terça-feira, 30 de julho de 2019

MACÁRIO - Capítulo 65: "Uma Sessão de Sadomasoquismo Psicológico"

Olá.
Enquanto escrevo, ainda é terça-feira. E consigo publicar, pela terceira semana consecutiva, um capítulo inédito de meu folhetim ilustrado para adultos, MACÁRIO. E vou, com isso, acertando o cronograma que antes estava todo atrapalhado.
ATENÇÃO: leitura não recomendada para menores de 18 anos. Contém cenas de bullying, uso de magias e lesão ocular.



Foi com um grande susto que percebemos a presença de Luce no apartamento, durante a sessão de “psicanálise” pela qual eu estava passando, com Eliane como terapeuta.
- Luce!! – exclama Andrômeda, surpresa. – Há quanto tempo você estava aí escutando?!
- Acho que faz uns... cinco minutos. – Luce falou, com a cara mais deslavada. – Entrei tão discretamente, e acho vocês todas aí, ouvindo o Macário falar de sua vida... Bem, cheguei na parte do periscópio de caixas de leite...
Levanto-me para ver melhor. Luce, trajando calça jeans e camiseta, estava parado com algumas sacolas de supermercado nas mãos.
Andrômeda, Âmbar, Morgiana e Fifi se levantaram de suas cadeiras.
- Onde você estava, seu safado?! – Andrômeda se dirige rispidamente ao irmão.
- Estava cuidando de uns negócios, maninha. Fui chamado, tive de sair cedo de casa... E passei no supermercado para fazer algumas compras, olhe só. – e mostrou as sacolas.
Depois, colocou as sacolas em cima da mesa e começou a tirar seu conteúdo. Mas dentro das sacolas não havia comida, apenas produtos de limpeza.
- Para quê tudo isso, Luce? – Andrômeda ergueu a sobrancelha. – Sabão em pó, esponjas, água sanitária, desinfetante, sabonete, xampu, pasta de dente... o que é isso? Oh, soda cáustica!... E mais sabão em barra, amaciante de roupas, e...
- São produtos de limpeza, ué. Para quê vou usar? Para limpar o apartamento! E, ah, sabia que estava esquecendo algo... esqueci de comprar baldes, vassouras, rodos e esfregões. É no que dá fazer tudo na pressa.
- Mas e a soda...? – Andrômeda pergunta, agitando levemente o pote de soda.
- É para desentupir os ralos. E o que está me olhando assim? Eu também sei fazer limpeza, você sabe que sei, lembra que nós ajudamos o Macário na limpeza do bar, e...? Ah, não me olhe assim, já disse. Trezentos anos é mais que suficiente para um homem aprender a limpar a própria moradia, e ainda sobra.
As outras garotas estavam olhando com estranheza para aquela cena. Eu também. E algo me dizia que aqueles produtos de limpeza não eram unicamente para limpar o apartamento, do que quer que seja – em poucos dias de ocupação, o apartamento ainda se mantinha em perfeitas condições, a limpeza podia ser feita apenas com vassouras e panos de chão, nenhum sinal de deterioração ou mofo nas paredes. Baldes, vassouras e rodos a gente já tinha. O jeito que Andrômeda interrogava Luce dizia que algo ali estava errado.
- Luce... – Andrômeda ia falar, mas o irmão a interrompeu:
- Mas olhe aqui agora, quem deveria estar fazendo perguntas sou eu. Por que todas vocês estão aqui? A Morgiana, a Âmbar e... olhem só, até a Philomene e a Eliane, as nossas maloqueiras favoritas! Como vão os outros lá da banda? Que fazem aqui?
- Como todos, nós estamos aqui para conhecer a nova moradia do Macário. Nyah... – respondeu Fifi, em tom de dissimulação, para a seguir completar em tom ríspido: – E maloqueira é a sua mãe.
Luce fez que nem ligou para a grosseria de Fifi, e de dirigiu a mim, ainda sentado no sofá:
- Ah, Macário. Está vendo só? Nunca mais vão te deixar em paz. Agora mais gente sabe onde você mora agora. Não me diga que você... – ergueu a sobrancelha e se dirigiu às garotas agora – Aah, eu sabia. Vocês estão descumprindo o acordo, eu sabia, eu sabia... Suas ninfomaníacas... Não sabem esperar até o final da semana, foi tudo balela...
