Hoje, consigo publicar mais um episódio de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO. Não deu para cumprir o acordo firmado no último episódio, de publicá-lo em 15 dias. Tive alguns problemas. Mas vamos prosseguindo...
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de intimidação e de voyerismo.
Estava evidente que Breevort estava de mau
humor, desde o bar. Mas por que ele iria descontar seu mau humor em mim? O que
eu fiz? Será que ele... sabe?!
O rapaz do rosto tatuado; o elfo negro;
aquele que eu ainda julgo ser o arrancador de orelhas de pivetes. Breevort.
Ele sabe que eu andei espiando sua intimidade
através de seus sonhos. Ele sabia que eu assisti ele transando com Geórgia, a
garota que ele queria – que, aliás, ele quer.
Nesse momento, ele estava me pressionando
contra a parede do beco, seus braços cercando minha cabeça, impedindo uma
possível fuga. O poste próximo ainda iluminava bem o local. Suas unhas agora
estavam curtas. Alegava apenas querer conversar, mas estava de cara amarrada. Eu
ainda não tive a oportunidade de conhece-lo direito, de saber como ele realmente
vivia; não podia saber como ele era de verdade. Os conhecidos diziam que,
apesar da aparência agressiva, ele era um rapaz manso; ele mesmo meio que se
apresentou como um rapaz manso para mim, manso e inseguro, alguém que estava
sofrendo com a concorrência na área afetiva.
Ele estava disposto a brigar por Geórgia.
Podia ver em seus olhos: ele seria capaz de eliminar quem cruzasse seu caminho,
e o de sua garota.
Eu estava incluído.
- Só falar a respeito de uma garota,
Macário... – Breevort olhava nos meus olhos.
Engoli em seco.
- A... a Geórgia, certo? – balbuciei.
- Simmmm... – ele balbuciou.
- O... o que tem a Geórgia? O... o que ela te
fez?
- Eu que pergunto, Macário. Você ainda tem
algo com a Geórgia?
- Quem, eu?! M-ma-mas... eu por quê?!
- Geórgia fala muito de você. Geórgia fala
muito com você. Geórgia tem procurado
você constantemente.
- C... como sabe?
- Tenho meus meios de saber.
- Meios de...? – arregalo o olho – Vo... Você
esteve nos espionando?
Pude ouvir Breevort engolindo em seco,
ruidosamente.
- Eu não.
- Você nos espionou, sim.
- Eu não. – repetiu, com olhar envergonhado.
- Claro que espionou, Breevort. – me fiz de
durão – Espionou as vezes que ela veio conversar comigo na rua.
- Já disse que eu não espionei, Macário.
Alguém espionou por mim e veio me contar.
- A... alguém?!
- Os membros da minha gangue.
- Você... você tem gangue?!
- Eu não sou o único elfo negro deste círculo.
Ah, claro. Devia ter sacado. Se existe mais
de um vampiro, mais de uma sereia, mais de um meio-dragão no grupo dos
Monstros, então...
- Assim como o Flávio Dragão e a Fifi tem as
gangues deles, eu também tenho a minha... – ele prosseguiu – Você sabe, o Luce
tem procurado juntar todas as gangues de criaturas noturnas, que antes eram
rivais. Não sei com que pretensão, mas nada indica até agora um ataque aos
humanos ou coisa parecida... Mas só eu que faço parte do círculo principal do
grupo do Luce. Sou um, bem, representante da minha espécie junto ao círculo. Eu
falo pelos elfos negros, enquanto o Flávio Dragão fala pelos meio-dragões, e a
Fifi fala pelos... pelos... pelos monstros marginalizados em geral.
- Ah, bem...
- Agora pare de mudar de assunto, Macário.
Você e a Geórgia...?
- Mas Breevort... – interrompi, engoli em
seco e prossegui: – Não, não é nada disso que você está pensando.
- Não?
- Ela tem me procurado, mas é para conversar.
