segunda-feira, 12 de março de 2018

MACÁRIO - Capítulo 30: "As Tentações de São Macário (III)"

Olá.
Quinze dias se passaram. Hoje, segunda-feira enquanto escrevo, é dia de episódio novo de meu folhetim ilustrado, MACÁRIO.
O episódio de hoje foi concluído em cima da hora, texto e ilustrações. Por isso a qualidade dos desenhos, notem, está mais baixa, admito... Podem dizer que está...
ATENÇÃO: conteúdo não recomendado para menores de 18 anos. Contém cenas de recursos tecnológicos impossíveis, linguagem de baixo calão, conteúdo sexual, consumo indiscriminado de fast-food e maus modos alimentares.



O dia que eu estava vivendo só podia ser um daqueles pesadelos que ultimamente eu andava tendo.
Visitado, e “visitando” os “monstros” que agora faziam parte de minha convivência!
Sequestrado, duas vezes!
Uma, por uma gangue, de motocicleta.
E agora, por uma... uma...
Quem eram meus captores agora? Quem veio me buscar em uma limusine?!
Só lembro que, enquanto eu fugia da casa onde se refugiavam os Animais de Rua, gangue liderada por Fifi, fui abordado por uma pequena limusine, e puxado para dentro.
E estava escuro lá dentro. Os vidros escuros bloqueavam totalmente a luz externa.
Será que eu estava mesmo dentro de uma limusine? Será que eu havia perdido os sentidos e agora estava acordando em algum quarto escuro? Mas o espaço de tempo parece ser curto demais para...
- Ei, Macário, relaxe. Somos nós.
Uma voz familiar se fez ouvir ali dentro.
Uma luz se acendeu, afinal.
Uma luz tênue, como a da lâmpada interna de um automóvel.
Na verdade, pareciam várias lâmpadas internas de automóvel, se acendendo de repente, como num céu estrelado.
Com a visão acostumada à claridade, depois de alguns segundos, acabei distinguindo o sorriso irritante de Luce, bem ao meu lado.
- Luce?!
- Que bom que encontramos você, meu amor. – ele falou, sorrindo.
- Mas o que está aconte... – comecei a perguntar, e...
Olhei para a frente, e levei um grande susto: diante de mim, estava a carranca careca, gorducha e doentiamente sorridente de MC Claus. Segurei o grito, e tive de fazer esforço para segurar o esfíncter, para não urinar nas calças.
Sentado como um rei em um trono, coberto com um grande casaco de pele clara, aberto. Como convém a um rei, ou melhor, a um Duende Rei – se Âmbar falou mesmo a verdade sobre sua natureza. Os grandes pés dentro de coturnos enormes. Estava em sua aparência humana, mas não menos assustador. Só não ocupava o espaço inteiro do banco onde estava sentado porque haviam duas mulheres ladeando-o.
Uma delas era Âmbar, que me olhava tristemente, numa expressão de “juro que eu não queria ter de fazer isso, me perdoe, por favor”.
A outra era uma morena, com um penteado elaborado à moda grega, e usando um vestido comprido, até os pés, parecendo uma sacerdotisa de templo grego. Joias enfeitavam seu semblante. Perto dela, Âmbar parecia nua, com suas roupas muito curtas e a meia arrastão. Devo supor que se trata da ninfa com a qual MC Claus é “oficialmente” casado, irmã de Âmbar.
MC Claus, perto das duas mulheres, parecia um gigante. Maior até do que Luce e eu, na verdade.
- Beleza, Macário? – cumprimentou MC Claus, com um sorriso enorme.
- Gããã... – não consegui articular uma resposta.
- Hã... oi, Macário, não se preocupe que está tudo bem agora. – falou Âmbar, com um sorriso desajeitado. – Você está entre amigos.
- Huuh... Tu... tudo bem? – gaguejei.
- Aê, Macário, desculpa o susto, viu? – continuou MC Claus. – Eu mesmo levei um susto quando recebi um telefonema da Âmbar...
- Sim, Macário – falou Luce – ficamos preocupados quando você foi capturado pelo cara da motocicleta. Foi um susto. Nem eu estava prevendo isso, viu? Fiquei sem reação, uau. Foi tudo tão rápido. Mas ainda bem que reconheci a motocicleta, só pode ser aquela sacana da Aura. E o motoqueiro devia ser o Ringo, só posso pensar em um ser capaz de capturar um homem com a motocicleta em movimento. Só se tivesse quatro braços para isso, se fosse um homem humano, ele pararia a moto antes de capturar a pessoa. Às vezes pergunto onde estava com a cabeça quando convidei os Animais de Rua, esses anarquistas, para fazer parte do nosso círculo... – e deu outra risada.
- Pois é, Macário. – falou MC Claus. – Eu tava bem tranquilo, cuidando dos meus negócios, em companhia da minha mina aqui... ah, a propósito, esta daqui é a Anfisbena, minha mulher. – e apontou para a morena, que me olhava maternalmente, como se eu fosse um filho seu que recém voltara de um cativeiro.
- Prazer em conhecer você, Macário. – falou Anfisbena, com uma voz suave e ao mesmo tempo grave, como a de uma mãe, erguendo a mão em um aceno. – Ouvi falar muito de você, minha irmã aqui fala muito de você. – e apontou para Âmbar.