- Não é nada disso que você está pensando. – retrucou Morgiana.
- Claro que é o que estou pensando. Mentirosas. Falsas. Taradas...
- Não teve sexo aqui hoje. – falou Âmbar.
- Não? – Luce fez biquinho.
- Que eu estoure aqui na sua sala se estivermos mentindo. – falou Âmbar. – Aí você vai ter de usar agora esses produtos de limpeza. Não teve sexo.
Luce não parava de sorrir sarcasticamente.
- Uhum... Se não teve sexo, então o que vocês fazem aqui? Principalmente você, Âmbar, sempre vestida para seduzir...
- Eu que devia estar perguntando o que você esteve aprontando de verdade, Lúcifer – retrucou Andrômeda, tentando mudar de assunto – que a gente entrou aqui, não encontrou você na cama, e não detectou você em parte alguma.
Luce não demonstrava um pingo de nervosismo, ao contrário das garotas.
- Se quiser saber o que estive fazendo, Andrômeda, pergunte ao Flávio Dragão. Ligue para ele, vá à casa dele... Foi com ele que estive reunido. Ele confirmará que nós dois estivemos na beira do lago.
- Que lago?
- Você sabe que lago, irmã, vocês sabem qual lago. Digo, só o Macário que não sabe, mas em breve saberá. É surpresa.
Pelo jeito, o tal lago ficava fora do perímetro urbano da cidade, para Andrômeda não ter detectado Luce em um raio de dois quilômetros. E a casa de Flávio Dragão fica nesse raio de distância, próxima de nosso apartamento, até. Logo, ele foi longe. Mas, ainda assim, não estava entendendo nada. Tudo ainda era muito caótico. Que surpresa seria essa?
- Bem, se não teve sexo, então o que teve aqui? – prosseguiu Luce.
- Não teve nada envolvendo sexo, Luce. – Fifi se manifestou. – O que houve foi...
- Falem a verdade. – interrompeu Luce, com uma careta. – Não dá para confiar em mulher, ainda mais em criaturas noturnas femininas...
- Estamos falando a verdade. – Âmbar ajudou. – Não teve sexo.
- Acho que teve, sim. Estão aí vestidas só para tentar parecer que não.
- Nós não tiramos nem uma pecinha de roupa quando entramos aqui. – falou Morgiana.
- Aham, sei. E aí? Quem foi a primeira a cair de boca no p(...) do Macário?
- Já disse que não...! – Andrômeda quase gritou.
- Vamos, não sejam tímidas, podem falar a verdade, estamos só nós aqui, e o Macário já sabe que...
- Mas que filho da mãe... Não teve sexo, seu p(...)!!! – Fifi começou a se alterar.
- Confessem logo que teve...
As garotas todas estavam muito vermelhas de raiva, enquanto Luce se mantinha muito calmo, apenas provocando-as. Fifi estava a ponto de se metamorfosear em pantera. A mão de Andrômeda começou a sangrar de tanto que ela apertava o punho. Eu fiquei imóvel no meu lugar, só olhando. Era evidente que Luce só queria irritar as garotas, se fazendo de teimoso, como que esperando a oportunidade de usar esses fatos para comprometê-las. Não, espere: Eliane não estava com raiva. Ela era a única que parecia não estar se deixando levar pelas provocações de Luce. Ela observava, impassível, e me olhava com um olhar de censura ao que estava vendo.
- Por que você não acredita na gente, seu... – Morgiana já mostrava os dentes afiados.
- Vamos – Luce provocava, alegremente – confessem que vocês não se aguentam de vontade de passar a noite e a madrugada com o nosso garçom favorito. Confessem que vocês não vão aguentar até o final da semana. Que s(...) nunca é suficiente, suas famintas por p(...). Principalmente você, Philomene, que não consegue se satisfazer com os rapazes da banda, nem você, Eliane, a jovem Cruella De Vil... E ainda por cima obrigam o rapaz a confessar detalhes picantes do passado dele, contar a vida dele, como se estivessem no divã do analista... E... Ah, esperem aí, foi no Portal Mental, certo? Pode ter sido outra possibilidade...
As quatro garotas já estavam a ponto de explodir, mas tentavam se segurar. Estava difícil. Só Eliane continuava impassível – e eu vi que ela, discretamente, tirou um tubinho de dentro do casaco e despejou seu conteúdo em uma das mãos, fechando-a firme depois.