- Conversar sobre o quê? – Breevort
continuava tentando me sondar para constatar se eu estava mentindo ou não.
- Ela anda cismada ainda com a marca de
mordida de vampiro que ela levou no pescoço... Digo, mordida é só modo de
dizer... Você deve saber que o Luce usa seringas para sugar sangue de...
- Sei, é claro. Aquele babaca louco por caos.
Deixei um sorriso esboçar-se em meu rosto.
Tinha de concordar com ele.
- P-pois. – prossegui. – Ela... ela está
perto de descobrir a verdade sobre as... as criaturas noturnas.
Breevort arregalou o olho.
- Será que está, Macário? Perto?
- Está difícil esconder, Breevort... Um dia
você vai ter de contar o que você é de verdade. Ou quer que ela descubra da
pior maneira? Como foi comigo?
Breevort desencostou as mãos da parede, colou
os braços ao corpo. E noto que estava se encolhendo.
- Não... ela não pode saber o que sou.
- Não pode esconder para sempre.
- Posso sim.
- Não pode, Breevort. A menos que queira que
o Luce conte para ela, só de farra, já que eles são colegas de faculdade... Ou
talvez a Eliane dê com a língua nos dentes... Ou talvez... o Marto Galvoni
resolva contar.
- NÃO!!
Breevort deu um soco na parede atrás dele.
Depois, deu um suspiro profundo.
- Aquele velho.
- O que foi, Breevort?
- Aquele... velho.
Estava evidente que Breevort estava se
corroendo de ciúmes.
- Breevort?
- Aquele... velho!!
- B...?
- O que ela vê nele?!
- Hm?
- Eu tento ser um rapaz legal. Tento ser
romântico à minha maneira. Tento ser o que ela aparentemente quer, mas parece
que não adianta... Ela também arrasta asa para aquele velho, aquele italiano
papa-anjo. E eu pergunto: o que ela vê nele?!
- S... sabe que eu não sei?
- Temo que seja o interesse puro e simples. Só
porque ele é rico. Ele ganha dinheiro com as pinturas dele. Praticamente rico.
- Ou será que é porque ele é italiano? As
mulheres gostam de um amante italiano. – falo com um meio-sorriso de gracejo.
O gracejo não funcionou. Breevort deu outro
soco na parede. Chegou a provocar rachaduras.
- As mulheres são todas iguais...
Breevort secou uma lágrima.
- Não... não pode ser porque ele é rico, não.
Isso não faz sentido.
- Por quê?
- Eu apenas... apenas sei que não é porque
ele é rico... Ela... A Geórgia...
Ele estava tão inseguro que não conseguia
pensar com clareza.
- Ela está dividida. – interrompi de novo. –
Praticamente dividida entre dois tipos de homem.
- Como... Como sabe?!
- Eu... chutei.
- Você deve ter algum dom mediúnico,
Macário...
- Que nada, Breevort. Sou só um rapaz
mulherengo que teve o azar de me envolver com o que não devia. Eu chutei, só isso.
- Você... não...
- Olha, amigo. Desde que a Geórgia voltou
para esta cidade, eu só transei uma madrugada e uma tarde com a Geórgia,
Breevort, se é isso que você quer saber.
- Só uma...?
- Teve outro caso, mas bem, bem lá atrás.
Antes mesmo de você conhece-la. No caso do nosso último encontro... Foi um
encontro casual, Breevort. Ela estava em uma situação de perigo, e eu a acolhi
no meu apartamento e... bem, foi inevitável que rolasse um clima. Mas não
passou disso, certamente ela pensa que aquela tarde foi para nunca mais. Desde
aquela tarde ela tem me procurado... hã... pouco. Acho que a última coisa que
ela quer comigo agora é sexo.
Será que devo falar da orelha cortada do
menino Maicon? Hm, acho que não, por enquanto.
- Tem certeza que...?
- Puxa, Breevort, quanta insegurança.
O elfo engoliu em seco. Ele tremia.
- Ma... Macário.
- B...?
