Hoje, terça-feira, consigo mais uma vez, por duas semanas seguidas, publicar capítulos inéditos de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO. Sei, ultimamente é a única coisa que ando publicando no blog. Preciso variar...
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de chantagem, agressão física, constrangimento, uso indiscriminado de poderes paranormais e exposição semi-sensacionalista de pessoas gravemente feridas.
- A Eliane?!
- É, a Eliane, Macário. – insistiu Fifi,
respirando fundo, recuperando o fôlego da corrida que fez até a nossa porta. –
Ela não esteve aqui esta noite?
Além da aparição de Fifi, na porta do nosso
apartamento, ter sido repentina, tinha jeito de emergencial, pois evidente que
ela esteve correndo, provavelmente do seu esconderijo até aqui. E com as
devidas precauções, pois suas orelhas felinas estavam escondidas sob o cabelo –
ela teve que correr pelas ruas da cidade, em uma tarde de sol, com muita gente
desperta. Luce permitiu que ela entrasse.
- Não, Fifi. – fui logo respondendo. – A
Eliane não esteve aqui.
- Você tem certeza? – Fifi me olhou com
desconfiança.
- Tenho, sim, Fifi.
- Temos certeza sim, Philomene. – foi a vez
de Luce responder. – Por que acha que a sua amiga veio aqui?
- É que, agora que nós duas sabemos o
endereço novo do Macário... Achei que ela talvez estivesse escondida aqui.
Aliás, acho que ela está escondida aqui, sim. Nyah.
- Ela não está aqui, Fifi. – insisti. – Não
esteve desde ontem. Ela sumiu?
- Sumiu, Macário. Está sumida desde ontem à
noite.
- ?
- Ela disse que ia comprar uns ingredientes
para poção na farmácia, e...
- Um momento. Em farmácia se compra
ingredientes para poção?! – pergunta Luce.
- Sim, é o que ela diz. Ela faz umas poções
com coisas compradas na farmácia. Até aqueles remédios que vendem lá são
poções, antes de tudo. É o que ela diz.
É, Fifi não estava errada – mas se bem que os
remédios de hoje são feitos, em boa parte, com substâncias sintéticas,
desenvolvidas em laboratório. Mas sabe-se lá se poções preparadas, por exemplo,
usando xarope para tosse, aspirinas, fragrâncias ou princípios ativos
sintéticos como sinvastatina, amoxicilina, fenolftaleína, etc., tem efeitos
similares às poções preparadas com ervas cultivadas, como hortelã, alecrim,
mandrágora... Digo, não sei de nada. Não sei nem por que estava pensando nisso.
- A Eliane saiu para ir na farmácia e não
voltou para o esconderijo de vocês até agora? – pergunto.
- Sim, Macário. Estamos esperando até agora
ver se ela retorna... Aí me ocorreu que a tal de ida à farmácia teria sido
desculpa para escapar para o seu apartamento e...
- Mas eu juro que ela não esteve aqui, Fifi.
– falo, nervoso. – Aliás, todas as garotas sumiram ontem à noite lá do bar. Nem
a Âmbar, nem a Andrômeda, nem a Morgiana...
- Depois que saímos do seu apartamento,
Macário – Fifi me interrompeu – a Eliane e eu, nós fomos direto para casa.
Devia ser nove da noite quando a Eliane nos disse que teria de correr para
alguma farmácia que estivesse aberta comprar coisas para poção...
- Parece mesmo suspeito. – falei.
- Bem, não tão suspeito. Porque comida, a gente
cata do lixo, remédios procuramos usar só os naturais, mas se bem que a Eliane
compra mesmo algumas coisas para fazer as poções dela em farmácia, como o
bálsamo branco que ela usa para fazer xarope para tosse... Mas, enfim. Ela está
sumida desde ontem, Macário. Todas as outras garotas estão no nosso
esconderijo, menos ela. E eu, que estou aqui, e tenho certeza que eu estou
aqui, mas a Eliane... Você me entendeu.
