Passaram-se quinze dias. No momento em que escrevo, é noite de uma segunda-feira. Mas ainda é o dia de colocar no ar um episódio inédito de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO. E vamos nós...
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de sedução, de assédio sexual, de fanservice, de efeitos do abuso de drogas e de maus tratos (não intencionais) a mulheres.
Isso tudo já estava indo longe demais...
Vou resumir depressa:
Justo quando estava a caminho da minha
faculdade, aceitando a carona que Luce ia me oferecer, e quando a gostosa da
Âmbar ia junto conosco, eu fui sequestrado. Sequestrado por um carinha que pode
gerar vários braços e por uma garota que se transformava em motocicleta. Membros
de uma gangue de “monstros”, formada por um masoquista que enfiava alfinetes na
pele, uma garota com braços de borracha, um rapaz javali, um roqueiro com
dentes de piranha, um rapaz com língua de cachorro e a versão jovem da Cruella
De Vil... e todos sob a liderança de uma garota pantera.
Mas os captores não fizeram nada comigo. Nada
de ruim. Só me convidaram para ouvir a música da banda que eles mantinham.
E tinha gente conhecida entre os que estavam
ouvindo a música também, os convidados. Uma garota tubarão e um rapaz com
serpentes no lugar do cabelo... Então, nada de ruim iria acontecer comigo...
até onde podia constatar.
O pior é que eu conhecia a líder dos meus
simpáticos captores. A garota pantera. Essa era a pior parte. Era alguém com
quem eu havia transado, e depois matado... em uma dimensão paralela, acessível
através dos sonhos. E, pelo que entendi, através de alguma poção, encantamento,
sei lá, mas é imprescindível que as duas partes estejam com sono para uma
invadir a mente da outra.
E a líder dos captores, essa garota pantera,
me flagrou no momento em que eu estava fugindo (nesta realidade), e me puxou
para o quarto dela. Me fez entrar, e fechou a porta.
Ela disse que era seu quarto. E, de fato, até
parecia um quarto. Pois tinha uma cama. E só.
A gangue estava, pelo que posso constatar,
ocupando ilegalmente aquela casa abandonada, que estava necessitada de uma
reforma. E não dispunham de móveis. Usavam qualquer coisa como móveis. Na sala
de estar, usavam almofadões. Na cozinha, só a pia e uma caixa de isopor como
geladeira – o resto estava ocupado com equipamentos de som e instrumentos
musicais. E aquele quarto... só tinha uma cama. Espero que tenham mantido, ao
menos, as porcelanas do banheiro...
A cama daquele quarto era muito velha e usada.
Pelo aspecto, havia sido encontrada em um depósito de lixo e reaproveitada.
Assim como o colchão pouco confortável, e pelo jeito muito gasto, onde Fifi
pediu para eu sentar. Cobrindo o colchão, um edredom remendado. A cama estava
desarrumada, então ela devia estar dormindo pouco antes de eu chegar aqui.
E, pelo jeito, a cama era um direito apenas
da líder do grupo. Não era preciso muito para entender que Fifi era a dona da
cama. Pelos cantos, haviam trouxas de cobertores, acolchoados, colchonetes
usados, tudo jogado no chão sujo. Eram as outras “camas” de quem dividia o
quarto com Fifi – provavelmente as garotas. Tudo cheirando a bolor, apesar da
janela aberta para arejar e iluminar o local, apesar do sol do fim de tarde.
Para guardar as roupas, haviam apenas grandes
malas de viagem, aquelas retangulares, para guardar grandes volumes. Malas com
rodinhas. E bem velhas, muito usadas. É, aquele é o quarto das meninas, nos
malões só haviam roupas femininas, e muita bagunça, as roupas todas misturadas
– o que demonstrava uma vida com pouca responsabilidade, o sonho de qualquer
adolescente.
Os Animais de Rua viviam uma vida bastante
despojada. Seus bens mais caros eram mesmo os instrumentos musicais, que
estavam soando lá na cozinha, agora mesmo – a banda estava ensaiando, cantando
umas canções próprias para mostrar a Morgiana e Beto Marley. Espero que
Morgiana não tenha notado minha ausência ainda. Espero que ninguém, naquela
cozinha, tenha notado minha ausência.
Fifi se sentou ao meu lado, na cama. E seus
pés ficaram quase pendurados, visto que ela tinha baixa estatura. Ela até precisou
dobrar as pernas da calça jeans para encolhê-la. Ela vestia roupas que pareciam
largas nela, coitada. E pareciam de segunda mão. Estava com os pés descalços, e
do topo de sua cabeça saíam duas orelhas felinas, que se moviam de um lado para
outro, como pequenas antenas parabólicas. Um dia cheguei a achar que as orelhas
eram falsas.
