Olá.
Para
começar o ano de 2016 no Estúdio Rafelipe – ao contrário do restante do Brasil,
ele não espera passar o carnaval – hoje resolvi falar de série de TV. Na
verdade, minissérie, que é mais fácil de acompanhar.
Entre
os dias 5 e 8 de janeiro de 2016, a Rede Globo de TV veiculou, em quatro
capítulos, uma série de sucesso na TV fechada. Uma série biográfica, com um
ator renomado, falando de uma personalidade real – uma das mais assombrosas
personalidades reais do século XX.
Hoje,
alguns comentários a respeito de HOUDINI, a série.
HOUDINI,
originalmente uma minissérie em dois episódios de uma hora cada, foi produzida
em 2014. Sua primeira veiculação foi nos canais A&E e History Channel, no
mesmo ano. Teve direção de Uli Edel e roteiro de Nicholas Meyer, baseado na
biografia Houdini – A Mind in Chains, escrito
por Bernard C. Mayer e publicado em 1976. As filmagens foram feitas em
Budapeste, na Hungria, e ganhou mais notoriedade por seu ator principal ser
oscarizado – Adrien Brody, do filme O
Pianista (2002). A série teve sete indicações ao Prêmio Emmy de 2015. A
Rede Globo veiculou a série em quatro capítulos de meia hora.
E,
para começar, é o básico para falar a respeito da série, que retrata, com uma
boa fotografia em tons escuros, um bom roteiro, boas interpretações e efeitos
especiais, a vida e a carreira de Harry Houdini, o maior escapista da História.
O
HOMENAGEADO
Harry
Houdini (1874 – 1926) é considerado um dos maiores mágicos e escapistas da
História. E ainda acumulou mais algumas funções: também foi trapezista, agente
secreto, ator de cinema, aviador, desbaratador de charlatanismos e crítico da
religião espírita.
Houdini
é conhecido pelos seus truques de escapar de correntes, camisas de força,
tanques de água, caixões, latões de leite... Basicamente, isso o qualifica como
o maior escapista da História. Mas fez outros truques famosos, como fazer
desaparecer um elefante, colocar agulhas na boca e tirá-las presas a uma linha,
e atravessar, misteriosamente, um muro de tijolos. Só recentemente é que alguns
dos truques usados por Houdini, para iludir a plateia, tiveram os segredos
revelados: no início do século XX era muito mais fácil enganar o público com
truques de ilusionismo. O segredo da mágica era exclusividade dos mágicos e só
eram revelados para aprendizes de mágicos. Aí, veio o Mister M, nos anos 1990,
e a mágica deixou de ser uma carreira sedutora... os atuais ilusionistas
precisam se esmerar muito para conseguir feitos que o público dificilmente pode
explicar.
Well.
O verdadeiro nome de Houdini era Ehrich Weisz, nascido em Budapeste, na
Hungria, em 24 de março de 1874, filho de um rabino judeu, Mayer Samuel Weisz,
que migrou com a família para os Estados Unidos em 1876. Ainda na infância em
Appleton, Winscousin (EUA), que era difícil devido às dificuldades econômicas
da família, Ehrich Weisz se interessou pela vida dos espetáculos; embora
tivesse de exercer outras profissões para ajudar a família, como engraxate e
jornaleiro, Ehrich também foi trapezista em um circo (e, por isso, ganhou a
alcunha de “Ehrich, o Príncipe dos Ares”) e fazia truques de mágica. No início
do século XX, boa parte das carreiras de espetáculos, música, teatro, área
editorial e até o gangsterismo, enfim, várias áreas ligadas ao entretenimento,
nos Estados Unidos, eram exercidas por jovens de origem judaica, filhos de
imigrantes judeus que se afastavam da Condição Judaica. Ehrich Weisz não fugia
à regra – lógico que o pai desaprovava a atividade dos filhos nos espetáculos,
ao contrário da mãe, Cecelia, que, como boa iídiche
mama, seria a maior apoiadora da carreira de Ehrich / Harry. Filhos: além
de Ehrich, outros dos seis irmãos do futuro Houdini se apresentavam na área dos
espetáculos.
