Ainda na base no "sai quando puder", volto com um novo episódio de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO. Ainda sem previsão de término, e ainda sem previsão de quando haverá uma regularização na periodicidade dos capítulos. O mais que posso dizer é: continuem acompanhando, e fiquem atentos às atualizações do blog.
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de linguagem imprópria, linguagem sexual, ocupação ilegal de espaço privado, exercício ilegal da psiquiatria e constrangimento.
Essas três taradas não tomam jeito mesmo.
Não bastou invadirem minha realidade, elas
também invadem meus sonhos... Quer dizer, elas já faziam isso desde antes,
mas...
Se bem que Âmbar, Andrômeda e Morgiana, desta
vez, vieram me resgatar da minha experiência mais maluca. Um passeio pelo meu
subconsciente. Um passeio que, para mim, foi o mais lúcido – e mais assustador
que o das outras vezes que fui morto no final.
Será que eu estava sonhando, ainda? Será que
eu ainda estava dormindo?
Ali estavam as três, adormecidas, sentadas em
cadeiras ao lado da minha cama. Encostadas uma na outra. As três bruxas de
Eastwick. As três bruxas do Macbeth. Não pude deixar de sorrir com estas
comparações.
E aí, as três despertaram, primeiro abrindo
os olhos, depois, levantando as cabeças.
- Macário? – Andrômeda começou, grogue.
- Ah... acordou! – foi a vez de Âmbar falar.
- Macário... – balbuciou Morgiana.
- Vocês! – exclamei. – Que fazem aqui?
As três levantaram das cadeiras e se
esticaram. Ao mesmo tempo, levantei da cama.
- Ugh, cadeiras são desconfortáveis... –
falou Âmbar, fazendo a coluna estalar com um movimento.
- Que escolhas tivemos? – falou Andrômeda,
que pelo jeito foi a menos afetada pelas condições desconfortáveis do leito. –
Não tinha outra cama aqui.
- Macário, podemos explicar... Não é o que
parece... – Morgiana se apressou em falar, sorrindo sem jeito.
- Vão explicando. – falei, emburrado, enquanto
vestia minha calça. – Se é que eu estou mesmo acordado...
- Garanto que está acordado. – continuou
Morgiana. – Veja, nós também acordamos.
- Será que eu acordei mesmo? – pergunto, ainda
emburrado. – Vi muita coisa nas últimas horas... Como vou saber se...
- Ah, a vela durou pelo tempo que deveria
durar. – falou Andrômeda. – Durou o tempo necessário para tirarmos o Macário de
sua armadilha do subconsciente.
- Que vela?! – pergunto, erguendo a
sobrancelha.
Andrômeda recolheu do chão um pires. Nesse
pires, havia uns restos de cera e de um pavio, indicando que havia uma vela
queimando. E, agora reparei, havia no quarto um leve cheiro de incenso.
- Este é um dos nossos truques, Macário. A
vela especial da mente. – explica Andrômeda. – Enquanto esta vela estiver
queimando, e exalando o aroma, possibilita a utilização do Portal Mental. O
corpo dorme, mas você explora os sonhos conscientemente.
- Ah, cara. Mais uma das suas magias? –
pergunto, colocando minha camiseta.
- Bem, Macário – Âmbar começou – Nós entramos
não faz muito tempo na sua casa. Nós sabíamos que você estava precisando de
ajuda e, bem, precisamos interferir.
- Eu... ainda não estou entendendo muito bem.
– falei.
- Temos muito o que conversar, Macário –
falou Andrômeda – antes de você ir para a sua aula.
- Certamente. – falou Âmbar, franzindo o
cenho. – Hora da sessão de terapia, rapaz. Depois eu é que sou a tarada, hein?
Senti-me corando. Durante esse tempo em que
estive sonhando, visualizei muitos conhecidos meus envolvidos em situações de
sexo. Depois, eu mesmo ME vi em situações de sexo. E Âmbar certamente não
estava contente em ver que algumas dessas situações envolviam sua irmã casada,
Anfisbena. Agora sei que sou terrível.
Saio do meu quarto, as mulheres atrás de mim.
Pelo jeito que elas me olhavam, eu meio que já sabia: Luce aprontou comigo de
novo, só pode. Desta vez nos sonhos. Canalha.
