Hoje, nem cumpriu 15 dias. Mas eu havia prometido que, devido aos hiatos entre os capítulos, esta semana publicaria um novo capítulo de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO, uma semana depois do último. Ainda na semana que vem, deve sair mais um capítulo, salvo mudança inesperada. De todo modo, começamos mais um novo capítulo.
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de auto-humilhação, constrangimento, mentiras e intrigas.
Mesmo já sentado na minha carteira do curso de
Medicina, eu não estava tranquilo. Sentia que nunca mais ia ficar tranquilo.
Até mesmo Créssida tentava prestar atenção à
aula, mas não conseguia. Ela ficava boa parte do tempo olhando para mim.
Virando o rosto para trás para me focalizar, tentar deduzir alguma coisa a
partir de minhas atitudes durante a aula. E o meu olhar sempre encontrava o
dela, e o dela sempre desviava para a frente.
É bem provável que ela não se convencera da
lorota que Luce e eu tentamos jogar em cima dela, de Maura, de Loreta e de
Geórgia. A de que Luce é meu primo. Lorota criada no desespero.
Talvez a preocupação não fosse com Créssida,
com Maura e com Loreta, que haviam conhecido Luce naquela noite; a preocupação
era mesmo com Geórgia. Ela sim já havia encontrado Luce mais de uma vez. E, se
bem me lembro, os dois são colegas no curso de Letras. Estou certo de que na
verdade ela reconheceu Luce. Mas, felizmente, ela não nos desmascarou.
Apesar de Luce já haver sugado sangue de
Créssida, Maura, Loreta e Geórgia (bem, na verdade, Maura teve seu sangue
sugado por Andrômeda, mas Luce estava presente na ocasião e os dois são
irmãos), nenhuma delas reconheceu Luce – exceto Geórgia, decerto. Pelo que sei,
Luce sugou o sangue delas de modo que elas não vissem seu rosto. Créssida levou
uma pancada na cabeça; Loreta foi anestesiada com clorofórmio. Maura foi
adormecida com um dardo tranquilizante, e Geórgia... não, Luce atacou Geórgia
diretamente. Geórgia presenciara Luce me espancando no beco, depois este saltou
sobre ela. Mas ele me garantiu que conseguira apagar sua memória, assim como
das outras, no momento em que elas todas foram levadas ao hospital. Pelo menos
sei que foi verdade no caso de Créssida e de Maura: na noite em que achei que
havia me transformado em vampiro, tentei sugar sangue de Maura, e Créssida já
ia me denunciar para a polícia como o maníaco mordedor. Mas... quantas vezes
ele terá mexido com a cabeça de Geórgia?
Agora as garotas estavam muito desconfiadas
depois da minha mudança de apartamento, feita sem avisar ninguém. Agora eu
estava morando com o vampiro que sugou o sangue delas. Isso me fazia sentir
pior que aquela outra noite. A noite em que reencontrei Geórgia. Ela havia sido
assaltada e quase foi devorada por Carniceiros; eu intervim, e me aproveitei da
sua vulnerabilidade para fazer sexo com ela – com o seu consentimento. Enquanto
isso, o assaltante dela foi barbaramente torturado, teve sua orelha arrancada,
e esta orelha fora ofertada à vítima como prova de afeição... e eu ainda estou
com a orelha no meu apartamento, em um pote de formol!
Sou um monstro pior que os Monstros. Estava
colaborando para a permanência da maldade do mundo... e agora estava ali, no
curso de Medicina da Universidade, estudando para me tornar médico. Que belo
médico ia sair dali...
O professor falava, não estava prestando
atenção no que era. Tentei disfarçar uma ou duas ou três lágrimas que escorriam
em meu rosto.
Nunca mais ia ter paz no coração.
Este é o preço do pacto que fiz com Lúcifer.
Minha vontade, ao sair daquele prédio, e
andar pelo campus da faculdade noite adentro, sob a luz dos postes, era de
voltar para o meu novo apartamento, pegar uma faca da gaveta e cortar os
pulsos. Não, melhor tomar uma cerveja com veneno de rato...
Mas não podia fazer isso. Luce certamente
iria me impedir. Daria um jeito de chegar ao apartamento antes de mim e me
impedir. Se não ele, certamente Andrômeda. Ou qualquer um daqueles que ficavam
dizendo que eu era muito especial para eles. Que eu era mais valioso vivo.
