terça-feira, 16 de julho de 2019

MACÁRIO - Capítulo 63: "Reavaliação"

Olá.
Ainda na base no "sai quando puder", volto com um novo episódio de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO. Ainda sem previsão de término, e ainda sem previsão de quando haverá uma regularização na periodicidade dos capítulos. O mais que posso dizer é: continuem acompanhando, e fiquem atentos às atualizações do blog.
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de linguagem imprópria, linguagem sexual, ocupação ilegal de espaço privado, exercício ilegal da psiquiatria e constrangimento.



Essas três taradas não tomam jeito mesmo.
Não bastou invadirem minha realidade, elas também invadem meus sonhos... Quer dizer, elas já faziam isso desde antes, mas...
Se bem que Âmbar, Andrômeda e Morgiana, desta vez, vieram me resgatar da minha experiência mais maluca. Um passeio pelo meu subconsciente. Um passeio que, para mim, foi o mais lúcido – e mais assustador que o das outras vezes que fui morto no final.
Será que eu estava sonhando, ainda? Será que eu ainda estava dormindo?
Ali estavam as três, adormecidas, sentadas em cadeiras ao lado da minha cama. Encostadas uma na outra. As três bruxas de Eastwick. As três bruxas do Macbeth. Não pude deixar de sorrir com estas comparações.
E aí, as três despertaram, primeiro abrindo os olhos, depois, levantando as cabeças.
- Macário? – Andrômeda começou, grogue.
- Ah... acordou! – foi a vez de Âmbar falar.
- Macário... – balbuciou Morgiana.
- Vocês! – exclamei. – Que fazem aqui?
As três levantaram das cadeiras e se esticaram. Ao mesmo tempo, levantei da cama.
- Ugh, cadeiras são desconfortáveis... – falou Âmbar, fazendo a coluna estalar com um movimento.
- Que escolhas tivemos? – falou Andrômeda, que pelo jeito foi a menos afetada pelas condições desconfortáveis do leito. – Não tinha outra cama aqui.
- Macário, podemos explicar... Não é o que parece... – Morgiana se apressou em falar, sorrindo sem jeito.
- Vão explicando. – falei, emburrado, enquanto vestia minha calça. – Se é que eu estou mesmo acordado...
- Garanto que está acordado. – continuou Morgiana. – Veja, nós também acordamos.
- Será que eu acordei mesmo? – pergunto, ainda emburrado. – Vi muita coisa nas últimas horas... Como vou saber se...
- Ah, a vela durou pelo tempo que deveria durar. – falou Andrômeda. – Durou o tempo necessário para tirarmos o Macário de sua armadilha do subconsciente.
- Que vela?! – pergunto, erguendo a sobrancelha.
Andrômeda recolheu do chão um pires. Nesse pires, havia uns restos de cera e de um pavio, indicando que havia uma vela queimando. E, agora reparei, havia no quarto um leve cheiro de incenso.
- Este é um dos nossos truques, Macário. A vela especial da mente. – explica Andrômeda. – Enquanto esta vela estiver queimando, e exalando o aroma, possibilita a utilização do Portal Mental. O corpo dorme, mas você explora os sonhos conscientemente.
- Ah, cara. Mais uma das suas magias? – pergunto, colocando minha camiseta.
- Bem, Macário – Âmbar começou – Nós entramos não faz muito tempo na sua casa. Nós sabíamos que você estava precisando de ajuda e, bem, precisamos interferir.
- Eu... ainda não estou entendendo muito bem. – falei.
- Temos muito o que conversar, Macário – falou Andrômeda – antes de você ir para a sua aula.
- Certamente. – falou Âmbar, franzindo o cenho. – Hora da sessão de terapia, rapaz. Depois eu é que sou a tarada, hein?
Senti-me corando. Durante esse tempo em que estive sonhando, visualizei muitos conhecidos meus envolvidos em situações de sexo. Depois, eu mesmo ME vi em situações de sexo. E Âmbar certamente não estava contente em ver que algumas dessas situações envolviam sua irmã casada, Anfisbena. Agora sei que sou terrível.
Saio do meu quarto, as mulheres atrás de mim. Pelo jeito que elas me olhavam, eu meio que já sabia: Luce aprontou comigo de novo, só pode. Desta vez nos sonhos. Canalha.
