domingo, 22 de agosto de 2010

ALMANAQUE DE QUADRINHOS!

Olá.
Continuando a série especial sobre Meteoro, hoje vamos mexer um pouco no passado, e recuperar um capítulo perdido da história das HQ nacionais.
Porque hoje vou falar do ALMANAQUE DE QUADRINHOS. Para entender bem este especial, precisamos voltar ao início da década de 2000.
No final da década dee 90, as HQ nacionais iniciavam uma retomada, quer dizer, os gibis produzidos no Brasil voltavam às bancas graças às iniciativas de editoras como a Trama (atual Talismã), a Opera Graphica e a Escala. A Trama/Talismã tinha uma linha de quadrinhos em estilo mangá, e com influência nos RPGs (Role-playing Games). Claro: pois a Trama era quem publicava a revista Dragão Brasil, a maior revista especializada em RPG daquela época, e de onde surgiu o maior sucesso não-infantil dos quadrinhos nacionais: Holy Avenger. (Por sinal, este é meu gibi favorito dentre os "mangás brasileiros").
A Opera Graphica, encerrada em 2008, publicava muitas revistas em quadrinhos, nacionais e internacionais. Os álbuns saíam por selos como a Opera Brasil e a Opera Mundi. O porém eram as distribuições limitadas às lojas da rede Comix Book Shop e as tiragens limitadas a 1000 exemplares, autografadas pelos autores. Mas esses álbuns tinham muita qualidade.
Já a Escala preferia incentivar mais os artistas brasileiros, seja qual o estilo que desenvolviam.
Bem. Na virada para os anos 2000, muitas editoras pequenas, que publicavam material nacional, acabaram fechando devido a problemas de vendas - teve também editoras que simplesmente encerraram suas linhas de HQ, botando redações inteiras no olho da rua. Mas a Escala continuou sua linha de quadrinhos. Ela publicava, de 2000 a 2005, diversos títulos: a revista Mangá - Desenhe e Publique, uma vitrine de novos talentos brasileiros em estilo mangá, através do sistema de concurso, similar ao promovido pelas editoras japonesas (e que durou 11 números e 2 especiais); a coletânea HQ - Revista dos Quadrinhos Brasileiros, de histórias de temática adulta (9 números); os gibis Daniel - O Anjo da Guarda, de Rodrigo de Góes e Arthur Garcia, e Fráuzio, de Marcatti, o primeiro gibi underground impresso por uma grande editora; e as revistas do selo Graphic Talents.
Pois é do selo Graphic Talents que deriva o ALMANAQUE DE QUADRINHOS. Lançado em 2002, o selo era uma vitrine de artistas brasileiros, sob um "contrato de risco": uma revista de um personagem era lançada nas bancas, e se fizesse sucesso de público e vendas, essa revista teria continuidade nas bancas. Foram dezesseis os títulos lançados sob esse selo: Mico Legal, do argentino Sergio Morettini; Betty Grupy, de Maxx; Tristão, de Amaury Ploteixa e Estevão Ribeiro; Talebang, da Rodnério Rosa Estúdio (Coletânea de cartuns sobre a Guerra do Iraque); Grump, de Orlandelli; Gamemon, de Arthur Garcia, Silvio Spotti e Alexandre Silva; Dalgor, de Dario Chaves e José Carlos Chicuta; Turma do Barnabé, de Franco e Wanderlei Felipe (Vanderfel); Zé Louquinho e Urubunaldo, de Wilson Gandolpho; Zuzna, a Gênia do Bule, de Alexandra Teixeira e Henrique Magalhães; Leleco, de Antônio Lima; Velta, de Emir Ribeiro; Galo Costa, de Rai; Carcereiro, de Nestablo Ramos Neto e Eduardo Miranda; Os Pleistocênicos, de Dadí (Inês Castro); e Lobo Guará, de Carlos Henry e Elton Brunetti.
De todos esses títulos, apenas Mico Legal foi bem-sucedido: ganhou mais três números.
O ALMANAQUE DE QUADRINHOS
Bem, o ALMANAQUE DE QUADRINHOS é derivado do selo Graphic Talents, lançado em forma de Especial. Uma revista de 132 páginas que traz sete histórias completas, além de um breve perfil biográfico dos artistas participantes - todos eles publicaram na Escala e na Opera Graphica, e tem seus respectivos álbuns e revistas, então disponíveis no mercado, relacionados. É claro: a Escala tinha uma parceria com a Opera Graphica, visto que ambas tinham a distribuição da rede Comix - era comum ver, em todas as revistas da Escala, os anúncios das publicações da Opera Graphica.
Bem: vamos às histórias deste especial.
Começando com o mestre Mozart Couto, um dos maiores artistas brasileiros de arte fantástica (pela Opera, ele havia lançado Desenhando Arte Fantástica, teórico, e o gibi Brakan, escrita por Julio Emilio Braz, em estilo Conan, o Bárbaro). Ele comparece com a ecológica O Último Caçador, totalmente pintada e produzida sem esboço.
Em seguida vem Marcatti, o mais escatológico desenhista brasileiro, e uma de suas famosas fábulas do escárnio: Visões de Claudeciro, uma história envolvendo vermes, um menino inocente que é isolado do resto do mundo pelo "melhor amigo" e o gosto do autor por nomes excêntricos e por desenhar nojeiras nos mínimos detalhes. A seguir, são enumeradas todas as seis edições do gibi do Fráuzio lançados pela Escala, e um preview de Frauzio - Questão de Paternidade, o álbum do personagem que Marcatti lançou pela Opera Graphica ( recentemente, Fráuzio volotou, pela editora Devir, com o álbum Ares de Primavera. Além de Questão de Paternidade, Marcatti lançou pela Opera Graphica a coletânea Restolhada, com o "melhor" de seu trabalho).