- O que você sabe da relação dela com o Marto
Galvoni?
Será que Breevort realmente ficou sabendo que
invadi as lembranças da Geórgia sem querer? Oh, é agora...
- Bem... não sei muita coisa. – dei uma
evasiva.
- Não sabe mesmo?
- O que sei é que a Geórgia tem... hum...
saído com uma porção de gente. Com você, com o Marto, com os Animais de Rua...
Você sabe que a Eliane é amiga de infância da Geórgia?
- Eliane? Quem é mesmo...?
- Aquela gostosa do cabelo preto-e-branco. A
bruxa dos Animais de Rua.
- Ah, é... lembrei. Aqueles maloqueiros
liderados por aquela baixinha peituda. Os Animais de Rua. Aliás, as garotas dos
Animais de Rua são lindas, você não acha? São gostosas, né? – ele tentou
descontrair.
- Sei, sim...
Pelo jeito que ele falava, certamente também
aconteceu alguma coisa entre ele e as garotas d’Os Animais de Rua. Melhor
perguntar depois.
- A Geórgia tem andado com eles também? Os
Animais de Rua?
- Fiquei sabendo que sim, e... Creio que...
bem... em vez de um triângulo, vocês estejam vivendo um quadrado... não, um
losango amoroso.
- Losango?!
- Você, Geórgia, Marto e Eliane. Bem, posso
não ser muito experiente, mas eu sou um estudante de medicina, Breevort... –
procurei parecer seguro de mim mesmo – e quem lida com medicina também lida com
dedução. Sabe dizer o que o paciente tem só de olhar para ele, digo, aprendemos
isso no curso de Medicina também, método Sherlock Holmes...
- Hah, e o que isso tem a ver?! Você desvia
muito o assunto, Macário...
- Não estou desviando desta vez, juro. Bem,
não faz muito que estou convivendo com os seres noturnos, Breevort, mas meu
sentido de clínico deduziu muitas coisas. Por exemplo... que a Geórgia tem
buscado... hum... prazer com diversos caras. Você é um deles, o Marto também,
e... e que a Eliane sente pela Geórgia mais que amizade, sabe...
Breevort parecia estar recebendo essas
revelações como socos no estômago.
- Vo... você está insinuando que...?
- Sim, que Geórgia pode ser bissexual. Para
ela tanto faz homem ou mulher... E mais, ela tem agido como uma Rê Bordosa.
Breevort ficou vermelho. Não sei se de
vergonha ou de raiva. Evidente que por essa ele não esperava.
- Pensei que você já soubesse... – prossegui.
– Afinal, entre os Monstros, ninguém é de ninguém, né? Todos transam entre si,
e... Acho que até a Âmbar...
- Ah, a Âmbar é uma faminta por sexo, não foi
tão legal quanto gostaria.
Sou eu quem empalideço. Oras, o Breevort teve
um caso com a Âmbar?! Mas por que eu a citei, de repente?
A pele de Breevort volta a empalidecer.
- Bem, sim, é verdade, entre os... hã...
Monstros... ninguém é de ninguém, mas chega uma hora que você, monstro ou
humano, elege a sua companheira e decide ficar com aquela que você elegeu,
custe o que custar. Ah, cara... Eu decidi que aquela garota precisa ser minha.
Eu que posso dar o que ela quer de verdade. Digo, não que eu não saiba que ela
sai com vários homens, com você, inclusive, mas eu decidi que sou em quem vou
tirá-la dessa vida... Você nunca tomou uma resolução assim, Macário?
- Bem... ainda não. – respondo, com vergonha.
– Testei várias garotas até hoje, mas ainda não achei nenhuma que eu
quisesse... bem... você sabe.
- Cada um é cada um, mas no meu caso... Ah,
cara. Quanto mais eu saio com a Geórgia, mais descubro que sei muito pouco
sobre ela...
- Os seus... hã... agentes não seguem a
Geórgia o tempo todo, seguem?
- Hum?
