segunda-feira, 4 de abril de 2016

O dilema do milênio!

Olá.
Já faz horas que este blog pecador não é atualizado.
E, como a maior parte dos brasileiros, eu também não estou feliz. Vocês sabem por quê. Pode ser resumido em uma única palavra: política.
Bem, na semana que passou, eu não atualizei o Estúdio Rafelipe e os blogs da Rede Rafelipe – mais porque o computador de minha casa deu problema. Mas, através de um computador alternativo, estive atualizando o blog do Quadrinhos S.A. (http://quadrinhossa.blogspot.com.br/) com cartuns que retratavam a situação atual. E, hoje, republico, aqui, tudo o que foi publicado no blog do Quadrinhos S.A. nos últimos dias.


Eu tentei escapar. Tentei não me envolver com a situação nacional. Tentei não demonstrar alguma posição diante da crise moral pela qual o Brasil está passando. Mas não deu. Os colegas do Quadrinhos S.A. chamaram, provocaram, eu tive de atender. O vírus da indignação também controlou minha cabeça e minhas mãos: a cabeça, com ideias de cartuns, a mão para dar vida aos mesmos. E, bem, creio que me empolguei – até o momento, foram seis postagens com vários cartuns ao mesmo tempo.
Mas preferi não deixar uma posição definida com relação a essa crise. Não dizer diretamente, ou indiretamente, se apoio ou não o impeachment da presidenta Dilma. Preferi retratar, através destes cartuns feitos de forma mais tosca – sem esboço, caneta direto sobre o papel, várias canetas cuja tinta já estava no fim – a dialética que está se formando neste momento entre a sociedade brasileira.
Quer dizer: um destes cartuns, ao menos, teve um acabamento melhor, com esboço, uma caneta mais carregada e cores com lápis de cor. Mas a maioria nem esboço teve, foi feita no calor do momento. Só uns 3% dos desenhistas conseguem fazer ótimos desenhos direto na caneta, sem esboço; já eu, estou entre os outros 97%. Entendem?