Âmbar corou. Lembrei das irmãs de Morgiana, do jeito como elas também falaram que ela também falava muito de mim. Só faltava ela revelar que Âmbar tocava uma s(...) à noite, enquanto dorme, pensando em mim...
- Hããã... pra... prazer... Aaaanfissssss... Anfissssbena... – falei, retraído. Tanto que pronunciei o “s” como o sibilar de uma cobra, ainda que sem intenção.
Mas Anfisbena sorriu para mim, com um jeito de “está tudo bem, meu querido, não foi nada”.
Fiquei desconcertado. Anfisbena era tão linda quanto a irmã, apesar de aparentar ser mais velha. Será que era mais velha, ou talvez mais nova? Se for mais nova, talvez sua aparência de ser mais velha se deva a uma vida sexual muito agitada... E o vestido deixava transparecer que ela também tinha seios grandes – não tão grandes quanto os de Âmbar, mas eram volumosos e firmes. Agora fiquei apreensivo: pode esperar, Macário, que logo você vai receber uma visita dessa “mulher de Atenas” nos seus sonhos, via portal mental.
- Bem, como eu ia dizendo – continuou MC Claus – Eu tava lá com meus negócios, e aí recebo um telefonema dizendo que você foi raptado... Não tive dúvidas, vim correndo. Peguei a limusine e vim correndo.
- Bem, me pergunto por que a Âmbar chamou o Claus aqui, já que eu estava de carro, e podíamos muito bem procurar você sozinhos... – falou Luce.
- Queria ter certeza de que o sequestro não foi armação sua, Lúcifer. – respondeu Âmbar, com a cara amarrada. – E você não tentasse tirar o corpo fora na hora que tentássemos localizar o Macário, isso seria uma prova contra você.
Não foi uma resposta convincente. Até eu teria ponderado melhor uma atitude assim. Mas acho melhor não perguntar nada.
- Eu já disse que até eu fiquei surpreso. – respondeu Luce. – Te garanto, não tem dedo meu na história. Masss... – ele sibilou, em minha direção, como uma cobra. – Diz aí, Macário. O que aconteceu, exatamente? Foram os Animais de Rua que te...
- Um momentinho... – interrompi. – Onde estou, exatamente?
Agora que eu estava distinguindo o ambiente ao meu redor – estava mais concentrado nas pessoas que no ambiente. O ambiente em que eu me encontrava estava longe de ser o interior de uma limusine. Parecia que estávamos no interior de uma sala vip de uma boate, mal iluminada, e com estrelas ao redor, provenientes de algum globo de vidro espelhado... mas o local estava muito silencioso, sem música alta... ei, pensando bem, parecia que estávamos mesmo flutuando no espaço sideral, entre estrelas, tão minúsculas que pareciam vaga-lumes, sentados em algo que pareciam dois sofás circulares, um de frente para o outro. Em um, sentavam-se MC Claus, Âmbar e Anfisbena, quase apertados; no outro, Luce e eu. Por nós, passou até um cometa.
- Oh! – exclamou MC Claus. – Aqui é a minha limusine.
- Sua... limu... mas... mas... – gaguejei. Não pode ser!
- Ei, Macário, nunca ouviu falar daqueles locais que parecem maiores por dentro do que por fora, como em muitas séries de ficção científica? – perguntou Luce. – É isso aí, estamos meio que em outra dimensão, mas dentro da limusine do MC Claus!
- Hããã... verdade? – perguntei, desconcertado.
- Verdade. – falou MC Claus. – E, olha, o que é a tecnologia. Apenas ganhou um toque de mágica de uns... cinco séculos atrás. Aqui, parece que estamos flutuando no espaço, certo? Mas dá pra customizar o cenário, olha...
E puxou, de dentro do casaco, um controle remoto cinza e quadrado. Apertou um dos botões, e, magicamente, o cenário ao redor se modificou. De repente, estávamos sentados em um pequeno coreto de pedra, com uma floresta muito colorida e florida ao redor. Flores e galhos despencavam acima de nós. Estávamos agora dentro de um cenário de pintura do período romântico. Arregalei o olho.
- Tá vendo só? – perguntou MC Claus. – Olha só isso...
E MC Claus foi apertando os botões do controle, e, a cada toque, o cenário se modificava. No segundo toque, o interior da limusine (se é que era mesmo o interior de uma limusine) se transformou em um cenário de fundo do oceano, conosco flutuando dentro de uma bolha de ar, secos, peixes e bolhas de água circulando ao nosso redor; depois, o cenário mudou para um templo grego, com pilastras e tudo; depois, um cenário árabe, o interior de um celeiro de fazenda (sentados sobre fardos de palha), uma amostra da floresta amazônica (nós sentados sobre montes de pedras e troncos, cercados de floresta tropical)... cada cenário parecia muito amplo ao redor. Ao último toque do controle remoto, estávamos em um cenário romano, todos nós reclinados em divãs típicos das casas da elite da Roma Antiga – triclínios, como chamavam, aprendi isso com uma garota do curso de História, com quem saí. Luce até se espreguiçou no seu.
- Aah... eu gosto mais deste aqui. – falou Luce, as mãos atrás da cabeça.
- E aí, Macário, quer escolher um cenário? Qual que fica melhor para você? – perguntou MC Claus.
Eu ainda estava surpreso, mas meio que sabia o que realmente queria.
- Hãã... acho que vou escolher... o interior de uma limusine, mesmo. Tem?
