segunda-feira, 2 de abril de 2012

Anime: ELFEN LIED

Olá.

Na última postagem, eu falei a vocês do mangá ELFEN LIED, um dos mais perturbadores já publicados no Brasil. E não ficarei em paz comigo mesmo se eu não terminar a série de postagens a respeito – o assunto agora é o anime baseado no mangá de Lynn Okamoto.

Bem. A versão em anime é uma das mais elogiadas pelos fãs de animação japonesa. Foi produzida em 2004, pelos estúdios ARMS (o mesmo das franquias Ikkitousen e Queen’s Blade), Genco, Vap e Seion Studio, com direção de Mamoru Kanbe. A bem da verdade, foi ELFEN LIED que consagrou o Estúdio ARMS (um estúdio especializado em animes adultos e geralmente curtos) como um dos melhores estúdios de animação japonesa. Quando se pensa no Estúdio ARMS, se pensa em ELFEN LIED.
Bom, antes de tudo, uma constatação: é evidente que muitos fãs, ao falarem bem deste anime (no caso do Brasil, o assistiram através de download da internet), não leram o mangá antes de assistirem o anime. Isso porque as diferenças entre uma mídia e outra são notáveis e, em alguns momentos, gritantes.
Para começar, ELFEN LIED anime tem 13 episódios – e mais um episódio extra, lançado em forma de OVA (exclusivo para o DVD da série). E só cobre metade da série, mais ou menos até o volume 7 do mangá.
A abertura da série reflete bem as referências à arte a que o mangá está ligado. O clipe de abertura mostra os personagens inseridos dentro dos quadros do pintor alemão Gustav Klimt, grande representante do surrealismo do início do século XX. O tema de abertura é uma música sacra com letra e latim – Lilium. Um dos mais belos temas de animes já escritos, cuja letra faz referências a passagens da Bíblia. Entretanto, o anime deixa de fora a peça de ópera Elfen Lied, de Hugo Wolf, ao qual o título faz referência no mangá. O tema de encerramento do mangá já é uma canção mais moderna – o tema romântico pop Be Your Girl.
Bem.
O anime, se não é 100% fiel ao mangá, ao menos mantém a essência do mesmo. O roteiro segue o texto de Okamoto, só diferenciando do mangá pela mudança em algumas falas, a ordem das situações ocorridas, o horário do dia em que algumas situações acontecem, algumas situações incluídas. Mas é a mesma história, a do relacionamento entre as dicornius Lucy/Nyuu e Nana e os humanos Kouta, Yuka e Mayu, diante da ameaça da destruição da humanidade. (ah, esqueci de dizer: as criaturas, chamadas de dicornius no mangá, são chamadas no anime de diclonius. Será assim mesmo na versão japonesa, ou engano na tradução? Mas, em todo caso, neste artigo, as criaturas serão chamadas de diclonius.)
A fim de o anime caber em 13 episódios, alguns cortes no original precisaram ser feitos. Por exemplo, alguns personagens foram limados. A personagem que mais faz falta no anime é Nozomi, a aspirante a cantora que vai morar com Kouta, Yuka, Mayu, Nyuu e Nana. Outros personagens que só aparecem a partir da segunda metade do mangá também não aparecem. Mas personagens secundários importantes, como Kurama, Bandou, Sr. Kakuzawa, o Prof. Kakuzawa e sua ajudante Arakawa, a Srta. Shirakawa e Mariko, foram mantidos.
O roteiro vai desde a fuga de Lucy do centro de pesquisas até a batalha de Lucy e Nana contra a silpelit Mariko, a filha de Kurama. São mantidos fatos como o encontro de Kouta e Yuka na praia; a dupla identidade de Lucy/Nyuu; a batalha entre Lucy e Bandou; a triste história e o sofrimento de Mayu nas ruas; a primeira batalha entre Lucy e Nana; o triste passado de Kurama, quando, devido à contaminação de uma silpelit, ele acaba gerando a filha silpelit Mariko; de quando Nyuu cai nas mãos do Prof. Kakuzawa, e acaba sendo morto por Lucy; os flashbacks mostrando o passado de Lucy, desde quando ela sofria bulliyng no orfanato, quando ela matou pela primeira vez, quando ela encontrou Kouta e quando, sentindo-se traída pelo garoto, matou a irmã mais nova e o pai dele na sua frente; os lapsos de memória de Kouta e o ciúme semi-doentio de Yuka em relação a ele; e a cruel batalha entre Mariko, que possui bombas implantadas dentro de seu corpo como forma de fazê-la cooperar, e Nana e Lucy.
Um grande diferencial do anime para o mangá é a forma como é mostrado como os diclonius geram os vectors, os braços invisíveis que eles usam para matar os humanos. No anime, Lucy gera cerca de apenas quatro braços, enquanto que no mangá ela gera muito mais que isso. O grande defeito da animação é justamente os vectors: feitos em computação gráfica, ficaram muito falsos.