Mas certamente me matar seria melhor do que
ter de encarar as vítimas de Luce, cujos crimes eu tinha de ajudar a acobertar.
Seria melhor até do que ter de entrar naquele
bar e servir drinques aos criminosos como se nada estivesse acontecendo.
Por que eu estava sentindo tanta pena das
vítimas?
Talvez seja mais o medo de ser denunciado.
Ooh, por que eu não deixei o pajé Mateus ter
sido queimado vivo?
Espere, não, o que eu estava pensando? O pajé
Mateus não tinha nada a ver com essa história; pensando bem, as coisas teriam
acontecido mesmo que eu não tivesse ganho esse apanhador de sonhos que eu
levava sempre em meu pescoço. Ou teria sido pior sem ele.
Será que é mesmo o apanhador de sonhos que
estava evitando o pior para mim? Poderia ter sido pior se...
Talvez sim, talvez não.
De toda forma, Luce e Mateus não estavam
relacionados. Luce teria me atacado mesmo se eu não tivesse ido salvar o pajé
daqueles agressores. Certamente teria atacado Valtéria e eu logo no instante em
que estávamos saindo para...
- MACÁÁÁÁÁRIOOOOO!!!
Um grito agudo, e, de repente, algo me
agarrou e me fez rodopiar. Quase caí no chão.
Esse algo tinha cabelo loiro.
- Va... Valtéria!! – exclamei.
Foi só pensar nela, e vejam só quem apareceu.
- Ooh, Macário... você ainda está aqui! Você
não foi embora... Você não fugiu de mim...
Ela me abraçava com força.
- Me solte, Valtéria, por favor...
- Nunca mais! – e a loira apertou ainda mais
o abraço. Ia me sufocar.
- Valtéria, solte-o. – disse outra voz
feminina familiar.
Diante de nós dois, estava Viridiana, a
melhor amiga de Valtéria. E não estava feliz.
- Me obrigue. – falou Valtéria, com um
sorriso debochado.
- Deixe ao menos ele respirar.
- Oh? Oh! Desculpa...
Foi o bastante para Valtéria me soltar. Ou
pelo menos afrouxar o abraço. Porque de mim ela não se afastou.
- Oooh, Macáriooohhh... por quê, Macário?! –
ela ganiu em cima de mim.
- Por que o quê? – dei um sorriso amarelo,
enquanto retomava a respiração normal.
- Por que você se mudou de apartamento,
Macário?! Por que está fugindo de mim?!
- É, Macário. – foi a vez de Viridiana falar.
– Por que está fugindo da gente?
- Que fugindo o quê. Foi meu primo e
companheiro de quarto. – comecei a explicar. – Ele pediu segredo.
- Que primo que nada. – falou Viridiana. –
Confesse, Macário. Você na verdade... se amasiou.
Arqueei a sobrancelha.
- Hein?
- Confesse que na verdade tem mulher nessa
história.
- Não, Macário, diga que não é verdade... –
falou Valtéria, chorando. – Diga que não é com uma mulher que você está morando
agora...
- Mulher? Quem disse a vocês? – perguntei.
- Fale a verdade, Macário. – Viridiana
continuou, em tom maldoso. – Você finalmente tomou vergonha na cara, se
apaixonou por uma mulher e decidiu morar com ela. Foi por isso que você não
quis que ninguém soubesse. Fale a verdade: finalmente Valtéria está livre de
você.
- Não, não, não!! – Valtéria começou a
gritar. – Diz que é mentira, Macário!! Diz que não é uma mulher...
- É mentira, sim. – falei. – Não é uma
mulher. É um primo meu. Homem. E hétero.
Valtéria sorriu, com lágrimas nos olhos.
- Viu, Vi?! – sorriu, triunfante. – É a mim
que ele ainda ama.
- Macário!! – Viridiana quase gritou. – Fale
já a verdade!
- Estou falando a verdade. – falei.
Claro que apenas a parte do primo não era
verdade. Mas procurei ser firme. Como sempre demonstrei ser. Oras, por que eu
estava com medo delas?! Elas não conhecem Luce, elas não iam me denunciar.
- Está mentindo, Macário. Como sempre mentiu.
– continuou Viridiana. – Ele não te ama, Valtéria.
- Ele ama sim!! AMA SIM!!! – Valtéria gritou
na cara de Viridiana, inclusive soltando gotas de saliva em seu rosto.
