Ultimamente o reino das celebridades não está sendo pródigo em boas notícias. Muitas personalidades faleceram recentemente: Leila Lopes, Lombardi, Herbert Richers... E, aqui na região do mundo onde vivo, uma personalidade faleceu. O ex-prefeito de Vacaria, Marcos Palombini, foi sepultado no mesmo dia em que escrevo (olha a data antes do título). Um dos mais conhecidos prefeitos da cidade, o que teria trazido a cultura da maçã para cá - Vacaria é a segunda maior cidade produtora de maçã do Brasil, sabiam?
Já que falamos de ex-prefeito, falaremos agora de poder. E, já que falamos de poder, vou falar de livro, agora.
O livro desta semana se chama A LOUCURA DOS REIS - Histórias de Poder e Destruição, de Calígula a Saddam Hussein. Trata-se de um saboroso e abrangente estudo do historiador inglês Vivian Green (falecido em 2005). O livro foi publicado pela primeira vez em meados dos anos 90 - esta edição é de 2006, tradução para o português de Maria Luiza X. de A. Borges, publicado pela Ediouro.
A grande questão que norteia o estudo é a relação entre o poder e a loucura. Entre os historiadores, é consenso estudar as grandes civilizações e os fatos históricos do ponto de vista social e econômico, nunca no pessoal, muito menos no campo da saúde. E, ao vermos que existiram muitos exemplos de governantes que nunca primaram pela benevolência para com seus governados, nem por gente livre de corrupção e de deslumbramento pela possibilidade de decidir por milhares de pessoas... então, será que as grandes decisões que influenciaram a história de seus países teria sido simplesmente obra do contexto social? Será que esse rei teria agido daquela forma maléfica para com o povão porque foi pressionado pelas forças que o apoiavam - os interesses de elites que não queriam abrir mão de seus privilégios? Ou será que ele o fez por que quis?
Através de uma nova abordagem - através do plano pessoal, analisando as doenças que afligiram grandes governantes, como reis, príncipes e até presidentes - Green traça o perfil de alguns dos governantes que passaram à História como péssimos exemplos de conduta - ou mesmo de insanidade mental.
Dentre os exemplos mais conhecidos de personalidades analisadas pelo autor, estão: Calígula, o imperador romano louco por orgias e que quis eleger o próprio cavalo cônsul; Nero, o que mandou incendiar Roma; Henrique VIII da Inglaterra, o fundador da igreja anglicana, o dos seis casamentos; Ivan o Terrível, o terrível czar da Rússia, que num rompante de fúria acabou matando o próprio filho; o rei Jorge III da Inglaterra, considerado um dos reis de parafuso mais solto que se ouviu falar; Luís II da Baviera (ou Ludwig), o príncipe fascinado por castelos e pela obra do compositor Richard Wagner; Josef Stalin, Adolf Hitler, Saddam Hussein, dos quais nem é necessário falar; e muitos outros exemplos célebres.
Além desses, Green fala de outros governantes menos famosos, mas cuja atuação não foi nem exemplar para as gerações que os sucederam, e que só deram motivos para que os tachassem de loucos.
Porém, Green analisa os reis enlouquecidos cuja atuação influenciou diretamente o destino de seus países e do mundo. Desse modo, ficaram de fora exemplos de loucura como a rainha D. Maria I de Portugal, a mãe de D. João IV, o que veio ao Brasil fugindo de Napoleão. Além disso, os fatos mais conhecidos de cada governante passam por alto. Cada governante tem suas doenças analisadas através dos relatos históricos e documentos que podem comprovar suas fichas médicas. Muitos males que hoje conhecemos eram desconhecidos nas épocas deles, como a depressão, as doenças venéreas e os males relacionados à saúde mental; só podemos deduzir sobre seus males através da descrição de sintomas, que podem se encaixar em alguma ficha médica de nossos dias.
Apesar do grande didatismo presente na obra, e das descrições que podem chatear algumas pessoas que não são do ramo, o texto de Green é saboroso, e complementa fatos que até então não sabíamos sobre a história. Mas concentram-se mais nos exemplares da Europa e da América do Norte. Ainda assim, pode interessar a quem se interessa por História. Um livro que vale a pena ter na estante de quem gosta de História.
REFLEQUISSÕES DE UM BAXARÉU EM ISTÓRIA
Uma vez eu tinha dito a um amigo que o grande prazer da História é contar histórias, como se fosse um conto de ficção. Quer dizer, narrar os fatos como se fosse um romance, mas interrompê-lo de vez em quando para explicar pontos obscuros das tramas, como os detalhes sobre a época, como vivia o povo... talvez muita gente se interesse pouco, quase nada, por História porque os historiadores tem mania de complicar o que poderia ser simples, não ir direto ao ponto, não pensar nas platéias deles quando vão falar de um fato histórico. Só ficam falando muito de microestruturas, apanhados teóricos, luta de classes... toda essa empulhação que não há de interessar o público.
Ora, e por que não adentrar na intimidade das grandes personalidades históricas, como quem lê uma dessas revistas de fofocas da televisão? Por que não contar de batalhas como quem narra um jogo de futebol numa mesa de bar? Por que não falar da situação de vida de um povo como quem narra uma notícia de telejornal?
Foi-se o tempo em que a História priorizava as grandes personalidades como as construtoras do destino das nações. O povo ganhou seu espaço na História como participante do processo. Mas, mesmo assim, a História não pode chegar ao grande público? Tem de ficar restrita aos meios acadêmicos, às escolas? A educação, como dizem os anúncios, não deve ser para a vida?
Parafraseando o que o historiador grego Heródoto (acho que foi ele, não lembro) disse certa vez: "É importante aprender história para que os erros do passado não se repitam no futuro". Não é certo?
CHARGE DO DIA
Vem chegando a Copa do Mundo na África do Sul.
A charge de hoje foi publicada em um jornal de Santa Maria, e versa sobre a Copa como soporífero do público.
Só lembrando que o ano da Copa também é o das eleições.
É ou não é?
Até mais!
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