi o Luce quem induziu a Andrômeda a te dar aquele comprimido para armar uma sacanagem. – franzi o cenho. – Eu meio que sei que o Luce é capaz dessas coisas...
- Bem provável, mas não duvido que a ideia pode ter partido da Andrômeda. Talvez em conluio com as outras garotas! Para estragar a minha noite com você!! Elas todas são invejosas, Macário. Acredite, vai chegar o dia que elas vão se trucidar por sua causa, Macário...
Fifi disse isso sempre apertando os punhos, até sair um filete de sangue da palma da mão. Fifi chegou a sentir a pontada, mas nem demonstrou dor. E preferiu lamber o ferimento. Eu bem que quis me manifestar, mas achei melhor não. Afinal, estava falando com uma felina, e felinos se lambem o tempo todo. Além disso, sabiam que saliva é antisséptica?  
E não sei por que não tiro da cabeça que na verdade é o contrário: a Fifi é que é a invejosa.
- Mas... mas enfim, Macário... – ela voltou a sorrir para mim. – Eu não te odeio.
- Não? – fiquei surpreso.
- Pelo contrário, eu te amo. Você é diferente, Macário. Olhe só, você é o primeiro homem que eu vejo que é capaz de chorar de arrependimento... É tão difícil encontrar homens assim como você... Aah, Macário... nyah...
Senti um peso saindo de minhas costas. De repente não era tão ruim assim ser maricas.
Fifi mudou o olhar rapidamente, do carinhoso para o de censura:
- Mas nunca mais faça o que fez, tá, Macário?!
- Hã... claro, Fifi. Que bom que você não me odeia...
O olhar dela voltou a ser carinhoso.
- Nyah... meu Macário...
Estava estranhando essa oscilação de sentimentos.
Fifi se jogou em meu colo, e se aninhou, como uma criança. Oh, céus. Era como estar com uma menininha de catorze no colo. Me senti um pedófilo asqueroso, apesar de saber que Fifi tinha quase vinte anos completos.
- Aah, Macário... nyah...
- Fifi...
- Nunca mais me violente... ou violente outra garota... senão...
A mão dela se transformou em uma pata de pantera – só a mão. E, de leve, ela passou as unhas no meu rosto. Doeu um pouco. Era só para dar o aviso.
- Se depender de mim, não vai acontecer de novo, Fifi. Juro. – fiz questão de salientar.
- Que bom saber... Nyah... Eu te amo, Macário...
E tascou-me um beijo na boca. E quis meter a língua nos meus lábios, nos meus dentes.
E aquela voz em minha mente começou a alertar: vai ter sexo!
- Fifi...
- Você vai ser só meu... – ela começou a falar entre beijos.
- Fifi...
- Eu vou derrotar as outras garotas e vou ficar com você só pra mim, Macário... vou te fazer largar a faculdade... vou te trazer pra cultura freegan.
- Fifi...
Vai ter sexo!
- Vou te fazer viver de amor e uma cabana, literalmente. Você vai ver como é bom, Macário... Nós contra o resto do mundo... Aah, Macário... eu... eu!... Nyaaah...
- Fifi!!!
Consegui me recuperar a tempo. Com meu grito, Fifi saiu de meu colo, e quase caiu para trás, no chão. Me pus em pé diante dela.
Não vai ter sexo.
- Macário?!
- Fifi! Foi para isso que você me raptou, moça?! Para me seduzir?!
- Aah, Macário, vai dizer que você não gosta? – ela falou, com um sorriso sacana.
- É que não é o momento, Fifi. Eu estou atrasado para a faculdade e...
- Esquece a faculdade, Macário. Faculdade para quê?!
- O mundo precisa de médicos, Fifi. E só chás com ervas medicinais não adiantam nos dias atuais...
Não vai ter sexo.
- Aah, Macário... esquece essa faculdade por hoje... só por hoje... eu sei o que você realmente quer, Macário... e é fêmea, Macário! Fêmea de verdade!! Nyah...