Mas, logo que vou para a sala, não é com Luce
com quem dou de cara: é com Eliane, adormecida no sofá, encolhida. E não estava
sozinha.
Fifi também estava na sala, adormecida no
tapete, largadona, os sapatos jogados a esmo.
Ambas vestidas.
Na sala, o mesmo aroma de incenso. Entre Fifi
e Eliane, havia outro pires com restos de cera e pavio, soltando uma fumaça
leve.
- Ma...! – exclamo.
- Hã... para tudo tem uma explicação. – falou
Morgiana.
- Elas vieram para ajudar. – falou Âmbar.
- Ajudar?! – ergo a outra sobrancelha. – Mas
em quê?
Aí, Fifi e Eliane abriram os olhos. Fifi foi
a que pareceu mais surpresa.
- Arhn... nyah... – Fifi tentava se acostumar
à claridade. Esfregava os olhos. – O quê? Como?
- Uaahhh... – bocejou Eliane, se
espreguiçando.
- Ei! Que estou fazendo aqui no chão?! –
pergunta Fifi, ainda se refazendo da surpresa. – Mas... Eliane!!
- Ah... o que foi, hein? – pergunta Eliane. –
Todo mundo já acordou? Ah... – e olhando para mim: – Ah, oi, Macário, dormiu
bem?
- Eliane!! Por que estou no chão?! – pergunta
Fifi. – Eu deitei no sofá!
- Ah, deixe de ser muquirana, chefe. –
justificou-se Eliane para Fifi. – Você tem a cama lá em casa só para você. Por
que eu não podia ficar no sofá desta vez? Por que eu deveria dormir no chão de
novo?
- Não tem vergonha... – Fifi olhou enviesado
para Eliane.
- Além do mais, quem foi chamada para vir
para cá fui eu. – Eliane continuou. – Você veio de metida.
- Eu vim porque eu quis conhecer o
apartamento novo do Macário! – Fifi se justificou. – Mas e você?
- Eu vim porque disseram que o Macário estava
em perigo... – disse Eliane. – Precisavam da minha ajuda... Da ajuda de uma
bruxa... E, pelo jeito, está tudo bem agora. O Macário acordou, está bem!
- Ah, Macário, desculpe. Boa tarde, dormiu
bem? – Fifi se apressa em me cumprimentar.
- Cada vez menos estou entendendo... – falei,
encabulado.
- Bem, Macário. – começou Morgiana. – Nós
havíamos prometido que não íamos te incomodar até o final da semana, e que
íamos impedir que você...
- Estamos cumprindo todas aquelas promessas
que fizemos a você ontem, Macário. – falou Âmbar. – Olhe só: eu nem bebi hoje.
Pareço estar bêbada? Pareço?
E soprou bafo na minha cara. De fato, não
havia bafo de álcool em sua boca, mas ela estava evidentemente precisando
escovar os dentes. Estava com um hálito meio fermentado, mal disfarçado com
balas de menta.
- Hã... não. – respondi, disfarçando a
sensação de estar sentindo cheiro ruim.
- É, bêbada não parece estar... – falou
Morgiana – mas o que você andou comendo? Carne de cadáver?!
- O que está insinuando?! – pergunta Âmbar.
- Pode não estar bêbada hoje, mas ainda está
com o mesmo bafo de manguaça dos dias anteriores... Você lembra ao menos de
escovar os dentes?!
Âmbar mostrou o dedo médio para Morgiana, que
devolve um rosnado com seus dentes afiados. Em parte, eu tinha de concordar com
a sereia, mas preferi não dizer nada a respeito.
- Sério, Âmbar, você não parece bêbada. –
falei. – Sei só pelos seus movimentos.
- É mesmo?! – Âmbar pergunta, encabulada.
- Parem, vocês. – pede Andrômeda
educadamente. – Bem, Macário, nós prometemos que iríamos te proteger nos
sonhos, que iríamos bloquear quem quisesse invadir seu subconsciente com...
hã... segundas intenções. E, de fato, alguém tentou isso.
Eliane e Fifi nos olhavam de sobrancelha
arqueada. Claro, elas não fizeram parte da promessa. Mas também nos olhavam com
expressão de “não fomos nós, não nos olhem desse jeito”.
- Alguém tentou o tal do Portal Mental? –
pergunto. – Foi o Luce, não foi?