Mas, logo que vou para a sala, não é com Luce com quem dou de cara: é com Eliane, adormecida no sofá, encolhida. E não estava sozinha.
Fifi também estava na sala, adormecida no tapete, largadona, os sapatos jogados a esmo.
Ambas vestidas.
Na sala, o mesmo aroma de incenso. Entre Fifi e Eliane, havia outro pires com restos de cera e pavio, soltando uma fumaça leve.
- Ma...! – exclamo.
- Hã... para tudo tem uma explicação. – falou Morgiana.
- Elas vieram para ajudar. – falou Âmbar.
- Ajudar?! – ergo a outra sobrancelha. – Mas em quê?
Aí, Fifi e Eliane abriram os olhos. Fifi foi a que pareceu mais surpresa.
- Arhn... nyah... – Fifi tentava se acostumar à claridade. Esfregava os olhos. – O quê? Como?
- Uaahhh... – bocejou Eliane, se espreguiçando.
- Ei! Que estou fazendo aqui no chão?! – pergunta Fifi, ainda se refazendo da surpresa. – Mas... Eliane!!
- Ah... o que foi, hein? – pergunta Eliane. – Todo mundo já acordou? Ah... – e olhando para mim: – Ah, oi, Macário, dormiu bem?
- Eliane!! Por que estou no chão?! – pergunta Fifi. – Eu deitei no sofá!
- Ah, deixe de ser muquirana, chefe. – justificou-se Eliane para Fifi. – Você tem a cama lá em casa só para você. Por que eu não podia ficar no sofá desta vez? Por que eu deveria dormir no chão de novo?
- Não tem vergonha... – Fifi olhou enviesado para Eliane.
- Além do mais, quem foi chamada para vir para cá fui eu. – Eliane continuou. – Você veio de metida.
- Eu vim porque eu quis conhecer o apartamento novo do Macário! – Fifi se justificou. – Mas e você?
- Eu vim porque disseram que o Macário estava em perigo... – disse Eliane. – Precisavam da minha ajuda... Da ajuda de uma bruxa... E, pelo jeito, está tudo bem agora. O Macário acordou, está bem!
- Ah, Macário, desculpe. Boa tarde, dormiu bem? – Fifi se apressa em me cumprimentar.
- Cada vez menos estou entendendo... – falei, encabulado.
- Bem, Macário. – começou Morgiana. – Nós havíamos prometido que não íamos te incomodar até o final da semana, e que íamos impedir que você...
- Estamos cumprindo todas aquelas promessas que fizemos a você ontem, Macário. – falou Âmbar. – Olhe só: eu nem bebi hoje. Pareço estar bêbada? Pareço?
E soprou bafo na minha cara. De fato, não havia bafo de álcool em sua boca, mas ela estava evidentemente precisando escovar os dentes. Estava com um hálito meio fermentado, mal disfarçado com balas de menta.
- Hã... não. – respondi, disfarçando a sensação de estar sentindo cheiro ruim.
- É, bêbada não parece estar... – falou Morgiana – mas o que você andou comendo? Carne de cadáver?!
- O que está insinuando?! – pergunta Âmbar.
- Pode não estar bêbada hoje, mas ainda está com o mesmo bafo de manguaça dos dias anteriores... Você lembra ao menos de escovar os dentes?!
Âmbar mostrou o dedo médio para Morgiana, que devolve um rosnado com seus dentes afiados. Em parte, eu tinha de concordar com a sereia, mas preferi não dizer nada a respeito.
- Sério, Âmbar, você não parece bêbada. – falei. – Sei só pelos seus movimentos.
- É mesmo?! – Âmbar pergunta, encabulada.
- Parem, vocês. – pede Andrômeda educadamente. – Bem, Macário, nós prometemos que iríamos te proteger nos sonhos, que iríamos bloquear quem quisesse invadir seu subconsciente com... hã... segundas intenções. E, de fato, alguém tentou isso.
Eliane e Fifi nos olhavam de sobrancelha arqueada. Claro, elas não fizeram parte da promessa. Mas também nos olhavam com expressão de “não fomos nós, não nos olhem desse jeito”.