Ficaram de fora do roteiro situações importantes do mangá, como o projeto Lebensborn, o grande plano do cruel Sr. Kakuzawa para eliminar o homo sapiens da face da Terra e criar um mundo apenas de diclonius – e cuja chave é Lucy, a única diclonius capaz de reprodução sexuada. Isso inclui também a transformação de Anna, a filha “burra” de Kakuzawa, em um monstro capaz de prever o futuro, e que fica mergulhado no lago do cemitério subterrâneo da ilha de Kakuzawa (que também foi limado: a cena em que Arakawa leva um tiro de Kakuzawa se passa no escritório do empresário, enquanto que no mangá se passa no cemitério). Ficou de fora também a invasão do depravado assecla de Kakuzawa ao Solar Kaede, que quase mata Nana e estupra Mayu – mas as duas são salvas por Bandou. Esse mesmo assecla é, mais tarde, morto por Lucy. Desse modo, o favor que Bandou deve para Mayu perde a razão de ser no anime. E, diferente do mangá, o anime só sugere uma segunda - e definitiva - batalha entre Lucy e Bandou. Além disso, não entendi muito bem qual é a importância do grande relógio quebrado do Solar Kaede, que nem existe no mangá.
Outros fatos mudaram de ordem. Por exemplo, Kouta está presente na batalha entre Lucy e Nana contra Mariko – e é lá que ele recupera a memória de como a irmã foi morta na sua frente. Sem falar que o flashback do passado de Lucy é dividido em dois: a primeira parte é mostrada no meio do anime, até quando Lucy encontra Kouta e Yuka se abraçando no festival; e a segunda é mostrada bem mais adiante, desde quando Lucy decide aceitar matar os humanos e criar um mundo só seu, até o assassinato do pai e da irmã de Kouta no trem.
Ah: e mesmo a fuga de Lucy da instituição da ilha é bem menos emocionante que no mangá, pois parece que começou da metade. Além disso, parece mais difícil de se entender a lógica dos diclonius e o porque da importância de se encontrar Lucy no anime – talvez seja pela tradução mal-feita ou do próprio anime mesmo, que “empurra” as explicações para mais adiante para criar um clima de expectativa e suspense. No mangá, tudo isso é explicado de forma muito mais clara e fácil de entender, tornando o anime apenas um complemento do mangá – o anime não se explica por si só.
O anime mantém os temas delicados que o mangá desenvolve. As cenas de violência, abuso sexual, as experiências cruéis com os diclonius, os dramas pessoais dos personagens, são verdadeiros socos no estômago. Na minha opinião, a cena mais revoltante do anime é a que, no flashback do passado de Lucy, os dois garotos matam o cachorrinho da diclonius a bordoadas. Dá para tolerar esse tipo de maldade infantil?!
E, como o ARMS também é especialista em animes “sexy”, também há as cenas de nudez e as situações “constrangedoras” do mangá, como os fanservices (seios nus e calcinhas aparecendo). Entretanto, as cenas “ecchi” não são muito freqüentes, são só parte do contexto da história, ficando em segundo plano em relação à violência (tornando assim ELFEN LIED sexualmente muito mais leve que as séries posteriores do estúdio como Ikkitousen e Queen’s Blade, que mostram muito mais nudez feminina e o tradicional “mostruário de calcinhas”). Mas o anime carrega na violência e na sangueira: as cenas em que Lucy e os outros diclonius mutilam, decapitam e arrebentam no meio os seres humanos são muito mais assustadoras que no mangá. Isso torna o anime recomendável para adultos.
A animação do anime (exceto os vectors em computação gráfica) é excelente. O elenco de vozes, pode-se dizer que é adequado (se é que vocês conseguem aceitar os irritantes “Nyuus” de Nyuu); mas a trilha sonora, apesar de adequada, chega a ser irritante, pois é quase que exclusivamente o Lilium em versão instrumental ou integral, com o coral masculino ou com a intérprete feminina.
Conta também contra o anime o fato de, ao final, ter ficado a impressão de ele ter parado na metade. Por ter ido até a metade do mangá, fica a impressão de que o anime ficou sem conclusão. Entretanto, o final em aberto abre a (remota) possibilidade de uma continuação. Assim, para saber o que acontece após a batalha contra Mariko, só procurando o mangá.
O episódio extra, de OVA, nem se destina a dar uma continuação à série: é um episódio extra que se encaixa entre os episódios 10 e 11 do anime, cômico, mostrando a diclonius Nana tentado ser útil dentro do Solar Kaede, e vendo uma possibilidade de finalmente ser amiga de Lucy/Nyuu.
Bão. Quem quiser conferir o anime, há vários sites para baixar os 14 episódios (contando o OVA). Entre eles, o Anime house (http://www.an-house.net/). É pena que o site do qual eu baixei originalmente, o Anime Always, tenha fechado por causa do encerramento do site de compartilhamento Megaupload. A melhor versão da versão legendada é do fansubber Raitei.
Mas eu recomendo também um outro site, inicialmente dedicado ao universo de Elfen Lied, mas que cobre outros assuntos relacionados a anime: é o blog Elfen Lied Brasil. Conheçam em www.elfenliedbrasil.com/.
Para encerrar, eu pensei em fazer um desenho com vários personagens da série. Porém, como eu fiquei bastante perturbado com a série, eu só fiz de dois, da Nyuu e do Kouta. Afinal, são eles que mais importam na série. Se bem que a minha personagem favorita na série, mesmo (e da qual sinto mais pena) é a Mayu. Mas tudo bem.
E assim, consigo recuperar minha paz interior.
Até mais!

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