Hoje, vou falar de livro (ultimamente, estive falando pouco de livros).
Tenho grande admiração pela chamada literatura infanto-juvenil, essa que pouco tem sido valorizada frente aos clássicos (que dizem pra gente ler e lemos quase que obrigados) e às manias internacionais, como Harry Potter e Crepúsculo (que os jovens atualmente lêem sem ninguém pedir). Bem, a literatura infanto-juvenil pode ser, sim, muito interessante para despertar o gosto pela leitura, e um vício saudável pelos livros.
Quando entrei para a faculdade, o meu interesse pela literatura infanto-juvenil que eu antes tinha diminuiu (em parte, por causa de clássicos como o Satyricon de Petrônio e a História de Heródoto, passando por Édipo Rei de Sófocles e O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, de Karl Marx). Mas, depois que eu li Primeira Vez, de Ivan Jaf, meu interesse por literatura infanto-juvenil aumentou, e tenho procurado muitos e muitos livros que vale a pena ler, como descanso aos rebuscados clássicos literários. Pois os melhores autores infanto-juvenis são aqueles que aliam informação, emoção e uma linguagem de fácil compreensão - melhor ainda se for na língua do leitor. O livro que escolhi para comentar hoje, SEM MEDO DE AMAR, de Stela Maris Rezende, atende boa parte dos requisitos acima - só em informação que ele é meio pobre, mas isso é só um detalhe.
SEM MEDO DE AMAR, publicado pela editora Moderna em 1990, pela coleção Veredas, conta três histórias de amor. Todas em uma linguagem coloquial, os personagens falando com todos os trejeitos do linguajar mineiro - as três histórias se passam em Dores do Indaiá, em Minas Gerais, cidade natal da autora. Stela Maris Rezende costuma sempre escrever seus livros assim, em linguagem coloquial, sem descrição profunda dos personagens e dos cenários, com muitos diálogos, cheios de humor e emoção. E são essas características que tornam seus livros extremamente interessantes. Pelo menos para mim.
As histórias.
Na primeira, Um Misterioso Sinal, temos a complicada relação entre Valdisa e João Marcelo. Ele é o rapaz mais disputado do colégio, que namora todas as meninas do colégio - todo mês, com uma; ao findar um mês, ele diz à menina: você é especial. Lhes dá o último e melhor beijo, e depois vai procurar outra menina. Porém, Valdisa, quando torna-se a próxima conquista de João Marcelo, não aceita ser só mais uma, e elabora um plano para conquistá-lo de vez. Plano esse que envolve inclusive o trabalho de colégio que os dois elaboram juntos. Interessante é que Valdisa possui uma espécie de aliança com a chuva: toda vez que algo importante acontece para ela, chove.
Na segunda, Um Sonho de Amor, Cristina volta a Dores do Indaiá, e se hospeda na casa de sua prima Rute. Em um longo diálogo com a prima, Cristina descarrega sua ansiedade por seu reencontro com Pedro - no dia do primeiro encontro de ambos, Cristina é obrigada a mudar-se de cidade, junto com a mãe. E a moça, com tudo o que idealizou a respeito de Pedro, o quer de volta... Mas será que ele ainda gosta dela, como gostava antes?
E, na terceira (e melhor) história, Um Coração Amoroso, o sensível Cledir está perdidamente apaixonado por Jaciara. O único impedimento para se declarar a ela, no entanto, é Cidinha, a implicante irmã de Cledir e amiga de Jaciara. Acontece que Cledir e Cidinha, de gênios diametralmente opostos, não se dão muito bem, e ela ameaça envenenar o juízo de Jaciara contra o irmão. Porém, Cledir e seu amigo Almiro já traçam um plano para afastar Cidinha do caminho... mas sem imaginar que talvez não seja necessário.
Valdisa, Cristina e Cledir são três personagens que precisam abandonar toda a dúvida, todo o medo, que precisam se entregar sem medo ao amor. Na aproximação, o medo da repulsa; no coração, a certeza de que vai dar certo... eis a idéia central do livro.
Dois pontos interessantes a considerar nas histórias:
Primeiro, que o final de cada uma fica em aberto. Não se sabe se as conquistas dos três personagens deram realmente certo, no entanto, pelo tom otimista empregado pela autora, temos quase certeza que deu certo, sim. Mas tudo fica mais a cargo de nós mesmos...
Segundo, é a presença das mães dos personagens. E os papéis delas são muito diferentes. A mãe de Valdisa é pessimista, tem grande medo de se entregar às paixões; a de Cristina, por causa de seus próprios problemas pessoais, arrasta a filha consigo; e a mãe de Cledir é carinhosa, e está sempre disposta a ajudar o filho.
Enfim. É um livro escrito para jovens, na linguagem dos jovens, como deve ser escrito esse tipo de livro. Não foi à toa que ganhou o selo da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, de "Altamente Recomendável para Jovens", em 1990. E eu reforço: é altamente recomendável, e não só para os jovens!
Não subestime a literatura infanto-juvenil. Dela podemos tirar mais lições que de um livro de Paulo Coelho, por exemplo.
Para terminar, fiquem agora com mais um cartum da série "Somente com Camisinha".
Até mais!
Até mais!
Nenhum comentário:
Postar um comentário