- Pela última vez, Fifi, a Eliane não esteve
aqui! – falei, já ficando nervoso. – Você quer ajuda para procura-la?
- Ah, quero sim, Macário. Nyah.
- Tudo bem. Vou me vestir, antes.
Fifi sorriu. Parece que só o meu oferecimento
de ajuda foi suficiente para lhe satisfazer.
- Eu vou junto. – falou Luce.
- Você?! – retruca Fifi para Luce.
- Ué, não posso?! Eu lhes garanto, Philomene,
que o que quer que tenha acontecido à sua amiga, não tive nada a ver com isso.
- Posso confiar em você, Lúcifer? – Fifi
ergueu uma sobrancelha. – Você não vai tentar nos atrapalhar, ou...?
- Lembre-se – Luce interrompeu de bate-pronto
– que você e seus amigos também estão em minhas mãos, Philomene. Vai ter de
aceitar minha ajuda, sim. Se eu quisesse atrapalhar vocês, eu não faria assim.
Certamente, Luce se referia ao patrocínio que
este estava dando à banda musical dos Animais de Rua. Fifi, conformada,
concordou com a ajuda de Luce.
- Sente-se, então – Luce sorriu – e aguarde
até nos prepararmos.
Fifi senta-se no sofá. E, conformado, vou
para o meu quarto, rapidamente, me vestir.
Não demorei nem cinco minutos para ficar
pronto – bastou só trocar a camisa e o sapato, colocar o casaco. Peguei até a
mochila – claro que, depois de ajudar Fifi a procurar Eliane, vou direto para a
faculdade. Luce foi quem demorou mais, uns dez minutos a mais que eu – e isso,
só para escolher uma roupa casual, uma calça jeans e uma camiseta com a estampa
de um dragão, sinal que ele também ia para a faculdade depois.
- Você não vai para a sua aula, vai?! –
pergunta Fifi para mim.
- Eu espero que não demoremos muito para
achar a Eliane – falei – tenho aula e trabalho, depois.
Fifi enviesou os olhos.
- É, Fifi, nós temos compromissos mais tarde,
ao contrário de ti, evidentemente. – falou Luce. – Tenho certeza que a nossa
tarefa será facilitada, e até ganharemos tempo, se utilizarmos nossos sextos
sentidos. Ela não deve estar longe daqui. Tu tens o sexto sentido, não tem?
- Tenho sim, como todos os Monstros tem. Pois
é isso que está me preocupando – falou Fifi – Temos sextos sentidos também, digo,
a Eliane também desenvolveu o dela, mas não consegui localiza-la. Tem algo
bloqueando.
- Bloqueando?! – retruca Luce. – Então,
certamente, Eliane deve estar em poder de alguém. É provável que esteja com um
dos nossos, que pode bloquear seus sentidos para que não seja localizado.
- Pensei nisso também – continuou Fifi –
Passei na casa dos Dinossauros que Sorriem antes de vir aqui, mas ela não
estava lá.
- Não, pouco provável que o Flávio Dragão
queira algo com a Eliane. A não ser que seja sexo... – Luce até deu uma
risadinha maldosa.
Fifi respondeu com uma careta, e um dedo
médio para cima, discretamente.
- Perdão – interrompi a conversa, incomodado
por estar sobrando naquele assunto – mas como se usa esse tal sexto sentido? É
tipo telepatia?
- Vamos dizer que sim, Macário – disse Luce,
nada abalado. – Através das ondas mentais emitidas por um ser, podemos dizer
quem, e onde ela está.
- Bem... Eu não sei usar sexto sentido –
falei. – Eu... ainda não tive tempo para desenvolver o meu. Se é que alguém vai
se dar ao trabalho de me ensinar...
