Olá.
Hoje,
vou trazer para vocês um livro. Faz um tempo que não falo de livros “sérios”
aqui no blog, digo, de livros que não tratam de cultura pop. Mas o livro de
hoje não é totalmente sério, na verdade: trata-se de uma biografia, em estilo
descontraído, de uma personalidade brasileira que, no seu tempo, foi uma figura
ousada, e que teve um destino trágico.
Eis
aqui: da coleção Perfis Brasileiros,
da editora Companhia das Letras, LEILA DINIZ, por Joaquim Ferreira dos Santos.
A COLEÇÃO
Para
quem não conhece, é melhor, inicialmente, falar a respeito da coleção a qual
este livro faz parte.
A
coleção Perfis Brasileiros foi uma
iniciativa do jornalista Elio Gaspari e da historiadora Lilia Moritz Schwarcz,
e encampada pela tradicional editora Companhia das Letras, que, a partir de
2006, procurou trazer biografias anticonvencionais de grandes personalidades
brasileiras e estrangeiras naturalizadas brasileiras – da política, das artes,
do comportamento. Isso em uma época em que o mercado de livros biográficos
experimentava um aquecimento – as biografias de personalidades estavam sendo
muito procuradas por leitores naquele instante.
Bem.
A coleção Perfis Brasileiros teve
doze títulos publicados, até onde pude identificar, e todos reconhecidos pelo
projeto gráfico de capa, com cores berrantes e chamativas. Para escrever os
títulos, foram chamados jornalistas e historiadores, verdadeiros especialistas.
Não
tive como descobrir a ordem das datas de publicação dos títulos. Mas os
homenageados foram os seguintes: General
Osório, por Francisco Doratioto; Joaquim
Nabuco, por Angela Alonso; José
Bonifácio, por Miriam Dolhnikoff; Marechal
Rondon, por Todd A. Diacon; Maurício
de Nassau, por Evaldo Cabral de Mello; Getúlio
Vargas, por Boris Fausto; Castro Alves,
por Alberto da Costa e Silva; D.
Pedro I, por Isabel Lustosa; D. Pedro
II, por José Murilo de Carvalho; Padre
Antônio Vieira, por Ronaldo Vainfas; Leila
Diniz, por Joaquim Ferreira dos Santos; e Cláudio Manoel da Costa, por Luiza de Mello e Souza.
Não
é difícil encontrar alguns desses títulos em livrarias, sebos e bibliotecas,
basta ter disposição.
O AUTOR
Agora
é a vez de traçar um breve perfil do autor da biografia em questão nesta
postagem, Joaquim Ferreira dos Santos, jornalista. E com as fontes que
conseguimos reunir em pesquisa prévia na internet – uma vez que nem verbete na
Wikipedia ele ganhou ainda.
Joaquim
Ferreira dos Santos nasceu no Rio de Janeiro, em data mantida em segredo. Ele
começou sua carreira no jornal Diário de
Notícias, em 1969, e nos anos seguintes ocupou cargos em vários veículos de
comunicação, como a revista Veja, o Jornal do Brasil, O Dia e O Globo. Neste último, criou uma coluna
de notas que ocupou o espaço que antes era do jornalista Zózimo Barrozo do
Amaral. Também é cronista, e teve crônicas suas incluídas em antologias de
melhores do gênero.
Como
jornalista, ele também meio que se especializou no gênero biográfico. Dentre
seus vários livros publicados, os mais conhecidos são Feliz 1958 – O Ano que Não Devia Terminar (1997) e Um Homem Chamado Maria (2005), biografia
do cronista e compositor pernambucano Antônio Maria. Aliás, sobre Antônio
Maria, Joaquim Ferreira dos Santos escreveu mais três livros: Antônio Maria – Noites de Copacabana, O
Diário de Antônio Maria e Seja Feliz
e Faça os outros Felizes.
Além
desses, e, claro, desta biografia de Leila Diniz, publicada em 2008, Joaquim
Ferreira dos Santos ainda tem no currículo os títulos: O Que as Mulheres Procuram na Bolsa (2003), Em Busca do Borogodó Perdido (2005), Minhas Amigas (2012) e seu título mais recente, Enquanto Houver Champanhe Há Esperança (2016),
a biografia de Zózimo Barrozo do Amaral, publicada pela editora Intrínseca –
vários títulos do autor foram publicados pela Companhia das Letras.
A BIOGRAFADA
Bão.