- Alguém tentou o tal do Portal Mental? – pergunto. – Foi o Luce, não foi?
- Não. – Andrômeda falou. – Não foi ele. A princípio também achei que foi, mas não foi. O safado nem em casa está.
- Hein?
Fui ver in loco, enquanto as cinco garotas ficaram imóveis em seus lugares. Fui espiar no quarto de Luce. E, de fato, ele não estava deitado na cama. Depois, fui ver no banheiro: ninguém ali. Fui ver até mesmo o quarto-depósito, que estava destrancado: ali, haviam algumas caixas de papelão empilhadas e uma estante vazia, somente. Mas nem vivalma. De fato, Luce não estava no apartamento, decerto saiu.
- Então, Macário – falou Andrômeda. – O Luce não está. Acredita agora?
- Tem certeza que ele não está escondido? – perguntei, desconfiado.
- Se estivesse, eu poderia encontrá-lo só através do pensamento. – Andrômeda continuou. – Mas não detecto nada a um raio de dois quilômetros, ele não está por perto.
- E ainda bem. – falou Fifi. – Ele não ia ficar contente de nos ver aqui...
- Ok. O Luce não está em casa, e não está a um raio de dois quilômetros daqui, mas tem certeza de que ele não esteja de repente agindo de onde estiver agora?
- Sim, Macário. – falou Âmbar. – Digo, temos certeza de que o Luce não está agindo aqui. Nós três juntas, ou melhor, nós quatro, pois a Eliane também... enfim, nenhuma de nós detectou o dedo do Luce nesse negócio. Nós reconheceríamos as energias daquele safado mesmo no subconsciente alheio. Não. Foi outra pessoa quem tentou invadir seus sonhos.
- Quem? – arregalo o olho.
- Aí não sei. – falou Morgiana. – Ou melhor, não sabemos. As tais energias nos driblaram. Conseguiu fugir antes de a reconhecermos.
- Bem – Eliane começou a falar – deixa eu resumir: as três aí, inicialmente, quiseram apenas policiar sua mente. Para você dormir tranquilo. Pelo menos, foi o que me disseram. Mas fizeram qualquer coisa que acabou jogando você, ou melhor, o seu subconsciente, numa espécie de limbo, formado de lembranças alheias e de suas próprias lembranças, consegue entender?
- Mais ou menos... – falei, confuso. – Mas, infelizmente, sou estudante de Medicina, não de Psicologia. E nem de ocultismo... Então essas questões técnicas são, hã... complexas para mim.
- Olha, Macário – fala Morgiana – que fique claro uma coisa: nós não entramos juntas na sua cabeça. Estava cada uma na sua casa, de boa... nos encontramos no “limbo”, e aí, acabou dando m(...)...
- ...E nós três tivemos de pedir ajuda à única especialista em portais mentais que conhecíamos. – diz Âmbar, apontando para Eliane.
- Sabe, Macário – Eliane falou – meu pai é psiquiatra. Então, eu meio que entendo dessas questões de mente.
- Ela de vez em quando faz consultas psiquiátricas para nós – falou Fifi. – Ok, ela não tem diploma. Seria exercício ilegal da medicina, mas quem se importa?
- Quem precisa de diploma? – Eliane deu um sussurro triunfante. – Com papai psiquiatra, que faz a Psicologia parecer muito fácil quando a gente olha...
- Acho que está começando a ficar claro. – falei. – Mas, se vocês estavam nas suas casas, e podiam controlar tudo de lá... Por que vocês... digo, como entraram...?
- Como entramos no seu apartamento? – pergunta Andrômeda, corando. – Claro que com minha cópia da chave. Devo ter falado que dei um jeito de copiar a chave daqui para todo caso, não? A coisa saiu tão do controle que fomos obrigadas a invadir seu apartamento. Mais perto da sua mente, fica mais fácil de lidar. E trouxemos essas duas junto. – e apontou Eliane e Fifi.
- Ela aqui que não tinha nada a ver com nada. – disse Eliane, apontando para Fifi. – Ela veio de intrometida.
- Não deviam ter me acordado também – foi dizendo Fifi. – Além do mais, só ela que poderia ir no novo apartamento do Macário, e não eu?!