- E aí, Macário, gostou da casa? Do nosso “cafofo”?!
Nyah...
- Hã... como posso dizer? É tudo tão... hã...
simples.
- Bem, eu e meus amigos somos adeptos da
cultura freegan.
- Cultura o quê? – ergui a sobrancelha.
- Freegan. Não sabe o que é isso? Vivemos
apenas com o básico para sobreviver. Não somos interessados em luxo e vida
baseada em consumo, estamos interessados apenas em um lugar dentro da
sociedade. O que é lixo para a maioria é luxo para nós.
- Tipo hippismo?
- Hã... quase isso. Digamos que seja uma...
hum... uma versão punk do estilo de vida hippie. Nyah.
- Puxa...
Outro conceito interessante.
- Bem, aos olhos da sociedade, praticamente
somos como mendigos. Ocupamos casas abandonadas, reclamando direito a um
telhado. Comemos comida achada no lixo. As pessoas desperdiçam muita coisa que
pode ser aproveitada, então a gente aproveita. E preferimos usar e vestir
objetos de segunda mão. Tentamos evitar ao máximo o uso do dinheiro. Enfim. Uma
vida o mais possível freegan. Só não é total porque temos os nossos luxos...
nyah. Os nossos instrumentos musicais, que garantem que, pelo menos, paguemos a
energia elétrica necessária para fazer o conjunto funcionar, e a água para
tomar banho... E, bem... a maioria dos freegans é vegetariana, mas eu... e
alguns dos outros membros... comemos carne, ovos, leite... nyah.
Dizendo isso, ela lambia o pulso, como uma
gata.
- Hã... muito interessante. – falei,
apreensivo. – Mas... Se a vida de vocês se baseia assim, no despojamento...
hã... por que vocês andam com o bando do Luce?
- Eu poderia dizer que estamos nos
aproveitando, mesmo. O Luce é rico, e está interessado na nossa banda, por que
desperdiçar essa chance, de um patrocinador? Nyah... Mas a verdade é que tem
mais que isso. Você vê, Macário, somos criaturas, monstros, que não podem andar
livremente entre os humanos. Temos de nos camuflar. Temos nossos meios de nos
disfarçar entre os humanos, ou, no máximo, nos fazer passar por humanos
excêntricos. Olha meu caso...
Ela levantou da cama e, diante de mim,
começou a se transformar em pantera. Não totalmente: estava vestida com a camisa
e a calça, e mantinha a cabeleira clara, mas seu rosto assumiu feições felinas,
e seus braços se cobriram de pelos. Seus dedos das mãos e dos pés encolheram,
incharam e ficaram felinos, com garras nas pontas. Uma cauda comprida saiu de
suas costas. Fifi virara uma pantera antropomórfica, de desenho animado. A
autenticidade só não era maior por causa da baixa estatura – talvez fosse mais
adequado dizer que Fifi era um puma, ou uma jaguatirica, ou outro grande felino
de pequeno porte, não uma pantera. Talvez seja um daqueles casos em que o
crescimento encruou, o ser em questão desenvolveu alguma forma de nanismo.
Depois eu pergunto.
- Se você conheceu os outros da gangue, sabe
por que não podemos ter uma vida assim como... a sua, Macário. Não o tempo todo.
Mas... aah, nyah... o Luce nos arregimentou, e nos aceita assim como somos. Não
sei bem o propósito, mas tanto ele quanto nós... nos vemos como iguais.
- Puxa.
Logo depois, Fifi reassumiu a forma humana,
mas deixando as orelhas e a cauda.
- E ele aceita humanos, também. Desde que
eles aceitem nossa condição. Há humanos puros entre os nossos, também.
- É mesmo?... É o meu caso, agora.
- E não sei por quê... nyah...
Fifi me olhou enviesado. Ela obviamente
estava se lembrando daquela noite. Engoli em seco.
- Fi... fi... fi...
- Eu já disse, Macário... é só Fifi. – ela
ronronou, aproximando as garras afiadas no meu nariz. – Só dois “fi”... nyah...
- Fifi... eu... hã... sabe... olhe... – fiz
um esforço para achar as palavras exatas. – Eu... eu acho que sei porque você
me mandou trazer até aqui...
- Sabe, é?
- Acho que sei... acho que você... acho que
você me odeia, né?
Fifi levantou uma sobrancelha.
- Te odeio? Como assim?
- Hã... bem... a Âmbar meio que já explicou
como funciona o tal do portal mental.
