Olá.
Já
está na hora de dar uma agitada neste blog. Já está no momento de diminuir os
hiatos entre postagens. Por esses dias, estive, sim, produzindo material
inédito – ilustrações, tiras, etc. – para acompanhar as postagens. Mas sobre o
que escrever neste momento, para acompanhar as ilustrações?
Hoje,
resolvi trazer a vocês mais uma leitura nerd que eu descobri recentemente. Mais
um livro sobre cultura pop, sobre quadrinhos de super-heróis (como continua
tendo filmes de super-heróis saindo, esse assunto não sai da nossa pauta),
publicado pela atual editora (pretensamente) especialista no assunto, a
Discovery Publicações. Mas esta publicação tem um quê de diferente das demais
que eu já resenhei aqui.
Hoje,
então, vou falar de UNIVERSO DOS SUPER-HERÓIS, de Alexandre Callari.
Já resenhei outros livros com nome parecido com este, que tratam de temas similares, de editoras similares. Mas UNIVERSO DOS SUPER-HERÓIS é um livro que se diferencia graças a um aspecto: a qualidade de seu texto. Já volto a esta parte.
A
única informação de que não disponho no momento é o ano de publicação do
volume, mas é provável que tenha saído entre 2016 e 2017. Já sobre Alexandre
Callari, ele é um autor conhecido – editor e apresentador do programa Pipoca
& Nanquim (https://pipocaenanquim.com.br/),
especializado em quadrinhos e cinema; colecionador de HQs, autor de vários
livros e tradutor. São dele, por exemplo, os livros das séries Quadrinhos no Cinema, da editora Europa,
e Apocalipse Zumbi, da editora
Generale – cada uma com três livros. Só para ficar no essencial... (fonte: https://www.skoob.com.br/autor/5470-alexandre-callari)
Quem
conhece o que já foi publicado pela Discovery já meio que sabe de antemão quais
são as principais características físicas do livro: 80 páginas, capa cartonada,
com muitas ilustrações coloridas (mais de 200) de divulgação estrategicamente
distribuídas entre o texto.
Mas
podemos dizer que UNIVERSO DOS SUPER-HERÓIS é o melhor livro da linha de
leituras nerds da Discovery, depois de 400
Imagens – Mangá do Começo ao Fim, de Sérgio Peixoto, e 100 Super-Heróis, de Guilherme Kroll. Os outros livros da linha,
como Almanaque dos Quadrinhos – 120 Anos
de História, de Franco de Rosa, e 300
Mangás, de Heitor Pitombo, já resenhados aqui, meio que correm por fora em
relação a esses.
É
que a Discovery às vezes comete muitas “barbeiragens” com suas publicações
sobre cultura pop – lembremos, por exemplo, do Almanaque Heróis do Anime e do Almanaque
Ilustrado do Desenho Animado na TV, que continham diversos erros de edição
e que não satisfaziam totalmente ao leitor interessado em informações a preço
popular.
Com
UNIVERSO DOS SUPER-HERÓIS foi diferente. A editora se preocupou em diminuir os
deslizes na edição – houve um erro detectável de edição, mas este é perdoável.
O autor também teve a preocupação com o leitor. Seu objetivo, conforme
explícito no texto introdutório do livro, é despertar a curiosidade do leitor
para o universo dos super-heróis... dos quadrinhos. A preocupação mesmo foi com
o universo dos quadrinhos e da literatura, das quais o universo cinematográfico
foi uma consequência, um derivado. O foco do autor ficou nos super-heróis dos
Estados Unidos e do Brasil – ele se desculpa pela não inclusão dos heróis de
outras nacionalidades, como os japoneses e os italianos. Você leu certo: há um
capítulo deste livro dedicado aos super-heróis de HQ criados no Brasil.
São
sete capítulos no total, todos com as informações básicas sobre os referidos
super-heróis, como histórico e intérpretes em outras mídias, além de
informações essenciais sobre suas publicações no Brasil – que editoras
publicaram os personagens, e algumas confusões que elas porventura cometeram. E
o texto procura casar perfeitamente com as ilustrações dispostas à margem dos
textos. Às vezes, aparece uma caixa cinza com curiosidades adicionais.
Começando
pelo capítulo introdutório, tendo como marco inicial para contar a história dos
super-heróis nos quadrinhos, o aparecimento do Yellow Kid, de R. F. Outcault, em 1895. A grande maioria dos
especialistas em HQ concorda que o Yellow
Kid é o marco inicial para qualquer história das HQ, já que esse trabalho,
além de ter sido a primeira narrativa sequencial de grande alcance popular, foi
uma das primeiras a utilizar as características icônicas das HQ, como os
balões. Na esteira do Yellow Kid vieram
as outras tiras de HQ, e o desenvolvimento do estilo que culminaria nos
super-heróis. Vocês me entenderam. O capítulo ainda cita Winsor McCay e seu Little Nemo, George Herriman e seu Krazy Kat e Harold Gray e sua Little Orphan Annie.