- Bem, está satisfeita agora? – pergunta Morgiana. – Você agora sabe onde o Macário mora agora. Sabe como é por dentro. Agora conte pro resto do pessoal, conta.
- Contar para aquele bando de arruaceiros? Moi? Nyah... – Fifi sorriu com ironia. – Aqueles lá vão entrar aqui e fazer a maior bagunça. Se fosse só o Luce morando aqui, eu nem me importaria, mas como o Macário está aqui também...
- Bem. É questão de tempo, agora, para o apartamento do Macário ser invadido por todo mundo. – diz Andrômeda. – Ninguém vai deixar nosso garçom em paz agora.
- Somos todas pecadoras... – lamentou-se Âmbar. – Somos gente falsa e mesquinha... Prometemos não importunar o Macário e...
- Ah, parem com isso. – falei. – Com vocês entrando nos meus sonhos, eu creio que já estou me acostumando... E acho que posso me acostumar com as constantes entradas e saídas de vocês. Ontem eu estava irritado mesmo, afinal transei várias vezes e levei socos... O que me deixou abalado mesmo foi o que eu vi nessa viagem pelo mundo dos sonhos... hã... vocês viram tudo, não viram?
- Você ainda se lembra de tudo o que viu, não, Macário? – pergunta Eliane.
- Lembro. E... vocês viram que eu sou mais pecador que vocês. Todas vocês. Digo... Eliane, você e a Fifi também entraram na minha cabeça, não foi?
- Bem... na verdade, nós entramos no finalzinho. – falou Fifi. – Eu entrei naquela parte da orgia dos Macários... tinha vários Macários que... nyaaahh... – e sorriu lascivamente. – Eu me vi lá também...
- Mas eu vi, Macário, vi tudo pelo que você passou. – Eliane falou, descontente. – Meio que consegui ver a trilha que você seguiu desde o começo, seu tarado. Eu vi que você estava espiando a intimidade da minha amiga Geórgia. E vi que você estava com ciúme dos namorados dela...
- Então... – interrompi – aquelas cenas aconteceram mesmo? Eu entrei mesmo na mente da Geórgia e a vi... com o Marto... com o Breevort e... Com você... Digo... você e a Geórgia...? Você a massageou e depois...
- Vocês duas...!! – falou Morgiana para Eliane. – Você e aquela menina...!!
Eliane corou. Seu rosto se confundiu com o vermelho do seu vestido.
- Bem... Não foi bem assim. – Eliane tentou se explicar. – Eu apenas apliquei uma massagem na Geórgia... Ela disse que estava precisando relaxar, e...
- Foi bem mais que uma massagem, sua pervertida. – falou Fifi – Eu estava junto naquele dia. Todos os outros saíram, enquanto estávamos só nós duas, eu com dor de cabeça, e aí você chamou a Geórgia e... Confesse agora sua bissexualidade. Confesse que você está apaixonada pela menina.
Eliane estava muito atrapalhada. Tinha sido pega no flagra.
- Macário, você sabe agora...!
- Eu... eu... Eu juro que fica só entre nós! – me apressei em falar. – Faz de conta que não sei nada da Geórgia... Se ela perguntar, eu digo que não sei de nada...
- Promete mesmo, Macário? Porque agora você sabe demais sobre segredos meus e da Geórgia... E ela está sofrendo muito...
- Acho que sei os segredos de muita gente... – interrompi, encabulado. – Descobri muita coisa que não devia... – e eu olhava agora para Morgiana.
Morgiana também corou.
- Você também descobriu que eu...!!
- Você e o Richard...! – falei.
- Eu... eu... oh, sim, eu confesso!! – Morgiana rompeu em choro. – Eu também dou uns “pegas” de vez em quando no meu primo!! Ou melhor, é ele quem dá uns “pegas” em mim... mas eu sempre deixo porque... oohhh... Eu sou uma... uma...
As outras todas sorriam enquanto Morgiana cobria o rosto e chorava de vergonha.
- Eu... eu juro que não conto para ninguém! – falei. – Para mais ninguém além de quem está aqui... eu... eu não vou contar para as suas irmãs!!