Viridiana não se abalou. Apenas sacou o lenço
do bolso de trás da calça e limpou o rosto. Mas fiquei incomodado: vários
passantes à rua, naquele horário, ficaram nos olhando, presenciando aquele
escândalo.
- Não vai funcionar, sua vadia! – Valtéria
gritava. – Você não vai me jogar contra o Macário! Ele me ama, e não está
morando com outra mulher!
- Então, amiga, por que ele se mudou e não
nos avisou? – Viridiana falou, calmamente. – Por que nem se deu ao trabalho de
passar o novo endereço? E eu respondo: tem mutreta aí. Ele está nos escondendo
algo. Não quer contar a verdade.
- É isso aí. Tem mutreta aí, não é, Macário?!
Essa última frase veio de uma voz atrás de
mim.
- Ooohh... Geóóóórgia... – murmurei.
Era ela mesma. E com uma expressão de que não
ia desistir.
- Terminou a aula de hoje, Macário? Está
livre agora, Macário? Para a gente conversar, Macário? – disse ela com um
sorriso tão maldoso quanto o de Viridiana. – Também quero ouvir você falar a
verdade... Macário.
- Ei, o que você quer com o Macário?! – falou
Valtéria. – Você já tem namorado, não tem? Você disse que tem dois namorados,
aliás!!
- Meu assunto com ele não tem nada a ver com
isso. – respondeu Geórgia. – Teus olhos já melhoraram, Macário?
- Olhos? Como as... – Valtéria ia falando,
depois olhou em meus olhos e, finalmente, reparou: – Oh, não, Macário!! O que
fizeram com você?!
Isso que estávamos sob a luz de um poste na
rua. Com as sombras noturnas, fica difícil mesmo reparar que eu ainda estava
com os olhos roxos. O inchaço havia passado, mas as hematomas certamente ainda
não. Eu não tinha um espelho para me olhar.
- Macário! – Viridiana também se manifestou.
– E esses olhos roxos?!
- Hã... foi numa discussão. Me bateram. –
falei, vagamente.
- Oh, não, meu lindo Macário!! – Valtéria
voltou a me abraçar. – O que fizeram com você?! Quem foram os bárbaros que
fizeram isso com você?! Deixe que eu vou pegá-los e trucida-los como fiz com os
cachorrinhos que tentaram me devorar...
- Que vai trucidar que nada. – falou Maura,
que ia chegando ao local, também, junto com Créssida e Loreta. – Se tentar,
você vai voltar para o hospital e vai voltar a usar aquelas faixas. Quer
aumentar sua quantidade de cicatrizes pelo corpo, amiga?
A chegada delas não chegou a me assustar
tanto. Meio que já esperava, depois da aparição de Geórgia, que as três
voltassem a me abordar. E Maura já mudara sua roupa, trocara o uniforme de
enfermeira pelo seu conjunto de jeans azul.
- Macário, que escândalo todo é esse? – falou
Créssida.
- Olha... Elas que me encontraram aqui. –
expliquei, apontando Viridiana e Valtéria. – Eu estava caminhando tranquilo
rumo ao meu trabalho, e elas aqui...
- Vocês duas já devem ter matado a saudade do
Macário. – falou Loreta para Viridiana e Valtéria. – Agora que sabem que ele
ainda está na cidade, não precisam mais ficar preocupadas...
- Preciso, sim. – falou Viridiana. – Porque
sei que ele ainda está na cidade. E porque a Valtéria não vai nos deixar em
paz... – e enxugou uma lágrima com o lenço.
- Nhé. Admita, amiga. – Valtéria desdenhou. –
Você estava tão preocupada quanto eu de o Macário ter sumido. Admita que você
também o ama.
- Não amo. – Viridiana amarrou a cara. –
Depois do que ele fez com você...
- Ele me fez bem demais. Você que se fechou
para o verdadeiro amor... mas não totalmente. E você o ama, sim, mas é tarde
demais. Porque eu que vou casar com ele...
- Pombas, Valtéria! Eu já te disse que você
não vai casar com ele!! Ele não ama nenhuma de nós duas!! E só faz as mulheres
infelizes!!
- Você o ama. Mas ele me ama. ME ama, tá?
Viridiana já ia partir para a ignorância, mas
Créssida interviu a tempo.
- Meninas, modos, modos. – pediu Créssida. –
Estamos na rua, esqueceram? O Macário aqui é um homem visado. Vamos deixar para
lavar roupa suja em um espaço fechado.