- Não. – Andrômeda falou. – Não foi ele. A
princípio também achei que foi, mas não foi. O safado nem em casa está.
- Hein?
Fui ver in loco, enquanto as cinco garotas
ficaram imóveis em seus lugares. Fui espiar no quarto de Luce. E, de fato, ele
não estava deitado na cama. Depois, fui ver no banheiro: ninguém ali. Fui ver
até mesmo o quarto-depósito, que estava destrancado: ali, haviam algumas caixas
de papelão empilhadas e uma estante vazia, somente. Mas nem vivalma. De fato,
Luce não estava no apartamento, decerto saiu.
- Então, Macário – falou Andrômeda. – O Luce
não está. Acredita agora?
- Tem certeza que ele não está escondido? –
perguntei, desconfiado.
- Se estivesse, eu poderia encontrá-lo só
através do pensamento. – Andrômeda continuou. – Mas não detecto nada a um raio
de dois quilômetros, ele não está por perto.
- E ainda bem. – falou Fifi. – Ele não ia
ficar contente de nos ver aqui...
- Ok. O Luce não está em casa, e não está a
um raio de dois quilômetros daqui, mas tem certeza de que ele não esteja de
repente agindo de onde estiver agora?
- Sim, Macário. – falou Âmbar. – Digo, temos
certeza de que o Luce não está agindo aqui. Nós três juntas, ou melhor, nós
quatro, pois a Eliane também... enfim, nenhuma de nós detectou o dedo do Luce
nesse negócio. Nós reconheceríamos as energias daquele safado mesmo no
subconsciente alheio. Não. Foi outra pessoa quem tentou invadir seus sonhos.
- Quem? – arregalo o olho.
- Aí não sei. – falou Morgiana. – Ou melhor,
não sabemos. As tais energias nos driblaram. Conseguiu fugir antes de a
reconhecermos.
- Bem – Eliane começou a falar – deixa eu
resumir: as três aí, inicialmente, quiseram apenas policiar sua mente. Para
você dormir tranquilo. Pelo menos, foi o que me disseram. Mas fizeram qualquer
coisa que acabou jogando você, ou melhor, o seu subconsciente, numa espécie de
limbo, formado de lembranças alheias e de suas próprias lembranças, consegue
entender?
- Mais ou menos... – falei, confuso. – Mas,
infelizmente, sou estudante de Medicina, não de Psicologia. E nem de
ocultismo... Então essas questões técnicas são, hã... complexas para mim.
- Olha, Macário – fala Morgiana – que fique claro
uma coisa: nós não entramos juntas na sua cabeça. Estava cada uma na sua casa,
de boa... nos encontramos no “limbo”, e aí, acabou dando m(...)...
- ...E nós três tivemos de pedir ajuda à
única especialista em portais mentais que conhecíamos. – diz Âmbar, apontando
para Eliane.
- Sabe, Macário – Eliane falou – meu pai é
psiquiatra. Então, eu meio que entendo dessas questões de mente.
- Ela de vez em quando faz consultas
psiquiátricas para nós – falou Fifi. – Ok, ela não tem diploma. Seria exercício
ilegal da medicina, mas quem se importa?
- Quem precisa de diploma? – Eliane deu um
sussurro triunfante. – Com papai psiquiatra, que faz a Psicologia parecer muito
fácil quando a gente olha...
- Acho que está começando a ficar claro. –
falei. – Mas, se vocês estavam nas suas casas, e podiam controlar tudo de lá...
Por que vocês... digo, como entraram...?
- Como entramos no seu apartamento? –
pergunta Andrômeda, corando. – Claro que com minha cópia da chave. Devo ter
falado que dei um jeito de copiar a chave daqui para todo caso, não? A coisa
saiu tão do controle que fomos obrigadas a invadir seu apartamento. Mais perto
da sua mente, fica mais fácil de lidar. E trouxemos essas duas junto. – e
apontou Eliane e Fifi.
- Ela aqui que não tinha nada a ver com nada.
– disse Eliane, apontando para Fifi. – Ela veio de intrometida.
- Não deviam ter me acordado também – foi
dizendo Fifi. – Além do mais, só ela que poderia ir no novo apartamento do
Macário, e não eu?!