E, dizendo isso, me empurrou para eu sentar de novo na cama, desabotoou a calça jeans, e a fez cair a seus pés. Acabei arregalando o olho com o que veio a seguir. Ela estava de calcinha, mas não de sutiã: ela desabotoou a camisa e a abriu diante de meus olhos. Levo um susto. Fifi mostrou os seios, os belos peitões, proporcionais ao seu biótipo. Suei frio.
Vai ter sexo!!!
- Vamos fazer gatinhos, Macário?!
- Não!! – falei, apertando os dentes.
- Ah, Macário. Não banque o difícil... Esses peitos não te excitam mais, tesouro?!
Ela tirou os pés de dentro da calça arriada e caminhou em minha direção.
- Fifi, por favor... – falei, muito encabulado.
- Aah, Macário, por favor... Por favor digo eu...
E sentou novamente no meu colo, de camisa aberta e calcinha.
Vai ter sexo!
- Por favor, Fifi... não é o momento... tem tanta gente na sua casa, alguém pode nos flagrar...
- Podem não. Ainda ouço que eles estão ensaiando. Eles lá esquecem de tudo quando estão tocando...
De fato, os Animais de Rua não paravam de tocar. Continuavam emendando músicas e tocando como se não houvesse amanhã. Tive vontade de gritar: alguém pare essa música e venha me ajudar!!
Vai ter sexo!
- Mas a Morgiana... – fiz mais uma tentativa.
- Que tem a Morgiana? Ela não vem aqui. Está entretida com a música do primo pobre dela. Eu é que não estou ocupada com nada, por isso...
- Não, por favor, Fifi...
- Pare de bancar o difícil, Macário. Eu estou sentindo que seu p(...) está duro, em me ver assim, quase pelada, no seu colo... Nyah... – e ela pressionava os seios no meu peito. – Tira essa mochila das costas... e a roupa... Vem sentir como seus peitos são macios e...
- Pare, Fifi, eu...
Fifi cala minha boca com um beijo.
Estava difícil resistir. Fifi estava cheirando bem. Decerto, havia tomado banho há poucas horas. E ela tinha peitões...
Vai ter seeeeexoooo...
Não Macário, força de vontade! Você teve de repelir as investidas da Âmbar e da Andrômeda, você precisa repelir as dessa tarada também...
Mas ela insistia em me beijar, em agarrar minha cabeça, em pressionar seus seios excitados no meu tórax... Eu já podia sentir os bicos se apertando contra meus mamilos, apesar da barreira da minha camisa... Ela já ia tirar minha mochila dos ombros... Eu estava com muito medo, mas ao mesmo tempo já me sentia excitado...
Vai ter seeeexooooo...
Mas aí, no momento decisivo...
A porta do quarto se abre violentamente.
E ali estava Morgiana, furiosa. Fifi e eu levamos um grande susto.
- Macário!!! – gritou. – FIFI!!!
- Gah! Morgiana!!! – gritou Fifi.
- Que bonito, hein?! – voltou a gritar a morena, rangendo os dentes afiados.
Ao fundo, a música da banda ainda soava. Pelo jeito, Morgiana também escapara do ensaio. Ela notou minha ausência! Justo o que eu temia!
Não vai mais ter sexo! Ufa!
- Morgiana, eu posso explicar... – falei, nervoso.
Estava apreensivo, o medo voltou. Sob a boca entreaberta, Morgiana rangia os dentes de tubarão. A porta fecha com violência atrás dela.
- Tire as mãos do Macário, sua vaca em pele de pantera!!! – gritou Morgiana.
- Vem você tirá-lo de mim, sua piranha em pele de tubarão! – exclamou Fifi, em tom de desafio.
Morgiana precisou apenas agarrar o colarinho da camisa de Fifi e puxá-la para trás, derrubando-a no chão. Pelo menos Fifi saiu do meu colo, mas isso não queria dizer alívio. Morgiana agora me fulminava com um olhar de reprimenda. E estes olhos estavam vermelhos, estranhamente vermelhos.
- O que é que vocês estavam fazendo? – Morgiana sempre me fulminando.
- Eu não estava fazendo nada, Morgiana... juro... – falei, com medo.