Agora passemos a falar a respeito da musa do feminismo brasileiro, Leila Roque
Diniz (1945 – 1972). Não que ela fosse ativista, partidária da tendência
conhecida na época de Women’s Lib, que queimasse sutiãs e gritasse slogans
raivosos, como suas “colegas” da época. Não, ela não fez nada disso – em
público. Ela meio que fez como Rê Bordosa: enquanto as feministas teorizavam,
ela barbarizou. Ela provocou uma revolução nos costumes das mulheres de sua
época, mas do seu jeito: escancarando sua vida sexual plenamente ativa, regida
apenas pelo prazer e pelo compromisso com os próprios valores; ousando bastante
em uma época em que as mulheres haviam recém começado a deixar as pernas
expostas sob as saias; e cultivando uma boca suja, um linguajar que, antes de
tudo, expressava sua espontaneidade. Por conta disso, em vida, ela foi
perseguida, até praticamente chegar um momento em que todos os setores
influentes da sociedade brasileira se voltaram contra ela. E teve um destino
comum ao de boa parte das personalidades mundiais: teve um momento de glória,
depois sofreu duras críticas e perseguições, e, no fim, só teve seu valor
reconhecido depois que morreu de forma trágica. Mas ela não podia dizer que
seus breves 27 anos de vida não foram bem vividos.
Well:
eu pergunto agora às novas gerações que lidam em smartphones, principalmente às
mocinhas que se enfiam dentro de shorts de jeans, com bolsos de fora ou não, e
parafraseando uma fala do personagem Waldir, d’A Trilogia do Acidente (detetive Diomedes) de Lourenço Mutarelli:
vocês sabem quem foi, e ouso dizer, continua sendo Leila Diniz? Não? Ora, ora.
Bem,
para começar, Leila Diniz foi atriz e modelo. Muitos costumam lembrar dela por
causa da ousadia em se deixar fotografar de biquíni... grávida. Outros, por
causa de uma entrevista cheia de palavrões que ela deu para um jornal. Well: é
muito pouco, em verdade, para traçar um perfil completo daquela que uma vez foi
a sex symbol nacional, e hoje se encontra em um patamar similar ao de outras
revolucionárias brasileiras, como Anita Garibaldi, Pagu, Tarsila do Amaral,
Maria Esther Bueno... Mas vamos com calma.
Leila
Diniz já havia ganho quatro biografias em livro, e mais três em forma de filme
(um encenado e dois documentários), antes deste LEILA DINIZ – UMA REVOLUÇÃO NA
PRAIA (nome completo da obra), publicado em 2008 dentro da coleção Perfis Brasileiros da Editora Companhia
das Letras. Joaquim Ferreira dos Santos teve a honra de ter conhecido
pessoalmente o objeto de sua biografia, ainda viva. E seu maior mérito foi o de
fazer também um exercício de micro-história, traçando não apenas o perfil e os
feitos de Leila Diniz, mas também explicando como era a época em que ela viveu,
e como eram os costumes femininos que ela ousou confrontar para alcançar um
nobre objetivo: a “felicidade no poder”. Ou seja: ela “apenas” quis uma maior
liberdade para a mulher de sua época se expressar e amar à maneira dela
própria, e não somente da forma como os homens, e as mulheres que replicavam o
pensamento desses homens, achavam que deveria ser.
Bom:
Leila Diniz nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro, em 25 de março de 1945, ano
em que terminavam a Segunda Guerra Mundial e o Estado Novo de Getúlio Vargas.
Sua infância foi um tanto difícil: seu pai, Newton Diniz, bancário e militante
comunista, vivia um casamento conturbado com Ernestina, a mãe biológica de
Leila; esta, sofrendo de tuberculose, foi internada em uma clínica, e, durante
algum tempo, Leila e seus irmãos mais velhos, Elio e Eli, conviveram com a nova
mulher do pai, a professora Isaura. Com esta, o sr. Newton teve mais duas filhas,
Regina e Lígia. Leila passa parte de infância acreditando que Isaura é sua mãe,
até que, anos depois, ficou sabendo da verdade, e passa posteriormente a morar
com a mãe biológica. Mas não por muito tempo: ela passa boa parte do tempo indo
e voltando por diversas casas. Mas teve suas alegrias infantis, e recebeu
educação: sua formação incluía a ideologia comunista do pai e as teorias
educacionais da escola de Summerhill, que davam plena liberdade para o aluno
fazer suas próprias descobertas. Essas teorias foram úteis quando Leila
trabalhou, por um breve período, como professora de creche, antes de enveredar
para a carreira de atriz. No colégio que frequentou, no entanto, não foi muito
boa aluna: ela entrou no Instituto Souza Aguiar em 1957, escola de disciplina
rígida, já que era regido por freiras, mas abandona a escola em 1963, com um
boletim cheio de notas vermelhas. E, desde a infância, quando começou a fazer
terapia psicológica, até o fim da vida, cultivou o hábito de manter diários,
que, por si só, constituem ótimas fontes para compreender seu modo de pensar.