- Com o que a sua gangue já descobriu, talvez
você já tenha montado um dossiê completo sobre a Geórgia e... Ou não?
- Bem... não. Só podemos seguir os passos da
Geórgia à noite.
- ?
- Sou a principal liderança de um grupo de
elfos negros, Macário. Elfos Negros se entendem melhor com a escuridão. Não são
como os elfos brancos, os iluminados. E...
Mas, mal Breevort começou a falar, de repente
o beco começou a se encher de sombras, e, um segundo depois, de gente, como se
esses indivíduos tivessem se materializado do nada. Ou seria eu que estava tão
compenetrado no Breevort e sua insegurança que não vi eles entrando?
De repente, nós dois nos vimos cercados por
cerca de dez ou quinze indivíduos. Todos tinham uma aparência agressiva similar
à do Breevort. Pareciam, à primeira vista, apenas perfeitos punks, de roupas de
couro escuras e penteados elaborados, piercings, tatuagens, o que ajudasse a
conferir a aparência grotesca. Todos pareciam ter saído de alguma história em
quadrinhos do Watson Portela. Mas algumas figuras eu conhecia: também eram
frequentadores do bar. Ajudavam a completar a multidão que eu passei a servir
durante as noites. Mas não fazia ideia que eram elfos negros também; alguns eu
supunha que também fossem vampiros, talvez lobisomens, transmorfos...
- Falando neles... – falou Breevort. – Esta é
a gangue, Macário.
- Sua gangue? – procurei não demonstrar
apreensão.
Por incrível que pareça, Breevort contrastava
com aqueles indivíduos. As roupas dele eram marrons, mais claras, enquanto os
outros estavam de roupas escuras, entre cinza e preto, como um grupo de ninjas.
- Somos elfos negros. – falou um dos
indivíduos.
- Oi, Macário. – todos falaram em uníssono.
- Hm... oi. – respondi timidamente.
Todos estavam, no momento, com suas
aparências humanas. Podia imaginar como era a verdadeira forma deles, já vi a real
aparência do Breevort, que parecia até um duende de RPG.
- Estamos interrompendo algo, chefe? –
pergunta o indivíduo mais baixo do grupo, que usava um casaco maior que ele e
tinha o cabelo penteado para trás.
- Estava conversando com o Macário aqui. –
Breevort explica. – Assunto particular.
- Talvez seja particular mesmo – falou a que
parecia ser uma das garotas daquele grupo, que ostentava um enorme topete negro
e usava roupas curtas.
- Não pode revelar o que é, chefe? – falou o
sujeito que usava o casaco fechado, óculos escuros (apesar de ainda ser noite)
e o cabelo arranjado em coquezinhos sobre a cabeça, lhe dando uma aparência que
lembrava um pão de hambúrguer com gergelim.
- É relacionado ao assunto que vocês estão...
hm... investigando. – falou Breevort, em tom de liderança militar. – Agora me
digam. O que descobriram a respeito da Geórgia hoje? Onde ela foi?
- Hoje ela foi direto para casa. – disse o
mais baixo.
Aí, metade dos indivíduos começaram a falar,
quase todos ao mesmo tempo, mas cada um falava apenas uma frase, e o outro
assumia o discurso a seguir.
- Isso mesmo.
- Seguimos Geórgia até a casa dela.
- Escondidos.
- Fomos discretos, nos passamos por uma
gangue comum de anarquistas, nesta cidade tem muitas, mais uma não vai fazer
diferença...
- Ficamos até de campana.
- Para ver se ela ia se arrumar para sair ou
se ia chamar alguém pra casa dela...
- Mas não foi, nem uma coisa nem outra.
- A luz do quarto apagou, ela não saiu de
casa.
- Foi dormir direto.
- Olhamos até pela janela, ela não fecha a
cortina, foi dormir mesmo.
- E sabe que ela dorme quase sem roupa?
- Se deita na cama só de calcinha.
- Os peitos de fora.
- Quase uma Marilyn Monroe, se usasse Chanel
no. 5...
