sábado, 20 de setembro de 2014

Dia do Gaúcho na região das Missões

Olá.
No momento em que escrevo, ainda é 20 de setembro, Dia do Gaúcho, data em que se comemora o início da Revolução Farroupilha (1835 - 1845) no Rio Grande do Sul.
Como gaúcho, me sinto compelido a, neste blog, fazer uma homenagem ao Rio Grande do Sul em forma de ilustração. Este ano, escolhi retratar um de nossos monumentos mais conhecidos: as ruínas de São Miguel das Missões, localizadas na cidade de São Miguel, RS.
Certa vez, tive a oportunidade de visitar as ruínas, consideradas Patrimônio Cultural da Humanidade. Caso não saibam, as ruínas de São Miguel são o símbolo da presença missioneira no território do Rio Grande do Sul.

No século XVII, chegaram à região do atual Rio Grande do Sul uma leva de padres espanhóis, cuja missão era a catequização dos indígenas. Para facilitar o trabalho, reorganizaram as tribos que recebiam os ensinamentos do catolicismo em aldeamentos, conhecidos como reduções jesuíticas (já que os padres pertenciam à Companhia de Jesus, uma importante instituição do catolicismo atuante nas Américas).
Nas Missões, os índios se dedicavam à agricultura, à pecuária, à produção e comércio de erva-mate e ao artesanato. Aliás, foram os jesuítas que introduziram os rebanhos bovinos na região. No total, foram sete os aldeamentos jesuítas fundados no Rio Grande do Sul: São Miguel, São Lourenço, São Borja, São Luís, Santo Ângelo, São João Batista e São Nicolau.
Todo aldeamento jesuítico se organizava em torno de uma grande catedral construída em pedra - São Miguel foi a única edificação que conseguiu se manter mais ou menos intacta; o restante foi totalmente destruído, ou restaram pequenas ruínas.
Destruído por quê? Em grande parte, pelos ataques dos bandeirantes paulistas, que começaram a invadir a região a partir da segunda metade do século XVII, em busca de índios para escravizar e gado, e deu origem a conflitos que se estenderam até final do século XVIII, dando origem a um verdadeiro jogo de tratados entre Portugal e Espanha. Só no início do século XIX é que a situação foi resolvida, e as Missões foram integradas ao lado português das Américas - e isso quando não restava praticamente mais nada dos índios, do gado e dos padres. Nessa série de conflitos, começou a se destacar a figura de Sepé Tiarajú, o líder da resistência missioneira.
O revisionismo histórico nos diz que a experiência missioneira foi negativa aos índios, já que a educação recebida dos padres e a reorganização social promovida pelos jesuítas abalou profundamente o modo de vida dos índios, desmontando sua cultura original - sem falar que os índios catequizados acabavam mais "indefesos", dentro da ideologia imposta pelos padres, contra as agressões dos bandeirantes. Mas não se deve negar que o contato entre os jesuítas e os índios criou uma cultura própria, que ajudou a formular a cultura gaúcha como a conhecemos hoje.
Dentro da cultura regionalista do Rio Grande do Sul, existe a chamada "corrente missioneira", mais ligada às lides campeiras, e cuja expressão maior está na poesia declamada conhecida como payada. Nossos artistas missioneiros mais conhecidos são Jayme Caetano Braun e Cenair Maicá.
E as ruínas de São Miguel são, portanto, um dos maiores símbolos do Rio Grande do Sul: onde o RS como o conhecemos hoje começa, já que, com efeito, os jesuítas espanhóis foram os primeiros europeus a pisar no nosso território, e, assim, com os índios, forjar a cultura gaúcha. Ainda viriam as contribuições dos portugueses e dos negros africanos, dos italianos e dos alemães, dos poloneses e de outros povos migrantes, mas esta é outra história.
Quando olhamos para as ruínas de São Miguel mais de perto, acabamos pensando: quão imponente deve ter sido a Missão de São Miguel nos tempos áureos. Afinal, se foi construída uma catedral desse tamanho, e se dela restou uma fachada que nada fica a dever às atuais catedrais, como ela deve ter sido quando ainda estava inteira... qual deve ter sido sua extensão... quantos índios deviam estar morando ao redor dela...
Assim, com base em fotografias, desenhei minha versão das Ruínas de São Miguel. Sei que não ficou o melhor desenho, vamos, podem dizer que não ficou tão bom quanto merecia. Podem dizer, eu aguento.
E confesso que minha visita às Ruínas de São Miguel não foi num dos melhores dias. A fiz numa excursão com minha turma da faculdade. Fazia frio, chuviscava, aconteceu uma tragédia com uma colega no meio do caminho - ela recebeu a notícia da morte da mãe - e, por isso, o clima ficou pesado. Por isso, a visita às Ruínas foi muito rápida. Mal deu para entrar na edificação. Para apreciar a viagem, ficou para uma futura ocasião. Mas, pelo menos, vi São Miguel de perto, para todos os efeitos.
Eis nossa homenagem ao Rio Grande do Sul deste ano.
E vocês devem estar se perguntando: se hoje é o Dia do Gaúcho, não devia ter o Teixeirão, meu personagem gaúcho? Bem... olhem o personagem que aparece na base do desenho...
Até mais!

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