No
segundo capítulo, temos A Era dos Heróis
da Aventura, ou dos personagens de HQs não cômicas, voltadas para o gênero
de aventura, que servem de protótipo para as HQ de super-heróis. Não apenas nos
quadrinhos; desde os pulps (livrinhos
populares de contos de aventura), nos quais surgiram os primeiros personagens
de aventura, com ou sem poderes. Os focos do capítulo ficam em Tarzan (desde E. R. Burroughs até Russ
Manning, passando pelos icônicos ilustradores Hal Foster e Burne Hogarth), nos
personagens de Robert E. Howard – Conan
e Solomon Kane – nos heróis do rádio
– Sombra, Cavaleiro Solitário (que,
sabe-se lá por quê, por muito tempo foi chamado de Zorro no Brasil) e Besouro Verde – no Fantasma, e nos heróis de Alex Raymond – Flash Gordon e Rip Kirby
(Nick Holmes).
Aí,
chegamos à Era de Ouro, próximo
capítulo, sobre a aparição dos primeiros super-heróis, consolidando nos EUA o
formato comic book de histórias
criadas exclusivamente para as revistas (basta lembrar que os primeiros comic books dos EUA, os populares gibis, quando apareceram nos anos 1930, eram
compostos basicamente por republicações de tiras de jornal). A Era de Ouro dos
gibis, como sabemos, tem por “marco zero” a aparição do Superman, em 1938 (as tiras de jornal também viviam a sua Era de Ouro,
que vem desde muito antes do Superman). Os focos do capítulo ficam com: Superman (é claro); Batman (que dúvida, né?!); a editora Timely (futura Marvel Comics)
e seus heróis pioneiros – Namor, Tocha
humana e Capitão América (este
tem por mérito ser o primeiro super-herói de sucesso a começar sua carreira em
título próprio, no tempo em que a política era, antes, testar personagens novos
em uma antologia com outras HQ, antes de arriscar o título solo); Capitão Marvel (futuro Shazam); o trio de ouro da All-American
Publications (posteriormente incorporados à futura DC Comics) Flash, Gavião Negro e Lanterna Verde; Aquaman; Mulher Maravilha; e o caubói Cavaleiro Negro – vítima de uma falcatrua de sua editora brasileira,
a RGE (futura Editora Globo).
O
próximo capítulo trata da Era de Prata, marcada
pela renovação do gênero heroico após a devastação provocada pela tétrade
Segunda Guerra Mundial – Macarthismo – Fredric Wertham – Comics Code Authority, que quase acabou com o gênero heroico e com
o formato comic book (por causa das HQ de crime e de terror). O marco inicial
da Era de Prata foi a reformulação do Flash,
em 1956 – na esteira, heróis antigos como o Lanterna Verde e o Gavião Negro
ganharam novas identidades, uniformes, conceitos. As aventuras dos novos
super-heróis, a partir daquele ano, passaram a ser mais calcadas na ficção
científica que na magia e na mitologia. E é nesse contexto que começa a
revolução promovida pela agora denominada Marvel Comics, sob a liderança da
dupla Stan Lee e Jack Kirby, capitães do conceito dos super-heróis com
problemas humanos e maior identificação com o leitor, marca registrada do
período. Todos sabem: começou com o Quarteto Fantástico, em 1961; depois vieram
Homem Formiga, Hulk, Thor, Homem Aranha,
Homem de Ferro, Vingadores, Nick Fury, X-Men, Surfista Prateado, Inumanos...
Meio que por cima, são citadas inclusive as mudanças ocorridas ao longo das
décadas de 1970, 1980 e 1990 (até o Deadpool
é mencionado neste capítulo). O capítulo ainda faz uma menção à editora
Charlton, e seu respeitável catálogo de heróis (Besouro Azul, Capitão Átomo, etc.) que posteriormente seria
incorporado à DC. Os heróis da Charlton serviriam de base para o personagens do
Watchmen de Alan Moore – esta série,
aliás, é citada esporadicamente ao longo do livro, sem maior aprofundamento.