- Ela que explicou? – Fifi voltou a franzir a
testa. – A... perua em esqueleto de louva-a-deus?
- S... sim. E... bem... acho que você ainda
está ressentida daquela noite. Eu sei, eu te tratei muito mal, te violentei, te
joguei da janela. Ainda que tenha sido em uma dimensão paralela, eu... eu... –
comecei a lacrimejar. – Eu juro que não queria, Fifi... eu... por favor, me
perdoa, eu... (soluço) Foi aquela droga que você me deu pra tomar... (soluço) ela
me deixou maluco eu... (soluço) longe de mim eu querer maltratar uma mulher,
mas foi aquele remédio (soluço)... eu sei que foi aquele remédio esquisito...
eu...
Já era a segunda vez naquele dia que eu
começava a chorar. Mas agora, diante de uma mulher. Ooh, eu estava virando um
maricas...
Mas Fifi apenas começou a sorrir, perto de
meu rosto.
- Mas Macário, eu não estou te odiando.
- Na... não?!
- Bem, foi na dimensão paralela, e ainda bem.
Olha pra mim, estou viva, e diante de você, intacta. Nyah. E, bem, fui eu quem
levou a tal situação, invadindo seu sono. Além do mais, eu bem que devia ter
desconfiado daquela pílula que a Andrômeda me deu.
- A... a Andrômeda? – enxuguei as lágrimas.
- Foi ela quem me deu o comprimido, dizendo
que era um tipo de Viagra caso você ficasse fraco. Bem, se era para induzir
minha morte para poder voltar ao plano normal da realidade... eu devia
desconfiar que aquela sanguessuga gorda ia usar um truque muito escuso. Nyah.
Foi minha vez de levantar as sobrancelhas. A
Andrômeda, usando truques... oras, quem diria?! E ela parecia na verdade uma
mulher frágil! Espere, mas quem sabe não haja um “lado B” nessa história?
- Eu devia desconfiar que aquele comprimido
tinha por finalidade deixar você violento, Macário. Nyah, só pode ser isso.
Afinal, como é que com as outras você foi tão gentil... comigo você foi tão
gentil, me deu prazer... e daí você ficou violento, depois que tomou aquela
droga? Só podia ser uma droga de manipulação de mente. Só pode! Aquela...
sanguessuga gorda!! Nyah!
Fifi apertava os punhos.
- Ou talvez tenha sido o Luce, mesmo. –
falei.
- Hein?
- Estou pensando se não foi o Luce quem
induziu a Andrômeda a te dar aquele comprimido para armar uma sacanagem. –
franzi o cenho. – Eu meio que sei que o Luce é capaz dessas coisas...
- Bem provável, mas não duvido que a ideia
pode ter partido da Andrômeda. Talvez em conluio com as outras garotas! Para
estragar a minha noite com você!! Elas todas são invejosas, Macário. Acredite,
vai chegar o dia que elas vão se trucidar por sua causa, Macário...
Fifi disse isso sempre apertando os punhos,
até sair um filete de sangue da palma da mão. Fifi chegou a sentir a pontada,
mas nem demonstrou dor. E preferiu lamber o ferimento. Eu bem que quis me
manifestar, mas achei melhor não. Afinal, estava falando com uma felina, e
felinos se lambem o tempo todo. Além disso, sabiam que saliva é antisséptica?
E não sei por que não tiro da cabeça que na
verdade é o contrário: a Fifi é que é a invejosa.
- Mas... mas enfim, Macário... – ela voltou a
sorrir para mim. – Eu não te odeio.
- Não? – fiquei surpreso.
- Pelo contrário, eu te amo. Você é
diferente, Macário. Olhe só, você é o primeiro homem que eu vejo que é capaz de
chorar de arrependimento... É tão difícil encontrar homens assim como você...
Aah, Macário... nyah...
Senti um peso saindo de minhas costas. De
repente não era tão ruim assim ser maricas.
Fifi mudou o olhar rapidamente, do carinhoso
para o de censura:
- Mas nunca mais faça o que fez, tá, Macário?!
- Hã... claro, Fifi. Que bom que você não me
odeia...
O olhar dela voltou a ser carinhoso.
- Nyah... meu Macário...
Estava estranhando essa oscilação de
sentimentos.
Fifi se jogou em meu colo, e se aninhou, como
uma criança. Oh, céus. Era como estar com uma menininha de catorze no colo. Me
senti um pedófilo asqueroso, apesar de saber que Fifi tinha quase vinte anos
completos.
- Aah, Macário... nyah...
- Fifi...
