Lembrei, dia desses, de uma aula da faculdade, na qual o saudoso professor Luís Eugênio Véscio tinha dito, a seus alunos, que não há gente mais idiota que os militares. É opinião dele, claro, visto que, quando os militares assumiram o poder de muitos países, os governos deles não foram o que chamaríamos de "exemplar". Vide Pinochet, Médici, Rafael Videla...
Bem. O assunto de hoje é quadrinhos, meu bem. É que eu lembrei dessa afirmativa quando li o quadrinho do qual vou falar hoje: PRIVATE SCHOOL.
Assim como Tantric Stripfighter Trina, já falado aqui no blog, PRIVATE SCHOOL é um mangá produzido nos EUA, por ocidentais. Seus autores são Brandon Montclare (roteirista e ex-editor da Vertigo e da DC Comics) e Michael Shelfer (desenhista, conhecido por participar do mangá Star Treck). Foi publicado nos EUA pela finada editora Tokyopop. No Brasil, PRIVATE SCHOOL foi lançado pela On Line Editora.
A princípio, pela capa e pela sinopse, PRIVATE SCHOOL, uma comédia de ação (não confundir com o filme homônimo, que no Brasil é conhecido como Uma Escola Muito Especial para Mulheres), atrai o leitor. No entanto,quando ele lê, se decepciona. Vamos ver porquê.
PRIVATE SCHOOL pode ser pensado, se não como um mangá ecchi (ou "quase-hentai"), como uma paródia do gênero, muito popular no Japão. Nessa HQ, vemos muitas situações típicas do estilo ecchi, mas adaptadas à realidade dos Estados Unidos.
A história é meio maluca.
PRIVATE SCHOOL se passa em uma escola - ou o que aparenta ser uma escola comum. Nas cenas iniciais, passadas em um vestiário feminino de colégio (com as meninas se trocando para a ginástica), parece mesmo uma escola comum. Mas, quando as meninas entram no ginásio, revela-se: a escola, na verdade, é uma base militar secreta.
Trata-se de uma estratégia do comandante da operação, o diretor João General (ou melhor, General João Diretor, como ficou na tradução brasileira). Como teve os fundos para manutenção de sua base de operações cortados pelo governo por ser considerado ultrapassado, o General e sua assistente Sally Black elaboram um plano ousado: infiltram numa base secreta matadores e militares com cara de criança, disfarçados de colegiais. A ideia é receber financiamento de outras fontes: dos fundos destinados à educação.
Mas, para que o plano funcione a contento, os tais militares não podem apenas parecer estudantes de Ensino Médio: devem agir como tal. E assim, os cadetes assumem todos os estereótipos de estudantes de uma típica escola - o atleta, a líder de torcida, o nerd, a gótica...
João General é o diretor, e Sally Black, cujo uniforme militar é um tanto... digamos... sumário, assume o papel de gótica. Já os outros personagens mais importantes são: Deborah Doll, codinome Grunhido, uma loira de cabelo esquisito e seios grandes, que assume o papel de Líder de Torcida; Francine Yo, codinome Tsunami, uma matadora morena e meio complexada sexualmente - vive enfiando meias no sutiã para aumentar os seios - é a estudante asiática; Bryce P. Coleman, codinome Capitão América, um fuzileiro naval que passou por experiências de mutação e acredita ser a salvação do mundo, é o atleta; e Henry Swanson, codinome Count_chocul@, um cara meio apagado mas especialista em intimidação psicológica, é o nerd.
No decorrer da história, acontecem coisas malucas. As mais notórias são as discussões entre Francine e Deborah, cheios de uma tensão sexual latente (as duas "disputam" a atenção de Bryce, mas quem se dá melhor é Deborah, que até mesmo piiih com ele, numa cena bastante discreta) das tradicionais situações de fanservice dos ecchis (como calcinhas expostas, uma mordida na bunda e até uma briga dentro de uma banheira!). Mas a operação fica comprometida quando entra em cena uma certa senhorita Smith, uma psicóloga civil enviada pelo Estado, para analisar as atividades do colégio. É claro que João Diretor precisa levar o plano adiante e evitar que a fachada do colégio caia, caso contrário adeus financiamento estudantil.
Em um dos episódios, os cadetes são enviados para invadir um escritório do comitê estudantil e alterar as notas dos "alunos" - já que as notas baixas podem comprometer a operação. Porém, a operação dá errado. Eles só tem uma chance a mais: a escola particular precisa vencer uma escola pública numa competição estudantil, envolvendo diversas categorias: xadrez, esportes, feira de ciências... Nessa parte, temos o desajeitado desafio de caratê de Francine e um jogo de xadrez intimidador com Henry e um estudante do Ensino Fundamental.
PRIVATE SCHOOL é uma comédia de ação ininterrupta. Várias páginas são dominadas por cenas de ação, luta, tiros... típico do exército americano. E cheio de fanservice. As mulheres da série aparecem em posições constrangedoras, muito vistas em séries japonesas do tipo - as calcinhas aparecendo sob as saias curtinhas, as mulheres em roupas íntimas, cenas de nudez implícita (elas aparecem nuas, mas seus seios e genitália escondem-se por trás de espuma, nuvens ou meias voando). Não íamos ligar se PRIVATE SCHOOL tivesse sido produzido no Japão, mas como se trata de uma HQ estadunidense, é muito mais uma piada de mau gosto.
Os diálogos entre os personagens muitas vezes não faz sentido algum, e fica meio difícil entender o que está acontecendo, porquê que os personagens estão fazendo isso ou aquilo. Isso compromete o roteiro de Montclare.
Os desenhos de Shelfer, bastante desajeitados para o estilo mangá, comprometem ainda mais o resultado final, por conta dos inúmeros erros de anatomia observados nos personagens e das linhas muito finas. Algumas sequências são desnecessariamente longas, como a da discussão entre Francine e Deborah no banheiro.
No fim, PRIVATE SCHOOL parece dar razão a Véscio: os militares são todos idiotas. Não fosse a ideia principal, seria apenas uma comédia estudantil desmiolada, tipo American Pie. Mas o quadrinho, infelizmente, é uma perda de tempo. Mesmo que proibido para menores de 18 anos.
Na capa, aparece o número 1, indicando ser a primeira de uma série. Espero que não haja um número 2. Já basta esse, num acabamento espartano, sem biografias de personagens, páginas extras, aviso de continua...
A edição é ainda mais comprometida por conta do acabamento da On Line, que imprimiu a revista em papel jornal, com capa em cuchê, dando à revista a aparência de uma revistinha vagabunda.
Se mesmo assim quiserem conferir, PRIVATE SCHOOL pode ser encontrado nas bancas e lojas, ao preço de R$ 9,99. Vale o investimento? Decidam vocês.
Para encerrar, mais um desenho da série Mujeres de Grafite e Tinta, o meu treino de imagens eróticas. Não sei se consigo ser mais ousado do que isso, he he... E também testando uma nova caixa de lápis de cor.
Até mais!
Até mais!
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