No
próximo capítulo, a Era de Bronze, a
era (início dos anos 1970) em que as HQ de super-heróis passaram por novas
mudanças temáticas. Com o afrouxamento das regras do infame Comics Code Authority, que havia
prendido os quadrinhos de gibi a uma série de regras que não ofendessem a
sociedade dos anos 1950, foram feitas muitas experiências que arejaram as HQ
americanas e permitiram a liberdade criativa sem limites: doses maiores de
violência (já que Conan chegava às HQ
naquela época), conscientização social, histórias que falavam sobre drogas, o
retorno dos então banidos quadrinhos de terror (que levou à criação: pela
Marvel, do Motoqueiro Fantasma e de
sua cultuada série do Drácula, de
onde sairia Blade; pela DC, do Monstro do Pântano, e pela Warren, de Vampirella), personagens que pegavam
carona nas modas da época, como a justiça urbana (Justiceiro) e os filmes de artes marciais (Mestre do Kung-Fu, Punho de Ferro)... o capítulo ainda cita: a
criação dos Guardiões da Galáxia, o
surgimento de uma nova leva de heroínas – Capitã
Marvel, Mulher Hulk, Poderosa; a criação do selo Epic, o primeiro “selo
adulto” de HQs da Marvel (precursora da Marvel Max), de onde saem Irmandade do Aço, Dreadstar, Marshall Law e
Groo; as contribuições da editora
First Comics, especializada em títulos para leitores maduros; a aparição das Tartarugas Ninja; e os contra-ataques da
DC Comics, com Jonah Hex, Quarto Mundo
(depois que conseguiu tirar Jack Kirby da Marvel)...
Capítulo
seguinte: a Era Moderna, pós anos
1980, uma era que não é consenso entre especialistas: se já terminou, ou se
pelo menos começou. O marco zero teria sido o ano de 1986, quando saíram as
revolucionárias séries Batman – O
Cavaleiro das Trevas e Watchmen, que
abriram uma nova era de violência, brutalidade e artes experimentais. O
capítulo se detém basicamente em Hellboy
e em um breve histórico da Image Comics, responsável pelo “grande estrago” dos
anos 1990. E aqui termina a parte referente aos Estados Unidos.
O
último capítulo do livro foi reservado aos Heróis
Nacionais, explanação breve sobre as tentativas mais bem-sucedidas de
criação de super-heróis brasileiros. Do Capitão
7 a Zé Gatão, o autor cita vários
heróis brasileiros e no que os seus criadores e as editoras que publicaram esse
material contribuíram para a Nona Arte brasileira. São citados, após o Capitão
7: Raio Negro, Homem Lua, Hydroman e
outras contribuições de Gedeone Malagola e da editora ICEA; Mirza, a Mulher Vampiro; as publicações
das editoras Escala e Metal Pesado; Velta;
Flávio Colin; Judoka, Jerônimo, o Herói
do Sertão...
Que
pena que foram apenas 80 páginas. Talvez por outra editora, Callari consiga
realizar uma versão revista e ampliada do livro, pois tem muita coisa que dá
vontade de saber mais a respeito. E tem muita coisa que faltou – como, por
exemplo, as “invasões” dos desenhistas filipinos e dos roteiristas britânicos
aos Estados Unidos nos anos 1970 e 1980, respectivamente. Faltou falar mais de
Frank Miller, Neil Gaiman, Alan Moore... Além disso, o texto de Callari procura
ser descontaminado de preconceitos e parcialidades que geralmente acometem os
que se atrevem a falar de cultura pop – já vi muita gente, em livros, sites e
redes sociais usando de grosseria, argumentos sem fundamento e/ou calcados em
opinião totalmente pessoal (geralmente equivocada), preconceito e ofensas para defender seu gênero
favorito de HQ.
Callari
quis que a gente pudesse voltar a reler seu livro, e procurar os trabalhos que
ele cita. Bem, a Discovery Publicações já pode se considerar redimida.
Atualmente
o livro se encontra à venda em saldos de estoque, a preço mais baixo que os R$
19,90 originais. Este aqui vale a pena ter na estante, vale sim.
Para
encerrar: não tendo outra ideia do que colocar, resolvi fazer algumas
ilustrações especiais – arte-finalizadas a caneta esferográfica, só peço que não
estranhem a qualidade – de super-heróis que eu criei. Todo desenhista amador
sonha em criar seu super-herói, mesmo com as ideias originais para o gênero já
escassas, por que comigo seria diferente?
Um
dia pretendo aproveitar esses personagens. Já tenho em mente as histórias,
origens e motivações dos personagens. Se alguém quiser informações sobre estes
heróis, entre em contato que eu dou maiores detalhes. E, de preferência,
divulgo ilustrações mais bem feitas que estas.
Aguardem
novidades.
Até
mais!
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