DO QUE FALO OU: MOMENTO DESCONTROLE CEREBRAL
Estamos vivendo um dilema moral nos dias que correm, enquanto escrevo. Mais que a crise econômica, mais que o desemprego crescente (Deus me livre ser afetado também), mais que a epidemia de doenças trazidas por um único mosquito, é o dilema moral: apoiar ou não apoiar o impeachment da presidenta, e, por extensão, do PT?
Esse pedido de afastamento da presidenta é legítimo, é justo, é necessário... ou é mesmo um golpe antidemocrático, ilegítimo?
Se golpe for, será mesmo orquestrado por uma direita radical e ressentida, que quer o retorno dos “bons tempos”, ou melhor, da situação nacional das décadas de 1990... 1980... 1970... 1960...? Será que os setores que querem o impeachment querem mesmo a retomada do poder e, por extensão, a censura, a caça às oposições, o fim das conquistas da parcela menos favorecidas da sociedade, a opressão social em nome da estabilização econômica, a qual só esses setores seriam beneficiados... sob o pretexto do combate à corrupção e da incompetência dos governos até agora eleitos?
Estariam esses setores desejando mesmo o retorno à “senzala” da “tigrada” que o PT tirou da linha da pobreza, o fim dos programas assistenciais, dos “pobres” nos aeroportos? Estariam esses setores dispostos a implantar uma nova Ditadura Militar, a “cura gay”, o realinhamento da intelectualidade às ideias que são mais convenientes aos “neointegralistas” e aos radicais religiosos (pregadores de uma moral mais próxima da Europa Medieval que do século XXI) que à livre expressão do pensamento, das coisas “do diabo”?
E se não for golpe? E se a presidenta merecer mesmo o impeachment? E se o governo fez mesmo tudo errado? E se a melhoria das condições de vida da população vistas até hoje foram mesmo uma farsa? E se foram mesmo feitas só pelos índices de popularidade, só pelos votos? E se elas só foram aprovadas à base de propinas, nunca espontaneamente entre a classe política? E se essas políticas não dão mesmo em nada? E se tudo for mesmo “bolsa-esmola”, só pão e circo, para tirar do “pueblito” a vontade de se indignar com uma ordem social que, na verdade, não mudou nada desde os anos 1900? E se o Lula é mesmo um mafioso, quem manda no Brasil ainda é ele, não a Dilma? (Se bem que eu acho que estão mirando as armas no homem errado: acho que é o Eduardo Cunha o verdadeiro mafioso, manipulando o Congresso a seu favor – espero que ele não seja leitor deste blog...) Será verdade o que estão dando a entender? E se, no fim, os políticos, todos, sem exceções, são mesmo “farinha do mesmo saco”, independente de seus discursos?
Mas os setores que defendem a legitimidade do impeachment estarão mesmo garantindo a continuidade, a manutenção e até mesmo o aperfeiçoamento da democracia, duramente conquistada depois de anos de guerrilhas e de explosões de bancas de jornais?
E aí, apoiar ou não um impeachment?
Seria a mídia brasileira mesmo “golpista”? As maiores revistas, jornais impressos e telejornais brasileiros tem dedicado páginas e muitos minutos de noticiário só para dizer que o governo fez tudo errado, que o PT é uma quadrilha, que deveria sair. Continuam apostando no “quanto pior, melhor”, dão a impressão que querem ver o PT longe daqui. “Vão pra Cuba se querem supostas benesses de um governo de esquerda, mas não podeis questionar nada, viu?” Que querem ver o povo longe dos aeroportos e das decisões. Será mesmo verdade? Estarão eles apoiando o golpe antidemocrático, o retorno da ditadura da “direita”? Afinal, o número de páginas e minutos dedicados a apontar os erros do PT é mais numeroso que o dos outros partidos...
Ou é só impressão? E se eles estiverem mesmo certos? E se o PT deixou de ser “do povo” e estiver servindo mesmo aos setores que não estão nem aí para o bem-estar humano? E se secretamente estão, por exemplo, querendo entregar o petróleo do pré-sal e o nióbio brasileiro para as corporações estrangeiras? O PT estará mesmo envolvido? “Nós tentamos avisar sobre esse governo corrupto e incompetente, que prefere investir mais em rodovias que em ferrovias, e etc., mas vocês querem acreditar em nós? Estão todos satisfeitos com suas “bolsas-esmola” para acreditarem no que nós, que temos diploma, estamos tentando dizer! Ha, que esperar de um ‘pueblito’ que só lê dois livros por ano?” Eles estarão mesmo dando a impressão de que a nossa educação é mesmo ruim, de que os brasileiros são mesmo um povo imbecil, que voltaram ao mesmo estado de retardamento mental de antes dos protestos de 2013? Ou é só impressão?
Valeria a pena banir essa imprensa “golpista” em nome do respeito às minorias, dos desfavorecidos? Seria justo aumentar o desemprego, tirando o emprego de jornalistas?
Será liberdade de expressão, ou apenas motivo para fazer baixaria?

ENTRE O TUCANO E A ESTRELA
E aí? Defender a democracia ou não? De um lado, os que querem o fim da corrupção, e a mudança da ordem, ainda que para isso suprimam a democracia, “afinal esse ‘pueblito’ nunca aprendeu a votar, melhor que não tenha esse direito...”; De outro, os que querem a continuidade de um governo legitimamente eleito, em nome da democracia e da unidade popular, ainda que para isso compactuem com o desvio de dinheiro público, das verbas das merendas escolares, com os “mensalões” e “petrolões”, afinal, é tudo para o bem do ‘pueblito’?
Os de verde e amarelo acabam sendo os “coxinhas”; os de vermelho, os “petralhas”. E tanto um quanto o outro não são gente confiável, segundo um e outro. E pior: temos de escolher ou um, ou outro. Nada de meio-termo, nada de terceira via. Em vez de se juntarem em um projeto comum, preferem continuar disputando o poder ideológico, quem vai cativar mais massas que o outro.
“Ou você se junta a nós, ou você é um bundão”. E ninguém gosta de “bundões” perto deles. “Ou você toma posição diante dos fatos, ou prepare-se para perder os amigos; ou você se torna ‘coxinha’, ou ‘petralha’, ou nem chegue perto de mim, seu alienado, cabeça-de-camarão, que só pensa no futebol e no final-de-semana”. Eles parecem dizer bem isso. Se não disseram diretamente, disseram indiretamente; ou vão dizer diretamente.
E aí? Ser politizado, rancoroso, lutar por seus direitos, passar horas gritando palavras de ordem, vestir sua camisa, ou ser um “bundão”... que só quer ficar em paz, trabalhar enquanto ainda tiver emprego, ou procurar trabalho sossegado, sem pressões além das dívidas do lar, e ao menos fazer a engrenagem rodar, pois o país não pode ficar parado enquanto não decidirem se a presidenta sai ou não?
E, enquanto isso, a sociedade está sendo rachada. Amizades desfeitas, romances chegando ao fim por causa das preferências políticas. Não duvido que esse seja o quadro.
Não está sendo fácil.
E as redes sociais estouram de charges, de comentários claramente definidos. Pior: todos tem consistência, bons argumentos, tanto de um lado, quanto de outro. “Tem nada”, dirão tanto os “coxinhas” quanto os “petralhas”. “Nós é que estamos dizendo a verdade. Eles mentem! Querem te enganar! Não vai dizer que não avisei se se juntar a eles; você não vai ganhar nada apoiando eles! Nada! Vai ficar na sarjeta! Vai ter de pedir esmola, como tantos outros brasileiros ‘de bem’, ah, ah, ah!”
Não. Ambos os lado, sim, tem argumentos consistentes, talvez balizadas em estatísticas confiáveis, talvez não, mas difíceis de rebater. Mas como saber se eles tem razão ou não? Atacar o adversário só confunde as coisas. Você querendo se fazer ouvir na multidão, expor seus argumentos, quais são as chances de acreditarem em você? Quais são as chances de dizerem que você é quem está errado?
Parece que todo mundo quer ver todo mundo irritado. Pessoas irritadas são tão mais divertidas que as calmas... O ódio é tão mais compensador que o “amor”...
E, enquanto isso, quem dominam são os mosquitos da dengue, o dragão da inflação, o fantasma do desemprego... enquanto o ‘pueblito’ fica pensando na política 24 horas diárias. E ai de quem falar nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. Ai de quem tentar falar em futebol só para desviar de assunto.