- Tudo a seu tempo, meu amor. – Luce falou. –
Deixe com a gente, Macário, ao menos a parte de encontrar a senhorita Eliane
usando suas ondas mentais. Se por acaso a encontrarmos, e talvez ela realmente
precise de um tratamento médico de emergência, você se encarregará disso.
Afinal, você é estudante de Medicina, não?
Ele tem razão. Concordei. Felizmente, tinha
um estojo de primeiros socorros na minha mochila surrada.
- Não vamos mais perder tempo, rapazes. Nyah.
– Fifi falou.
Com a permissão de Luce e Fifi, fui o primeiro
a sair pela porta. Mas, nem bem ganhei o corredor, tomo um grande susto, quase
grito.
Um cenho franzido, encimado por um cabelo
preto desarrumado, e enfeitado com uma pinta preta, me recebeu no corredor.
Fiquei paralisado.
- Geórgia?!
Até Luce e Fifi pararam.
O que ela estava fazendo ali?!
- Macário. – ela balbuciou.
Comecei a tremer.
E a reação esperada: levei um tabefe.
Rodopiei.
- Aah, eu sabia, seu filho da mãe! – ela
falou quase gritando.
- Sa... sa... sabia do quê?! – pergunto,
assustado.
- Sabia que eu descobriria o seu endereço!
Agora eu sei onde você está se escondendo, seu palhaço. Aí que você está
morando agora com seu “primo”?
- Geórgia!! – exclamou Fifi.
- Geórgia. – balbuciou Luce.
Eu sabia que essa tarde estava tranquila
demais. Pouco adiantou o Luce ter instalado um amuleto sob a minha cama para me
impedir de sonhar. Mais cedo ou mais tarde algo bizarro aconteceria. Agora só
falta que a nova vizinha, a Cibele, aparecesse na porta de seu apartamento,
atraída pela algazarra. Arruinaria minha boa imagem de antes, quando ela veio
pedir-me açúcar.
- Como... como...?! – fui perguntando, mas
Geórgia interrompeu.
- Como descobri? Segui a baixinha aí. – e
Geórgia apontou para Fifi.
- Eu?! – pergunta Fifi.
- Você. Você é amiga da Eliane, não? Eu ia
andando pela rua, saí mais cedo do trabalho, aí te vi correndo, e algo me disse
que devia te seguir... pela pressa, você estava indo ver o Macário, já que você
conhece ele, e ele te conhece... e, olhem só. Eu estive certa!
- Geórgia, eu... – fui logo tentando me
explicar, mas fui interrompido.
- Calma, Macário, não se preocupe. Não vou
contar para as outras garotas. Não agora. – Geórgia falou com um sorriso
maldoso.
- Puxa, obrigado. – falei, entre dentes. –
Espero que esteja satisfeita.
- Não estou não. – Geórgia continuou. – Você
vai ver nos próximos dias o que ainda vou fazer.
Engoli em seco. Ah, me ferrei.
- Oh, Geórgia. – Fifi se aproximou. – Foi bom
você ter aparecido. Você por acaso viu a Eliane em algum lugar?
- A Eliane? – pergunta Geórgia. – Não, não
vi. Por quê?
- Ela está sumida desde ontem, Geórgia. Ela
não esteve com você?!
Eu sabia que com Geórgia Eliane não esteve. A
gangue dos elfos negros, liderada por Breevort, e que vigiava os passos de
Geórgia, disse, na minha presença, que ela foi dormir sozinha.
- Não, ela não esteve comigo. – falou
Geórgia, um pouco desconfiada. – Mas, sabe, agora que você falou, eu sonhei com
ela ontem.
- Você sonhou com ela?! – pergunta Luce.
- Sonhei. E sonhei que ela estava sendo
violentada. Ela estava gritando por socorro. Que estranho...
Fifi arregalou o olho.
- Geórgia, depressa! Conte mais detalhes
desse seu sonho. Nyah. – quase gritou, agarrando o vestido de Geórgia.
