Depois
de mais de dois meses sem escrever resenhas, hoje volto a falar de livro neste
blog. Tentar voltar a movimentá-lo.
Neste
Dia Internacional da Mulher (ainda é 8 de março enquanto escrevo), acabei
escolhendo um livro mais que apropriado. Porque esse livro trata de mulheres
famosas – e sofredoras.
Hoje
então tratarei de DIVAS ABANDONADAS.
DIVAS
ABANDONADAS, da jornalista Teté Ribeiro, foi lançado em 2011, pela editora
Jaboticaba. Em saborosas 240 páginas, a jornalista brasileira, que, na época da
publicação, segundo seus dados biográficos, residia nos Estados Unidos, e
também é radialista e psicopedagoga (saibam mais no seu site pessoal: http://teteribeiro.com.br/) relata, com breves dados biográficos e em
linguagem que evidentemente visa o público feminino leitor de revistas como Cláudia, Vogue e Nova, a trajetória de sete mulheres famosas, consideradas as
grandes divas do século XX, suas alegrias, sofrimentos e como elas lidaram com
as pressões da fama.
O
livro conta com texto de orelha do novelista Manoel Carlos e com prefácio da
modista Costanza Pascolato. Cada capítulo do livro abre com uma caricatura das
retratadas, no traço de Rodrigo Leão (também responsável pela capa acima). E
quase todos os capítulos terminam com dez curiosidades sobre as retratadas.
Teté
(atualmente grafando Tetê, com acento circunflexo) Ribeiro escolheu sete
personalidades femininas que não apenas ganharam enorme notoriedade e se
tornaram modelos para outras mulheres (e quase todas tiveram suas vidas
amplamente esgravatadas pela imprensa, em vida) como lidaram ao seu modo com as
pressões da mídia, crises depressivas e, principalmente, com as traições de
seus cônjuges – algumas casaram mais de uma vez, mas, em comum, não conseguiram
encontrar a felicidade em seus próprios lares, tendo ficado em mãos de homens
que, em grande parte de suas vidas, fizeram o que bem entenderam com elas. A
saber: a princesa inglesa Lady Di; a ex-primeira dama dos Estados Unidos Jackie
O.; a poetisa americana Sylvia Plath; a soprano greco-americana Maria Callas; a
cantora americana Tina Turner; a atriz sueco-americana Ingrid Bergman; e a
também atriz americana Marilyn Monroe. Os destinos de três delas chegaram a se
cruzar, por intermédio de seus respectivos homens; e, de todas elas, apenas
uma, no momento em que escrevo, ainda está viva, e muito bem de vida.
O
primeiro capítulo é dedicado a Diana Frances Spencer, nome de solteira de Lady
Di (1961 – 1997), a infeliz esposa – posteriormente, ex-esposa – do príncipe
herdeiro da Inglaterra, Charles. Sua vida foi considerada um legítimo conto de
fadas de final trágico, foi tão amplamente dissecada pela mídia mundial que ela
acabou se tornando o exemplo máximo de diva abandonada. E sua morte trágica, em
um acidente de automóvel, por muitos anos tornou maldito, em todo o mundo, o
ofício de paparazzo (fotógrafo “predador” de celebridades). O Príncipe Charles,
até o momento, é o único “traidor” da lista que está impune, ao lado da mulher
que realmente ama.
O
segundo capítulo trata de Jacqueline Lee Bouvier, posteriormente Jackie Kennedy
e, mais tarde, Jacqueline Onassis (1929 – 1994), grande representante do que,
nos anos 1960 a 1980, se chamava de “jet set”. Tal como Lady Di, ela já era uma
aristocrata antes da fama – enquanto que as outras retratadas tiveram origens
mais humildes. Bastante conhecida como a mais elegante primeira-dama que os
Estados Unidos já teve, a “viúva da nação” sofreu tanto aos dores de ver seu
marido, o mítico John (Jack) Kennedy traindo-a com várias mulheres (incluindo
uma das retratadas nesse livro) como vendo-o ser assassinado, diante de seus
olhos, em 1963, no mais famoso caso de conspiração da história desse país.
Porém, ela chocou o mundo ao se casar, em 1968, com o armador (empresário do
ramo de navegação) grego Aristóteles Onassis – casamento que foi mais por
interesse, já que Onassis era um dos homens mais ricos da época.
Da
escolha da autora das personalidades que fazem parte do livro, talvez a da
poetisa Sylvia Plath (1932 – 1963) seja a mais difícil de entender, visto que,
dentre todas, esta teve o padrão de vida mais modesto, não teve sua vida
coberta pela mídia, e ficou famosa, mesmo, após o seu suicídio, e seu último
livro foi publicado postumamente. O ofício de escritora e o casamento com o
também poeta Ted Hughes lhe trouxeram mais crises de depressão do que dinheiro
e fama em vida – mas Teté Ribeiro meio que alivia a parte da culpa que Hughes
teve na série de fatores que determinaram a morte da poetisa. E seu capítulo
foge do regramento dos demais: ele se encerra com um de seus poemas, ao invés
da lista de dez curiosidades.
A
seguir, temos a soprano Maria Anna Sophie Cecilia Kalogeropoulos, vulgo Maria
Callas (1923 – 1977), nascida nos Estados Unidos, filha de imigrantes gregos,
mas que viveu boa parte de sua vida na Grécia (onde teve sua carreira
controlada pela mãe) e depois na Itália, para, posteriormente, fazer carreira
no outro lado do Atlântico. Conhecida tanto pelo talento como cantora lírica
quanto pelos seus constantes ganhos e perdas de peso, bem como seu temperamento
difícil (sua apresentação no Brasil foi a mais conturbada de sua carreira), ela
conseguira, com sua fama, apagar uma mancha de seu passado – a de ter colaborado
com a ocupação fascista na Grécia, na época da Segunda Guerra Mundial, mais por
necessidade que convicção. Ela ficou famosa, também, pela tentativa frustrada
de seduzir o cineasta italiano e homossexual Luchino Visconti e pelo seu dramático
romance com Aristóteles Onassis, antes e depois do casamento deste com Jackie
O. Ah: Callas e Jackie só se encontraram pessoalmente uma única vez, mas foi
amistosamente, e antes do dito casamento.
