Olá.
Hoje,
vou falar de novo de quadrinhos. (Mas Rafael, você não fala de outra coisa
nesse blog? Só quadrinhos?! Calma, para breve vou tratar de outros temas, vou
voltar a falar de filmes, de livros e de animes, em breve. Só terminar o
estoque de quadrinhos que eu tenho na estante...)
Já
faz algum tempo, alguns anos aliás, que falei de uma quadrinhista brasileira célebre, a Chiquinha.
Seu verdadeiro nome é Fabiane Bento Langona, não Francisca. O seu pseudônimo, Chiquinha, ela própria nos conta que vem da adolescência, quando ela tinha um visual parecido com o da amiga do Chaves (Pois é, pois é, pois é). Nascida em junho de 1984 (um mês antes de eu nascer), em Porto Alegre, RS, ela começou desenhando “em flyers e guardanapos em mesas de boteco pela vida”. E, de publicação em publicação (revistas como MAD, F, Eca Magazine, Caros Amigos, Imprensa, Vip, Gloss, Bravo!, Sexy Premium, Mundo Estranho e a eslovena Stripburger; jornais como Diário da Manhã de Goiânia, Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, Diário Catarinense de Santa Catarina, Zero Hora e Jornal do Comércio de Porto Alegre e a Folha de São Paulo de São Paulo), Chiquinha firmou seu lugar no competitivo mundo do humor gráfico. Junto com outras mulheres, como Samanta Floor, Mauren Veras (ambas também gaúchas) e Cibele Santos, Chiquinha garantiu seu lugar no mundo do humor gráfico, até então exclusivo dos homens – eram raras as mulheres que conseguiam, até o início do século XXI, se destacar no humor gráfico, sem a maldição dos “desenhos fofos”. Aliás, quando se pensa em desenhistas mulheres, se pensa logo nas que desenham personagens fofos e bonitinhos como crianças. Não, Chiquinha está bem longe disso: com um traço propositalmente tosco (e por isso engraçado à primeira olhada), em alguns momentos fazendo seus personagens ficarem feios, com cores chapadas e berrantes, tudo combinando com um humor ácido, irônico, criticando todos os aspectos da sociedade, da mídia... É a nossa Claire Brétecher.
Seu verdadeiro nome é Fabiane Bento Langona, não Francisca. O seu pseudônimo, Chiquinha, ela própria nos conta que vem da adolescência, quando ela tinha um visual parecido com o da amiga do Chaves (Pois é, pois é, pois é). Nascida em junho de 1984 (um mês antes de eu nascer), em Porto Alegre, RS, ela começou desenhando “em flyers e guardanapos em mesas de boteco pela vida”. E, de publicação em publicação (revistas como MAD, F, Eca Magazine, Caros Amigos, Imprensa, Vip, Gloss, Bravo!, Sexy Premium, Mundo Estranho e a eslovena Stripburger; jornais como Diário da Manhã de Goiânia, Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, Diário Catarinense de Santa Catarina, Zero Hora e Jornal do Comércio de Porto Alegre e a Folha de São Paulo de São Paulo), Chiquinha firmou seu lugar no competitivo mundo do humor gráfico. Junto com outras mulheres, como Samanta Floor, Mauren Veras (ambas também gaúchas) e Cibele Santos, Chiquinha garantiu seu lugar no mundo do humor gráfico, até então exclusivo dos homens – eram raras as mulheres que conseguiam, até o início do século XXI, se destacar no humor gráfico, sem a maldição dos “desenhos fofos”. Aliás, quando se pensa em desenhistas mulheres, se pensa logo nas que desenham personagens fofos e bonitinhos como crianças. Não, Chiquinha está bem longe disso: com um traço propositalmente tosco (e por isso engraçado à primeira olhada), em alguns momentos fazendo seus personagens ficarem feios, com cores chapadas e berrantes, tudo combinando com um humor ácido, irônico, criticando todos os aspectos da sociedade, da mídia... É a nossa Claire Brétecher.
Bem,
tive sorte de conhecer essa mulher pessoalmente, durante um evento de
quadrinhistas de Santa Maria, RS. E ela continua publicando seus desenhos no
seu blog (http://chiqsland.uol.com.br/home).