Foi
ainda na juventude que Ehrich adotou a alcunha de Harry Houdini, homenageando
seu ídolo, o mágico francês Albert Houdin, cuja autobiografia era uma de suas
leituras de cabeceira. Depois de um período, aos 12 anos, em que fugiu de casa
e desapareceu por cerca de um ano no estado do Kansas (praticamente ninguém
sabe como ele viveu nesse período), Houdini, a partir de 1893, começa a se
apresentar ao lado do irmão, Theo. A família, na época, mudara-se para Nova
York, e o pai, o maior empecilho para sua carreira performática, faleceu quando
Houdini tinha 16 anos. Foi mais ou menos nessa época que Houdini incorporou, em
seus shows, os famosos truques de escapar de algemas – ele descobriu alguns
segredos de como se soltar desses instrumentos. Também foi na época da atuação
ao lado do irmão que Houdini conheceu sua esposa, Wilhelmina Beatrice “Bess”
Rahner, então cantora e dançarina. Bess Houdini seria sua assistente de palco e
acompanharia o marido por toda vida.
Uma
das diversões de Houdini era desafiar as forças policiais das cidades por onde
passava: ele desafiava policiais a acorrenta-lo e prendê-lo em celas de cadeia,
das quais conseguia escapar.
A
vida de Houdini muda em 1899, quando conhece o empresário Martin Beck, que
contribui para sua fama mundial. Em 1900, extremamente popular nos Estados
Unidos, mas não satisfeito, Houdini faz sua primeira turnê pela Europa. Aliás,
foi em uma de suas turnês europeias, nos anos 1900 a 1910, portanto perto da
Primeira Guerra Mundial, que Houdini, a pedido do governo dos Estados Unidos,
atua como agente secreto, colhendo informações de governos europeus
beligerantes para a inteligência norte-americana e inglesa, e utilizando seus
shows como fachada. Houdini retornou aos Estados Unidos em 1905.
Foi
em 1912 que Houdini começou a fazer seu truque mais famoso: a “Caixa de Tortura
Chinesa”. Ele tinha os pés presos em uma estrutura de madeira, era acorrentado,
içado para dentro de uma caixa de vidro cheia de água, e tinha de se soltar em
até três minutos. Houdini também tinha um invejável preparo físico para realizar
esses feitos – força física, grande agilidade e fôlego privilegiado, frutos de
muito preparo físico, para encarar mágicas ainda mais arriscadas como se livrar
de uma camisa de força pendurado de cabeça para baixo em um prédio, mergulhar
acorrentado em um rio congelado, sair de uma caixa amarrada jogada em uma
correnteza, sair de um tonel de leite fechado com cadeados... Quando imitadores
começaram a aparecer e seus truques já não eram mais novidades, Houdini incluiu
em suas apresentações feitos ainda mais perigosos. E também incluía truques
menos perigosos, como a travessia de um muro de tijolos e o desaparecimento de
um elefante – este, aliás, foi seu truque mais ambicioso, apresentado em 1918
no Hipódromo de Nova York. Embora Houdini tenha descrito alguns de seus
segredos em sua autobiografia, alguns truques ficaram sem explicação por anos.
Houdini
também foi um dos pioneiros da aviação: foi a primeira pessoa registrada, na
Austrália, a fazer um passeio de avião, em 1910.