- Aliás, ela usa perfume antes de se deitar,
sim.
- Não deu pra ver que marca era, mas não era
Chanel No. 5.
- Ainda bem que não nos viu.
- Saímos de fininho antes dela acordar.
Espero que não tenham ouvido meu engulho em
seco. Eles foram capazes de espionar a intimidade de Geórgia, e contavam como
se eu não estivesse ali. Como se eu também não fosse capaz de imaginar Geórgia
deitada na cama, só de calcinha, e ainda por cima perfumada – mas é claro que
nem ela teria condições de comprar um vidro de caríssimo perfume Chanel no. 5,
só para fazer como a Marilyn Monroe – e nem se dava ao trabalho de fechar a
cortina da janela. Breevort, você não é o único que sabe pouco da Geórgia
apesar de conviver tanto com ela.
Breevort pareceu ter se dado por satisfeito
com esse “relatório”.
- E o Marto? O que puderam apurar a respeito
do italiano? – perguntou à outra metade do grupo.
- Não muita coisa, chefe.
- Ele também não tentou nada.
- Também, ele estava com o Luce.
- Acho que o Luce que é o namorado dele.
- Os dois estavam de negócios, o Luce que estava
mais entusiasmado.
- Foram a restaurantes, foram ao bar,
passaram até numa boate.
- Véios safados, eles.
- Se bem que o velho estava com cara de que
queria estar em outro lugar.
- Quer dizer, quando estava no restaurante.
- Na boate ele se animou.
Senti-me ruborizar. Será que a tal boate era
de strip-tease? Bem, não podia esperar outra coisa daqueles dois.
- Mas com a Geórgia não foi feito nada, nada,
nada.
- Noite muito tranquila.
- Tranquila até demais.
- Bem, espero que continue assim. – falou Breevort.
– Quanto menos próximo aquele velho estiver da Geórgia, melhor.
E, dando as costas para mim, chamou o seu
pessoal.
- Vamos, pessoal, o dia já está raiando.
Antes de ser engolido pelas sombras que
sobravam da noite, Breevort ainda se virou para mim e disse:
- Era só isso, Macário. Você tem de voltar
para seu apartamento agora, eu tenho de voltar para o meu. Noutra hora a gente
conversa mais...
E saiu andando. Seu séquito começou a
segui-lo.
Não todos, porém. Três ficaram para trás...
para falar comigo. O baixinho, que a todo momento ajeitava as mangas do casacão
para que não ficassem caindo sobre as mãos; a garota do topete; e o rapaz do
cabelo de gergelim.
- Macário? – falou o baixinho.
- E aí? – falou a garota.
- Como estava o chefe hoje, enquanto falava
com você? – falou o terceiro.
- O Breevort? – começo a falar. – Ele me
parecia inseguro.
- O que vocês estavam conversando realmente?
- Bem, ele está preocupadíssimo com a
Geórgia. – respondo. – E agora que ficou sabendo de que jeito ela dorme quando
está sozinha, não sei...
Aí, os três começaram a falar como se
partilhassem um só pensamento, cada um uma frase.
- Ah, tá.
- Faz dias que ele está assim.
- Ele tem pensado demais nessa Geórgia,
apesar de saber que ela é uma p(...)...
- Sinceramente, não sei o que o chefe viu
naquela garota.
- Está com a ilusão de que vai casar com
ela...
- Com tantas outras garotas legais dentro do
nosso círculo.
A garota, que foi quem falou a última frase,
olhava para o próprio corpo. Ela, claro, estava com bastante pele de fora, em
seu top decotado e sua saia curta, tudo de couro. E ela tinha um belo corpo, e
grandes tatuagens no braço. Um sinal de alerta se acendeu dentro de mim: quem
sabe essa não seja a próxima a tentar seduzir o mulherengo aqui?!
- Desde que bateu o olho naquela garota, ele
não tem agido como sempre agiu.
- Ele mudou muito, Macário, estamos
preocupadíssimos.