- Mais detalhes?! Mas como assim, baixinha?
Foi só um sonho.
- Apenas conte os detalhes, mulher. Depois
explico melhor. Nyah.
Até eu arregalei o olho. Será possível
que...?
- B-bem... – foi falando Geórgia. – Não posso
contar muita coisa, na verdade. Não deu para ver muita coisa no sonho... Estava
tudo preto ao redor. E eu só via a Eliane ser agredida por uma sombra negra.
Ela se movia rápido. E estava arrancando a roupa dela, arranhando... E ela
gritando por socorro. Só gritava: socorro, socorro, socorro...
- Uma sombra negra? Que se movia rápido?
- Foi isso que eu vi. Eu acordei preocupada,
mas ainda bem que foi só um sonho, não?
- Eee... Você por um acaso não voltou a ter
esse mesmo sonho durante o dia? – Fifi continuou indagando.
- Não. Por quê? Desde manhã até agora, eu
estive acordada, trabalhando, cuidando de meus afazeres, e, por que eu sonharia
com a Eliane durante o dia? Aliás, por que tanta preocupação? Ela deve estar
bem, e...
- Não. – Fifi balbuciou. – Ela não deve estar
bem. Aliás, ela não está bem.
- O que quer dizer com isso?! – Geórgia se
assustou.
- Vem conosco. Nyah. – Fifi ordenou, puxando
Geórgia pela camiseta.
Olhei assustado para as duas. Depois, olhei
para Luce – este me olhou, dando de ombros.
Será possível que Eliane tentou mandar, na
verdade, uma mensagem telepática para Geórgia? Possivelmente, Eliane estava
sendo mesmo agredida! Não duvido de mais nada.
Enquanto descíamos apressadamente as escadas,
eu comecei a pensar, nervoso: a gangue dos elfos negros. Breevort. Ele não
seria capaz de...
Assim que ganhamos a rua, e nos afastamos um
pouco do prédio, Luce e Fifi começaram a apertar as têmporas. Estavam tentando
localizar Eliane mentalmente.
Eu fingia que não estava entendendo nada.
Geórgia não estava entendendo nada mesmo.
- O que esses dois estão fazendo, Macário? –
ela me perguntou, em voz baixa. – Estão tentando localizar a Eliane por
telepatia?!
- Mais ou menos isso... – respondi, com o
canto da boca.
- Ah, mas que ridículo. – Geórgia continuou
sussurrando para mim. – Que bobagem. Eles deveriam chamar a polícia, isso sim. O
que eles...
Geórgia interrompeu sua frase. Seu sorriso de
deboche se desmanchou. Seu olhar ficou vidrado.
- Geórgia? – pergunto, assustado. – Ge...
Ge...
Mas Geórgia ficou paralisada, muda como uma
estátua, apenas o olhar vidrado, olhando para nada.
Fifi e Luce interrompem suas concentrações e
olham para Geórgia.
- Geórgia?! – pergunta Fifi. – Que houve?!
O olhar de Geórgia volta ao normal dentro de
instantes. Ela agita a cabeça.
- Geórgia, o que houve com você? – pergunta
Luce.
- Mas que loucura... loucura... – balbuciou
Geórgia.
- Ge...
- Não é possível... Não, não...
- O que não é possível, garota?! – insiste
Luce.
- Não posso ter recebido... Ridículo isso...
Ridículo...
- O que é que... Geórgia, fala logo!! Nyah!!!
Mas o olhar de Geórgia fica vidrado de novo.
E, de repente, o meu olhar começou a embaçar.
Senti meu corpo paralisar. E, diante de meus olhos, a rua sumiu... Os sons das
ruas, dos carros passando, diminuíram até silenciar...
E a rua foi substituída por outra imagem em
formação. Uma imagem não muito nítida, mas dava para distinguir a imagem de
Eliane.