Quando
Cecelia Weisz faleceu em 1913, Houdini despertou um súbito interesse pelo
espiritismo, então uma doutrina nova no mundo. Na realidade, uma de suas
leituras de infância, além da autobiografia de Albert Houdin, era um guia de
comunicação com os espíritos, que também incluía dicas de como identificar
falsos médiuns. Desesperado por se comunicar com o espírito da mãe, Houdini
começou a visitar médiuns, seguidores da doutrina de Allan Kardec ou não; e,
dentro de pouco tempo, também começou a desmascarar falsos médiuns, charlatães
que se aproveitavam da ingenuidade alheia, utilizando para tanto seus
conhecimentos de mágica e ilusionismo. Chegou até mesmo a oferecer recompensas
para quem conseguisse provar ter poderes mediúnicos e mostrar habilidades que
ele mesmo não conseguisse desmascarar, e a escrever um guia de como desmascarar
falsos médiuns. Por conta disso, ele teve uma séria briga com um de seus amigos
e admiradores famosos – o escritor inglês Arthur Conan Doyle, o criador do
detetive Sherlock Holmes, que era
casado com uma médium, e chegou a dizer que os poderes de Houdini vinham de
fontes sobrenaturais – logo ele, que nas tramas de seu detetive costumava
incluir explicações científicas para os casos.
Houdini
também teve passagens pelo cinema. Entre 1913 e 1926, ele estrelou cinco
filmes, onde também incluía seus truques de escapismo. E, posteriormente, após
sua morte, ele ganhou filmes sobre sua vida – um dos mais conhecidos é o de
1953, dirigido por George Marshall e que tinha Tony Curtis no papel de Houdini
e Janet Leigh interpretando Bess.
Houdini,
que se orgulhava de desafiar a morte, teve uma morte trágica e também curiosa:
ele morreu de infecção causada por uma peritonite (inflamação no intestino). E
essa peritonite foi contraída pelos socos que um estudante da cidade de
Montreal, Canadá, J. Gordon Whitehead, desferiu em seu abdômen, rompendo seu
apêndice e contaminando-o com germes de estafilococus. Muitas vezes, Houdini
instigava pessoas a dar socos em seu abdômen para comprovar sua força física,
mas, na ocasião, ele não havia se preparado, e por isso sofreu as
consequências. Era 22 de outubro de 1926. Por ter demorado a procurar ajuda
médica, Houdini contraiu uma infecção interna, e acabou morrendo em 31 de outubro
de 1926, tendo seu enterro acompanhado por numerosa multidão. Mais tarde, Bess,
que faleceu em 1943, também recorreria a médiuns para tentar se comunicar com a
alma do marido.
Fontes: www.wikipedia.com e http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/harry-houdini/harry-houdini.php
A
SÉRIE
HOUDINI,
a série, inclui recursos de ficção, mas, no geral retrata a vida de Harry
Houdini com bastante fidelidade. Adrien Brody interpreta o mágico como um homem
obcecado pela ideia de enganar a morte e superar os demônios internos, como a
falta de aceitação por parte do pai, a morte da mãe (interpretada por Eszter
Onodi) e os conflitos no casamento com Bess (Kristen Connolly), que, depois de
algum tempo, não vê com bons olhos as loucuras de Houdini, ameaça abandoná-lo,
mas volta atrás sempre.
Se Brody já havia feito uma preparação radical para interpretar o protagonista de O Pianista, imagina o que ele não deve ter feito para interpretar Houdini, com seu invejável preparo físico.
A
“biografia dramatizada” de Houdini omite alguns trechos da vida do escapista,
como o período da infância (o Houdini garoto é interpretado por Louis Martens)
em que foi trapezista – Houdini é retratado direto como mágico; lima o
empresário Martin Beck – e praticamente o substitui pelo assistente Jim Collins
(Evan Jones), responsável pelos truques do patrão; e a passagem de Houdini pelo
cinema – a série dá a entender que Houdini era inimigo das exibições
cinematográficas. Passa por alto também, meio que citando rapidamente, fatos
como o pioneirismo de Houdini na aviação.