Esses diários, até hoje, permanecem inéditos ao público, pelo que consta, em
poder de uma de suas grandes amigas, a atriz Marieta Severo, e ainda não foram
liberados. Para ter contato com o pensamento de Leila Diniz, ainda nos resta,
de acessível, tudo o que foi publicado a seu respeito na imprensa, incluso
entrevistas que ela deu para diversas revistas, como Manchete e Realidade.
Sua
vida sexual na adolescência foi ativa. Em vida, teve diversos casos amorosos –
sua primeira relação sexual foi com o músico Sérgio Ricardo, que ficou
conhecido por quebrar um violão no palco durante uma apresentação dos Festivais
de Música Brasileira – e foi casada duas vezes. Seu primeiro casamento, muito breve
– durou apenas dois anos – foi com o cineasta Domingos de Oliveira, que, apesar
da separação, sempre teve respeito pela atriz, tanto que, no ano seguinte à
separação, escalou-a para estrelar seu mais pretenso filme, Todas as Mulheres do Mundo, de 1966. O
segundo casamento não foi bem um casamento, já que não foi oficializado no
papel: ela foi morar, em 1970, com o cineasta Ruy Guerra, com quem teve a única
filha, Janaína. E ainda teve breves casos, entre outros, com o também cineasta
Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, com Tarso de Castro, uma das principais cabeças
do hebdomadário O Pasquim, com o ator
Arduíno Colasanti e, pelo que consta, com o diretor Nelson Pereira dos Santos,
o precursor do Cinema Novo. E ainda conviveu com o poeta Manuel Bandeira. E ainda
teve sua vida salva pelo conservador apresentador de TV Flávio Cavalcanti. E...
Como
atriz, ela acumulou diversos trabalhos em cinema, tevê e teatro, e chamando
bastante a atenção graças à sua beleza – mas nem todos esses trabalhos foram
salvos para a posteridade. Sua estreia como atriz foi em uma peça infantil, Em Busca do Tesouro, em 1964 – e ela
quase desistiu: não queria subir ao palco por medo, mas a insistência dos
amigos foi maior, selando um destino. A partir daí, não parou mais: atuou em
novelas das redes Globo e Excelsior. Na época em que começou a atuar na TV, em
1965, a Globo ainda vivia a fase dos folhetins melodramáticos e afastados da
realidade, coordenados pela cubana Glória Magadan, que também era uma
especialista em “testes do sofá” (isso consta no livro, sério). Bem: entre
outras, Leila atuou em Ilusões Perdidas,
Paixões de Outono, O Sheik de Agadir e
Anastácia, A Mulher Sem Destino, que
marcou a estreia da novelista Janete Clair (é, aquela novela do terremoto que
lhe deu um “reset”) – porém, nenhuma
das novelas em que Leila atuou chegou à posteridade, supostamente seus
registros foram destruídos em um incêndio nos arquivos da Globo. Mais tarde, em
1968, Leila troca a carioca Globo pela Rede Excelsior, de São Paulo, e sua
última novela foi na Rede Tupi, do Rio de Janeiro. Mas foi no cinema que Leila
teve mais trabalhos. Como atriz principal, praticamente só no já citado Todas as Mulheres do Mundo; nos outros,
apenas papeis secundários, porém significativos. Atuou em Edu Coração de Ouro (1967), também de Domingos de Oliveira, A Madona de Cedro (1968) e Corisco, o Diabo Loiro (1969), ambos de Carlos Coimbra, Os Paqueras (1968) de Reginaldo Faria, Fome de Amor (1968) e Azyllo Muito Louco (1969), ambos de de
Nelson Pereira dos Santos, O Donzelo (1971)
de Stefan Wohl, Mãos Vazias (1971),
de Luiz Carlos Lacerda... só para citar alguns. Seu último filme, Amor, Carnaval e Sonhos (1972), de Paulo
César Saraceni, foi lançado depois da morte da atriz. No teatro, ela teve
atuações na revista Tem Banana na Banda, no
Teatro Poeira de Ipanema, Sem Asteriscos,
na Boate Sucata (ambos em 1970) e no musical Vem de Ré que eu Estou de Primeira, em 1972. E ainda faz parte do
júri de calouros nos programas de Flávio Cavalcanti e Sílvio Santos. Ah: mas
nenhum desses trabalhos deu dinheiro de verdade para a atriz – no máximo, só
ajudavam a pagar as contas. Mas, nos bastidores, ela se divertiu bastante,
enquanto entornava copos de cachaça – ela teve problemas com alcoolismo. Sua
fase mais divertida foi quando trabalhou com Nelson Pereira dos Santos em sua
fase cinematográfica na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro. E cultivou amigas
leais, como as atrizes Ana Maria Magalhães, Marieta Severo e Betty Faria, que
as ajudariam nos momentos de desespero. Aliás, foi ideia de Betty Faria a
montagem do espetáculo Sem Asteriscos, realizada
um ano depois da polêmica entrevista para O
Pasquim (já volto a esta parte), e onde a atriz teve alguma liberdade em
falar o que bem entendia.