- Nunca mais me violente... ou violente outra
garota... senão...
A mão dela se transformou em uma pata de
pantera – só a mão. E, de leve, ela passou as unhas no meu rosto. Doeu um
pouco. Era só para dar o aviso.
- Se depender de mim, não vai acontecer de
novo, Fifi. Juro. – fiz questão de salientar.
- Que bom saber... Nyah... Eu te amo,
Macário...
E tascou-me um beijo na boca. E quis meter a
língua nos meus lábios, nos meus dentes.
E aquela voz em minha mente começou a
alertar: vai ter sexo!
- Fifi...
- Você vai ser só meu... – ela começou a
falar entre beijos.
- Fifi...
- Eu vou derrotar as outras garotas e vou
ficar com você só pra mim, Macário... vou te fazer largar a faculdade... vou te
trazer pra cultura freegan.
- Fifi...
Vai
ter sexo!
- Vou te fazer viver de amor e uma cabana,
literalmente. Você vai ver como é bom, Macário... Nós contra o resto do
mundo... Aah, Macário... eu... eu!... Nyaaah...
- Fifi!!!
Consegui me recuperar a tempo. Com meu grito,
Fifi saiu de meu colo, e quase caiu para trás, no chão. Me pus em pé diante
dela.
Não
vai ter sexo.
- Macário?!
- Fifi! Foi para isso que você me raptou,
moça?! Para me seduzir?!
- Aah, Macário, vai dizer que você não gosta?
– ela falou, com um sorriso sacana.
- É que não é o momento, Fifi. Eu estou
atrasado para a faculdade e...
- Esquece a faculdade, Macário. Faculdade
para quê?!
- O mundo precisa de médicos, Fifi. E só chás
com ervas medicinais não adiantam nos dias atuais...
Não
vai ter sexo.
- Aah, Macário... esquece essa faculdade por
hoje... só por hoje... eu sei o que você realmente quer, Macário... e é fêmea,
Macário! Fêmea de verdade!! Nyah...
E, dizendo isso, me empurrou para eu sentar
de novo na cama, desabotoou a calça jeans, e a fez cair a seus pés. Acabei
arregalando o olho com o que veio a seguir. Ela estava de calcinha, mas não de
sutiã: ela desabotoou a camisa e a abriu diante de meus olhos. Levo um susto.
Fifi mostrou os seios, os belos peitões, proporcionais ao seu biótipo. Suei
frio.
Vai
ter sexo!!!
- Vamos fazer gatinhos, Macário?!
- Não!! – falei, apertando os dentes.
- Ah, Macário. Não banque o difícil... Esses
peitos não te excitam mais, tesouro?!
Ela tirou os pés de dentro da calça arriada e
caminhou em minha direção.
- Fifi, por favor... – falei, muito
encabulado.
- Aah, Macário, por favor... Por favor digo
eu...
E sentou novamente no meu colo, de camisa
aberta e calcinha.
Vai
ter sexo!
- Por favor, Fifi... não é o momento... tem
tanta gente na sua casa, alguém pode nos flagrar...
- Podem não. Ainda ouço que eles estão ensaiando.
Eles lá esquecem de tudo quando estão tocando...
De fato, os Animais de Rua não paravam de
tocar. Continuavam emendando músicas e tocando como se não houvesse amanhã. Tive
vontade de gritar: alguém pare essa música e venha me ajudar!!
Vai
ter sexo!
- Mas a Morgiana... – fiz mais uma tentativa.
- Que tem a Morgiana? Ela não vem aqui. Está
entretida com a música do primo pobre dela. Eu é que não estou ocupada com
nada, por isso...
- Não, por favor, Fifi...
- Pare de bancar o difícil, Macário. Eu estou
sentindo que seu p(...) está duro, em me ver assim, quase pelada, no seu
colo... Nyah... – e ela pressionava os seios no meu peito. – Tira essa mochila
das costas... e a roupa... Vem sentir como seus peitos são macios e...
- Pare, Fifi, eu...
Fifi cala minha boca com um beijo.
Estava difícil resistir. Fifi estava
cheirando bem. Decerto, havia tomado banho há poucas horas. E ela tinha
peitões...
Vai
ter seeeeexoooo...
Não Macário, força de vontade! Você teve de
repelir as investidas da Âmbar e da Andrômeda, você precisa repelir as dessa
tarada também...
Mas ela insistia em me beijar, em agarrar
minha cabeça, em pressionar seus seios excitados no meu tórax... Eu já podia
sentir os bicos se apertando contra meus mamilos, apesar da barreira da minha
camisa... Ela já ia tirar minha mochila dos ombros... Eu estava com muito medo,
mas ao mesmo tempo já me sentia excitado...