- Bem, está satisfeita agora? – pergunta
Morgiana. – Você agora sabe onde o Macário mora agora. Sabe como é por dentro. Agora
conte pro resto do pessoal, conta.
- Contar para aquele bando de arruaceiros? Moi? Nyah... – Fifi sorriu com ironia. –
Aqueles lá vão entrar aqui e fazer a maior bagunça. Se fosse só o Luce morando
aqui, eu nem me importaria, mas como o Macário está aqui também...
- Bem. É questão de tempo, agora, para o
apartamento do Macário ser invadido por todo mundo. – diz Andrômeda. – Ninguém
vai deixar nosso garçom em paz agora.
- Somos todas pecadoras... – lamentou-se
Âmbar. – Somos gente falsa e mesquinha... Prometemos não importunar o Macário
e...
- Ah, parem com isso. – falei. – Com vocês
entrando nos meus sonhos, eu creio que já estou me acostumando... E acho que
posso me acostumar com as constantes entradas e saídas de vocês. Ontem eu
estava irritado mesmo, afinal transei várias vezes e levei socos... O que me
deixou abalado mesmo foi o que eu vi nessa viagem pelo mundo dos sonhos...
hã... vocês viram tudo, não viram?
- Você ainda se lembra de tudo o que viu,
não, Macário? – pergunta Eliane.
- Lembro. E... vocês viram que eu sou mais
pecador que vocês. Todas vocês. Digo... Eliane, você e a Fifi também entraram
na minha cabeça, não foi?
- Bem... na verdade, nós entramos no
finalzinho. – falou Fifi. – Eu entrei naquela parte da orgia dos Macários...
tinha vários Macários que... nyaaahh... – e sorriu lascivamente. – Eu me vi lá
também...
- Mas eu vi, Macário, vi tudo pelo que você
passou. – Eliane falou, descontente. – Meio que consegui ver a trilha que você
seguiu desde o começo, seu tarado. Eu vi que você estava espiando a intimidade
da minha amiga Geórgia. E vi que você estava com ciúme dos namorados dela...
- Então... – interrompi – aquelas cenas
aconteceram mesmo? Eu entrei mesmo na mente da Geórgia e a vi... com o Marto...
com o Breevort e... Com você... Digo... você e a Geórgia...? Você a massageou e
depois...
- Vocês duas...!! – falou Morgiana para
Eliane. – Você e aquela menina...!!
Eliane corou. Seu rosto se confundiu com o
vermelho do seu vestido.
- Bem... Não foi bem assim. – Eliane tentou
se explicar. – Eu apenas apliquei uma massagem na Geórgia... Ela disse que
estava precisando relaxar, e...
- Foi bem mais que uma massagem, sua
pervertida. – falou Fifi – Eu estava junto naquele dia. Todos os outros saíram,
enquanto estávamos só nós duas, eu com dor de cabeça, e aí você chamou a
Geórgia e... Confesse agora sua bissexualidade. Confesse que você está
apaixonada pela menina.
Eliane estava muito atrapalhada. Tinha sido
pega no flagra.
- Macário, você sabe agora...!
- Eu... eu... Eu juro que fica só entre nós!
– me apressei em falar. – Faz de conta que não sei nada da Geórgia... Se ela
perguntar, eu digo que não sei de nada...
- Promete mesmo, Macário? Porque agora você
sabe demais sobre segredos meus e da Geórgia... E ela está sofrendo muito...
- Acho que sei os segredos de muita gente...
– interrompi, encabulado. – Descobri muita coisa que não devia... – e eu olhava
agora para Morgiana.
Morgiana também corou.
- Você também descobriu que eu...!!
- Você e o Richard...! – falei.
- Eu... eu... oh, sim, eu confesso!! –
Morgiana rompeu em choro. – Eu também dou uns “pegas” de vez em quando no meu
primo!! Ou melhor, é ele quem dá uns “pegas” em mim... mas eu sempre deixo
porque... oohhh... Eu sou uma... uma...
As outras todas sorriam enquanto Morgiana cobria
o rosto e chorava de vergonha.
- Eu... eu juro que não conto para ninguém! –
falei. – Para mais ninguém além de quem está aqui... eu... eu não vou contar
para as suas irmãs!!
- Vo... você não vai contar para a Moira e
para a Cliodna?! – fala Morgiana, fazendo os olhos lacrimosos aparecerem entre
os dedos.