- Hein? – MC Claus parecia surpreso. – Ter tem, mas...
- Só para ter certeza de que estou dentro de uma limusine e... bem, preciso de um tempinho para me acostumar. Digo, se o nosso acordo inclui passeios constantes na limusine... o acordo que Luce e eu... hã...
- Ah, entendo, esqueci que você é novo aqui....
E, ao novo toque do botão, o cenário mudou. Agora sim era o interior de uma limusine. Um cenário familiar. Um interior todo de branco e tons claros, até os bancos eram claros. Porém, os vidros da limusine eram muito escuros, criando o contraste, e mais ainda porque já anoitecia lá fora – uma limusine que devia ser cenário de muitos encontros... hum... íntimos. Não duvido que MC Claus transava com seu harém dentro da limusine, às vezes. Mas as luzes internas estavam acesas, tornando o local bem iluminado. E a cabeça de MC Claus batia no teto. Ele precisou abrir o teto solar para poder acomodar melhor a cabeça. Estava com a testa para fora.
- Interior de uma limusine, Macário?! – perguntou Luce, indignado. – Por que não deixou o cenário romano?!
- Eu preferia o coreto. – manifestou-se Anfisbena, timidamente.
- Ah, Lúcifer, o Macário só está conhecendo agora o recurso, deixa ele se acostumar. – falou Âmbar, com um sorrisinho.
Estava me sentindo aliviado em ver Âmbar em minha defesa, e MC Claus lhe dirigindo um olhar compreensivo, guardando o controle remoto no casaco. E, mais ainda, de ter conseguido tirar, por um momento, o sorriso do rosto de Luce.
De repente, ouvimos um ronco muito alto. Todos olharam em volta, e eu olhei para baixo, pois sabia de onde vinha o som. Era o meu estômago.
- Nossa, Macário. Tudo isso é fome?! – falou Anfisbena.
- Hã... sim. Desde que saí de casa, eu não como. E os Animais de Rua, bem, nem comida ofereceram... Nem mesmo coisa catada do lixo... E eles dizem que catam comida do lixo...
- Eca! Lixo?! Sério mesmo? – enojou-se Anfisbena.
- Sem crise, amigão. – e MC Claus se dirigiu para a frente: – Joulralbo, toca pra lanchonete.
Olhei para trás. Por trás de uma janelinha aberta, dava para ver o motorista da limusine. O motorista se voltou para trás e olhou para nós: ele tinha cara de duende velho, com um rosto enrugado e orelhas pontudas, e usava um quepe. Talvez fosse um elfo negro, assim como Breevort. Nem tatuagem no rosto tinha.
- Qual delas, chefe? – perguntou o motorista.
- Na de sempre, Joulralbo. Que pergunta.
- Desculpe, chefe. Agora mesmo. – respondeu Joulralbo, solenemente. E, voltando para mim: – Prazer em conhece-lo, Sr. Macário.
- Hã... o prazer é meu... Joul... Joulralbo. Acertei?
O motorista acenou com a cabeça – acertei seu nome! – se voltou para a frente e deu partida na limusine.
- Meu motorista particular, Joulralbo. – falou MC Claus. – É, também é um elfo negro. Ele vai nos levar para fazer um lanche.
- Mas... mas... – falei, lembrando de repente – Eu vou perder aula na faculdade se eu...
- Fique frio, meu bem. – falou Luce, ao pé do meu ouvido. – Esta limusine também tem recurso de relatividade do tempo. Aqui dentro, uma hora; lá fora, cinco minutos. Entendeu? Outro recurso comum na ficção científica, sabe?
- Isso mesmo. – falou Anfisbena. – Você não chegará atrasado na sua aula, e ainda por cima tem lanche. A gente paga. Né, amor? – batendo levemente no braço de MC Claus com o cotovelo.
- Sim... – falou MC Claus, e pude ver que ele fizera um grande beiço. Decerto não se agradou da ideia de me pagar um lanche. – De toda forma, tenho fome também. O que vocês vão querer?
Mal MC Claus terminou a pergunta, o vidro da limusine, ao lado de Anfisbena, se abriu automaticamente, e eu pude ver que estávamos diante de uma lanchonete sistema drive-thru. A atendente de rosto jovem e monótono nos olhava.
- O que vocês vão pedir? – perguntou.
Âmbar e Anfisbena falaram algo nos ouvidos de MC Claus. Depois, ele se manifestou para a atendente:
- Dez cheeseburgers sem cebola, dois x-saladas também sem cebola, dez porções de fritas, doze sucos de uva e... – voltando-se para Luce e eu: – rapazes, o que vão pedir?
- Um hambúrguer duplo – falou Luce – com todas as cebolas que ele não quis. E um refrigerante de cola.
- Eu... eu acho que vou querer um x-salada simples. Com... com cebola. E um refri de laranja. – gaguejei.
A atendente não pareceu surpresa com o que via no interior da limusine. Um empresário de hip-hop grandalhão, com duas garotas e dois rapazes lhe acompanhando, pedindo hambúrgueres de dentro de uma limusine. Talvez ela recebesse clientes excêntricos o tempo todo. Ou MC Claus era um cliente fiel da lanchonete.