- Então foi pra isso que você fugiu do ensaio, né, seu... seu garanhão?
- Nã... não, Morgiana, não foi pra...
- Foi sim. – intrometeu-se Fifi. – Confessa, Macário, foi pra isso que você saiu do ensaio. Para me ver. E pelada... Nyah.
- Não, não foi... – tentei de novo. – Não foi pra fazer sem-vergonhice...
O olhar furioso de Morgiana mudou de repente para um olhar de tristeza, um olhar de que estava decepcionada comigo.
- Macário!! – gritou Morgiana, em tom de choro. – Mas por quê?! Por que você se deixa seduzir assim tão facilmente?! E por uma baixinha, por uma menininha, Macário?! Só porque é peituda?!
- Não é verdade! – gritei. – Se eu tivesse deixado me seduzir, agora eu estaria pelado! Mas olhe só, eu não estou pelado...
- Mas ia ficar pelado. – falou Fifi, olhando enviesado para Morgiana. – Se você não tivesse interrompido, ô tubaroa.
- E você está quase pelada! – exclamou Morgiana. – Olhaí... de calcinha e com os peitos de fora!!! Oh, Macário, por que você...?!
- Morgiana, lembre-se! Foi ela quem mandou me sequestrar. Lembre-se, eu fui sequestrado. Se-ques-tra-do!!! – enfatizei. – Eu te disse que fui sequestrado! Não foi por vontade minha!!!
Morgiana parecia levemente confusa.
- Ah, é, você disse... – Morgiana então se voltou para Fifi. – Você queria, não é?! Vaca em pele de pantera!! Queria f(...) com ele! Foi só pra isso que você o trouxe aqui, não era para conhecer a banda...
- Bah, vai dizer que você também não queria, né? – Fifi sorria em desafio. – Olhe, não foi por acaso! Como eu sabia que você ia vir nos assistir hoje... olhe só que presente eu mandei buscar pra nós. – e apontou para mim. – Sei que você também quer, amiga.
- Mas! – exclamei.
- Mas eu que queria fazer o “test-drive”, pra ver se está tudo certo. – Fifi fez cara de inocente.
- Mentira! Você queria ficar com ele só pra ti!! – exclamou Morgiana. – E usou a banda para me distrair! Você sabe que o rock me faz perder a noção do tempo!!
- Meninas... – tentei interferir, mas Fifi me interrompeu.
- Que culpa eu tenho se seu primo tem uma banda de rock? Que culpa eu tenho pelas coincidências da vida, de o seu primo integrar a minha gangue?! Que culpa tenho de termos o mesmo vampiro nos arregimentando para o nosso círculo?!
- Não mude de assunto não! Isso não alivia o seu crime, de tentar roubar o Macário de mim!!!
- Morgiana! – exclamei, mas ela me interrompeu, e se voltou para mim com a mesma cara de “quero colo”. Agarrou meus ombros e começou a chorar.
- Aah, Macário!! Por que você prefere as peitudas?! Por que os homens só preferem as peitudas?! A minha desvantagem é tããão grande, Macário...
As atitudes de Morgiana não estavam racionais. Será que...
Eu podia sentir que Morgiana estava em algum estado de confusão mental. Ela, evidentemente, consumiu alguma droga – havia uma vermelhidão estranha em seus olhos. Em princípio, achei que a vermelhidão era raiva, mas agora, olhando melhor... Não havia hálito de álcool, nem de fumo, então ela deve ter consumido algum comprimido, ou injetado substância nas veias. Ela não estava agindo racionalmente, com aqueles momentos constantes alternando raiva e choro. Eu sei, já saí com uma garota que consumia anfetaminas – mas quando ela me ofereceu, eu não aceitei.
Até Fifi soltou um assobio de censura com o teatro ébrio que Morgiana fazia.
- Morgiana, por favor, eu... – tentei falar, mas Morgiana interrompeu:
- Sei que você também teve seu momento com a Fifi no portal mental, mas aquela noite que nós tivemos no portal mental não significou nada para você?! Me diz, Macário... meus seios não são bonitos?! Eu não sou gostosa?!
