domingo, 14 de novembro de 2010

Filme: DANÇA COM LOBOS

Olá.
Hoje, volto a falar de filme. Mas desta vez não se trata de uma produção recente.
Hoje, trago um filme mais antigo.
Bem, não tenho como comentar os filmes mais recentes, as produções que estão fazendo sucesso no cinema, pelo fato de a cidade de Vacaria não possuir cinema. Esta cidade tem vocação para expulsar cinemas, não sei por quê. Salva-se o fato de a cidade dispor de boas locadoras, então tem de ser no DVD mesmo.
Hoje, vou falar de um dos mais belos filmes já produzidos: DANÇA COM LOBOS.

Produzido em 1990, DANÇA COM LOBOS foi dirigido e estrelado por Kevin Costner - foi a sua primeira e mais bem-sucedida experiência cinematográfica. O filme ganhou sete Oscars (de 12 indicações), incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor, 3 Globos de Ouro e recebeu indicações em outras categorias. Pena que Costner, após esse filme, nunca mais tenha emplacado um sucesso sequer de bilheteria. Mas DANÇA COM LOBOS é um filme inesquecível.
O roteiro é de Michael Blake, baseado em seu próprio romance; e a belíssima trilha sonora é de John Barry. Ambos foram oscarizados pelo filme.
DANÇA COM LOBOS é classificado por muitos críticos como um "western ecológico", pois a natureza das pradarias do oeste americano domina esse filme. Mais que isso: trata-se de um filme que trata de revisar um dos mitos da história da Conquista do Oeste dos Estados Unidos - o papel do índio.
O mote do filme é tirar os índios do papel que lhes é tradicionalmente atribuído no gênero faroeste: o de vilão, que é massacrado pelo mocinho. Foi algo que se viu a partir dos anos 70 no cinema, quando o gênero faroeste, popular entre os anos 40 a 60, começou a passar por uma revisão e, consequentemente, perder audiência. Blake, em seu romance, certamente teve influência do livro Enterrem Meu Coração na Curva do Rio, de Dee Brown, que discute o massacre a que os índios foram submetidos durante a Conquista do Oeste. Os brancos, enquanto marchavam em direção à fronteira do Rio Mississipi e começavam a mudar o mapa dos Estados Unidos, entraram em conflito com várias tribos, como os Cheyenne e os Sioux, que só queriam defender seu território que estava sendo-lhes tomado. Foram muitas batalhas, e perto dos brancos, poucos índios foram nomes de destaque na história do Oeste americano, como Touro Sentado, Cavalo Doido e Chaleira Preta.
Bem, DANÇA COM LOBOS mostra os índios sob um novo ponto de vista. Mas vamos desde o começo.
O filme trata da história do tenente John Dunbar (Costner). Soldado da Guerra da Secessão dos EUA (1861 - 1865, conflito que opunha os estados do Norte, Industriais, e os do Sul, Escravocratas), Dunbar, no início do filme com a perna ferida, tenta se matar - a ter a perna amputada - cavalgando à frente das tropas inimigas. No entanto, esse ato de loucura vira o jogo para seu exército, então sitiado, e Dunbar, além de ter sido medicado, é condecorado por bravura, e como recompensa recebe o cavalo que usou no ato suicida - chamado Cisco - e tem o direito de escolher qualquer guarnição do território nacional para ser designado.
Dunbar escolhe uma área da fronteira do país para ir, pouco antes do território dos índios, mais ao oeste - devemos lembrar que, em 1863, ano em que a história do filme começa, ainda não haviam sido colonizadas as áreas ao oeste do estado do Texas, que então estavam reservadas aos índios; porém, a marcha dos brancos para o Oeste seria inevitável. Por isso, Dunbar escolhe esse posto tão longínquo: "Queria conhecer a fronteira antes que ela desaparecesse". Tal decisão faz o seu superior, a quem ele procura antes de partir para o seu posto, enlouquecer e se suicidar tão logo Dunbar sai, de carona com um camponês (Robert Pastorelli) que ia justamente levar suprimentos para o forte.
Mas, tão logo chegam, o forte está abandonado. Mesmo assim, Dunbar resolve ficar e esperar os outros homens. No entanto, o tempo passa, e Dunbar, que passa seus dias fazendo a manutenção do forte e escrevendo no seu diário, só tem duas companhias visíveis: a do cavalo Cisco, e a de um lobo, que vive observando os movimentos do tenente. Por ter as patas da frente brancas enquanto seu corpo é cinzento, Dunbar chama o lobo de "Duas Meias".
Por sua vez, o camponês, numa emboscada, é morto e escalpelado por índios hostis.
No entanto, Dunbar está sendo observado. Pelos índios, que ele tanto ouve falar serem "ladrões e assassinos". Mais precisamente, por uma tribo da etnia Lakota-Sioux, liderada pelo ancião Dez Ursos (Floyd "Red Crow" Westerman), e assessorado pelo curandeiro Pássaro Esperneante (Graham Greene). Pássaro Esperneante é um índio maduro e cauteloso que prefere o diálogo antes da ação, , ao contrário do jovem e impetuoso Vento no Cabelo (Rodney A. Grant), que deixa claro não temer a luta para defender sua terra. E, por três vezes, esses índios tentam roubar o cavalo de Dunbar, mas não conseguem - o cavalo sempre consegue se libertar e volta para o forte.