O pedido não demorou nem dois minutos para vir a nós. MC Claus fez o pagamento por cartão de crédito. Tudo veio em uma grande bandeja, que MC Claus apoiou sobre as pernas largas, equilibrando os hambúrgueres embrulhados em papel estampado, as batatas fritas dentro de saquinhos, os copos de suco, todos com canudinhos, equilibrados com cuidado para não derramar. Os pedidos de Âmbar, Anfisbena, Luce e eu vieram dentro de sacos de papel pardo, as bebidas em copos plásticos com canudos.
Depois, MC Claus ordenou ao chofer que tocasse para a faculdade. Em que parte da cidade estávamos? Ei, devemos ter parado no outro lado da cidade, mesmo, pois a lanchonete ficava distante da faculdade. Eu sei: reconheci o local através do logotipo no meu saco de papel. Já estive ali uma vez, há algum tempo, quando fui visitar uns amigos que moravam por aquelas bandas. Mas nem pareceu que havíamos rodado tanto.
As garotas ficaram com os x-saladas e dois sucos de uva – não quiseram batatas fritas. Âmbar havia dito que era vegetariana na maior parte do tempo, então um hambúrguer x-salada devia ser o “pé na jaca” costumeiro. Eu peguei o meu e comecei a comer, com apetite. Estava saboroso. Me surpreendi em ver Luce comendo o seu, e com bastante cebola, o cheiro chegando até o meu nariz (Âmbar, MC Claus e Anfisbena até fizeram cara feia, decerto não suportavam cebola) os pedacinhos da cebola frita pendurados em sua boca como se fossem vermes. Será que, em condições normais, a cebola afetava vampiros tanto quanto o alho? Acho que não. E só de lembrar que, logo depois, Luce deveria vomitar o que comeu...
- Aah, eu gosto desta lanchonete! – exclamou MC Claus, atacando os hambúrgueres que, evidentemente, eram para ele. – Eles fazem uma excelente comida! Nunca tinha comido aqui, Macário?
- Hã... sim, duas vezes, mas foi há mais de um ano. – falei, timidamente. – Mas eu prefiro preparar os meus hambúrgueres, quando tenho vontade de comer hambúrguer.
- Como é que é? – falou Luce. – Você também é cozinheiro?!
- Sim, mas só para o básico. Preparar arroz, carne, ovo frito... comida trivial. Por que me olham assim? Acham que eu sou um chef?
- Ah, deixe de ser modesto, Macário. – falou Âmbar, mordendo seu hambúrguer com um olhar lânguido. – Quem sabe fazer drinques também deve saber fazer comida perfeitamente.
- Hã... eu encaro como sendo coisas diferentes. – respondi. – Drinques é uma coisa, comida de restaurante é outra, se é isso que está pensando. Sou um universitário, costumo jantar em restaurante universitário...
- Ah, mas agora fiquei curiosa em ver como você faz hambúrguer... – falou Âmbar.
Engoli em seco. E mordisquei meu hambúrguer. Mas me deu uma ânsia, de repente, em ver a forma como MC Claus devorava seus lanches. Sendo grande e gordo, e algo monstruoso, talvez não pudesse ser de outra forma. Ele comia com voracidade, feito um ogro, deixando cair pedaços não mastigados de hambúrguer e batatas fritas sobre a bandeja e a roupa, fazendo sujeira. Ainda bem que não havia pedido catchup, mostarda ou maionese extras. Nem vou falar do modo como bebia seus sucos. Mas as garotas nem pareciam se importar. Apesar de elas, sim, estarem se portando como damas enquanto comiam seus hambúrgueres com as mãos, e sorviam goles de seus sucos.
- Fale mais, Macário. – falou Luce, melifluamente, ao pé do meu ouvido. Não é possível que ele esteja tentando me assediar!... – Como são seus hambúrgueres? São bons? Já cozinhou para alguém além de você mesmo?
- Já, sim. – falei, de má vontade. – Uma garota, dia desses, me fez preparar três hambúrgueres quando foi para minha casa. E comeu tudo, ainda por cima.
- Então os seus hambúrgueres devem ser bons mesmo...
- Que é isso. É hambúrguer feito de peças de carne daquelas que a gente compra no mercado. Qualquer um pode fazer a partir de produtos prontos. Pão, hambúrguer, queijo... Tudo comprado do mercado.
- O que é a modernidade, não é mesmo? – falou MC Claus, de boca cheia. – Hoje em dia são poucos (mastiga) que se arriscam a preparar tudo do zero. (engulho) Hoje podemos encontrar tudo pronto. (mordida) Mas bem que a gente gostaria de saber (mastiga) as receitas que usam. (engulho) Como as dos hambúrgueres desta lanchonete. (arroto) Ainda não encontrei melhor nesta cidade. (mastiga)
- Sabemos, querido. – manifestou-se Anfisbena, com um sorriso irônico. – Mas precisa comer desse jeito diante do Macário?!
- Eu? Ah... oh... (engulho) Desculpa aí.
A partir daí é que MC Claus começou a comer mais civilizadamente, com calma, usando até guardanapo. Mas ainda assim, foi em pouco tempo que ele terminou sua bandeja. Logo, só sobravam dois hambúrgueres e um saco de fritas em suas mãos.