E Eliane estava em perigo. Suas roupas
estavam reduzidas a trapos. Sua expressão facial era de desespero. E ela estava
sendo envolvida por um tentáculo negro, de polvo. E ela gritava: “Socorro!
Socorro!! Macário!! Geórgia!! Me ajudem... Por favor, me ajudem...”
Mas a imagem não se manteve por muito tempo.
Depois de alguns segundos, ela esvaneceu. E a rua voltou a aparecer diante do
meu olhar.
Aperto as pálpebras, agito a cabeça. Abro os
olhos. Olho para a rua diante de mim. Olho depois para Geórgia, do meu lado.
Ela ainda estava com o olhar vidrado. Seu segundo transe ainda não havia
acabado.
Ah, estou entendendo agora!
Geórgia devia estar recebendo mensagens
telepáticas de Eliane! Claro! Só podia ser! Eu meio que consegui interceptar a
segunda mensagem que ela estava enviando. Como um terceiro rádio, que conseguiu
captar um sinal que estava sendo enviado entre os outros dois aparelhos. Ah,
acho que eu estava lembrando do sexto sentido: era parecido com o que faziam
comigo no bar, Luce e seus amigos de vez em quando pediam bebidas
telepaticamente.
Decerto Eliane tentou enviar uma mensagem
telepática para mim de madrugada, mas a mensagem não foi recebida por causa do
amuleto bloqueador do Luce pendurado sob minha cama.
Mas agora tinha de fingir que não estava
entendendo nada do que estava acontecendo. O transe de Geórgia dura quase um
minuto.
- Geórgia?!
O olhar de Geórgia volta ao normal. Ela
balança a cabeça.
- Eu... eu sei. – ela balbucia.
- Sabe...?
- Sei onde Eliane está. E... e...
- E?!
E Geórgia saiu correndo. Fomos atrás.
Agora a situação estava invertida. Dias
atrás, era eu quem corria, levado por um pressentimento, e Geórgia apenas me
seguia. Agora, era ela quem corria, guiada por um pressentimento, e eu a
seguia. Oh, céus. Geórgia só podia ser uma sensitiva. Ela tinha sexto sentido –
mas evidente que ela não sabia disso. Talvez mais desenvolvido que o meu.
Sim, eu tinha uma vaga noção de como
funcionava esse negócio. Havia referências a isso em diversas séries e livros
que meu pai me fazia ler. Embora não houvesse um consenso, havia uma noção de
como funcionava. Entendem? Bem, não dá tempo de explicar agora.
Geórgia, como que guiada por rádio, corria,
sem demonstrar o mínimo sinal de cansaço. E nós três atrás.
Corremos em direção ao campus da
Universidade.
Corremos, corremos sempre. Atravessamos o
campus, e seus muitos prédios. Eu olhava em volta: não, não encontrei nenhum
conhecido, felizmente. Era só o que faltava.
No outro extremo do campus, havia uma
floresta. Ali havia sido construída uma pista de caminhada, para quem quisesse
praticar esportes ao ar livre. Geórgia corria, corria sempre. Sem parar. Luce e
Fifi não demonstravam cansaço, mas eu demonstrava.
Geórgia percorreu parte da pista. Aí, se
deteve em uma clareira da floresta, um caminho aberto por entre as árvores.
Seguiu mato adentro. Nós três atrás. Felizmente, aquela floresta não era
fechada, dava para andar por entre as árvores sem riscos, apenas dando de cara
com um ou outro arbusto. Mas o ambiente estava ficando cada vez mais sinistro.
Tive um mau pressentimento.
Geórgia se deteve, depois de um tempo
correndo por entre as árvores, defronte uma estranha formação de pinheiros
caídos. Dois ou três pinheiros, caídos um em cima do outro, meio equilibrados,
como uma cabana.
Geórgia deu a volta na formação com muito
cuidado. Devagar.
Dentre os sons dos pássaros e das folhas das
árvores balançando ao vento, pude distinguir um gemido.
