sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Nota de falecimento: ANTÔNIO CEDRAZ

Olá.
O universo das HQ brasileiras foi pego de surpresa esta semana: no último dia 11 de setembro, faleceu em Salvador, Bahia, o cartunista Antônio Luiz Ramos Cedraz, ou simplesmente Antônio Cedraz, o criador da Turma do Xaxado. O cartunista foi vítima de complicações de um câncer no intestino. Certa vez, já escrevi sobre Cedraz e sua maior criação, por isso não podemos fugir de relatar tal fato.

(Fonte da imagem: www.universohq.com.br)


Cedraz nasceu em Miguel Calmon, na Bahia, a 4 de maio de 1945. Cresceu em Jacobina, Bahia, onde se formou professor e teve seus primeiros contatos com os quadrinhos. Sua atuação como cartunista e criador de personagens vem desde o final dos anos 70, quando criou personagens como Zé Bola, Joinha e Sabino, que apareceram em diversas publicações, independentes e da grande imprensa. Mais tarde, junta-se a esse elenco o personagem Pipoca, que ganharia inclusive um gibi próprio.
Mas pode-se dizer que foi com a criação de Xaxado que Cedraz ganhou na loteria: o menino nordestino, que começou a ser publicado em tiras a partir de 1998, no jornal A Tarde de Salvador, BA (primeiro no caderno Municípios, depois no Caderno 2), foi quem tornou Cedraz conhecido nacionalmente, e praticamente eclipsou todas as suas criações anteriores. Xaxado teve suas tiras e histórias longas reunidas em diversos livros e gibis, lançados pelo autor de forma independente ou com o apoio de grandes editoras, como a HQM, a Escala e a Martin Claret. Sem falar que é uma das tiras mais reproduzidas em livros didáticos distribuídos em escolas. O esforço que Cedraz fez para licenciar o personagem nunca foi pequeno, sempre usando a pegada nacionalista em suas histórias – mas como competir com os personagens estrangeiros neste mercado de entretenimento cruel que é o brasileiro?
As tiras de Xaxado são bem conhecidas por reunirem humor, retratos da vida do Nordeste brasileiro, com seus tipos característicos e seu modo de falar, poesia, lendas regionais, propósitos educacionais e crítica social, por isso o Governo da Bahia usou o personagem em diversas campanhas educacionais, de combate à dengue e reciclagem, entre outros assuntos de importância.
Xaxado, neto de cangaceiros, é o bom menino do Nordeste, sempre buscando fazer o que é certo. Sua turma de amigos reúne tipos como: o preguiçoso e atrapalhado Zé Pequeno; a namorada deste, Marinês, incansável defensora da natureza; Marieta, a menina inteligente, leitora voraz e que está sempre corrigindo os amigos; Arturzinho, o “mini-coronel”, sujeitinho riquinho e ganancioso; e Capiba, o menino que quer se tornar um grande cantor. Também participam das histórias personagens como o Padre, o Saci-Pererê e animais de estimação, como o jumento Veneta e o cachorro Rompe Ferro.
Xaxado reúne muitas das memórias de infância de seu autor. Sempre primando pela crítica social, pela vida e pelas esperanças do nordestino que vive em terras áridas, à margem da sociedade e dos governos, pelas mensagens ecológicas, pelo uso de lendas populares brasileiras... desse modo, a mensagem de Cedraz é universal, independente de que região do Brasil o leitor esteja.
Ah: pelo seu trabalho, Cedraz ganhou diversos prêmios no Brasil e no exterior, entre eles, o do 2º Encontro Internacional de Histórias em Quadrinhos de Araxá, MG, em 1989, seis HQ Mix e o título de Mestre do Quadrinho Nacional do prêmio Ângelo Agostini. E, no início de 2014, foi homenageado numa exposição em Salvador.
Por tudo isso, Cedraz vai deixar saudade. Os nossos cartunistas veteranos estão indo cedo, antes que a gente perceba e possa homenageá-los.
Mas como eu poderia fazer minha homenagem a Cedraz? Não sei se adianta, mas colocando o Xaxado, cabisbaixo, de costas, andando pelo semiárido, sem destino. Qual será o destino dele após a ida de seu pai? Poderá ele se tornar retirante, diante de seu Nordeste constantemente ressequido? Nem tive coragem de tentar desenhar seu rosto.
Tu serás lembrado, Cedraz. Não te preocupes.

Até mais!

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