- Não vou contar. – reiterei. – Elas é que
não podem saber...
- Se é que elas já não sabem. – sorriu
Andrômeda.
- Quê?! – exclama Morgiana. – Sua... sua...
traidora!!
E já foi pegando na borda do decote de
Andrômeda e rosnando.
- Não, amiga. – Andrômeda se apressou em
esclarecer. – Não fui eu que contou. Elas devem ter dado um jeito de descobrir
que... Enquanto você estava de rolo com o Macário, você e o Richard...
Morgiana começou a puxar os próprios cabelos.
- Aah, droga!! Agora o Macário sabe que eu
sou...!!! Ele não vai me querer mais...!
- Epa, Morgiana, como assim? – falei,
passando a mão em seu ombro. – Eu deixei de querer uma garota só porque estava
com outro cara? Com dois, três...?
- Mas você viu que eu...!
- Vi que o Richard não estava fazendo o
trabalho direito... Que você prefere a mim, no fim das contas.
Morgiana abre um sorriso, e enxuga as
lágrimas.
Eliane bate com o cotovelo de leve em Fifi:
- Ei, chefe. Ele também sabe de... você.
- Sabe o quê, hein?
- Que você... hã... também dá para os rapazes.
Foi a vez de Fifi corar.
-
Ma... Macário... eu... – Fifi começou a gaguejar. – Você também viu
que... que eu... eu...
- ...que você também dá uma “pegas” nos
rapazes da banda? – sorri sem jeito. – No Fido e no Pauley? Não consegui
evitar.
Foi a vez de Fifi cobrir o rosto de vergonha.
- Ooohh...
- Tem alguém que não pode saber disso? –
pergunto.
Mas Fifi não respondeu. As outras sorriam
sarcasticamente.
- Essa não... – Fifi começou a chorar. –
Agora o Macário não vai ME querer mais... Ooh, nyaahhh...
- Ah, não comece você também, Fifi. – digo.
- Mas se você viu que... Ah, mas é só de vez
em quando, não é sempre, juro, Macário... Eu chamo os rapazes para o meu quarto
e...
- Hã... até o Boland?
- Não, o Boland não. – Eliane se apressou em
responder. – O Boland é fiel à Gil, e a Gil é fiel a ele. Os dois sempre voltam
um para o outro. Só eles tem exclusividade um com o outro. Os outros estão
liberados para pegar quem quiser na casa.
- Até você?!
- Até eu...
- Bem, o Boland tem a exclusividade da Gil...
ou tinha. Porque, depois daquela noite, no Portal Mental...
- É, eu sei, e ela não está feliz com isso
até hoje. A culpa é nossa... Arrastamos a pobrezinha para o mau caminho... – se
lamentou Fifi.
As outras davam sorrisos maldosos.
- Bem, o que você podia esperar de um grupo
de maloqueiros, não é mesmo, Macário? – Eliane sorriu sem jeito. – Até o sexo é
freegan entre nós.
- Mas me sinto meio trouxa. – me emburrei. –
Me sinto só mais um pinto em suas vidas, digo, depois de toda a atenção que
vocês deram para mim até agora, achei que fosse o preferido...
- Aah, Macário, ficou com ciúmes? – Fifi deu
um sorriso irônico. – Ciúmes de... todas nós?
- Meio que estou me sentindo um mero cliente
de bordel. – falei, chateado.
Todas coraram. No fim, eu também corei.
Escolhi mal as palavras.
- Hã... desculpem, eu... Eu não quis dizer
isso...
Esperei por uma reação negativa delas. Mas
elas não me fizeram nada.
- Chega, chega. – falou Âmbar. – Chega de
lamúrias. De todo modo, o Macário sabe de nossas vidas sexuais. Ele até
participa delas... E, bem, espero que não nos leve a mal...
- Eu já estou acostumado. Vocês é que devem
me perdoar...
- De nossa parte você está perdoado. – falou
Andrômeda. – Eu já te disse, você é um cafajeste, mas do bem. É o nosso tipo
favorito de cafajeste.
- E também da nossa parte, você está perdoado.
– falou Eliane.
- Bem... Mas... Vem cá, Macário... – Âmbar me
olhou de cenho franzido. Segue uns trinta longos segundos de silêncio. Oh não,
eu já sabia do que ela ia falar em seguida.