Embora aparentasse ser submissa, Anfisbena demonstrava ter algum controle sobre as ações do marido. Se não fossem as sugestões da esposa, MC Claus não teria moderação. Talvez Âmbar fizesse o mesmo, acho que já vi ela fazendo o mesmo no bar. É, lembro que ela havia pedido, com carinho, para que o gordo não revelasse intimidades suas. Bem, no caso de Anfisbena, sua imagem de “mulher de Atenas” e suas atitudes criavam um contraponto. Decerto, MC Claus queria demonstrar que era ele quem “vestia as calças” em casa, usando a expressão antiga que ouvi meu pai usar, mas não se duvidava que, por baixo do vestido, Anfisbena escondia as “calças”.
Mesmo assim, depois dessa, eu mal conseguia comer. Continuei mordiscando o meu, mas engolir, depois do que presenciei, estava difícil.
- Bem, conta aí, Macário. – pediu Luce. – Conte o que você passou com os Animais de Rua. O que aconteceu, para você ter saído correndo daquele jeito? Eles tentaram te devorar?
- É isso aí. – manifestou-se MC Claus, de boca cheia. – Dependendo do que disser, (mastiga) vou ter uma conversa com aqueles meninos. (engulho) Onde já se viu, raptarem um rapaz desse jeito... e pensar que o disco deles está sob minha responsabilidade... (mordida)
- Bem, eu... – comecei.
E fui contando o que aconteceu. Sobre os membros que conheci, sobre Morgiana estar por lá (Âmbar até ficou surpresa: “aquela piranha!!”), sobre o show que a gangue fez, sobre a tentativa de sedução de Fifi (“oh, o que aquela tampinha estava pensando?! Tarada!!”, exclamou Âmbar), depois sobre a aparição repentina de Morgiana (“uma piranha, mesmo!!”, vociferou Âmbar) e a tentativa de Aura em me seduzir (“não falei que ela era sacana?”, falou Luce) e da minha fuga dali. Todos ali me ouviram atentamente. Apenas MC Claus e Anfisbena não fizeram comentários, só me observavam.
- Depois dessa – concluí – acho... acho que estou com... com... com medo das mulheres! – e senti uma lágrima correndo por meu rosto.
- Medo de mulher, Macário?! Como assim, mano?! – exclamou MC Claus. – Tô te estranhando, e sempre que eu ouço falar de você dizem que você é um garanhão...
- Bem... Sim, mas... Mas, depois dessa... de tantas garotas me atacando assim, em um único dia, como lobas em cima da carne... e o tanto que tive de repelir investidas... elas queriam fazer coisas impublicáveis comigo. É isso aí: impublicáveis! (soluço) Só querem meu corpo, e eu... (soluço) Eu não sei por que eu... (soluço) Logo eu... (soluço)
Comecei a chorar de raiva, ainda com metade do meu hambúrguer na mão, o copo de refri na outra, prestes a esmaga-los com meus dedos. Âmbar ficou vermelha. Anfisbena começou a me olhar com pena. Luce me olhava com uma expressão de “ih, cara, estou te estranhando”. MC Claus só me olhava, sem maiores reações, enquanto mascava o último hambúrguer.
Por fim, quando eu não consegui mais falar, de tanta raiva e desespero, MC Claus engoliu o último pedaço de hambúrguer, tirou a bandeja do seu colo, coalhada de papel de embrulho, sacos de batatas fritas, copos de suco e batatas fritas que escaparam de seu “massacre”, e, com um “por favor”, passou-a para Luce, que já havia terminado o seu hambúrguer, pedindo:
- Ô, Luce, troca de lugar comigo um instantinho? Quero falar com ele.
- Ei, mas eu é que queria falar com ele...
- É só um instantinho. Cuida aí das minhas minas um minutinho. É em particular o que quero falar com ele aí. Ah, espera aí...
MC Claus pegou o controle remoto e trocou o cenário para o coreto florido.
- Assim fica melhor de me mover. – justificou.
De fato, o coreto parecia mais espaçoso que o interior da limusine. Permitiu que MC Claus se levantasse e se movesse, com todo o seu tamanho. Ele até tirou o casaco para facilitar os movimentos. O casacão ficou apoiado sobre o banco do carro, como um estofo.
E os dois trocaram de lugar: MC Claus sentou ao meu lado, e Luce sentou entre Âmbar e Anfisbena, ainda com a bandeja de restos na mão. Luce parecia liliputiano sentado em cima do casacão do Duende Rei. E mais ainda entre Âmbar e Anfisbena, que davam risadinhas ao ver o vampiro com um olhar aparvalhado. Depois, MC Claus, com outro toque no controle, fez voltar o ambiente da limusine – até o teto solar do veículo mudou de lugar, ficando agora em cima de mim.

Mas, que engraçado: MC Claus parece que diminuiu de tamanho após sentar ao meu lado. Sua cabeça não estava batendo no teto da limusine, nem houve necessidade de abrir o teto solar. Ele também tinha o poder de ajustar seu tamanho... ou será que era apenas o efeito de ele estar sem o casacão? De fato, sem o casaco, de camisa justa e com um medalhão no pescoço, MC Claus parecia mais magro.
- O que você vai falar com o Macário, Clauzinho? – perguntou Âmbar.
- Em particular, por favor. Com a licença de vocês.
Com outro toque do controle, MC Claus fez com que o banco deles virasse para trás. E uma janelinha se fechou na parte de trás do banco, impedindo que Luce, Âmbar e Anfisbena nos espiassem. MC Claus fez fechar até a janelinha do motorista. Incríveis, os recursos dessa limusine. Mas achei um tanto grosseiro, ver as garotas irem para o que parecia ser o porta-malas.