- Vo... você não vai contar para a Moira e para a Cliodna?! – fala Morgiana, fazendo os olhos lacrimosos aparecerem entre os dedos.
- Não vou contar. – reiterei. – Elas é que não podem saber...
- Se é que elas já não sabem. – sorriu Andrômeda.
- Quê?! – exclama Morgiana. – Sua... sua... traidora!!
E já foi pegando na borda do decote de Andrômeda e rosnando.
- Não, amiga. – Andrômeda se apressou em esclarecer. – Não fui eu que contou. Elas devem ter dado um jeito de descobrir que... Enquanto você estava de rolo com o Macário, você e o Richard...
Morgiana começou a puxar os próprios cabelos.
- Aah, droga!! Agora o Macário sabe que eu sou...!!! Ele não vai me querer mais...!
- Epa, Morgiana, como assim? – falei, passando a mão em seu ombro. – Eu deixei de querer uma garota só porque estava com outro cara? Com dois, três...?
- Mas você viu que eu...!
- Vi que o Richard não estava fazendo o trabalho direito... Que você prefere a mim, no fim das contas.
Morgiana abre um sorriso, e enxuga as lágrimas.
Eliane bate com o cotovelo de leve em Fifi:
- Ei, chefe. Ele também sabe de... você.
- Sabe o quê, hein?
- Que você... hã... também para os rapazes.
Foi a vez de Fifi corar.
-  Ma... Macário... eu... – Fifi começou a gaguejar. – Você também viu que... que eu... eu...
- ...que você também dá uma “pegas” nos rapazes da banda? – sorri sem jeito. – No Fido e no Pauley? Não consegui evitar.
Foi a vez de Fifi cobrir o rosto de vergonha.
- Ooohh...
- Tem alguém que não pode saber disso? – pergunto.
Mas Fifi não respondeu. As outras sorriam sarcasticamente.
- Essa não... – Fifi começou a chorar. – Agora o Macário não vai ME querer mais... Ooh, nyaahhh...
- Ah, não comece você também, Fifi. – digo.
- Mas se você viu que... Ah, mas é só de vez em quando, não é sempre, juro, Macário... Eu chamo os rapazes para o meu quarto e...
- Hã... até o Boland?
- Não, o Boland não. – Eliane se apressou em responder. – O Boland é fiel à Gil, e a Gil é fiel a ele. Os dois sempre voltam um para o outro. Só eles tem exclusividade um com o outro. Os outros estão liberados para pegar quem quiser na casa.
- Até você?!
- Até eu...
- Bem, o Boland tem a exclusividade da Gil... ou tinha. Porque, depois daquela noite, no Portal Mental...   
- É, eu sei, e ela não está feliz com isso até hoje. A culpa é nossa... Arrastamos a pobrezinha para o mau caminho... – se lamentou Fifi.
As outras davam sorrisos maldosos.
- Bem, o que você podia esperar de um grupo de maloqueiros, não é mesmo, Macário? – Eliane sorriu sem jeito. – Até o sexo é freegan entre nós.
- Mas me sinto meio trouxa. – me emburrei. – Me sinto só mais um pinto em suas vidas, digo, depois de toda a atenção que vocês deram para mim até agora, achei que fosse o preferido...
- Aah, Macário, ficou com ciúmes? – Fifi deu um sorriso irônico. – Ciúmes de... todas nós?
- Meio que estou me sentindo um mero cliente de bordel. – falei, chateado.
Todas coraram. No fim, eu também corei. Escolhi mal as palavras.
- Hã... desculpem, eu... Eu não quis dizer isso...
Esperei por uma reação negativa delas. Mas elas não me fizeram nada.
- Chega, chega. – falou Âmbar. – Chega de lamúrias. De todo modo, o Macário sabe de nossas vidas sexuais. Ele até participa delas... E, bem, espero que não nos leve a mal...
- Eu já estou acostumado. Vocês é que devem me perdoar...
- De nossa parte você está perdoado. – falou Andrômeda. – Eu já te disse, você é um cafajeste, mas do bem. É o nosso tipo favorito de cafajeste.
- E também da nossa parte, você está perdoado. – falou Eliane.
- Bem... Mas... Vem cá, Macário... – Âmbar me olhou de cenho franzido. Segue uns trinta longos segundos de silêncio. Oh não, eu já sabia do que ela ia falar em seguida.