Vai
ter seeeexooooo...
Mas aí, no momento decisivo...
A porta do quarto se abre violentamente.
E ali estava Morgiana, furiosa. Fifi e eu levamos
um grande susto.
- Macário!!! – gritou. – FIFI!!!
- Gah! Morgiana!!! – gritou Fifi.
- Que bonito, hein?! – voltou a gritar a
morena, rangendo os dentes afiados.
Ao fundo, a música da banda ainda soava. Pelo
jeito, Morgiana também escapara do ensaio. Ela notou minha ausência! Justo o
que eu temia!
Não
vai mais ter sexo! Ufa!
- Morgiana, eu posso explicar... – falei,
nervoso.
Estava apreensivo, o medo voltou. Sob a boca
entreaberta, Morgiana rangia os dentes de tubarão. A porta fecha com violência
atrás dela.
- Tire as mãos do Macário, sua vaca em pele
de pantera!!! – gritou Morgiana.
- Vem você tirá-lo de mim, sua piranha em
pele de tubarão! – exclamou Fifi, em tom de desafio.
Morgiana precisou apenas agarrar o colarinho
da camisa de Fifi e puxá-la para trás, derrubando-a no chão. Pelo menos Fifi
saiu do meu colo, mas isso não queria dizer alívio. Morgiana agora me fulminava
com um olhar de reprimenda. E estes olhos estavam vermelhos, estranhamente
vermelhos.
- O que é que vocês estavam fazendo? – Morgiana
sempre me fulminando.
- Eu não estava fazendo nada, Morgiana...
juro... – falei, com medo.
- Então foi pra isso que você fugiu do
ensaio, né, seu... seu garanhão?
- Nã... não, Morgiana, não foi pra...
- Foi sim. – intrometeu-se Fifi. – Confessa,
Macário, foi pra isso que você saiu do ensaio. Para me ver. E pelada... Nyah.
- Não, não foi... – tentei de novo. – Não foi
pra fazer sem-vergonhice...
O olhar furioso de Morgiana mudou de repente
para um olhar de tristeza, um olhar de que estava decepcionada comigo.
- Macário!! – gritou Morgiana, em tom de
choro. – Mas por quê?! Por que você se deixa seduzir assim tão facilmente?! E
por uma baixinha, por uma menininha, Macário?! Só porque é peituda?!
- Não é verdade! – gritei. – Se eu tivesse
deixado me seduzir, agora eu estaria pelado! Mas olhe só, eu não estou
pelado...
- Mas ia ficar pelado. – falou Fifi, olhando
enviesado para Morgiana. – Se você não tivesse interrompido, ô tubaroa.
- E você está quase pelada! – exclamou
Morgiana. – Olhaí... de calcinha e com os peitos de fora!!! Oh, Macário, por
que você...?!
- Morgiana, lembre-se! Foi ela quem mandou me
sequestrar. Lembre-se, eu fui sequestrado. Se-ques-tra-do!!! – enfatizei. – Eu te
disse que fui sequestrado! Não foi por vontade minha!!!
Morgiana parecia levemente confusa.
- Ah, é, você disse... – Morgiana então se
voltou para Fifi. – Você queria, não é?! Vaca em pele de pantera!! Queria
f(...) com ele! Foi só pra isso que você o trouxe aqui, não era para conhecer a
banda...
- Bah, vai dizer que você também não queria,
né? – Fifi sorria em desafio. – Olhe, não foi por acaso! Como eu sabia que você
ia vir nos assistir hoje... olhe só que presente eu mandei buscar pra nós. – e
apontou para mim. – Sei que você também quer, amiga.
- Mas! – exclamei.
- Mas eu que queria fazer o “test-drive”, pra
ver se está tudo certo. – Fifi fez cara de inocente.
- Mentira! Você queria ficar com ele só pra
ti!! – exclamou Morgiana. – E usou a banda para me distrair! Você sabe que o
rock me faz perder a noção do tempo!!
- Meninas... – tentei interferir, mas Fifi me
interrompeu.
- Que culpa eu tenho se seu primo tem uma
banda de rock? Que culpa eu tenho pelas coincidências da vida, de o seu primo
integrar a minha gangue?! Que culpa tenho de termos o mesmo vampiro nos arregimentando
para o nosso círculo?!
- Não mude de assunto não! Isso não alivia o
seu crime, de tentar roubar o Macário de mim!!!