Porém, o interesse dos índios em relação ao homem branco é quase recíproco à admiração e curiosidade de Dunbar para com eles. Na segunda vez que Dunbar tem o cavalo roubado, ele resolve travar contato com eles, garbosamente fardado. No entanto, a caminho da aldeia, Dunbar encontra uma mulher ferida, aparentemente indígena, e a leva para a aldeia. Essa mulher se chama De Pé com Punho (Mary McDonnell), e não é bem uma índia, mas uma mulher branca que foi criada entre eles - tendo como tutor Pássaro Esperneante.
Mas o interesse dos índios só aumenta, e eles tentam se comunicar com Dunbar. Mas não que tenha resultado no início. O avanço na comunicação só ocorre no momento em que Pássaro Esperneante designa De Pé com Punho para ser intérprete. A princípio, ela reluta, alegando ter esquecido a linguagem dos brancos; porém, ela aceita ser a intérprete.
O clímax do filme ocorre quando Dunbar é convidado, após avisar os índios, a participar de uma caçada de búfalos. A caminho de encontrar a manada, Dunbar percebe que o modo de vida dos índios é muito diferente dos brancos - e uma prova disso é quando eles encontram búfalos mortos, sem a pele, abandonados no campo. Obra de caçadores, que só queriam as peles e não aproveitar também a carne.
Mais tarde, eles encontram uma gigantesca manada de búfalos. E a caçada é emocionante - com os índios usando lanças, arcos e flechas, e Dunbar usando seu rifle. Mas o branco, aos poucos, conquista a amizade dos índios. Ele começa também a incorporar seu modo de vida, aprender sua linguagem e aprender coisas que até então ignorava. Dunbar descobre então um novo sentido para sua vida.
Ah: e ele recebe um novo nome dado pelo índios: Dança com Lobos. Tudo porque eles presenciaram Dunbar correndo com o lobo Duas Meias enquanto se dirigia à aldeia.
E não para por aí. Dunbar também acaba se apaixonando por De Pé com Punho, e esse sentimento é recíproco. Mas De Pé com Punho é viúva, e quem decide quando o luto dela pela marido morto acaba é Pássaro Esperneante. Porém, algum tempo depois, De Pé com Punho e Dança com Lobos casam-se à moda indígena. E ele incorpora de vez o modo de vida dos índios depois que ajuda, com suas armas de fogo, a defender a tribo de um ataque de índios inimigos. Ele entende que as guerras travadas pelos índios não são por territórios ou poder, mas para defender suas famílias.
Porém, os problemas voltam no momento em que Dunbar, ao voltar para o forte para buscar seu diário, o encontra ocupado por homens brancos - soldados encarregados de caçar índios e assegurar a ocupação da fronteira. Dunbar é atacado, tem seu cavalo morto e é aprisionado. É considerado um traidor, e assim ele descobre que o modo de vida dos brancos não é mais o dele, pelo modo violento como é tratado.
DANÇA COM LOBOS é um belo filme em vários aspectos. A natureza, mais que um cenário, é protagonista do filme, pelas tomadas panorâmicas que pegam as pradarias verdejantes do oeste. Os índios demonstram o quanto estão em sintonia com a natureza. Os animais também são destaque: tanto o cavalo Cisco, o lobo Duas Meias e as manadas de búfalos e cavalos. Por isso o filme ganhou a pecha de "western ecológico". Alguns aspectos da cultura indígena retratados no filme não correspondem exatamente à realidade, mas isso é só um detalhe - a ideia mesmo é contrapor o modo de vida indígena com o dos brancos. As diferenças são bem sensíveis. É um libelo pela paz entre os diferentes povos, uma aula de tolerância e respeito a culturas diferentes.
Também há cenas cômicas dentro do filme. Como a cena em que um índio tenta roubar o cavalo de Dunbar, mas assusta-se quando este aparece. Detalhe: o tenente, saído de um banho no lago do forte, ainda estava pelado! Também há cenas bastante significativas - como a que um ancião da aldeia mostra a Dunbar um velho elmo espanhol - afinal, foram os espanhóis, os primeiros europeus a pisar no continente americano, que introduziram na América o cavalo e a prática do escalpo (arrancar da cabeça das vítimas um tufo de cabelo junto com um pedaço do couro cabeludo).
O filme é lento em alguns momentos - afinal, são pouco mais de 180 minutos! Mas é deslumbrante, e não à toa já se tornou um clássico. Ultimamente, faltam a nós faroestes de tanto impacto quanto este ou Os Imperdoáveis de Clint Eastwood.
Sempre é bom assistir a esses filmes mais antigos. Se não para apreciar o cinema, pelo menos para aprender a fazer cinema. E Costner já deu o seu recado.
Para encerrar, um quadrinho meio matado que fiz.
Eu quis fazer algo baseado numa das minhas cenas favoritas do filme - a cena em que o major, enlouquecido pela escolha e pelos motivos de John Dunbar, se suicida. Resolvi fazer algo baseado, e ambientei a historinha na época da Revolução Francesa, quando os tempos demonstravam estar realmente mudando, e já não eram mais o que eram. Sinceramente, não achei tão bom quanto deveria, mas o estrago está feito. Buá!
Até mais!

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