- Âmbar, não foi nada disso que você está pensando...
– falei, suando frio.
- Macário, até você deseja a minha irmã? –
Âmbar fez beiço.
- Anfisbena?! Nã... não, eu não sei o que me
deu, eu... Foi aquela coisa que ela misturou naquele cálice... Mas qualquer um
desejaria a sua irmã, ainda mais se a visse na cama com... com... hã...
Todos ali se calaram. Engulo em seco. Dou um
suspiro. E sento no sofá, segurando minha cabeça.
- Ah, cara. Eu sou um monstro do sexo. –
suspiro. – Até no subconsciente eu ando impossível...
- Não, Macário, não diga isso como se fosse
uma coisa ruim. Nyah. – Fifi tenta me consolar.
- Como não? Eu que sou o Monstro, não
vocês... Nem o direito de falar mal de suas vidas sexuais eu tenho... Se a
minha vida é igual a de vocês... Não, pior. Vocês são Chapeuzinhos Vermelhos
perto deste Lobo Mau... Eu não sou cafajeste do bem, não, sou só... um
cafajeste...
- Não diga isso, Macário... Não gostou de se
ver transando? – pergunta Âmbar. – Você nunca foi ruim...
- O que eu mais tenho feito nesta vida é
sexo... – continuo lamentando. – Eu não presto. Sou um Don Juan de m(...)... A
única coisa que não tenho é amor no coração...
Estou a ponto de chorar.
- Ei, Macário, deita no sofá. – convida
Eliane.
- Deitar no...?! – arregalo o olho.
- Não seja bobo, Macário. Não é o que você
está pensando. Eu vou é analisar você.
- Me analisar?!
- Já te disse, meu pai é psiquiatra. Então,
eu manjo de algumas manhas só de observar o que ele faz. Tudo bem que faz tempo
que não vejo ele, fugi de casa, mas não se preocupe. Deita no sofá.
Resignado, deitei no sofá. Enquanto isso,
Eliane puxou um banquinho e se sentou bem perto de minha cabeça. Tirou de
dentro do casaquinho um bloco de notas e um lápis. As outras garotas puxaram
cadeiras e se sentaram diante de nós dois, um pouco afastadas. Iam assistir à
“sessão”.
- Chegou a hora de sabermos algumas coisinhas
a seu respeito, Macário. – Eliane falou. – Fale um pouco do seu passado.
- Meu passado?
- Quando estávamos ali, naquela orgia, teve
uma cena que te deixou perturbado, nós percebemos. Uma das garotas em particular...
A mais velha...
Sei de quem ela estava falando.
- Ah... Bem, não é bem uma garota. É minha
mãe.
- Sua mãe?! – exclama Andrômeda. – Aquela
mulher mais velha...?
- Puxa, aquela era sua mãe? – manifesta-se
Âmbar. – Puxa, ela é bonita, até. Bem conservada.
- Hã... você acha? – sorri sem jeito.
- Macário, você e sua própria mãe...! –
Morgiana exclamou.
- N... não! Nunca! Mãe é mãe. Para tudo tem
um limite. Não sei porque apareceu aquela cena de eu transando com minha
querida mamãe. Só faltava essa, eu botar chifre no meu próprio pai.
- Então, devo supor que você tem, ou tinha,
um princípio de complexo de Édipo. – falou Eliane. – Aquilo foi uma
manifestação de um desejo seu...
- Decerto sim. – falei. – Bem, eu já tive,
sim, um... hã... princípio de Complexo de Édipo. A minha mãe... ah, eu lembro
bem que minha mãe foi a primeira mulher que eu vi nua na vida. Até os sete anos
de idade nós tomávamos banho juntos. Digo, ela me dava banho até eu aprender a
me lavar sozinho. E aproveitava para tomar banho também.
- Sua mãe foi sua primeira amante, não é
isso? Digo, não da forma carnal, mas no plano platônico.
- Acho que isso acontece com todo homem. Até
acontecer a primeira desilusão amorosa... Saber que mamãe tem outro.
- A sua mãe também lavava o seu pinto? –
pergunta Fifi.
Levanto a cabeça e olho para Fifi de
sobrancelha arqueada. O que ela estava insinuando?