- Morgiana! – exclamei, mas ela me
interrompeu, e se voltou para mim com a mesma cara de “quero colo”. Agarrou
meus ombros e começou a chorar.
- Aah, Macário!! Por que você prefere as
peitudas?! Por que os homens só preferem as peitudas?! A minha desvantagem é
tããão grande, Macário...
As atitudes de Morgiana não estavam
racionais. Será que...
Eu podia sentir que Morgiana estava em algum
estado de confusão mental. Ela, evidentemente, consumiu alguma droga – havia
uma vermelhidão estranha em seus olhos. Em princípio, achei que a vermelhidão
era raiva, mas agora, olhando melhor... Não havia hálito de álcool, nem de
fumo, então ela deve ter consumido algum comprimido, ou injetado substância nas
veias. Ela não estava agindo racionalmente, com aqueles momentos constantes
alternando raiva e choro. Eu sei, já saí com uma garota que consumia
anfetaminas – mas quando ela me ofereceu, eu não aceitei.
Até Fifi soltou um assobio de censura com o
teatro ébrio que Morgiana fazia.
- Morgiana, por favor, eu... – tentei falar,
mas Morgiana interrompeu:
- Sei que você também teve seu momento com a Fifi
no portal mental, mas aquela noite que nós tivemos no portal mental não
significou nada para você?! Me diz, Macário... meus seios não são bonitos?! Eu
não sou gostosa?!
E levantou a camiseta, mostrando os seios. Ela
não estava usando sutiã! Acabo arregalando os olhos. Argh, aqueles pudins...
- MORGIANA!!! – soltei a exclamação.
- Me diz, Macário, os meus seios...
- Cobre isso!!! – exclamei.
- Hein?!
- Cobre já esses seios, Morgiana!!
Morgiana arregalou os olhos diante de mim.
Depois, obedeceu – puxou a camisa de volta. E ficou me olhando incrédula.
- Há-há! – riu Fifi, apontando o dedo para
Morgiana.
- Macário?! – manifestou-se Morgiana, me
olhando triste.
- Parece que seus seios não são bonitos,
amiga. Não em comparação aos meus... – falou Fifi, abrindo de novo a camisa.
- Você também cubra esses seios!!! –
exclamei.
As duas levaram um susto. Fifi fechou
rapidamente a camisa, mas não abotoou.
- Macário?!
- Qual é o problema com vocês duas, afinal?!
– olhei para ambas, de cenho franzido. – Qual é a dessa briga irracional?!
Morgiana, o que aconteceu com você?! Está drogada?!
- Eu?! Como assim, Macário?!
- Olhe, posso ver que sim, você está drogada!
Seu olho está vermelho! E você está meio grogue!
- Como assim, Macário?! Eu... oh... eu... –
Morgiana começou a se retrair, pega no flagra. – S... Sim, Macário, mas é só o
meu remédio, Macário. Não é o que você está pensando. É efeito colateral do meu
remédio para dor de cabeça... juro, Macário!!!
- Remédio para dor de cabeça, sei... – falou
Fifi, de braços cruzados. – E foi o seu primo quem forneceu, certo?
- Não se intrometa! – vociferou Morgiana para
Fifi. Depois, se voltando para mim. – Acho que é de eu estar fora da água,
mesmo, por tantas horas... Estou desde manhã sem mergulhar, sem tomar banho...
sem me molhar. Aí eu fico com dor de cabeça, com ela própria bem confusa... Não
sei o que há comigo, Macário. Mas... mas... – e recomeçou a chorar.
Alguma coisa me dizia que Morgiana estava
mentindo. Ok, ela é uma sereia, e sereias, pelo jeito, não podem ficar muito
tempo longe da água. Mas não ficou muito clara aquela explicação para suas
atitudes, nem para os olhos vermelhos. Analgésicos, deixando os olhos
vermelhos? Além disso, Morgiana cambaleava, ebriamente.
- Alguém me ajude...
Delicadamente, peguei nas mãos de Morgiana, e
a amparei.
- Morgiana. Por favor, vamos nos acalmar e
esclarecer esta história. – propus.
Por um instante, com esse meu toque e meu ar
professoral, achei que Morgiana voltaria ao seu estado normal, porque ela se
acalmou e olhou para mim seriamente. Mas falei cedo demais...
- É, vamos... Só depois de você fazer amor
comigo... – e a morena já veio se jogando contra mim. – Sinto sua falta,
Macário...
- Ei!!! – manifestou-se Fifi. – Eu que ia
primeiro!!!
- Entre na fila!!
- Meninas!! – exclamei.
Oh não! Vai começar tudo de novo!!!
Vai
ter sexo!