Apoiei o copo  no banco do carro, e, segurando o hambúrguer, eu olhava, amedrontado, nos olhos de MC Claus. Ele realmente diminuiu o próprio tamanho, agora parecia só um homem alto diante de um adolescente. O propósito era o de olhar melhor e diretamente nos meus olhos.
- E aí, que achou da limusine, rapaz?
- Hã... fascinante. Parece mágica. – respondi timidamente.
- E é mágica. Só adaptada para os dias de hoje. Antigamente era mais ou menos assim, também, mas era com cavernas, tocas... ah, meus tempos de natureza, quando eu era apenas um mero duende rei. – MC Claus fez uma expressão nostálgica.
- Você é mesmo um... duende rei?
- É, tipo um Alberico. Saca Anel dos Nibelungos?
- Não...
Era a segunda vez que eu ouvia falar dessa ópera, mas sem fazer ideia exatamente do que se tratava.
- Hã... depois eu explico. Agora o que quero falar é outra coisa. E vou falar assim, na forma humana, de homem pra homem.
- Sobre o quê?
- Sobre esse teu choro aí.
- Que choro? – enxuguei as lágrimas.
- Você dizendo que está com medo de mulher.
- Bem... não é um medo, medo de fato, como se eu nunca mais quisesse ver mulher, mas é que, depois de tudo que eu passei hoje...
- Diz aí, Macário... o que achou da minha mulher?
- Hein?
- O que achou da minha mulher?
- Hã... sua mulher, a Anfisbena? B... bem, ela é bonita... meus parabéns. Ela está bem conservada. Se vê que você... cuida bem dela.
Sabe-se lá se isso é mesmo verdade, mas é melhor deixar o cara impressionado, um pouco.
- Obrigado. Mas... e aí? E da Âmbar, o que você acha?
- A Âmbar?
Já estava com medo de onde aquela conversa ia chegar.
- Hã... a Âmbar é irmã da Anfisbena, não? – respondi. – Eu...
- Diz aí, Macário. A Âmbar esteve na tua casa hoje, né? No teu apê.
Engoli em seco.
- Hã... esteve. M... mas eu não fiz nada com ela. Nada, nada. Ela bem que tentou, mas não conseguiu...
- Bem que tentou o quê? – MC Claus me fulminou com um olhar terrível.
- M... me seduzir. E também a Andrômeda. Sabe, a irmã do Luce.
- A Âmbar tentou te seduzir e não conseguiu, não foi isso?
- Foi o que eu disse.
- Como é que lá no sonho tu se entregou?
- Hein?! – meu coração bateu forte.
- Eu sei, Macário. Eu também sei usar portal mental, sabe? Os portais mentais também possuem recurso de rastreio das memórias usadas por outros, em outras ocasiões. E eu sei, Macário... que tu “comeu” a minha secretária. Foi em outro mundo, mas tu comeu. E no nosso quarto!!
- Bem, eu... a Âmbar é a tua secretária mesmo?
- Também. – falou, enfático.
- Bem, eu... – eu suava frio. – Naquela ocasião foi diferente. Mas eu, agora... eu estava pensando mesmo na minha faculdade. E... e...
- E diz aí, como foi f(...) com a Âmbar no sonho?
- Quê? Eu... oh... bem, não posso negar que foi bom. Ela é... é quente, e... tem aqueles seios...
- Gosta dos seios dela?
- Oh, aqueles seios...! – tive de concordar.
Tarde demais para negar ou disfarçar. Como disse uma vez o próprio MC Claus, a m(...) já estava feita.
- É, eu também gosto. Que pena que a Âmbar às vezes dá uma de “galinha”. Quando se interessa por um carinha qualquer, se interessa pra valer. Ainda bem que não é com ela que eu sou casado, porque com a Anfisbena é bem diferente. O “passe” dela é exclusivamente meu.
- Bem...
- Que dizer então das outras irmãs delas? Aquelas lá, sim, também respiram e se alimentam de sexo. Mas sabe o que dizem, para segurar cavalo arredio e mulher em casa, é necessário um pau firme.
- Meu pai também fala algo assim, às vezes.
- A Anfisbena eu tenho que fazer de tudo pra segurar. Lembra aquele dia, Macário? Que eu te peguei no sonho? Que ‘tava você e a outra mina lá f(...)?
Oh, céus. Então ele esteve na minha mente, sim, castigando Geórgia e eu. E aquela manzorra já estava pertinho do meu ombro.
- Ah... hã... sim. Lembro. Vo... você disse que também manipulava os portais, então... você... você veio se vingar...
- Me vingar não. Só te dar um aviso. E esse aviso vale pra daqui em diante. Sabe que no portal mental, só se sai se você for morto dentro do sonho...
- Que... que aviso?
- Pra tu não tentar cortar o coração da Âmbar. Por mais garanhão que eu sei que você seja, e por mais que eu seja... hum... quem eu sou, eu odiaria ferir o coração das ninfas. Elas podem tomar a iniciativa da vingança, e aí, babau, amigão, tu já eras. Isso... se não sou eu a ter a iniciativa da vingança.
- Hã...
- Ah, mas... – mudou a expressão de repente. – Quanto às outras minas, tu podia ter tomado a iniciativa.