O próximo da revista é Rai, com uma história de seu cômico personagem Galo Costa (cujo gibi foi editado pelo selo Graphic Talents, claro). Em um universo onde todos são aves antropomórficas (com trejeitos dos seres humanos), Galo Costa, o detetive particular, precisa resolver um asassinato em Vida de Cão. Durante suas investigações, o assassinato de um cachorrinho acaba revelando os segredos de uma família. Hilária e cheia de ironia.
O próximo é Júlio Shimamoto. Ele, que editou pela Opera Graphica Sombras, Musashi I e II, Volúpia e Madame Satã: Cassino, comparece na coletânea com Sangue, uma HQ em preto, branco e vermelho (o fundo é preto) onde as coisas não são o que parecem à primeira vista. Surpreendente.
A seguir, o mestre brasileiro Flavio Colin, falecido em 2002. Nesta coletânea, ele está presente com uma "HQ" bizarra: um "graphic clip" da canção As Long as You Love Me, do boyband Backstreet Boys, então fazendo um grande sucesso na época.
A seguir, vem Watson Portela. Pela Opera Graphica, ele lançou Paralelas II, A Última Missão (homenageando os heróis criados por Eugenio Colonnese) e O Lado Escuro da Alma. O primeiro artista tido como influenciado pelos mangás japoneses, Portela comparece com mais uma das suas histórias de ficção científica, sua especialidade: Pacheco, o Herói dos Tempos Difíceis (com cores de Salvatore Aiala), que combina os elementos básicos das HQ de Portela: violência, sangue, mulheres sensuais e com pouca roupa e heróis falando a linguagem do mais baixo calão.
E, encerrando a coletânea, ele: o herói METEORO!!! Numa história da (então) nova fase do autor, Roberto Guedes, Meteoro comparece com A Embaraçada Teia da Vida, desenhada por Marcelo Borba. Nesta história, Meteoro/Ric Marinetti reafirma outro de seus talentos: a de fazer a situação se voltar contra ele, ao proteger um candidato às eleições para prefeito de São Paulo. E um pouco da trajetória do herói até então.
Com alguma facilidade, ainda é possível encontrar essa HQ em sebos ou nas lojas de gibis. O meu exemplar eu comprei, mas tive de levar em um pacote onde estava incluso um exemplar da revista teen Atrevidinha... buá!
GIRO DE MERCADO
Antes de encerrar, duas novidades recém chegadas às bancas.
A primeira é o terceiro número do gibi do Xaxado, de Antônio Cedraz, pela editora HQM. Que bom, eu já estava achando que esse gibi não ia sair mais... Mas o gibi continua com toda força. Destaques para a história A Princesa e o Dragão, sobre a riqueza do saber popular e uma paródia dos poemas épicos medievais, e Dengue, uma historinha informativa sobre a prevenção desta terrível doença. Nunca é demais reforçar uma mensagem que todo mundo já deve ter ouvido - ainda mais se esta mensagem for dirigida ao bem comum. E mais tiras, historinhas e passatempos bem brasileiros. Preço: R$ 2,90 (mais barato que um mangá!)
Quem também chega ao seu terceiro número é Didi e Lili Geração Mangá. O personagem de Renato Aragão e sua filha Lílian comparecem com mais três histórias, todas produzidas pelo Estúdio Franco de Rosa e publicadas pela editora Escala (será que podemos considerar um ensaio para a retomada da linha de quadrinhos dessa editora?). E todas elas são de vampiros! Franco de Rosa escreveu duas delas: Amor Vampiro (desenhos de Arthur Garcia e arte-final de Antônio Lima), uma espécie de paródia descarada de Crepúsculo (com direito a vampiro, lobisomem e até uma paixão da jovem Lili), que só ganha pelas cenas de ação; e O Vampiro do Parque, a terceira história, com desenhos de Alvaro Omini e arte-final de Antonio Lima, onde Didi e Lili perseguem um possível candidato a vampiro em um parque de diversões. A segunda história, Assim Vivem os Vampiros, foi escrita por Debrah Demaris e desenhada por Alexandra Mattos, que traz Lili conhecendo uma lenda vampírica. Para jovens que não se importam com o que lêem, ou os fãs de Didi. O preço de R$ 4,90 foi mantido.
Para encerrar: já que falamos de Arthur Garcia, eu trago hoje um desenho meu de outro herói desenhado por ele: Blue Fighter. Originalmente criado por Alexandre Nagado em 1995, na revista Master Comics (também da editora Escala!), o herói, de nítida inspiração nos seriados japoneses super sentai (tipo Jaspion e Changeman), ganhou uma série própria pela editora Trama, em 1997, escrita por Nagado e desenhada por Garcia, com arte-final de Silvio Spotti. Três edições trazendo as aventuras do herói experimental fugitivo, perseguido por uma corporação maligna.
E por hoje é só, pessoal! Prestigiem os quadrinhos brasileiros!
Até mais!

Um comentário:

Silvio Spotti disse...

Vc colocou crédito para os arte-finalistas na revista do Didi como também desenhistas.

Eu também participei da revista do Blue Fighter e o Rod Reis.

Conserte os créditos ai.