Viridiana respirou fundo. E começou a ficar
mais calma. Valtéria também.
- Obrigado, Créssida. – sorri.
- E, bem. Já que estamos todas aqui,
reunidas, declaro ser esta uma reunião extraordinária do Clube da Mordida. –
continuou Créssida.
- Clube da Mordida?! – Viridiana arqueou a
sobrancelha.
- Você não recebeu os nossos avisos? –
pergunta Maura. – Decidimos que somos agora o Clube da Mordida. O clube das
vítimas do Maníaco Mordedor.
- Mas eu não recebi nenhuma mordida! –
exclama Viridiana.
- Se não recebeu, ainda vai receber. – disse
Geórgia. – Boa parte das vítimas desse tal maníaco tem relação com o Macário,
mas ele também foi uma vítima. Então, é questão de tempo até que você receba
a... marca.
E todas mostraram a marca de mordida no
pescoço. Inclusive eu, maquinalmente. O que deixou Viridiana muito emburrada.
- Bem. Só me digam uma coisa. – Viridiana se
manifestou. – É verdade mesmo que o Macário está morando com um primo?
Ela não ia mesmo deixar o assunto morrer.
- É verdade. – falou Loreta. – O primo dele
inclusive se apresentou para nós. Sujeito simpático, embora um tanto exagerado.
- Eu confirmo. – disse Créssida. – Por quê, o
que você ouviu a respeito?
Maura, com sua confirmação de cabeça, e
Geórgia, que levantara o polegar, fizeram o sorriso de Valtéria crescer.
- Está vendo, Vi? O Macário estava falando a
verdade. É um primo, homem e hétero. Não era uma mulher. O Macário ainda está
livre, leve e solto. E ele ainda me ama.
Viridiana soltou um suspiro, franzindo o
cenho. Vai começar de novo...
- Calma lá, loirinha. – disse Maura,
intervindo. – Sim, é um primo homem. Mas ainda é cedo para dizer se é mesmo
hétero. Porque ele tem uns trejeitos meio... suspeitos. E não vá depositando
muitas esperanças neste rapaz aí, diante de você. O Macário ainda está livre,
leve e solto, sim. Mas não quer dizer que ele te ama, sabe por quê? Porque teve
uma garota no novo apartamento dele neste fim de semana. O tal primo confirmou
para nós. Portanto, o mais que se pode dizer é que o Macário continua o mesmo
de sempre. Um mulherengo com pouco escrúpulo.
Valtéria fez beiço, enquanto Maura sorria
maldosamente.
- Ga... Garota?!
- Garota, Valtéria. E sabe o que é pior? O
Macário mudou de gosto. Agora ele prefere garotas mais cheinhas. Prefere
gordinhas, o que essa garota era, sabe? Ela era gorda, e...
Viridiana abriu a boca. Depois, abriu um
sorriso.
- Ahá, eu sabia! Viu, Valtéria?
- Eu posso explicar... – fui falando,
nervosamente.
Valtéria, com os olhos marejados, se voltou
em minha direção. Mas, antes que ela falasse, eu percebi a piscada de Maura
para mim.
- Ma... Ma... Macário... é... é... é verdade?
Engolindo em seco, falei:
- S... Sim, Valtéria, é verdade. Passei o fim
de semana com uma garota. Uma garota gorda. E... E...
Valtéria primeiro abriu o beiço, depois
deixou as lágrimas escorrerem pelo rosto, e, a seguir, começou a chorar
nervosamente e a gritar “não, não, não...”, e saiu dali correndo. Viridiana foi
atrás dela, mas antes gritou para mim:
- Isso não vai ficar assim, seu lobo!! E
vocês todas também nos pagam!!
E as duas sumiram dentro da noite. Nós cinco
ficamos olhando com cara de tacho. Pior que havia mais gente assistindo. Não
sei se ouviram o que nós falamos. Mas assistiram àquela novela.
Depois de uns trinta segundos, me voltei para
Maura.
- Ô Maura!...
- Ué, eu te salvei, Macário. Salvei todas
nós. – falou com um sorriso triunfante.
- Salvou?! – exclama Geórgia.
- Coitadinha da Valtéria, que por causa do
Macário Monstro quase virou ração de cachorro. – Maura falou, sorridente e
irônica. – Eu tive de desfazer umas ilusões dela a seu respeito, amigão. Mas a
nossa reunião vai funcionar melhor sem aquelas duas, não concorda? Uma se
dengueando em cima de você, e outra querendo te devorar com os olhos... Estavam
mais interessadas no corpo do Macário do que no Maníaco Mordedor.