Fifi estava apreensiva. Luce aparentava mais
tranquilidade.
Ao chegar mais perto da outra extremidade da
formação de troncos, Geórgia deixou escapar um grito de exasperação. Levou as
mãos à boca.
Oh, céus, oh, céus, oh, céus. Não me diga
que...!
O pior que era!!!
Todos chegamos perto para ver...
Geórgia, já ajoelhada no chão, ajudava a
levantar uma massa de carne, jogada em cima das folhas secas dos pinheiros que
cobriam o chão da floresta.
Essa massa de carne era... Eliane!!!
Sua aparência estava péssima. Grande parte de
seu corpo estava exposta. Suas roupas já não passavam de trapos cobrindo sua
pele – apenas sua calcinha estava intacta, nos seus quadris. O corpo, as
pernas, o rosto, apresentavam muitas marcas de arranhões e feridas sangrentas.
Só o cabelo bicolor, metade preto, metade branco, permitia distinguir que
aquilo era Eliane. Mas ela gemia, e revirava os olhos: ao menos estava viva,
ainda!!
- Eliane! Eliane!! – gritava Geórgia. – Fale
comigo!!
- Eliane!! Oh, não!!! – gritava Fifi. – Oh,
não, oh, não, oh, não...
Senti minhas pernas bambearem, meu coração
acelerar. Mas sem maiores reações.
Só Luce parecia calmo. Calmo, quase que
indiferente. Mas não estava sorrindo. Seu rosto denotava que também estava
chocado com a cena. Mas ouvi ele balbuciar, baixinho:
- Mas que m(...), hein.
Que falta de sensibilidade!!
- Eliane!! Gata... – Geórgia continuava gritando.
– Oh, por favor, fale comigo!! Não morre!!!
- Eliane!! – finalmente consegui gritar.
Eliane moveu um pouco a cabeça, em minha
direção.
- M... Maa... Macá... rio... – ela balbuciou.
-
Eliane!...
-
G... Ge... Geórgia...
-
Eliane!...
-
F... Ffff... Fifi…
-
Eliane…!
- Hmmm… Ffff… Voo… Vocês receberam minha
mensagem…
- Eliane!...
- Oohhh... P... por que vocês... por que
vocês não vieram antes?!
- Eliane...
Eliane ficou imóvel. Mas ainda gemia.
- Oohhh... Vocês aí, não fiquem parados!! –
gritou Geórgia, para nós. – Algum de vocês, chame uma ambulância!! Precisamos
levá-la ao hospital!!
- Deixem comigo! – falou Luce, sacando seu
telefone do bolso.
- Macário, faça alguma coisa!! – Geórgia
continuou gritando. – Não fique aí só olhando ela quase pelada aqui...
- Calma, calma! – falei, tirando minha
mochila das costas e sacando de lá o estojo de primeiros socorros. – Acho que
ainda podemos tratar desses ferimentos... Me ajudem aqui!
E começamos a tratar, com pedaços de gaze, os
ferimentos de Eliane. Decerto, eram ferimentos recentes. Como se ela tivesse
sido atacada por algum animal há pouco tempo...
Pensei logo nos carniceiros. Mas, examinando
melhor os ferimentos, pareciam ter sido feitos a unha. Arranhões de garras como
de tigre. Será que...
Ficamos um tempo entretidos na atividade,
Fifi, Geórgia e eu. Pouco depois, Luce voltava ao local, trazendo os
paramédicos, conduzindo-os ao local, a maca já preparada.
E minha grande preocupação agora era como
explicar aos paramédicos de que forma encontramos a garota ferida na floresta –
ao menos uma mentira convincente, vai que eles não acreditem em sexto sentido.
Próximo episódio em breve. A única certeza é que será numa terça-feira.
Até aqui como está ficando: está bom? Ruim? Estamos exagerando? Devemos alterar? Parar mesmo na metade? Manifestem-se nos comentários!
Até mais!
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