- Ah, olhe só, Macário – Luce dirigiu-se a mim – essas cinco não se aguentam de ansiedade... E... ah, espere aí, talvez elas tenham razão... Se fosse vontade de f(...) com você, teria muito mais garotas aqui... Das garotas dos Animais da Rua, só estão elas duas, a Philomene e a Eliane? Cadê a Aura? Cadê a Gil? Isso não faz sentido. Por que só as duas mais gostosas foram chamadas? Que discriminação com as outras... Ah, Macário, diz aí... como foi? Orgia com cinco gostosas... Cara, como é que você aguenta? Teve de tomar satyricon, não foi? Vai, fale mais, meu amor... E conte mais a respeito das tais Três Safadas que você via peladas na juventude...
Ah, eu não aguento mais. Não podia deixar aquele safado se vangloriar de graça.
- Eu confirmo que não houve sexo, tá legal?! – foi minha vez de me alterar. Levantei do sofá e confrontei Luce, me sentindo irritado com todo aquele jogo psicológico que aquele canalha estava promovendo. – Elas estão falando a verdade, hoje elas não vieram aqui para transar.
- Vai, defende essas taradas. – Luce não se alterou. – Que cavalheiro você é, fico impressionado.
- Se eu estou dizendo que não teve sexo, é porque não teve, pô! – agora eu estava sentindo ficar vermelho. – Nem no Portal Mental, nem no meu quarto! Se tivesse tido, eu estaria aqui feito uma múmia de tão seco que estaria! Estaria morto, até...
Luce pôs a mão no queixo.
- É, faz sentido, mas...
- Você é que tem de confessar, Luce. – interrompi, mudando de assunto. – Teve dedo seu, não teve?
- Dedo meu onde?
- Na aventura que tive esta madrugada no mundo dos sonhos.
- Aventura no mundo dos sonhos?! Como assim? Ah, essa parece interessante, conte mais, meu amigo...
Mas Andrômeda aproveitou a distração e empurrou Luce para o sofá. Este caiu sentado, e Andrômeda o confrontava, quase encostando as pupilas dos olhos nas dele.
- Primeiro me diz, Luce. Que horas você saiu para o passeio no lago?
- Eram sete horas da manhã. – responde Luce, com um acento de intimidação. Parecia que agora Andrômeda estava conseguindo deixar Luce assustado. – Deixei o Macário dormindo e... bem, eu recebi um telefonema do Flávio Dragão. Fui correndo para lá. Pô, juro. Eu já parei de invadir os sonhos do Macário. Você sabe.
- Você não tentou invadir mesmo os sonhos do Macário? Nem sob algum disfarce?!
Luce afasta a cabeça de Andrômeda da sua, e retoma o sorriso sacana.
- Claro que não. Que interesse teria eu nos sonhos do Macário? Depois de ontem, ando meio farto de sexo, e provavelmente era com o que ele estaria sonhando... – Luce voltou seu olhar para mim. – Ah, saquei, não teve sexo na vida real, mas teve nos sonhos, né? No Portal Mental teve, nééé?!
- Que mané Portal Mental!! – falou Morgiana, irritada. – Foi no plano normal dos sonhos, mesmo! Alguém tentou invadir a mente do Macário e acabou dando m(...)... A gente só tentou impedir! Ele ficou vagando por lembranças de outras pessoas e nós tivemos de vir aqui... A presença da Fifi e da Eliane se justifica porque elas vieram ajudar. Elas entendem das magias de acesso ao Portal Mental. Entendeu agora?!
- Aaahhhhh... Não. – falou Luce. – Ainda acho que vocês estão mentindo. Como sempre fizeram.
Mas que cínico!!
- Uuhhh... – Morgiana ameaçava gritar, mas Eliane conseguiu contê-la.
- Esperem. Esperem. – Eliane falou, com calma, em tom de conciliação, com um dos punhos fechado, segurando o conteúdo do tubinho. – Calma, gente. Essa conversa não está levando a nada. Essa troca de acusações só está irritando todo mundo... Lúcifer, se você parar com esses jogos de provocação, só para irritar os outros, a gente explica o que está de fato acontecendo. Ao que parece, você está falando a verdade, você não teve mesmo envolvimento nessa história...