- Por favor, sem mais interrupções. – pediu
Eliane. – A conversa é com o Macário aqui, e a doutora agora sou eu.
Prosseguindo... Bem, a sua mãe foi a primeira mulher que você viu nua, e, com
certeza, o Complexo de Édipo se justifica, pois... Bem, sua mãe é uma mulher
bonita, tem um corpo bonito...
- Não posso negar. Mas agora ela está mais
velha, sabe...
- Sei. E você já viu... sabe, ela e seu pai...
- Sim. – respondo de bate-pronto.
- Já viu o quê? – pergunta Fifi.
- Meu pai e minha mãe transando, ué!
Todas deixaram escapar um “oh”.
- Para mim foi um choque ver, aos oito
anos... lembro bem. Fui tomar uma água à noite, aí ouço gemidos vindos do quarto
dos meus pais, eu temendo que minha mãe estivesse passando mal, e aí, espio por
uma fresta da porta os dois...! Sem cobertas! Pelados! Meu pai empurrando o
p(...) dele no traseiro da minha mãe!!
Reparo que as espectadoras da sessão começam
a chupar os lábios.
- Aquilo foi um choque para você?
- Mais ou menos... Quer dizer, o que eu não
sabia era que aquele era o método para conceber bebês, durante algum tempo
acreditei em cegonha... porque eles não estavam fazendo aquilo para me dar um
irmão.
- Você tem irmãos?
- Não. Sou filho único. Foi mais tarde que
meu pai me confessou que se submeteu a uma vasectomia depois que nasci.
- Oh.
- Mas eu nem podia imaginar que meu pai e
minha mãe... Bem, não foi a única vez que assisti escondido aos dois...
- Então, os seus pais se amam!
- Sim. Mas nunca havia imaginado, até então,
que meu pai também gostasse de sexo. Também gostasse muito de sexo. Que a
vasectomia trouxe vantagens para ele... Bem, é que meu pai também é bibliófilo,
colecionador de gibis, de livros, de discos... Ele inclusive já foi dono de um
sebo de antiguidades. Ele tentou transmitir a mim a mesma cultura que ele era
amante. Me incentivava a ler, ouvir todo tipo de música...
- E você contrariou seu pai?
- Não. Que é isso, eu nem estaria na
faculdade se tivesse traído a cultura erudita que ele sempre me transmitiu. Também
tenho meu gosto por literatura. Meu pai me incentivava a ler inclusive gibis,
evoluir minhas leituras, dos gibis infantis até os adultos, daqueles cheios de
violência e sexo. O que eu não pude é levar comigo para a faculdade parte dessa
cultura. Entendem?
- Continue.
- Bem. Meu pai gostava tanto de sexo como de
livros... Um pouco mais tarde que eu encontrei a coleção de Playboy dele, que ele
escondia. Foi um tesouro, uma revelação. Bem, essa descoberta também
influenciou minha decisão quanto a uma futura profissão... Escolhi Medicina.
Todas coraram.
- Meus pais sempre procuraram me dar a melhor
educação possível. Nunca traí essa confiança depositada em mim. Sempre procurei
ser um rapaz aparentemente responsável, estudioso, trabalhador... Minha maior
rebeldia foi escolher dormir durante o dia e trabalhar à noite.
- E por que você escolheu o turno da noite?
- Meio que tem a ver com quando eu iniciei
minha vida sexual, minhas conquistas amorosas... Querem mesmo que eu conte?
- Conte, Macário. Nos conte tudo. – pede
Eliane. – Talvez isso ajude a explicar por que você está atraindo as Criaturas
da Noite ao seu redor. Por que os vampiros, licantropos, ninfas, sereias, ogros
e outras criaturas que vivem escondidas dos humanos tenham tanto interesse em
você.
- Você está realmente anotando tudo o que
estou falando, Eliane?
- Claro que estou. – e me mostrou rapidamente
o bloco de notas manuscrito, mas sua escrita era ilegível, parecendo mesmo
letra de médico. – Vai contando. Detalhes de sua iniciação ao sexo.
- Está bem. Já que insistem...
Próximo episódio em breve, se tudo correr bem.
Até aqui, como está ficando: está bom? Ruim? Continuo nesse compasso? Preciso mudar o rumo? Parar? Manifestem-se nos comentários!
E até mais!
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