- Hein? – arqueei a sobrancelha.

Aqui, MC Claus abraçou meu ombro e me puxou mais para perto de si. Fiquei surpreso.
- Ah, cara, pra que tu se assustar com mulher, se elas se mostram louquinhas para se aproveitar de ti? Eu, no meu caso, se fosse ainda tão jovem quanto tu, e solteirão, eu ia com tudo pra cima das sereias, vampiras, transmorfas, licans... Ah, aqueles melões da Andrômeda... Chlep...
Ele lambeu o beiço.
- Mas... mas... mas eu sou humano, não um duende rei.
- Mas você concordou em entrar na bagunça, agora você vai ter de assumir, meu rapaz. As garotas estão doidinhas. Todas as que já puseram os olhos em ti, o garçom. E vai ter muito mais de onde saíram essas. Quem não molhou a calcinha te vendo, certamente vai molhar. O jeito é satisfazê-las como puder, enquanto nenhuma resolve te amarrar, entende?
Eu estava achando aquele papo muito esquisito, além de francamente obsceno. E contraditório. Pelo que estou apreendendo, da parte de MC Claus, eu tinha acesso a todas as garotas do grupo dos monstros... exceto Âmbar e suas irmãs. Mas não é qualquer um que me aconselharia a ir com tudo para cima das “monstras”, se elas assim quisessem.
- Pô, Macário... eu bem que gostaria de ainda ter uma virilidade e uma liberdade como a sua. Tu é forte, e másculo... um dia já fui assim também, mas hoje, olha só pra mim... Pra que ter medo de mulher se ela tenta te seduzir, rapaz? Tem é que ir com tudo, mesmo, enquanto tu está livre. Deixe ela pensar que está no controle da situação, mas, na cama, mostre quem manda!...
- Mas...
- É meu conselho: se as gostosas quiserem, vai lá sem medo. Elas são gostosas, não são? A irmã do Luce... a sereinha do cabelo preto... a baixinha jaguatirica (meu, que melões)... a magrinha que pode virar moto... se elas querem, por que não?
Estava evidente que MC Claus queria era estar no meu lugar. Decerto, o tempo e a opção pelo casamento foram cruéis para com ele – ainda que eu não saiba totalmente das circunstâncias, algo me dizia que era isso.
- As circunstâncias são outras. – respondi, corajosamente. – Eu perdi dois dias de faculdade, sabia? Não posso perder mais, nem por causa de mulheres. O que meus pais iam pensar? Eles depositam muita confiança em mim.
- Bem, aí você tem razão, você tem compromisso a cumprir. Nem só de sexo vive o homem. Eu também às vezes tenho de saber a hora de resistir. Mas... é o que eu lhe digo. Se querem, te joga. Sei que nos próximos dias haverá de ser diferente. As coisas vão ser outras. Tu estará com a agenda menos ocupada, e aí...
Resolvi encerrar logo esse assunto chato.
- Hum... vou pensar no seu conselho.
- Pensa, cara. Só se vive uma vez. Ainda mais agora que você é um dos nossos. Conosco a cobra fuma direto. Não somos tão presos a regras. Podemos ser imprevisíveis. E sabe-se lá o que o Luce pretende com você, mas pode crer que mulher é o que não vai te faltar, amigão. Vai com tudo, em todos planos de realidade.
- Hum... obrigado. Mas... e a Âmbar?
- A Âmbar... pois é. Agora essa eu não vou conseguir mais segurar. Mas que fique claro uma coisa: cuide bem dela, tá? Não deixe que aconteça nada de ruim.
- Acho que algo de ruim, só vai acontecer a mim... – falei comigo.
- Que disse?
- Nada...
- E, de preferência, ajude ela a se curar do alcoolismo. Também estou preocupado do tanto que ela bebe.
Ele parecia estar sendo sincero nesta parte.
- Hum... bem, está certo, vou tentar.
- Estamos entendidos, Macário? Se tudo der certo, você vai sair como um cara poderoso. Em todos sentidos, cara. Algo que todo homem deseja em algum momento da vida... e nós temos as chaves.
Acho que estou entendendo... mas ainda estava receoso. De qualquer modo, agora não havia volta. Fiz um pacto com o demônio. E aquele era o primeiro dia depois de feito o acordo.
MC Claus deu o assunto por encerrado no momento em que pegou o controle remoto e fez o outro banco se voltar de frente para nós. Âmbar, Luce e Anfisbena se voltaram para nós, desconcertados. Luce ainda com a bandeja de restos nas mãos, olhar aparvalhado. Assim que o banco voltou à posição, Âmbar e Anfisbena voltaram com as risadinhas na direção de Luce.
- Hã... o que vocês conversaram? – perguntou Luce.
- Só uns conselhinhos para o que vai vir daqui em diante. – respondeu MC Claus, sorrindo.
Eu não pude conter o sorriso.
Âmbar e Anfisbena pararam de rir e se entreolharam.
E, de repente, sentimos a limusine frear. E a janelinha do motorista se abriu.
- Senhor, já chegamos. O Sr. Macário vai desembarcar aqui. – falou o motorista, Joulralbo.
- Já? Ah, ótimo. – falou MC Claus. E, se voltando para mim: – Bem, pode ir pro teu curso, agora, a salvo. Depois tu vai pro bar?
- E... eu vou.