E levantou a camiseta, mostrando os seios. Ela não estava usando sutiã! Acabo arregalando os olhos. Argh, aqueles pudins...
- MORGIANA!!! – soltei a exclamação.
- Me diz, Macário, os meus seios...
- Cobre isso!!! – exclamei.
- Hein?!
- Cobre já esses seios, Morgiana!!
Morgiana arregalou os olhos diante de mim. Depois, obedeceu – puxou a camisa de volta. E ficou me olhando incrédula.
- Há-há! – riu Fifi, apontando o dedo para Morgiana.
- Macário?! – manifestou-se Morgiana, me olhando triste.
- Parece que seus seios não são bonitos, amiga. Não em comparação aos meus... – falou Fifi, abrindo de novo a camisa.
- Você também cubra esses seios!!! – exclamei.
As duas levaram um susto. Fifi fechou rapidamente a camisa, mas não abotoou.
- Macário?!
- Qual é o problema com vocês duas, afinal?! – olhei para ambas, de cenho franzido. – Qual é a dessa briga irracional?! Morgiana, o que aconteceu com você?! Está drogada?!
- Eu?! Como assim, Macário?!
- Olhe, posso ver que sim, você está drogada! Seu olho está vermelho! E você está meio grogue!
- Como assim, Macário?! Eu... oh... eu... – Morgiana começou a se retrair, pega no flagra. – S... Sim, Macário, mas é só o meu remédio, Macário. Não é o que você está pensando. É efeito colateral do meu remédio para dor de cabeça... juro, Macário!!!
- Remédio para dor de cabeça, sei... – falou Fifi, de braços cruzados. – E foi o seu primo quem forneceu, certo?
- Não se intrometa! – vociferou Morgiana para Fifi. Depois, se voltando para mim. – Acho que é de eu estar fora da água, mesmo, por tantas horas... Estou desde manhã sem mergulhar, sem tomar banho... sem me molhar. Aí eu fico com dor de cabeça, com ela própria bem confusa... Não sei o que há comigo, Macário. Mas... mas... – e recomeçou a chorar.
Alguma coisa me dizia que Morgiana estava mentindo. Ok, ela é uma sereia, e sereias, pelo jeito, não podem ficar muito tempo longe da água. Mas não ficou muito clara aquela explicação para suas atitudes, nem para os olhos vermelhos. Analgésicos, deixando os olhos vermelhos? Além disso, Morgiana cambaleava, ebriamente.
- Alguém me ajude...
Delicadamente, peguei nas mãos de Morgiana, e a amparei.
- Morgiana. Por favor, vamos nos acalmar e esclarecer esta história. – propus.
Por um instante, com esse meu toque e meu ar professoral, achei que Morgiana voltaria ao seu estado normal, porque ela se acalmou e olhou para mim seriamente. Mas falei cedo demais...
- É, vamos... Só depois de você fazer amor comigo... – e a morena já veio se jogando contra mim. – Sinto sua falta, Macário...
- Ei!!! – manifestou-se Fifi. – Eu que ia primeiro!!!
- Entre na fila!!
- Meninas!! – exclamei.
Oh não! Vai começar tudo de novo!!!
Vai ter sexo!
- Espere, amiga. – falou Fifi, já se abraçando a mim também. – Que tal se dividirmos o...
- Não!! – gritou Morgiana, me apertando contra si. – O pinto dele é meu! Já bastou ter de dividi-lo com minhas irmãs, aquelas taradas...
- Tá bem, Morgiana, pode ficar com o pinto, eu fico com a boca. O oral dele é o melhor... – e Fifi já estava metendo a mão sob meu casaco.
- Meninas...
Por que algo me dizia que Fifi também estava agindo sob efeito de drogas – ou, no mínimo, sob efeito da abstinência?
Vai ter sexo, não adianta...
- Aah, meu Macário... – falou Morgiana, melifluamente. – Diz que eu sou a sua gostosa...
- Nããão, Macário, diga que sou eu...
- Você prefere as garotas atléticas, eu sei...