UM CARA COMO EU NO BRASIL NÃO TEM VEZ...
Repito: não está sendo fácil.
Ainda mais para eu comentar esta situação. Tive de escrever “textão”, mas sabe-se lá se vou ser compreendido, se lerão este texto até o fim...
E eu nem sou comentarista político. Já devo ter dito isso umas quantas vezes só aqui, no blog. Quando me envolvo em discussões políticas, são grandes as chances de eu me dar muito mal. São grandes as chances de eu cometer uma gafe sem saber, mesmo com toda a revisão de texto que faço, mesmo com o tempo perdido digitando essas palavras e mais algumas, e depois caírem com tudo em cima de mim.
Se eu fosse influente, se minha opinião tivesse relevância, vá lá, não seria tão sentido. Mas eu ainda estou na periferia da internet, sou uma piiih de uma fraude, sei que não tenho a mínima inflência nem na comunidade dos quadrinhos brasileiros, enfurnado que estou em uma cidade inadequada à atividade cartunesca; acho que sou um cabeça-de-camarão, meu diploma de pós-graduação em História não vale nada, minha opinião não muda piiih nenhuma neste país que cada vez mais vira uma sucata, um favelão, uma “república de bananas”, como a mídia está dando a entender.
Depois desse texto, acho que vou perder leitores. Expressei-me erradamente. Fui muito radical, muito punk em minhas observações políticas. É só um textinho entre tantos outros, que tinha a pretensão de ser alguma coisa, mas não vai receber nem um comentário, vai ser esquecido dentro de poucos dias. Estou acabado. Estou piiih. Ninguém mais vai acessar o Estúdio Rafelipe. A partir de agora estarei escrevendo para as paredes. Foram oito anos em vão. Snif...
Ou estarei eu sendo muito pessimista, depois de todas as discussões que perdi nas redes sociais? Estarei eu apenas me rebaixando ao nível dos brasileiros que só sabem se lamuriar da situação nacional? Tenho ainda os blogs da Letícia, dos Bitifrendis e do Teixeirão, mas... e se o que escrevi até aqui afetar estes blogs também?
Bem, de todo modo, eu já fiz minha parte. Não vou revelar que posição tomei com relação a essa crise moral. Tudo o que espero é que, seja o que decidirem, não prejudique o povo brasileiro. Que ele não perca tudo o que conquistou em anos de luta.
Só a Deus pertence o futuro. E sabe-se lá se ele ainda é brasileiro. Se estamos fazendo algo errado, pelo menos digam o que! Estamos cansados de sermos bodes expiatórios gratuitamente!
Agora, com licença, tenho de trabalhar. Tenho de mostrar que o Brasil não parou. Que o Brasil não está ferrado, e tem de ficar ferrado, porque disseram, e continuam dizendo, que está ferrado. Ninguém tem culpa de estar aqui, no lugar errado, no momento errado.
E... era isso.

Até mais.

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