- Espere, amiga. – falou Fifi, já se
abraçando a mim também. – Que tal se dividirmos o...
- Não!! – gritou Morgiana, me apertando
contra si. – O pinto dele é meu! Já bastou ter de dividi-lo com minhas irmãs,
aquelas taradas...
- Tá bem, Morgiana, pode ficar com o pinto,
eu fico com a boca. O oral dele é o melhor... – e Fifi já estava metendo a mão
sob meu casaco.
- Meninas...
Por que algo me dizia que Fifi também estava
agindo sob efeito de drogas – ou, no mínimo, sob efeito da abstinência?
Vai
ter sexo, não adianta...
- Aah, meu Macário... – falou Morgiana,
melifluamente. – Diz que eu sou a sua gostosa...
- Nããão, Macário, diga que sou eu...
- Você prefere as garotas atléticas, eu
sei...
- Não, você prefere as garotas mais
opulentas...
- Meninas...
Vai
ter sexo...
- Vamos fazer peixinhos, Macário, ao som do
rock...
- Vamos fazer é gatinhos, nééé?
- MENINAS!!! – explodi.
As duas desabaram no chão.
- Macário?! Outra vez?! – as duas exclamaram.
- Eu... – respirei fundo. – Eu não quero sexo
hoje! Vocês estão fora da casinha!!
- Macário?!
- Eu tenho de ir. Eu tenho de...
E já ia andando até a porta, mas acabei
tropeçando em uma daquelas trouxas de cobertores e caindo em cima de um deles.
Não foi mais que um pequeno susto... logo acompanhado de um grande.
Porque a trouxa de cobertores, de repente,
ganhou vida e me agarrou!!!
Aquela trouxa de cobertores que servia de
cama ali no chão estendeu duas pontas e me agarrou, e ainda dava risadas!
- Aah, socorro!! – gritei. – O que é isso?!
Um fantasma?!
- Que é isso pergunto eu! – exclama Morgiana.
- Aura?! – Fifi exclamou.
Olho para trás. O travesseiro agora tinha um
rosto humano conhecido!
- Aura?! – exclamei.
- Bu! – exclamou a trouxa de cobertores, me
dando a seguir um beijo.
A trouxa me soltou, e, diante dos olhos de
todos, se transformou em mulher. Em Aura, a garota que havia me trazido para
cá, na forma de motocicleta. E nos olhava com olhar de deboche.
- Mas!... – exclamamos juntos Fifi, Morgiana
e eu.
- Oi, Macário. – falou Aura, com um grande
sorriso debochado. – Posso me juntar à festinha?
- Mas... mas Aura! – exclamou Fifi. – Você
não está ensaiando junto com a banda?!
- Estava. Mas resolvi dar uma escapadinha...
Entrei junto com a Morgiana. Vocês nem viram, eh, eh...
- Você entrou... – Morgiana começou a falar,
mas foi interrompida.
- O pessoal ainda está tocando. Espero que
não reparem tão cedo que a tecladista sumiu, eh, eh...
De fato, ainda se ouvia o som da banda
ensaiando.
- Aura! – exclamei.
- Oi, Macário... sabe que eu sou uma
transmorfa, né? Posso entrar nos lugares sem ser vista... Posso me transformar
em qualquer coisa... Até em uma prosaica trouxa de cobertores, quem iria
desconfiar de uma trouxa de cobertores?! E, sabe? Eu também queria...
- Peraí, Aura! E o Ringo? – perguntei.
- O que tem o Ringo?
- Ele não é seu namorado?!
- Não é não. Eu só dou uma bolinha para ele. Alimento
uma ilusão dele... Mas namorado eu não tenho. E, sabe...
- Sabe nada!! – exclamou Fifi. – Você também
não comece a pensar bobagem, Aura!
Aura olhou para a sua líder com um olhar de
desafio.
- Ah, Fifi, por favor, não me negue esse
direito! O Macário é tão fofo... e ele chora... ele é sensível, e... magro,
e... eu bem que gostaria que ele andasse na minha moto... digo, a moto sou eu,
mas não me importo se ele pilotar...
E Aura acariciava meu rosto. Me abraçou.
- Não... – exclamei.
- Afaste-se! Eu é que vou ficar com ele! –
exclamou Morgiana.
- Eu que vou! – exclamou Fifi.
Mas Aura parecia não se importar com ameaças.
Ooh, só falta ela começar a tirar a roupa na minha frente!!! Mas Aura é uma
garota bonita, e... magra, e...
- Não ligue para elas, Macário. – falou Aura,
me olhando melifluamente. – Elas duas já foram, agora é minha vez de
experimentar o sabor do seu...