- Não, você prefere as garotas mais opulentas...
- Meninas...
Vai ter sexo...
- Vamos fazer peixinhos, Macário, ao som do rock...
- Vamos fazer é gatinhos, nééé?
- MENINAS!!! – explodi.
As duas desabaram no chão.
- Macário?! Outra vez?! – as duas exclamaram.
- Eu... – respirei fundo. – Eu não quero sexo hoje! Vocês estão fora da casinha!!
- Macário?!
- Eu tenho de ir. Eu tenho de...
E já ia andando até a porta, mas acabei tropeçando em uma daquelas trouxas de cobertores e caindo em cima de um deles. Não foi mais que um pequeno susto... logo acompanhado de um grande.
Porque a trouxa de cobertores, de repente, ganhou vida e me agarrou!!!
Aquela trouxa de cobertores que servia de cama ali no chão estendeu duas pontas e me agarrou, e ainda dava risadas!
- Aah, socorro!! – gritei. – O que é isso?! Um fantasma?!
- Que é isso pergunto eu! – exclama Morgiana.
- Aura?! – Fifi exclamou.
Olho para trás. O travesseiro agora tinha um rosto humano conhecido!
- Aura?! – exclamei.
- Bu! – exclamou a trouxa de cobertores, me dando a seguir um beijo.
A trouxa me soltou, e, diante dos olhos de todos, se transformou em mulher. Em Aura, a garota que havia me trazido para cá, na forma de motocicleta. E nos olhava com olhar de deboche.
- Mas!... – exclamamos juntos Fifi, Morgiana e eu.
- Oi, Macário. – falou Aura, com um grande sorriso debochado. – Posso me juntar à festinha?
- Mas... mas Aura! – exclamou Fifi. – Você não está ensaiando junto com a banda?!
- Estava. Mas resolvi dar uma escapadinha... Entrei junto com a Morgiana. Vocês nem viram, eh, eh...
- Você entrou... – Morgiana começou a falar, mas foi interrompida.
- O pessoal ainda está tocando. Espero que não reparem tão cedo que a tecladista sumiu, eh, eh...
De fato, ainda se ouvia o som da banda ensaiando.
- Aura! – exclamei.
- Oi, Macário... sabe que eu sou uma transmorfa, né? Posso entrar nos lugares sem ser vista... Posso me transformar em qualquer coisa... Até em uma prosaica trouxa de cobertores, quem iria desconfiar de uma trouxa de cobertores?! E, sabe? Eu também queria...
- Peraí, Aura! E o Ringo? – perguntei.
- O que tem o Ringo?
- Ele não é seu namorado?!
- Não é não. Eu só dou uma bolinha para ele. Alimento uma ilusão dele... Mas namorado eu não tenho. E, sabe...
- Sabe nada!! – exclamou Fifi. – Você também não comece a pensar bobagem, Aura!
Aura olhou para a sua líder com um olhar de desafio.
- Ah, Fifi, por favor, não me negue esse direito! O Macário é tão fofo... e ele chora... ele é sensível, e... magro, e... eu bem que gostaria que ele andasse na minha moto... digo, a moto sou eu, mas não me importo se ele pilotar...
E Aura acariciava meu rosto. Me abraçou.
- Não... – exclamei.
- Afaste-se! Eu é que vou ficar com ele! – exclamou Morgiana.
- Eu que vou! – exclamou Fifi.
Mas Aura parecia não se importar com ameaças. Ooh, só falta ela começar a tirar a roupa na minha frente!!! Mas Aura é uma garota bonita, e... magra, e...
- Não ligue para elas, Macário. – falou Aura, me olhando melifluamente. – Elas duas já foram, agora é minha vez de experimentar o sabor do seu...
- NÃO!!! – gritei.
As três quase caíram para trás.
- Macário?!
- Me deixem em paz, suas... malucas!!
E saí correndo do quarto.
Era muita gastura. Três garotas querendo sexo de qualquer jeito! Mas eu já estava por demais pressionado! Não é isso que eu quero...
Saí correndo. Mas não fui muito longe.