Bão,
depois de tantos anos publicando
desenhos em revistas, só em 2011 ela realiza o sonho de todo desenhista:
publicar um livro solo. E, pelo (hoje já extinto) selo Barba Negra da editora
Leya, eis aqui UMA PATADA COM CARINHO – AS HISTÓRIAS PESADAS DA ELEFOA
COR-DE-ROSA.
Apesar
de ter outros personagens fixos, como o Urso Bobão e o garanhão Asdrúbal, a
Elefoa Cor-de-Rosa é, sem dúvida alguma, mais que a principal personagem do
universo de Chiquinha: é a sua porta-voz.
Não
fosse o fato de ser uma elefanta – ou melhor, uma elefoa, agora não sei ao
certo qual é o correto para feminino de elefante – a Elefoa Cor-de-Rosa é uma
garota como tantas outras: gordinha, preocupada com a silhueta, azarada no
amor, constantemente vitimada pelos machos canalhas, inteligente, irônica, e
acuada por um mundo que valoriza mais o físico da mulher do que seus neurônios.
Às vezes, ela dá conselhos em um duvidoso consultório sentimental. A Elefoa
está longe de estampar capas de revista de biquíni, mas já ganhou seu próprio livro, o que
é o maior dos consolos.
A
Elefoa já apareceu, em forma de tiras, nos jornais Zero Hora e Diário de
Pernambuco, e vez por outra faz aparições na internet, inclusive no blog da
autora.
Bem.
Para criticar a sociedade de consumo e o culto ao corpo, que bicho seria melhor
que o elefante, o menos sutil dos animais? E ainda mais cor-de-rosa?!
E o
que impede os homens de também apreciarem este livro? Bem, é certo que é um
livro feito por uma mulher, com um humor evidentemente dirigido para mulheres,
o que espantaria os leitores masculinos – ainda mais com essa berrante capa
cor-de-rosa. Mas que preconceito é esse?! UMA PATADA COM CARINHO não é só um
livro para mulheres, é para aqueles que gostam de um humor sofisticado,
irônico, como poucos sabem fazer hoje em dia. Nada de modelo “Zorra Total”.
Pesa
a favor do livro o fato de ter sido publicado pelo selo de quadrinhos da (hoje
extinta) editora Barba Negra, pelo qual também saíram obras como MundinhoAnimal de Arnaldo Branco, Vó de Jean Galvão e O Relatório Ota do Sexo, de Ota.
Impressão de qualidade, material bom. Lançado em 2011.
Em
128 páginas, o corpinho esférico e sensual da Elefoa Cor-de-Rosa passa por cima
de tudo e de todos, criticando o que precisa ser criticado, sem censura nem
qualquer maquiagem, seja rímel, batom ou rouge. Ou quase. O amor, a ditadura da
beleza, depilação com cera fria, feminismo, disputa entre beleza e
inteligência, bonecos infláveis, Jorge Mautner, atitude de desapego a objetos
velhos, Paul McCartney, cocô alheio...
Em
vários momentos, a Elefoa se vê discutindo com suas duas melhores amigas:
Gisbelle, uma girafa meio amalucada, e o mais próximo do atual padrão de
beleza; e Janete, uma ursa ecologicamente consciente mas problemática. Ambas
dão o apoio necessário às aventuras hormonais e mentais da nossa heroína,
mostrando a todos que as nossas paranóias, anseios e inquietações são mais
comuns do que parece.
Tudo
isso no estilo de desenho que consagrou a sua autora: um desenho
propositalmente tosco, com personagens que nunca mantém a mesma proporção o
tempo todo, com partes do corpo que aumentam e diminuem de tamanho
constantemente; desenhos que ocupam todo o espaço dos quadrinhos, e às vezes
tem de brigar com os balões de fala por espaço (Chiquinha é adepta da
prolixidade textual, ou seja, texto demais, esmagando os personagens);
caixinhas que chamam a atenção para detalhes que escapam aos olhos do leitor; citações
a aspectos do mundo pop que às vezes nem mesmo ouvimos falar. Não é para
crianças nem para adultos comuns que só assistem novela.