Em
seguida, o livro prossegue com a vida e a carreira de Anna Mae Bullock, vulgo
Tina Turner (1939 - ), cantora e, eventualmente, atriz. Esta teve uma vida
marcada por uma estonteante carreira musical feita de ascensão, queda e uma
impressionante volta por cima, que praticamente superou o sofrimento nas mãos
de seu marido, Ike Turner, que a violentava e estuprava no período em que os
dois formavam a famosa dupla Ike & Tina Turner – situação que piorou quando
Ike viciou-se em cocaína. Ike bem que tentou se redimir, mas não colou. Hoje, a
cantora, que abandonou os palcos em 2000, reside na Alemanha, e ainda tem sua
popularidade assegurada.
Em
seguida, é a vez de Ingrid Bergman (1915 – 1982), uma das maiores atrizes de
Hollywood dos anos dourados (os cinéfilos lembram, principalmente, de sua
atuação em Casablanca). Iniciou sua carreira
ainda na terra natal, a Suécia, a seguir descoberta por Hollywood; sua carreira
quase foi arruinada quando resolveu largar seu marido e empresário, Petter
Lindstrom, para viver com o cineasta italiano Roberto Rossellini, por quem se
apaixonou não de tê-lo encontrado pessoalmente, mas depois de ter visto um de
seus filmes. Por causa disso, Bergman foi considerada uma “maldita” por
Hollywood, mas ela conseguiu dar a volta por cima. Sua semelhança com Tina
Turner vem do fato de seu primeiro marido ter controlado, em boa parte do
tempo, seus passos e seu dinheiro antes da separação – que também foi ruidosa.
E,
encerrando o livro, temos a história de Norma Jean Mortensen, vulgo Marilyn
Monroe (1926 – 1962), uma das maiores sex-symbols de Hollywood, e cuja morte,
supostamente acidental devido a abuso de remédios, é tão cercada de teorias
conspiratórias quanto a de seu mais famoso amante, John Kennedy (muito embora
os dois só tenham se encontrado uma vez, ao contrário do que o senso comum prega).
Tal como Lady Di e Sylvia Plath, sua vida também foi marcada por constantes
crises de depressão. Em três capítulos do livro, Teté Ribeiro faz referência ao
famoso “Parabéns a Você” cantado por Marilyn para Kennedy, em 1962, durante uma
convenção no Madison Square Garden, em Nova York.
O
livro de Teté Ribeiro só peca por algumas barrigadas na pesquisa histórica, na
repetição desnecessária de informações já dadas antes e pela omissão de algumas
informações. Por exemplo, ela passa por alto o trabalho de caridade e ativismo
de Lady Di, que a tornou querida no mundo todo – a autora se concentra mais em
sua vida pessoal, marcada por crises de bulimia e de desentendimentos com a
Família Real Inglesa; e omite que Jackie O. teve um terceiro casamento. Aliás,
o capítulo sobre Jackie O. parece ter acabado abruptamente, após o seu
casamento com Onassis, para depois ele ser “continuado” no capítulo sobre Maria
Callas, contando como foi conturbado o relacionamento de Jackie e Onassis.
De
toda forma, a leitura de DIVAS ABANDONADAS prova que dinheiro e fama não são
garantia de felicidade, principalmente para as mulheres, que, quando se tornam
famosas, são mais cobradas que as celebridades masculinas – se você cria uma
imagem para o público, você dificilmente pode se desviar dela, que o digam
Jackie O. e Ingrid Bergman. Por outro lado, se algo ruim lhe acontecer, você
pode fazer a mídia jogar a seu favor – que o digam Tina Turner e Lady Di.
Claro
que o século XX teve muitos outros exemplos de divas que bem poderiam
substituir Sylvia Plath nesse grupo, como Greta Garbo, Grace Kelly ou Ava
Gardner, e ainda mais levando em conta que a autora priorizou divas do hemisfério
norte, Estados Unidos e Europa, mas respeitamos as escolhas da autora.
Por
ser recente, não é um livro difícil de ser encontrado em livrarias e
bibliotecas. Se um homem recomenda a leitura de um livro de, para e sobre
mulheres, então vocês não vão se arrepender.
Para
encerrar, estava meio que matutando o que eu poderia colocar como ilustração
para a ocasião do Dia Internacional da Mulher. Acabei optando por uma
ilustração rápida da personagem Manequinha, do grupo do meu personagem
Teixeirão (https://naestanciadoteixeirao.blogspot.com.br/). Fiz esta ilustração pensando na representatividade da mulher dentro
da música gaúcha, modesta porém significativa (ainda é muito baixo o número de
mulheres que se arriscam no universo da música nativista gaúcha). Tenho, inclusive,
uma prima que é gaiteira em um Centro de Tradições Gaúchas (CTG).
A
ilustração foi finalizada em esferográfica azul, e fica aí, para imprimir,
colorir e oferecer como cartão. Quis fazer algo mais otimista nestes dias
atuais com esse aumento nos casos de feminicídio no Brasil...
E,
bem. É isso. Feliz Dia Internacional da Mulher às leitoras deste blog.
E
até mais!
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