terça-feira, 4 de novembro de 2008

Dica de livro: QUEDA LIVRE

Olá.
Hoje voltarei a dar dicas de leitura. E, desta vez, vou falar de uma continuação.
Seguinte: há algum tempo atrás, falei de um livro chamado A INFÂNCIA ACABOU. A história do garoto Marcos, que precisa aprender a se virar quando as condições de vida mostram-se adversas. QUEDA LIVRE, o livro do qual vou falar agora - e espero que este comentário saia melhor do que o do outro - , é a sua continuação indireta.
É que neste livro, do mesmo autor de INFÂNCIA, Renato Tapajós, aparecem novamente os personagens que faziam a história junto com Marcos. Mas, desta vez, o livro é centrado na figura de Pedro, o inseparável amigo de Marcos, que aliás aparece no livro, mas como um coadjuvante.
No livro anterior, Pedro é baleado, mas sobrevive. O livro centra-se em Pedro e sua namorada, Ana. O tema é parecido com o de PRIMEIRA VEZ, que eu comentei aqui: as questões sobre a sexualidade na adolescência. O foco do livro está na sexualidade, na AIDS, nas diversas visões sobre a "primeira vez". Senão vejamos:
No início do livro, Pedro está experimentando uma sensação totalmente nova, após tudo o que ele passou no livro anterior: ele está saltando de pára-quedas. Aliás, o paraquedismo divide o foco da narrativa, em terceira pessoa. É que, em vários momentos da narrativa, Pedro - e mais tarde, Marcos e Ana - experimentam a sensação de cair de pára-quedas. Bem, Pedro quer também experimentar, além do pára-quedismo normal, o salto em queda livre, aquele em que o pára-quedas deve ser aberto no ar, a poucos metros do chão. E, para continuar a saltar os saltos suficientes para chegar à queda livre, ele decide arrumar um emprego para pagar esses saltos.
Bem. É no início do livro que Pedro conhece Ana. Os dois se apaixonam - naturalmente - , desejam-se mutuamente, curtem muito. Mas, até concretizarem o amor - leia-se transar pela primeira vez - o caminho é tão árduo quanto o de Aline e João, em PRIMEIRA VEZ.
O interessante é que Tapajós promove uma análise psicológica tão profunda em seus personagens que ele até descreve os momentos em que Pedro e Ana descarregam adrenalina no corpo - como no episódio em que Pedro briga com um rapaz mais forte que ele. Mas todo adolescente gosta de descarregar adrenalina, mesmo que não necessariamente com esportes radicais...
O caminho é árduo por causa dos obstáculos, vindos de Ana: a melhor amiga grávida, um angustiante trabalho em uma favela - a serviço da produtora de vídeo de uma prima de Ana - , em meio a adolescentes grávidas e portadoras de vírus da AIDS... Tudo isso deixa Ana muito insegura de si, se ela deve se entregar a Pedro ou não. Ah, não pensem porém que Pedro também não tem suas dúvidas no decorrer da obra: ele tem conversas com os amigos sobre tudo o que rola com Ana, uma colega de seu novo serviço começa a dar em cima dele... enfim.
Mas o que Renato Tapajós quer mostrar, com tudo isso, é que o prazer pode ser comparado a um salto de pára-quedas: prazer e risco andam juntos, mas no fim, tudo fica bem. É tudo uma questão de saber se informar, de saber se cuidar, e daí, tudo acabará numa boa.
Talvez um dos únicos problemas do livro seja a construção de Ana: a personagem ficou menos carismática, a meu ver, que a Aline, do livro de Ivan Jaf. Muito porque a narrativa do livro de Tapajós seja em terceira pessoa, assim o personagem não divide devidamente as suas inquietações com o leitor. Mesmo assim, isso não compromete a obra, cheia de lances emocionantes.
Há o diálogo entre a amiga de Ana e os pais, que revela que ainda existe gente que considera o tema da sexualidade um tabu que não pode ser discutido à mesa do jantar; os diálogos de Ana com a mãe, onde as duas dividem inquietações e se entendem numa boa (pena que em nem todas as famílias seja assim); os diversos momentos em que Pedro e Ana quase "chegam lá" (em uma delas, os dois brigam sério, e acabam deprimidos); o trabalho de Ana na favela, onde temos a impressão de que os testemunhos colocados ali por Tapajós são bem reais - relatos de estupro, abusos, violência... a gente pode não crer que aquilo possa ser mesmo verdade. Mas Tapajós é cineasta, vez por outra se envolve diretamente com os problemas sociais. E, muitas vezes, nos deparamos com histórias assim na nossa realidade.
Bem... fica aqui, pois, QUEDA LIVRE como sugestão de leitura de hoje. Se vocês ainda não discutiram sobre sexualidade, vocês aí de casa, talvez um pouco de ficção ajude. E saiba como o sexo pode ser comparado com um salto de pára-quedas - e ter tudo a ver. Ah, o final... preciso contar mesmo o final?
Para terminar, mais cartuns da série "Somente com Camisinha". E desculpem se não consegui me expressar bem. Mas tinha que falar desse livro, mesmo que às pressas.



2 comentários:

Tainá Monique disse...

Muito interessante suas colocações me ajudaram muito,pois tenho que apresentar este livro pra turma e não sabia como fala.Agora tenho tudo que preciso e posso falar naturalmente.

Anônimo disse...

Gostei mt do livro sera ke tem algum link pra baixar se tiver vc me fala aki no comentarios ble?? vlw amigo