Mas
muito da vida do mágico está ali: a infância pobre, as primeiras apresentações,
ao lado do irmão Theo Houdini (Tom Benedict Knight); o relacionamento ora
carinhoso, ora conturbado com Bess; os famosos truques de escapismo, como as
fugas de cadeias, a “Caixa de Tortura Chinesa”, o desafio de pegar uma bala de
espingarda com a boca, o pulo no rio congelado (nesse evento que a série
começa), o sumiço do elefante, o truque da camisa de força pendurado em um
prédio, o truque do muro e até o desafio de se soltar após ser amarrado à boca
de um canhão a ser disparado – nesses trechos, a série inclui sequências em
computação gráfica, mostrando cadeados e cofres por dentro e até por dentro do
corpo de Houdini; os trabalhos de Houdini como agente secreto na Europa, a
mando dos agentes do MI5 William Mellville (Tim Pigott-Smith) e Sidney Reilly
(Shaun Williamson), que solicitam a figura pública do mágico, acima de qualquer
suspeita, para obter informações dos governos da Rússia e da Alemanha – o
grande momento de suspense da série ocorre quando Houdini precisa sair de
dentro de um cofre trancado na embaixada alemã, e com o embaixador ainda na
sala, a tempo de voltar para sua apresentação; a morte da mãe e seus truques
para desmascarar falsos médiuns – e aqui inclui o desentendimento com Arthur
Conan Doyle (David Calder) e Lady Doyle (Linda Marlowe) e com uma famosa médium
dos Estados Unidos, Margery Crandon (Megan Dodds); e a morte cujo processo
iniciou com os socos do estudante canadense.
A
série também mostra, em alguns trechos, alguns dos segredos de Houdini para
realizar seus truques. Por exemplo, as manobras que fazia para esconder chaves
e pedaços de metal para abrir os cadeados; uma verdadeira trucagem para
realizar o truque de pegar a bala com a boca – e diante do Kaiser da Alemanha;
como fez com que os sinos do Kremlin de Moscou tocarem à distância, durante a
apresentação particular para a Família Real Russa; e como fez para realizar o
truque da travessia do muro. Tudo com a ajuda de Jim Collins. O truque do
sumiço do elefante, aliás, apresentou uma drástica mudança em relação às fontes
encontradas: na série, ele utiliza um grande tecido para fazer o elefante
sumir, enquanto as fontes históricas dizem que ele se utilizava de uma enorme
caixa.
A
série deixa clara, inclusive, a forte ligação entre Harry e a mãe – uma cena
sugere que teria sido uma visão da mãe que possibilitou a Harry escapar da
grande barreira de gelo, na cena do mergulho no rio congelado. E o conflito com
o pai – que fica evidente na cena da bala de espingarda. Aliás, recursos de
suspense dão um toque especial à trama: será que o truque de Houdini dará certo
ou ele sofrerá graves consequências em caso de falha?
O
roteiro da série, em alguns trechos, chega a ser confuso, pois a história é
contada de maneira não linear, com idas constantes do passado para o presente,
e vice-versa, tornando confusa a ordem dos fatos da vida de Houdini.
Tirando
isso, a série tem um selo de qualidade que atesta que os fatos mostrados são
reais: a do canal History Channel, conhecida pelos documentários sobre fatos
históricos. Ou talvez seja precipitado considerar isso um “selo” confiável,
visto que a História muda constantemente com as descobertas de historiadores –
às vezes, mais rápido que a equipe do History pode acompanhar.
Atualmente
é possível encontrar a minissérie em DVD. Quem quiser conferir, tire suas
próprias conclusões.
Imagens: internet (divulgação).
PARA
ENCERRAR...
Já
que tratamos de temas históricos, mas sem maior relevância para o mundo, hoje
continuo divulgando minha mais nova empreitada artística, a série folhetinesca O Açougueiro (nome provisório), que comecei a divulgar em dezembro de
2015. A série é baseada nos Crimes da Rua do Arvoredo, ou Caso da Linguiça
Humana, ocorridos em Porto Alegre, RS, entre 1863 e 1864 (vide postagens
anteriores).
Os
detalhes da história vão sendo revelados à medida que vou produzindo as
páginas, sempre uma por vez. Esta é minha proposta, por enquanto.
Continuem
acompanhando-nos: para breve tem novidades. Em 2016, tem mais informação,
cultura e desenhos, que é a proposta do blog.
Até
mais!
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