- Verdade. – falou Créssida. – Bem, não foi
muito honesto, mas a Maura tem razão. Aquelas duas só vão nos atrapalhar.
- É. – falou Geórgia. – E eu acho que a
Viridiana ali... bem, ela estava fazendo cara feia para você, mas ela ainda te
ama, Macário.
- Pior que eu sei disso. – respondi.
- Sabe?! Mas então...?
- Ela odeia se expor. E odeia ter de admitir
que a amiga louca dela está certa. Ela quer ser discreta. – expliquei.
- Mas você não a ama, Macário? – pergunta
Loreta. – Até o coração dela você partiu?!
- Bem, eu gosto dela, sim, mas não do jeito
que ela gostaria. Somos incompatíveis mesmo. – respondi. – Ela está num
conflito interno. E... bem, não sou eu quem vai alimentar esse conflito. Eu me
preocupo com ela, sinceramente. Eu... só me preocupo. Como me preocupo com
todas vocês.
- Você, sempre pensando mais na própria pele
que nos outros... – falou Maura, com maldade.
- Quantos olhos roxos eu vou ter de ganhar
para vocês aceitarem o meu sofrimento?! – retruquei. – Que eu também sofro com
essa história?! Depois o Macário é sempre o culpado das desgraças, Macário
isso, Macário aquilo...
- Chega. – pediu Créssida. – A vida amorosa
do Macário não está em questão, nem o primo dele, nem a sanidade mental de
outras pessoas. O assunto agora é Maníaco Mordedor.
- Certamente. – falei. – Vamos deixar de lado
a novela mexicana, tá? E aí, Créssida? Fez alguma descoberta recente a respeito
do caso? Vai falando enquanto vamos andando.
E fomos mesmo andando, nós cinco.
- Bem, pouco resultado até o momento, na
verdade. – falou Créssida. – O número das vítimas teve um aumento.
- Aumento de quanto?
- Enquanto você se divertia com sua prima
gorda, Macário, mais quatro pessoas foram mordidas neste final de semana.
- Quatro?!
- O pior é a falta de pistas deixadas por
esse maníaco, Macário. Ou maníacos, estou convencida que é mais de um.
- Certamente que são mais de um. – falou
Loreta. – Afinal, duas das vítimas vieram de partes diferentes da cidade,
lembra? Deram entrada no hospital ao mesmo tempo.
- É verdade. – falou Maura.
- E o que mais? – perguntei.
- Será que o Maníaco não é um de seus
conhecidos, Macário?
- Hein?
- A teses da Geórgia faz sentido, muitas
vítimas do Maníaco tinham relação com você, Macário.
- E... e as vítimas deste final de semana
tinham relação comigo?
- Aí não sei se é gente que você conhece,
Macário. Amanhã você passa no hospital olhar... Mas, diz aí.
- Posso lhe garantir que não conheço ninguém,
de minhas relações, que possa estar bancando o psicopata. – respondi, a pele
formigando, a mentira óbvia. – Todos os que eu conheço daqui da cidade eram
gente de bem.
- Hum, e quem sabe não seja uma Maníaca? –
pergunta Loreta. – Talvez seja uma ex do Macário que esteja tentando se vingar!
- A ponto de sugar o sangue das ex?! –
pergunta Maura.
- Bem, eu já saí com muitas garotas, algumas
góticas, darks, punks, mas nenhuma delas manifestava desejo nem por carne crua!
Pelo menos até onde sei! – falei.
- Essa é uma evidência a se considerar. –
falou Créssida, numa expressão sherlockiana. – Pode ser uma mulher... ou haver
mulheres no bando de Maníacos Mordedores.
Como ela está certa.
- Ah, Macário. Sabe de quem tive notícias
recentemente?
- De quem?
- Do menino Maicon. Lembra?
- Maicon... ah, sei. O menino do hospital!
Como podia esquecer?! Podia ter esquecido
momentaneamente o nome delas há algumas horas, mas do menino Maicon, como
conseguiria, se era dele a orelha cortada que eu estava guardando em casa?
- Também lembro dele! – falou Loreta. – O que
falou que cortaram a orelha dele...
Geórgia começou a arregalar o olho. Ela
sentia que aquela história lhe parecia familiar.