O
lar da atriz, apesar dos períodos passados em São Paulo, Paraty e Petrópolis,
foi mesmo o Rio de Janeiro e sua orla marítima. Por um pouquinho, não seria ela
a “Garota de Ipanema” de Tom Jobim e Vinícius de Moraes – Helô Pinheiro passou
na frente; embora Leila estivesse mais para a “Garota Papo Firme” do então Rei
da Juventude, Roberto Carlos. Leila Diniz sempre gostou de nadar, e nunca abriu
mão dessa forma de distração, mesmo quando o governo militar (instaurado em
1964, como todo mundo sabe) começou a pegar no seu pé. Ela circulava muito
pelas praias de Copacabana e Ipanema, para onde se muda e passa a morar em
1965, após a separação, e conviveu bastante com as personalidades que
circulavam por lá, incluindo a patota d’O
Pasquim. E foi em Ipanema que Leila montou, com uma sócia, uma butique, que
ajudaria a contornar sua situação financeira difícil.
Quatro
momentos foram os divisores de águas na carreira de Leila Diniz. O primeiro foi
o já citado filme Todas as Mulheres do
Mundo, pelo qual ganha o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de
Brasília, e pelo qual passou a ser conhecida como sex symbol nacional. Apesar
de ser pretensamente um filme filosófico, uma reflexão de Domingos de Oliveira
a respeito do amor, na forma de uma descompromissada comédia. Pena que o
pessoal engajado do Cinema Novo se impôs e suplantou essa iniciativa.
O
segundo momento foi em novembro de 1969, quando Leila Diniz é entrevistada para
o 22º número do jornal O Pasquim. Sua
entrevista é pontuada por palavrões, estrategicamente substituídos por
asteriscos pelos editores (O Pasquim também
era muito visado pelo Regime Militar, vocês sabem), e pela exposição franca da
visão de mundo da atriz, bem como de suas ideias sobre sexualidade. Foi o
suficiente para que praticamente todos os setores influentes da sociedade
nacional ficassem contra ela: as feministas, que julgaram que ela fazia o jogo
dos homens; os partidários da esquerda, que achavam o papo sobre sexualidade
uma alienação; a direita, que a classificou como vagabunda (onde já se viu, uma
atriz da Globo falando palavrão abertamente? Ainda mais em época em que moça
“direita”, moça que realmente vale a pena ver em sociedade, era a que só fazia
sexo depois do casamento); e, claro, a polícia política, que passou a
persegui-la. Leila já havia sido presa algumas vezes, e depois solta, por
motivos menos graves que a subversão, durante as filmagens de alguns de seus
filmes, mas desta vez parecia que não iria escapar da repressão. A Rede Globo
não iria mais oferecer trabalho: alegam-se três motivos, sendo verdadeiro
apenas um. O primeiro, porque Janete Clair, que havia, afinal, conseguido
estabelecer uma nova estética para os folhetins televisivos (livre da cartilha
de Magadan) havia afirmado que em suas novelas não haveria papel para
prostituta; o segundo, porque a própria Rede Globo havia sido orientada pelo
Regime Militar a não dar trabalho para Leila; e o terceiro, alegação da própria
Rede Globo, que fora a própria Leila que cuspira no prato em que comera, quando
ela largou a emissora e foi para a Excelsior, em busca de melhores vantagens
financeiras.
De
todo modo, Leila Diniz teve de encarar um júri em rede nacional: os jurados do
temido programa Quem Tem Medo da Verdade,
da TV Record, a consideraram
culpada, mesmo ela tendo chorado em cena. E Leila entrou em depressão –
enquanto que uma emenda constitucional decretada pelo Governo Militar, a
respeito da publicação de “obscenidades” em veículos de comunicação, acabou
conhecida como “Decreto Leila Diniz”.
O terceiro
momento foi em 1970, quando conseguiu trabalho na Rede Tupi do Rio de Janeiro.