- Âmbar, não foi nada disso que você está pensando... – falei, suando frio.
- Macário, até você deseja a minha irmã? – Âmbar fez beiço.
- Anfisbena?! Nã... não, eu não sei o que me deu, eu... Foi aquela coisa que ela misturou naquele cálice... Mas qualquer um desejaria a sua irmã, ainda mais se a visse na cama com... com... hã...
Todos ali se calaram. Engulo em seco. Dou um suspiro. E sento no sofá, segurando minha cabeça.
- Ah, cara. Eu sou um monstro do sexo. – suspiro. – Até no subconsciente eu ando impossível...
- Não, Macário, não diga isso como se fosse uma coisa ruim. Nyah. – Fifi tenta me consolar.
- Como não? Eu que sou o Monstro, não vocês... Nem o direito de falar mal de suas vidas sexuais eu tenho... Se a minha vida é igual a de vocês... Não, pior. Vocês são Chapeuzinhos Vermelhos perto deste Lobo Mau... Eu não sou cafajeste do bem, não, sou só... um cafajeste...
- Não diga isso, Macário... Não gostou de se ver transando? – pergunta Âmbar. – Você nunca foi ruim...
- O que eu mais tenho feito nesta vida é sexo... – continuo lamentando. – Eu não presto. Sou um Don Juan de m(...)... A única coisa que não tenho é amor no coração...
Estou a ponto de chorar.
- Ei, Macário, deita no sofá. – convida Eliane.
- Deitar no...?! – arregalo o olho.
- Não seja bobo, Macário. Não é o que você está pensando. Eu vou é analisar você.
- Me analisar?!
- Já te disse, meu pai é psiquiatra. Então, eu manjo de algumas manhas só de observar o que ele faz. Tudo bem que faz tempo que não vejo ele, fugi de casa, mas não se preocupe. Deita no sofá.
Resignado, deitei no sofá. Enquanto isso, Eliane puxou um banquinho e se sentou bem perto de minha cabeça. Tirou de dentro do casaquinho um bloco de notas e um lápis. As outras garotas puxaram cadeiras e se sentaram diante de nós dois, um pouco afastadas. Iam assistir à “sessão”.
- Chegou a hora de sabermos algumas coisinhas a seu respeito, Macário. – Eliane falou. – Fale um pouco do seu passado.
- Meu passado?
- Quando estávamos ali, naquela orgia, teve uma cena que te deixou perturbado, nós percebemos. Uma das garotas em particular... A mais velha...
Sei de quem ela estava falando.
- Ah... Bem, não é bem uma garota. É minha mãe.
- Sua mãe?! – exclama Andrômeda. – Aquela mulher mais velha...?
- Puxa, aquela era sua mãe? – manifesta-se Âmbar. – Puxa, ela é bonita, até. Bem conservada.
- Hã... você acha? – sorri sem jeito.
- Macário, você e sua própria mãe...! – Morgiana exclamou.
- N... não! Nunca! Mãe é mãe. Para tudo tem um limite. Não sei porque apareceu aquela cena de eu transando com minha querida mamãe. Só faltava essa, eu botar chifre no meu próprio pai.
- Então, devo supor que você tem, ou tinha, um princípio de complexo de Édipo. – falou Eliane. – Aquilo foi uma manifestação de um desejo seu...
- Decerto sim. – falei. – Bem, eu já tive, sim, um... hã... princípio de Complexo de Édipo. A minha mãe... ah, eu lembro bem que minha mãe foi a primeira mulher que eu vi nua na vida. Até os sete anos de idade nós tomávamos banho juntos. Digo, ela me dava banho até eu aprender a me lavar sozinho. E aproveitava para tomar banho também.
- Sua mãe foi sua primeira amante, não é isso? Digo, não da forma carnal, mas no plano platônico.
- Acho que isso acontece com todo homem. Até acontecer a primeira desilusão amorosa... Saber que mamãe tem outro.
- A sua mãe também lavava o seu pinto? – pergunta Fifi.
Levanto a cabeça e olho para Fifi de sobrancelha arqueada. O que ela estava insinuando?