- Ótimo. Vamos pra lá hoje. Lá a gente conversa mais. Vai, que não vai acontecer mais nada. Foi muita emoção por hoje.
- Ei! – exclamou Luce. – Mas eu é que ia...!
- Depois, Luce. No bar você conversa com ele, o que quer que seja, tá, querido?! – falou Âmbar, dirigindo um irônico olhar lânguido para Luce.
Luce só pôde fazer um muxoxo. Anfisbena ergueu o polegar em aprovação.
- Depois conversamos, Macário. – concluiu MC Claus, batendo em meu ombro.
Sorri, sinceramente.
- Sim, sim. Obrigado pela carona e pelo lanche. Até. Tchau para todos... até para ti, ô Joulralbo.
O motorista me devolveu um sorriso. Decerto não era sempre que recebia consideração de alguém.
A porta da limusine se abriu, e eu saltei de dentro. Âmbar ainda teve tempo de me falar um “tchau, Macário”, antes de a porta fechar. E a limusine deu meia-volta e partiu.
Agora, deu para distinguir o modelo, que antes eu não tinha conseguido distinguir. Era uma limusine branca, daquelas dos filmes, mas só pouco maior que uma caminhonete. Quem poderia acreditar que ela tinha um espaço tão grande? Mas havia diferenças gritantes entre o lado de dentro e o lado de fora. Depois explico melhor.
A limusine me deixara na frente do campus da faculdade. Menos mal. Ia dar muito trabalho explicar a todos se me vissem saindo da limusine, se ela tivesse entrado na faculdade, parado na frente do prédio do curso de medicina. Vou ter de andar até meu curso.
Mas, estranhamente, estava feliz, apesar de tudo que passei hoje. Talvez tenha sido porque MC Claus foi compreensivo, e não levou a mal de eu ter “comido” sua secretária; ou talvez por ter visto Luce ser humilhado – algo com o qual ele não deveria estar acostumado. Foi realmente hilário ver Luce com uma bandeja de restos de comida nas mãos, olhando aparvalhado para a gente, enquanto estava embrulhado em um casacão maior que ele... e entre duas mulheres gostosas, sem poder fazer nada. Puxa, que tipo de controle MC Claus deve ter sobre Luce? Talvez seja algo a ver com negócios mútuos.
Ou talvez, eu me sentia feliz porque o “pesadelo” finalmente havia acabado. Foram tantos sustos, mas acho que vou conseguir me recuperar de pelo menos metade deles. Mas... será que os Animais de Rua estavam planejando algo contra mim, depois da fuga que empreendi? Será que Morgiana estava decepcionada comigo? Será que, depois dessa, Fifi continuaria dizendo que me amava? Será que Âmbar iria me procurar antes do fim de semana, já que MC Claus deu a entender que eu podia, sim, transar com ela... desde que eu não tocasse em Anfisbena?
(suspiro)
Havia um relógio eletrônico próximo da entrada: marcava dez minutos para as seis. Eles realmente disseram que eu não estava atrasado. Que engraçado. Mas já estava em cima da hora. Tenho de correr.
Ainda comendo o resto do hambúrguer que estava na minha mão, e bebendo o refrigerante, que estava na outra, me dirigi ao prédio do curso.
Mas ninguém garantiu que eu não tinha sido visto saindo da limusine...
- Ei, Macário! – gritou uma voz atrás de mim.
Eram meus dois colegas de curso, que sempre me interpelavam.
- Oi, Macário! Estava sumido!
- Onde andou por esses dois dias, cara?!
- Bem, eu sofri um acidente, outro acidente, e fiquei dois dias de molho. – me justifiquei.
- Puxa, espero que não tenha sido grave... não foi não, olha pra você aí, todo felizão... E quem foi que te trouxe, cara?
- E ainda por cima de limusine?!
Ih! Fui realmente visto!
- Que moral, hein, Macário?! E aí, conseguiu pegar uma dama rica, cara?
- Não. – respondi. – Foi só um freguês lá do bar que me achou no caminho e ofereceu carona. Estava agradecido pelo meu atendimento.
- E não rolou mais nada, Macário?!...
- Nada. Nem uma gorjetinha. – simulei uma indignação. – Pão duro. Achou que a carona fosse mais que o suficiente.
É, acho que consegui convencê-los.
- Que loucura, Macário.
- Você conhece tanta gente interessante...
- E nem recomenda os amigos?!
- Desculpem, caras. Primeiro a gente tem de se formar.
- Mas nem pra motorista, Macário?! Pô, eu tenho CNH...
- Desculpem, ele já tem chofer. Todos os outros já tem chofer. Agora, vamos, que eu já perdi dois dias, e me aconteceu muita coisa. E nada legal de verdade. Nem uma garota. E elas já devem estar perguntando por mim...
- Pô, Macário!...

Eu estava me sentindo bem. Não sei como, eu já estava começando a voltar a ser quem eu era. Pelo menos naquele momento. Entrei no prédio do curso me sentindo importante.

Próximo episódio daqui a 15 dias.
Vou tentar adiantar trabalho daqui em diante, para que a qualidade não caia. Escrever assim, muito em cima da hora, deixando para trabalhar nos episódios só perto do dia da publicação... Mas eu tenho motivos justificáveis para isso...
Mas até aqui, como está? Bom? Ruim? Devo mudar? Parar? Manifestem-se! Deixem opinião nos comentários!
Até mais!

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