Na ocasião, foi acolhida pelo polêmico apresentador Flávio Cavalcanti como
jurada em seu programa de calouros. O momento exato foi no dia 22 de outubro,
quando, para pagar uma aposta com o apresentador, Leila desfilou com um biquíni
prateado na Avenida Rio Branco, em pleno horário do almoço. As fotos daquele
momento ficaram eternizadas. E Leila quase foi presa no meio do programa do
apresentador, mas Cavalcanti conseguiu, estrategicamente, salvar sua pele,
fazendo-a escapar escondida durante o intervalo, e acolhendo-a durante alguns
dias em sua casa, em Petrópolis, até baixar um pouco a poeira. Convivendo com a
família de Cavalcanti, Leila não tinha muito que fazer para se distrair, mas
ela conseguiu aguentar.
E o
quarto grande momento foi em agosto de 1971, quando o número 121 de uma revista
feminina ainda iniciante e algo comedida em suas pautas, chamada Cláudia, da Editora Abril, que só
posteriormente se tornaria referência em pautas feministas, escandalizou, tanto
quanto a própria Leila Diniz, ao publicar fotos desta no mar, usando biquíni, e
ostentando a barriga da gravidez de cinco meses. Acontece que, na época, as
grávidas eram obrigadas a esconder a barriga por baixo de batas, por puro pudor
e preconceito. Foi muita ousadia tanto de Leila Diniz como da então editora de Cláudia, Maria Helena Malta (amiga da
família Diniz), e do fotógrafo Joel Maia, e a iconografia da mulher brasileira
“que sabe o que quer” ganhou mais uma bela imagem para a posteridade. Quatro
meses depois, Janaína Diniz Guerra nascia, o que foi fator determinante para
que Leila Diniz largasse o cigarro e as bebidas alcoólicas. A filha foi a maior
alegria da vida de Leila, que sequer largava mão de amamenta-la no seio nos
intervalos do trabalho, como vedete e como jurada.
Bem.
A vida de Leila foi brutalmente interrompida no dia 14 de junho de 1972: ela
havia, um mês antes, pego um avião para a Austrália, com amigos, para
participar do Festival de Cinema de Adelaide, representando o Brasil com o
filme Mãos Vazias. Porém, na viagem
de volta, Diniz foi vítima de um acidente aéreo: por barbeiragem dos pilotos, o
avião onde estava caiu nas proximidades de Nova Delhi, na Índia. Apenas cinco
passageiros sobreviveram; Leila não estava entre eles. Janaína se encontrava em
segurança no Brasil, sob os cuidados de Ana Maria Magalhães.
E,
melancolicamente, após sua morte, Leila teve seus feitos reconhecidos e foi
endeusada como musa do feminismo. Bem, o mundo mudaria muito desde então e tudo
que era chocante na época de Leila Diniz hoje se tornou banal. Hoje ainda há
quem se escandalize em ver uma mulher amamentando no seio em público, mas creio
que vocês me entenderam.
E,
bem: foi a cantora Rita Lee, em uma de suas canções, chamada apropriadamente Todas as Mulheres do Mundo, que afirma
em seu refrão: “Toda mulher quer ser amada / Toda mulher quer ser feliz / Toda
mulher se faz de doida / Toda mulher é meio Leila Diniz”. Levante a mão quem,
dentre as mulheres incluídas entre meus 17 leitores, não concorda.
Além
do texto bem-humorado e descontraído do autor, um dos méritos do presente livro
foi o caderno iconográfico muito rico em imagens, incluindo as fotos mais
célebres, o que torna a leitura desta biografia uma experiência agradável. Que
tempos, aqueles.
PARA ENCERRAR...
Ando
meio emburrado por esses dias, por causa da situação nacional.
Consequentemente, ando meio sem ideias boas para continuar cumprindo meu
compromisso de desenhar todos os dias deste ano. E, sem saber ao certo o que
colocar, que combinasse com o tema desenvolvido, resolvi, mesmo, redesenhar
duas tiras de meus personagens praianos, os Bitifrendis. Adaptadas para um novo
formato, que está sendo o mais comum para publicação de tiras na internet. E
ambas a respeito de grávidas de biquíni. Uma é da primeira temporada de tiras;
outra é da segunda.
Abaixo,
eis as tiras originais, para efeito de comparação. E, frise-se: como meu traço mudou desde a década de 2000 até este presente ano. E como minha maneira de lidar com o Photoshop também mudou - digo, o modo como faço retoques nos desenhos escaneados.
E
ficamos nisso, por hora. Em breve, novidades.
Até
mais!
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