Acabei trombando com alguém. E nós fomos ao chão.
Rapidamente levantei e olhei. Eu havia trombado em Eliane. Ela me olhava, surpresa.
Olhei em volta. Os outros membros da gangue já estavam no corredor. Eliane, Richard, Boland, Pauley, Ringo, Fido, Gil, Beto Marley.
- Macário? – exclamou Eliane, surpresa.
- Gah!! – me assustei, a me ver apoiado em cima de Eliane.
Quem tivesse visto a cena, pensaria que eu tivesse me jogado propositalmente em cima de Eliane, que eu a estivesse atacando-a ali mesmo, naquele corredor. E o pior: seu vestido subiu com a queda! Podia ver, ao meu redor, uma porção de olhos arregalados com a cena.
- O que está havendo aqui? – falou Richard, surpreso. – Onde estão as outras?
- A Aura fugiu do teclado, a Morgiana também... – falou Fido.
- E que gritaria é essa vindo do... – falou Beto Marley.
- Nossa, Macário, mas que disposição... – falou Eliane, com um sorriso gaiato. – Você gostou tanto assim de me ver cantando?!
- Guh... E-eu posso explicar... – falei, tremendo.
- Macário! – exclamou Gil. – Mas o que você está fazendo com a...
- Ei, Macário, volte aqui!!! – ouvi as vozes femininas vindas do quarto.
Olhei para trás, e vi Morgiana, Fifi e Aura olhando atônitas para o corredor, para mim, apoiado em cima de Eliane, para Eliane jogada no chão, a calcinha aparecendo.
- Mas, Macário!! – exclamou Morgiana, da porta do quarto. – O que é que está acontecendo?!
- P(...), Macário, ainda por cima a Eliane?! – exclamou Fifi.
- Gah!! – rapidamente saí em cima de Eliane, e, olhando encabuladíssimo para todos ali no corredor, comecei a falar: – Eu... hã... Em outro momento eu explico! Agora, eu vou embora! Tchau pra todos!!! – gritei, e saí correndo.
Nem quis saber da expressão dos outros, de atender aos apelos dos que estavam me chamando – ouvi as vozes de Fifi, Morgiana e Aura gritando meu nome. Nem quis dar explicações. Me mandei, pura e simplesmente, enquanto todos estavam paralisados pela surpresa. Só abri a porta do corredor que dava para a sala, e saí correndo.
Era uma loucura tão grande que eu já não estava mais aguentando.
Ganhei a rua. E ninguém veio atrás de mim, menos mal.
E não parei de correr. Só queria me afastar o mais longe que pudesse daquela casa. Ooh, pra quê que eu fui trazido para ali!! Não é assim que eu quero conquistar garotas!!! Senti as lágrimas rolando em minha face, e uma raiva subindo para a cabeça. Estou começando a odiar as mulheres!
Corri a esmo pelas ruas. As sombras do crepúsculo iam se transformando rapidamente em noite, os postes se acendiam. Eu só pensava em chegar à faculdade, agora, só correndo. Eu sabia o caminho usado pela motocicleta usada para me sequestrar. Apesar do susto, eu consegui prestar atenção no caminho. Então eu sei por onde ir. Sei, sim...
Mas não fui muito longe.
De supetão, quando dobrei uma esquina, um automóvel parou diante de mim.
Só pude ver que era uma pequena limusine. Ou algo parecido. Mas era um carro de luxo, branco, comprido e de vidros muito escuros. O que uma limusine está fazendo naquela parte da cidade?!
Uma das portas se abriu bruscamente.
De dentro da porta, um braço agarrou a gola da minha camisa.
E fui puxado para dentro.

Ah, não de novo!!! Outro sequestro não!!!

Próximo capítulo daqui a 15 dias.
Até aqui, como está sendo a experiência: está boa? Ruim? Continuo? Paro? Devo fazer alterações?
Manifestem-se sem medo! Ou isso me dará o direito de fazer o que quiser... de deixar esta história ainda mais hardcore... nesses tempos bicudos onde o fantasma da censura está rondando.
Até mais!

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