- Tem nos mandado continuamente vigiar os
passos daquela garota.
- Estamos flagrando cada coisa, Macário.
- Ela não é garota para ele, Macário.
- Quem confia em gente que usa perfume antes
de dormir?!
Aqueles punks, apesar de aparentarem ser
adultos com mais de 21 anos, pareciam crianças falando comigo.
- Você precisa ajudar o Breevort, Macário...
- Você conhece a tal Geórgia melhor do que
ele, precisa abrir os olhos dele.
- O chefe está praticamente cego, Macário...
- Temos deixado de fazer o que realmente
gostamos de fazer para fazer só o que ele quer, Macário...
- Antes a gente só fazia coisas divertidas,
mas agora...
O que eles queriam dizer com “coisas
divertidas”? Seria diversão típica de punk – beber, depredar, pichar paredes,
arrancar orelhas de pivetes? Eu, pelo menos, nunca conheci um punk que agisse
de forma contrária ao descrito acima... Com elfos negros não deve ser diferente
– talvez façam pior.
- Precisa nos ajudar, Macário...
- O Breevort está assim desde que aquele Luce
o chamou para andar com ele...
- Você tem de fazer o Breevort voltar a ser o
que sempre foi...
- Bem, eu... – comecei a balbuciar. – Mas o
que eu posso fazer? Eu...
Mas aí, atrás do trio, soou um assobio. Eles
deram uma última olhada em mim, e saíram correndo atrás do séquito.
A garota ainda falou, quase sussurrando: “por
favor, nos ajude”.
Fico parado, olhando eles desaparecerem
dentro das sombras dos prédios, sendo como que engolidos pela escuridão que
morria com o amanhecer.
Só depois começo a andar. De volta para meu
apartamento.
Isso estava voltando a ficar confuso.
O que eu podia fazer com relação ao Breevort?
E por que foi justo minha ajuda que eles pediram?
A última coisa que me passava pela cabeça
seria atrapalhar a relação de Breevort com Geórgia. Eles, sim, combinavam; não
o Marto.
Não, melhor mesmo é não me envolver nisso. Já
tenho meus próprios problemas, vou ficar resolvendo problemas de criaturas
mitológicas... Sou estudante de Medicina, não de Psicologia.
E, sabe, que se dane o fato da Geórgia se
perfumar antes de dormir, como se fosse uma mulher rica. Bem, talvez ela possa
ganhar um vidro de Chanel no. 5 de presente de um de seus namorados. Bem, que
faça bom proveito.
Tudo o que eu queria agora era voltar ao meu
apartamento e não ter nenhuma surpresa. Queria simplesmente dormir, de
preferência de maneira normal. Faz dias que não tenho dormido como uma pessoa
deveria dormir.
Sem mais distrações, chego ao apartamento.
Estava aparentemente vazio. Luce ainda não chegou.
Por via das dúvidas, vasculhei os aposentos.
Ele não estava no seu quarto, nem no meu, onde já larguei minha mochila. Na
cozinha, no banheiro, na área de serviço, no...
Aí, me detive diante da porta do depósito.
Digo, do quartinho que Luce usava como depósito. E, de repente, me lembro de
algo: já faz tempo que eu deveria saber o que realmente havia naquele depósito,
que eu só havia visto algumas vezes de relance, o que Luce guardava ali.
A porta estava entreaberta, convidativa.
Tenho de saber o que o Luce está realmente
guardando ali dentro. E por que todos aqueles produtos de limpeza que ele
trouxe na tarde anterior.
Com o coração aos pulos, temendo de repente
ser flagrado, abro a porta devagar... devagar...
Próximo capítulo em breve. Não posso prometer que sairá em tal dia, por causa dos imprevistos que podem acontecer. Então, "em breve" é tudo o que posso dizer.
Até aqui, como está ficando? Está bom? Ruim? Precisa mudar? Precisa fazer alguma alteração? Precisa parar? Manifestem-se nos comentários!
Até mais!
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