A
Elefoa Cor-de-Rosa passa por poucas e boas: tem de suportar uma torturante
sessão de depilação com cera quente para ficar mais atraente – e agüentar
gozações dos machões, canalhas e ignorantes; discute com Janete pelo direito de
poder usar seus blusões velhos e esfarrapados; busca consolo para a solidão em
um boneco inflável; discute com uma vendedora (ao som da canção She, de Charles
Aznavour) por causa de lingeries com o tal bojo para turbinar as medidas; dá
dicas de como fazer aquele homem que a gente pegou só para espantar a solidão
ir embora de nossas vidas; conversa com Gisbelle sobre o lugar da mulher na
sociedade, adotando um discurso feminista; sofre os efeitos das mudanças
hormonais com a menstruação; deixa os pudores de lado e discursa sobre o modo
como tratamos as fezes dos outros (o que é nosso é nosso, e o dos outros é
sempre pior, né?); entende o sentido da vida depois de tomar seus remédios;
ouve umas conversinhas por aí; discute com Gisbelle sobre o que é mais
lucrativo: a linguagem corporal ou a linguagem verbal; promove um concurso de
aberrações (quem é mais assustador: os que contraíram doenças bizarras,
daquelas que causam deformações nojentas, ou gente saudável que tem manias que
nem o mais maluco dos malucos seria capaz de ter?); arranja, finalmente, um
namorado; descobre, depois, que nem tudo é perfeito depois que encontra o amor;
etcétera, etcétera.
Ainda
inclui dois “clipes gráficos” de música: Lágrimas Negras, de Jorge Mautner
(reparem que o clipe é todo em negativo, linhas brancas sob fundo preto) e My
Love, de Paul McCartney. E, no fim, Chiquinha conta, em quadrinhos, um
pouquinho sobre sua vida e carreira. E quem comprar o livro, ainda leva de
brinde uma aulinha básica de italiano e uma linda bonequinha da Elefoa para
vestir.
Ah:
o prefácio do livro é do colega Allan Sieber, e o posfácio é de Ota, o padrinho
de Chiquinha na revista MAD (Chiquinha já escreveu o prefácio do Relatório Ota
do Sexo, portanto já é uma troca de favores).
Well,
quem quiser conferir, ainda tem oportunidade, ainda está disponível nas
livrarias. Eu tive sorte.
Para
encerrar, duas ilustrações. A primeira já foi publicada antes: quando falei da
Chiquinha no blog pela primeira vez, usei este desenho para ilustrar: um
porquinho feito no Paint. Um exemplo de desenho propositalmente tosco.
O
segundo é uma página de reflexões. Às vezes, eu penso assim: tem tanta gente aí
que desenha mal e se dá bem, enquanto tem tanta gente que desenha bem e não tem
nenhuma chance. É o meu caso. Modéstia à parte, eu desenho muito melhor que
tanta gente famosa, como Fernando Gonsalez, o criador do Níquel Náusea, o Ota e
a própria Chiquinha; entretanto, apesar de eu estar publicando meus desenhos na
internet, nunca saí do underground. Por alguma razão, sinto que ainda não sou
bem-vindo na grande imprensa – não é por falta de tentativas de fazer contatos
com jornais, revistas... Toda vez que pinta uma oportunidade, em breve acabo
frustrado, porque os contratos não duram muito e a visibilidade prometida não
vem; enfim. Acho que estou vivendo no lugar errado, que não oferece
oportunidades para quem desenha bem. Um texto bom eu até tenho, se é isso que
falta. E, como vocês já devem ter visto nas minhas tiras – Letícia, Teixeirão e
Bitifrendis – sou semelhante à Chiquinha pela prolixidade textual, eu “aperto”
meus personagens em grandes quantidades de texto. Enfim, é esse sentimento que
tento expressar no quadrinho abaixo.
Eu
não desenho a Elefoa Cor-de-Rosa melhor que a Chiquinha, preciso admitir. Ela
sequer lembra das conversas que tivemos no Cartucho de 2007. Ela sequer deve
lembrar de mim. Portanto, não posso sequer ser indicado para continuar a Elefoa
quando algo grave acontecer com a Chiquinha. Pra desenhar a Elefoa, só a
Chiquinha, a única capaz de manter a personalidade forte da moça. Posso
desenhar melhor que a Chiquinha, mas não sou a Chiquinha. Sou apenas o Rafael
Grasel, professor e desenhista entusiasta ordinário. É como professor que ganho
dinheiro. E é como desenhista que ganho... hã... algum reconhecimento. Só.
Será
que um dia essa situação vai mudar?
Bão...
até mais!
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