quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

PAGANDO O PATO

Olá.
Hoje, para o post valer a pena, vou falar de quadrinhos.
Bem, como todo mundo sabe, a tradição natalina da ceia de Natal é o peru. Mas hoje, só para contrariar, vou falar de pato (é conhecida a piada: o pato fica frustrado no Natal porque não é o mais importante da festa: afinal, o peru é que é servido na ceia e a missa é do galo...).
Não. Não é o pato que vocês estão pensando. Não o da roupinha de marinheiro (o Donald). Não o pato preto e reclamão (o Patolino). Este pato é brasileiro. E, para falar a verdade, nem ao menos é a estrela desta HQ.
Trata-se de O PATO, tira criada em 1968 por Cecília Whitaker Vicente de Azevedo Alves Pinto, a Ciça. Nascida em São Paulo (mas que já residiu até em Nova York), é jornalista, cartunista e escritora, autora de livros, entre poesias, quadrinhos e livros infanto-juvenis (ela é autora de uma famosa coletânea de trava-línguas).
O PATO foi publicado no jornal Folha de São Paulo e em outros jornais brasileiros e estrangeiros - hoje, segundo consta, são publicadas no Jornal do Brasil. E trata-se de uma divertida sátira da realidade nacional através de animais.
Em entrevistas recentes, Ciça admitiu que optou por fazer tiras com animais pelo contexto da época - com a ditadura militar aí, seria complicado satirizar os humanos. Por isso, as diversas facetas da realidade brasileira, como a sociedade, a política e outros temas de interesse, são representadas por animais. Assim como em outras tiras, esses animais comportam-se como seres humanos. E criticam livremente a realidade. Não por acaso, as tiras, assim como as de Mafalda, permanecem atuais, apesar da época em que foram produzidas. E não é força de expressão.
Bem, entre os personagens que prontificam na tiras, estão: o galo Hermes, sua esposa Naná e os filhos pintinhos, que representam uma típica família de classe média brasileira, sempre às voltas com contas a pagar, questões familiares, etc.; Filomena, a pata alienada; o Pato, com sua inteligência peculiar; O Tico-Tico; a cobra Salomé; o Ovo, o pintinho que ainda não saiu da casca; e muitos outros.
Mas a coisa fica mais séria quando entram em cena as formigas. O formigueiro fica sendo a própria representação do país, com as formigas operárias representando o proletariado, na maior parte do tempo acomodado, sem condições de se rebelar contra a situação pré-estabelecida; e as formigas-deputados, que representam o governo (assessorando a Rainha). O próprio retrato dos desmandos do governo, dos políticos de situação e dos de se dizem de oposição - mas que no fundo são tudo farinha do mesmo saco. Viu como as tiras permanecem atuais?
Por essas e outras, O PATO permanece um clássico do quadrinho político brasileiro, em um traço simples, textos inteligentes e personagens simpáticos. Não é à toa que Ciça é uma das melhores cartunistas mulheres do Brasil, numa área onde os homens costumam se destacar.
Existem várias coletâneas de tiras de O PATO. A mais recente é PAGANDO O PATO, republicação que a editora L&PM fez da coletânea lançada nos anos 80 pela editora Circo. Quer dizer, nem sei se é mesmo republicação, pois algumas das tiras tiveram seu texto atualizado. Mesmo assim, é mais uma bela iniciativa da L&PM, que com sua série Humor & Quadrinhos, dentro da coleção L&PM Pocket, têm trazido excelentes coletâneas de tiras sob o formato livro de bolso.
Eis uma sugestão de presente de Natal, portanto. Para quem se interessa por HQ política, O PATO é uma boa pedida. Catupiry, rodelas de abacaxi ou assemelhados para acompanhar são opcionais.

O RETORNO DO CORNFLAKE
Olhem que legal: Samanta Floor, do site Cornflake, lançou para Download um lindo calendário 2010, com desenhos dela. E já não era sem tempo, já que há tempos o blog dela não ganhava uma atualizadinha.
E o calendário é para quem gosta de pin-ups, aquelas mulheres bonitas e safadinhas que aparecem em ilustrações masculinas. No traço de Samanta, elas ganharam um contorno todo especial.
O calendário, em formato PDF, está disponível em: www.cornflake.com.br/blog.
Lá se encontra o link para download do arquivo.
Eu já garanti o meu! Mas ó: não dá para comercializar! Recomendação da própria Samanta!

LETÍCIA
E hoje, temos Letícia!
Três novas tiras em sequência! E, modéstia à parte, estas são as mais filosóficas que já fiz.
Me baseei em um fato astronômico: uma vez, quando fui passear por Esmeralda, RS, enquanto aguardava o ônibus para voltar para Vacaria, vi da praça, lá pelas duas da tarde, a lua dividindo espaço com o sol no céu. E nem era eclipse.
Bem, mas é justo que a lua possa aparecer durante o dia mas o sol não possa aparecer à noite? Decidam vocês.
Uma feliz véspera de Natal a todos. Rou, Rou, Rou!
Até mais!

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