- Por favor, sem mais interrupções. – pediu Eliane. – A conversa é com o Macário aqui, e a doutora agora sou eu. Prosseguindo... Bem, a sua mãe foi a primeira mulher que você viu nua, e, com certeza, o Complexo de Édipo se justifica, pois... Bem, sua mãe é uma mulher bonita, tem um corpo bonito...
- Não posso negar. Mas agora ela está mais velha, sabe...
- Sei. E você já viu... sabe, ela e seu pai...
- Sim. – respondo de bate-pronto.
- Já viu o quê? – pergunta Fifi.
- Meu pai e minha mãe transando, ué!
Todas deixaram escapar um “oh”.
- Para mim foi um choque ver, aos oito anos... lembro bem. Fui tomar uma água à noite, aí ouço gemidos vindos do quarto dos meus pais, eu temendo que minha mãe estivesse passando mal, e aí, espio por uma fresta da porta os dois...! Sem cobertas! Pelados! Meu pai empurrando o p(...) dele no traseiro da minha mãe!!
Reparo que as espectadoras da sessão começam a chupar os lábios.
- Aquilo foi um choque para você?
- Mais ou menos... Quer dizer, o que eu não sabia era que aquele era o método para conceber bebês, durante algum tempo acreditei em cegonha... porque eles não estavam fazendo aquilo para me dar um irmão.
- Você tem irmãos?
- Não. Sou filho único. Foi mais tarde que meu pai me confessou que se submeteu a uma vasectomia depois que nasci.
- Oh.
- Mas eu nem podia imaginar que meu pai e minha mãe... Bem, não foi a única vez que assisti escondido aos dois...
- Então, os seus pais se amam!
- Sim. Mas nunca havia imaginado, até então, que meu pai também gostasse de sexo. Também gostasse muito de sexo. Que a vasectomia trouxe vantagens para ele... Bem, é que meu pai também é bibliófilo, colecionador de gibis, de livros, de discos... Ele inclusive já foi dono de um sebo de antiguidades. Ele tentou transmitir a mim a mesma cultura que ele era amante. Me incentivava a ler, ouvir todo tipo de música...
- E você contrariou seu pai?
- Não. Que é isso, eu nem estaria na faculdade se tivesse traído a cultura erudita que ele sempre me transmitiu. Também tenho meu gosto por literatura. Meu pai me incentivava a ler inclusive gibis, evoluir minhas leituras, dos gibis infantis até os adultos, daqueles cheios de violência e sexo. O que eu não pude é levar comigo para a faculdade parte dessa cultura. Entendem?
- Continue.
- Bem. Meu pai gostava tanto de sexo como de livros... Um pouco mais tarde que eu encontrei a coleção de Playboy dele, que ele escondia. Foi um tesouro, uma revelação. Bem, essa descoberta também influenciou minha decisão quanto a uma futura profissão... Escolhi Medicina.
Todas coraram.
- Meus pais sempre procuraram me dar a melhor educação possível. Nunca traí essa confiança depositada em mim. Sempre procurei ser um rapaz aparentemente responsável, estudioso, trabalhador... Minha maior rebeldia foi escolher dormir durante o dia e trabalhar à noite.
- E por que você escolheu o turno da noite?
- Meio que tem a ver com quando eu iniciei minha vida sexual, minhas conquistas amorosas... Querem mesmo que eu conte?
- Conte, Macário. Nos conte tudo. – pede Eliane. – Talvez isso ajude a explicar por que você está atraindo as Criaturas da Noite ao seu redor. Por que os vampiros, licantropos, ninfas, sereias, ogros e outras criaturas que vivem escondidas dos humanos tenham tanto interesse em você.
- Você está realmente anotando tudo o que estou falando, Eliane?
- Claro que estou. – e me mostrou rapidamente o bloco de notas manuscrito, mas sua escrita era ilegível, parecendo mesmo letra de médico. – Vai contando. Detalhes de sua iniciação ao sexo.

- Está bem. Já que insistem...

Próximo episódio em breve, se tudo correr bem.
Até aqui, como está ficando: está bom? Ruim? Continuo nesse compasso? Preciso mudar o rumo? Parar? Manifestem-se nos comentários!
E até mais!

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