- NÃO!!! – gritei.
As três quase caíram para trás.
- Macário?!
- Me deixem em paz, suas... malucas!!
E saí correndo do quarto.
Era muita gastura. Três garotas querendo sexo
de qualquer jeito! Mas eu já estava por demais pressionado! Não é isso que eu
quero...
Saí correndo. Mas não fui muito longe.
Acabei trombando com alguém. E nós fomos ao
chão.
Rapidamente levantei e olhei. Eu havia
trombado em Eliane. Ela me olhava, surpresa.
Olhei em volta. Os outros membros da gangue
já estavam no corredor. Eliane, Richard, Boland, Pauley, Ringo, Fido, Gil, Beto
Marley.
- Macário? – exclamou Eliane, surpresa.
- Gah!! – me assustei, a me ver apoiado em
cima de Eliane.
Quem tivesse visto a cena, pensaria que eu
tivesse me jogado propositalmente em cima de Eliane, que eu a estivesse
atacando-a ali mesmo, naquele corredor. E o pior: seu vestido subiu com a
queda! Podia ver, ao meu redor, uma porção de olhos arregalados com a cena.
- O que está havendo aqui? – falou Richard,
surpreso. – Onde estão as outras?
- A Aura fugiu do teclado, a Morgiana
também... – falou Fido.
- E que gritaria é essa vindo do... – falou
Beto Marley.
- Nossa, Macário, mas que disposição... –
falou Eliane, com um sorriso gaiato. – Você gostou tanto assim de me ver
cantando?!
- Guh... E-eu posso explicar... – falei,
tremendo.
- Macário! – exclamou Gil. – Mas o que você
está fazendo com a...
- Ei, Macário, volte aqui!!! – ouvi as vozes
femininas vindas do quarto.
Olhei para trás, e vi Morgiana, Fifi e Aura
olhando atônitas para o corredor, para mim, apoiado em cima de Eliane, para
Eliane jogada no chão, a calcinha aparecendo.
- Mas, Macário!! – exclamou Morgiana, da
porta do quarto. – O que é que está acontecendo?!
- P(...), Macário, ainda por cima a Eliane?!
– exclamou Fifi.
- Gah!! – rapidamente saí em cima de Eliane,
e, olhando encabuladíssimo para todos ali no corredor, comecei a falar: – Eu...
hã... Em outro momento eu explico! Agora, eu vou embora! Tchau pra todos!!! – gritei,
e saí correndo.
Nem quis saber da expressão dos outros, de
atender aos apelos dos que estavam me chamando – ouvi as vozes de Fifi,
Morgiana e Aura gritando meu nome. Nem quis dar explicações. Me mandei, pura e
simplesmente, enquanto todos estavam paralisados pela surpresa. Só abri a porta
do corredor que dava para a sala, e saí correndo.
Era uma loucura tão grande que eu já não
estava mais aguentando.
Ganhei a rua. E ninguém veio atrás de mim,
menos mal.
E não parei de correr. Só queria me afastar o
mais longe que pudesse daquela casa. Ooh, pra quê que eu fui trazido para ali!!
Não é assim que eu quero conquistar garotas!!! Senti as lágrimas rolando em
minha face, e uma raiva subindo para a cabeça. Estou começando a odiar as
mulheres!
Corri a esmo pelas ruas. As sombras do
crepúsculo iam se transformando rapidamente em noite, os postes se acendiam. Eu
só pensava em chegar à faculdade, agora, só correndo. Eu sabia o caminho usado
pela motocicleta usada para me sequestrar. Apesar do susto, eu consegui prestar
atenção no caminho. Então eu sei por onde ir. Sei, sim...
Mas não fui muito longe.
De supetão, quando dobrei uma esquina, um
automóvel parou diante de mim.
Só pude ver que era uma pequena limusine. Ou
algo parecido. Mas era um carro de luxo, branco, comprido e de vidros muito
escuros. O que uma limusine está fazendo naquela parte da cidade?!
Uma das portas se abriu bruscamente.
De dentro da porta, um braço agarrou a gola
da minha camisa.
E fui puxado para dentro.
Ah, não de novo!!! Outro sequestro não!!!
Próximo capítulo daqui a 15 dias.
Até aqui, como está sendo a experiência: está boa? Ruim? Continuo? Paro? Devo fazer alterações?
Manifestem-se sem medo! Ou isso me dará o direito de fazer o que quiser... de deixar esta história ainda mais hardcore... nesses tempos bicudos onde o fantasma da censura está rondando.
Até mais!
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