- Ah, finalmente alguém de cabeça fria por aqui... – Luce falou, estufando o peito – Apesar de ser uma mera humana, esta aqui ainda tem a cabeça no lugar. Olhem só, criaturas da noite. Olhe só, Macário. Que vergonha, com as suas demonstrações de raiva infantil, vocês perdendo para uma... mera humana!
Porém, Eliane abriu a mão e soprou uma espécie de pó nos olhos de Luce, que recebeu tal golpe surpreso. Luce soltou um gritinho. Aquele sortilégio o deixou, de repente, com um olhar vidrado e vazio, mas os olhos estavam avermelhados. Luce paralisou, fazendo uma horrível careta.
- Isso o deixará calmo. – falou Eliane. – Mera humana, hein?! Agora, Macário, venha cá.
Me aproximei. E Eliane me fez encostar a minha testa na de Luce, de modo que eu olhasse em seus olhos.
- Mas o que... – fui perguntando, mas Eliane interrompeu.
- Só olhe nos olhos dele, Macário, por um minuto. Depois explico.
Olhei. Que estranho, eu olhar fixamente nos olhos daquele cara...
Mas, enquanto olhava, vi de repente as imagens do que aconteceu naquela madrugada, desde a hora que comecei a dormir, passarem pelos meus próprios olhos, e se refletirem nos olhos de Luce como se estes fossem globos de vidro espelhados. O que estava acontecendo?...
Passado o que pareceu realmente um minuto, meu olhar se desprendeu do de Luce. Ambos ficamos atordoados. Fiquei piscando muito.
- Pronto. – falou Eliane. – Agora acredita em nós, Luce? Pelos olhos do Macário, você pode ver que ninguém aqui mentiu.
Luce piscava e piscava, como se estivesse se recuperando do facho de uma lanterna nos olhos.
- Uau... – foi o que ele falou.
- Eliane, o que você fez? – pergunta Âmbar, surpresa.
- Uma magia nova, experimental... E fico feliz que tenha dado certo. Meio que fiz um... digamos... download das lembranças do Macário para a mente do Luce. Agora ele sabe que ninguém mentiu e vai sossegar o facho, certo?
Luce tremia levemente. Um fio de saliva pingou do canto de sua boca.
- Você o quê?! – exclamei.
- Calma, Macário. Só dos eventos da madrugada. Só para provar que você esteve em... hum... perigo.
Depois, Luce balançou a cabeça. E me olhou.
- Puxa, Macário... sério mesmo que foi por tudo isso que você passou?!
- Hã... sério mesmo.
E ele abriu um novo sorriso sacana.
- Ah, vá, Macário, sério. Sério mesmo que a sua mente está ocupada em grande parte por sexo?!
Todos ali gelaram.
- Ainda por cima invade a intimidade alheia por meio dos sonhos?! Ah, Macário... Você é um tarado profissional.
- Luce!... – exclamei.
- Ah, mas está bem, agora acredito, vocês não vieram fazer sexo com ele. – Luce dirigiu-se às garotas. – Vocês estão absolvidas. Eeeee... Agora com sua licença.
E Luce pegou os produtos de limpeza e foi guardar no depósito.
E todos nós ficamos só olhando, com cara de tacho. No fim, Fifi se pronunciou:
- Algo deu errado na sua magia, Eliane.
- É praticamente impossível mudar a natureza de um... Lúcifer. – pronunciou-se Andrômeda.
- É... de volta ao laboratório. – falou Eliane.
Depois de um minuto, ninguém falou mais nada até eu me pronunciar:
- Bem... Vou me arrumar para a faculdade.
E, voltando-me para Eliane:
- Hã... doutora, que tal marcarmos uma nova sessão para... digamos... semana que vem?
- Quando você quiser, Macário. Ainda vamos terminar a sessão... Você ainda vai contar o que te fez preferir o dia à noite...
- Vamos descer com você. – falou Morgiana.
E eu dei as costas às garotas, que ainda observavam, atônitas.

Enquanto eu ainda tremia com a possibilidade de Luce usar o que viu, na minha mente, para algum motivo escuso... Eu já podia me ouvir declarando: adeus, vida que eu amava.

Aguardem o próximo episódio.
Até aqui, como está ficando? Está bom? Está melhorando? Está piorando? Preciso fazer alterações? Continuar? Parar? Manifestem-se nos comentários!
E até mais!

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