- E, bem, como o Maicon está?
- Está bem, mas está traumatizado. – começou
a contar Créssida. – Eu estive pensando nele neste final de semana, e resolvi
visitar a instituição onde ele estava internado. Ele já estava sendo liberado
bem no momento em que eu cheguei. Foi como se tivesse tido uma intuição,
Macário. O coitado ainda estava com a orelha enfaixada, não estava cicatrizada,
mas ele parecia mesmo um Van Gogh. Ele foi para casa.
- Está mesmo traumatizado? – perguntei.
- Arrependido mesmo do que fez. Depois dessa
experiência, ele vai se tornar um menino de bem, com certeza.
- Como é que é a história? – pergunta
Geórgia.
- Esse Maicon é um menino da periferia. Era
um trombadinha. Ele roubou uma bolsa, e daí, um psicopata qualquer o pegou e
cortou a orelha dele.
O olho de Geórgia arregalou ainda mais. Será
que ela reconheceu mesmo a história?!
- E você sabe onde ele mora?
- Eu o acompanhei até a casa dele. Coitado, ele
não vive em boas condições materiais. Ele me reconheceu, lá do hospital. E,
sabe? Estava pensando em fazer alguma coisa por ele, doar umas roupas, sei lá.
Não gostaria de ajudar, Macário? A Maura e a Loreta concordaram.
- Pois é, a situação dele é mesmo de dar
pena. – disse Maura. – Pobre, trombadinha, “consequência” da sociedade e ainda
por cima sem orelha... dá para acreditar?
- Bem... – falei, comovido. – Vou pensar em
alguma coisa. Depois eu falo com vocês. Marcamos para a gente fazer uma
visitinha para ele. Levar um presentinho, algo assim.
- Ele vai ficar feliz. – falou Créssida.
- Eu também tenho de compensar os meus erros.
– dei um sorrisinho. – Acho que ajudando esse pobre garoto eu consigo me
redimir das presepadas que andei fazendo ultimamente.
- Sim. Tomara que você não esteja dormindo
com alguma garota na hora que a gente for visitar o Maicon. – falou Loreta.
- E você, Geórgia, topa entrar nessa?
- Eu... eu vou pensar ainda. – falou Geórgia,
com o olhar enviesado. – Depois informo.
- Você é quem sabe. Bem, acho que deixamos as
coisas assim. Marcaremos nova reunião. Vamos combinar a coleta para o Maicon, e
também se houver alguma novidade no caso do Maníaco, ou Maníaca, vamos nos
falando. Seu telefone ainda é o mesmo, Macário?
- Sim, meninas. E... espero que não haja
nenhum imprevisto até lá. Nenhum acontecimento insólito. Nenhuma briga também.
Ultimamente eu só tenho apanhado.
- Ah, sim, claro. – falou Maura. – Tudo bem,
vamos te deixar em paz um pouquinho. Mas nós ainda vamos procurar você, Macário
Monstro. O que você faz não vai ficar por isso mesmo...
Sorri amarelo.
E, por fim, depois de uns minutos mais de
informes, combinações e tudo mais, as garotas se afastaram.
Bem, não foi tão ruim assim. Me sentia mais
leve em saber que as garotas não guardam ressentimentos...
Vou para o bar, então. Vou...
- Aham, Macário...
Levo outro susto. Oh, não, Geórgia ainda não
saíra do meu lado! Estava de braços cruzados e cenho franzido.
- Pensei que você tivesse saído junto com as
outras! – exclamei.
- Vai para o seu trabalho agora, Macário?
- Vou.
- Vou com você.
- Tá, mas... você ainda está...
- Macário, acho que não vou sair do seu lado
até ver algumas coisas realmente esclarecidas nessa história.
- Que coisas?
- Agora que as outras se afastaram,
Macário... e estamos só nós dois... eu quero saber de umas coisinhas.
Engoli em seco.
- Tá legal, Geórgia, o que você quer saber?
- Primeiro, Macário. O Lucio... Quer dizer,
Luce. Ele não é o seu primo, não é? Quanto a isso você mentiu.
Meu coração dá um salto.
Próximo capítulo previsto para daqui a 7 dias.
Até aqui, como está a história? Boa? Ruim? Deve mudar? Permanecer no passo em que se encontra? Deve ser interrompida mesmo na metade?
Manifestem-se nos comentários, ou continuarei fazendo tudo à minha maneira.
E até mais!
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