terça-feira, 7 de outubro de 2008

História das Histórias em Quadrinhos - 2a. Parte

Olá.
Já que iniciei a História das HQ, aqui vai agora a segunda parte, do período inicial até os anos 20.
A partir de agora, alguns trechos serão coloridos - uma cor para os EUA, para a Europa, a América Latina e o Oriente.



PERÍODO INICIAL (1895 – 1909)
Os pesquisadores convencionaram tomar como marco inicial para uma história das HQ a aparição, em 1895, do Yellow Kid (Menino Amarelo) dentro da série de cartuns chamada Hogan’s Alley, criação do americano Richard F. Outcault para o jornal New York World, de propriedade de Joseph Pullitzer. Este trabalho é o primeiro a introduzir os balões com as falas dos personagens e a ação fragmentada (vários quadros, sem molduras, para indicar a sucessão dos episódios da história). A partir de 1895, portanto, as HQ, saindo dos álbuns ilustrados ou livros, passam a ser divulgados pelos veículos de comunicação em massa e, conseqüentemente, a se inserir no contexto da indústria cultural. E não é só isso: o Yellow Kid também origina o termo yellow journalism (no Brasil, o termo equivalente é imprensa marrom ou nanica) como sinônimo de imprensa sensacionalista (os jornais sensacionalistas utilizavam o recurso de publicar HQs nas edições dominicais com o objetivo de alavancar suas vendas), bem como a primeira disputa judicial envolvendo HQ: Outcault, em 1896, troca o World pelo New York Journal, de propriedade de William Randolph Hearst (rival de Pullitzer), levando seus personagens consigo.

A HQ em sua forma definitiva aparece em 1897, com Katzenjammer Kids (Os Sobrinhos do Capitão), de Rudolph Dirks, para o Journal. Nela aparecem onomatopéias, sinais gráficos e molduras em volta da ação. Assim como os personagens, inspirados no Max und Moritz de Busch, seriam os precursores das chamadas kids strips (HQs com crianças como personagens principais), bem como de uma série de crianças terríveis das HQ. Além desses fatos, podemos destacar, do presente período:
· 1902 – Nos EUA, Outcault cria outro personagem célebre: Buster Brown (Chiquinho);
· 1903 – Nos EUA, Upside Downs, do holandês Gustave Verbeck, trazia uma proposta gráfica inusitada que jamais foi repetida: para se ler o resto da história, bastava virar a página de cabeça para baixo;· 1905 – Nos EUA, Little Nemo in Slumberland, de Winsor McCay, que, com seu desenho surrealista, enquadramentos panorâmicos, grandes perspectivas e jogos de cortes e sequências, prenuncia o cinema de vanguarda e, além disso, a obra introduz o elemento da continuidade nas HQ (a situação apresentada sendo interrompida no momento crítico para continuar no dia seguinte); Na França, surge a revista La Semaine de Suzette, dirigida ao público infantil feminino. Dentre as principais atrações da revista, está a personagem Bécassine, de Jacqueline Rivière e Joseph Porphyre Pinchon, considerada a primeira personagem feminina protagonista de uma HQ;
· 1906 – Nos EUA, Kin-der-kids, uma das mais destacadas obras de Lyonel Feininger, célebre pintor de origem alemã (apesar de essa HQ ter sido produzida por um artista gráfico de prestígio, a crítica ignorou que as HQ poderiam ser uma forma de arte, preconceito que se perpetuaria até recentemente);
· 1907 – Nos EUA, Mutt e Jeff, de Bud Fisher, a mais bem-sucedida tentativa de tira diária de jornal, e considerada, assim, seu marco inaugural (até então, as HQ eram restritas aos suplementos dominicais);
· 1908 – Na França, os Les Pieds Nickelés, do Louis Forton, são considerados os primeiros personagens não-infantis de HQ; Na Itália, aparece o periódico Corriere dei Piccoli, de onde saem alguns dos primeiros personagens de HQ daquele país. Entre as atrações do Corriere, Bilbolbul, de Atilio Mussino;
· 1909 – Nos EUA, Winsor McCay produz, a partir deste ano, desenhos animados baseados em criações suas. Uma de suas obras de animação mais conhecidas é Gertie, o Dinossauro.

PERÍODO DE ADAPTAÇÃO (1910 – 1928)O sucesso das HQ leva ao controle dos direitos de publicação por corporações (syndicates), cuja principal função era centralizar e distribuir as histórias a jornais e revistas, inclusive para outros países. Nesse período, existiam duas correntes de artistas: os humoristas, que viam nas HQ apenas diversão e entretenimento, e os estudiosos, que pretendiam intelectualizá-los. A partir de 1920, o cinema passa a influenciar os comics, que passam a ter cortes rápidos, angulação variada e ação seriada dos episódios. Quatro gêneros ou tipos de personagens, cristalizados no período, sobressaíram-se e acabaram virando paradigmas da arte:
· As crianças (kids strips), sejam elas travessas, caso de Sobrinhos do Capitão e Pinduca, ou induzindo o leitor à reflexão, como em Minduim e Mafalda;· Os bichos (animal strips), em geral antropormofizados (com trejeitos e comportamento semelhante ao humano), caso de Krazy Kat, Mickey Mouse, Gato Félix e Pogo;· As famílias (family strips), que também reproduzem um pouco das características da sociedade do período retratado, caso de Pafúncio e Marocas, Blondie e Ferdinando;
· As garotas (girls strips), espécie de variação das family strips, mas centrados em garotas que buscavam o casamento, caso de Blondie (em sua fase inicial); algumas girls strips, no entanto, já mostravam também o início das conquistas femininas na sociedade, caso de Winnie Winkle e Brenda Starr.
Algumas das obras e fatos mais marcantes do período:
· 1911 – Nos EUA, Krazy Kat, de George Herriman, uma das mais poéticas HQ já criadas (tanto que ela não foi continuada por outro desenhista após a morte de Herriman, um caso raro na indústria das HQ);
· 1912 – Nos EUA, outra célebre disputa judicial envolvendo HQ: Dirks muda-se para o World de Pullitzer, e leva consigo os Katzenjammer Kids. A nova disputa judicial que se segue entre Hearst e Pullitzer termina com a série publicada nos dois jornais ao mesmo tempo – no entanto, Dirks teve de mudar o nome dos personagens publicados no World (a série passou a se chamar The Captain and the kids), enquanto que no Journal o nome Katzenjammer Kids é mantido, mas desenhado por Harold Knerr. Como resultado adicional desse processo, Hearst, nesse mesmo ano, funda o International News Service (que, em 1914, muda o nome para King Features Syndicate), a primeira (e maior) corporação e distribuidora de HQ do mundo;
· 1913 – Nos EUA, Bringing up Father (Pafúncio e Marocas), de George McManus, precursora das family strips;

- 1917 - Na Espanha, surge a revista TBO, publicação de HQ que, de tão influente, gerou o termo tebeos, como são conhecidas as HQ naquele país (além do termo historieta);
· 1919 – Nos EUA, Gasoline Alley, de Frank King, a primeira a mostrar personagens que crescem e envelhecem; Barney Google, de Billy de Beck (posteriormente, um personagem surgido nessa tira, Snuffy Smith, “rouba” o papel principal, o que podemos considerar como um dos primeiros casos de spin-off [série surgida de outra] nas HQ); Elzie Segar inicia a série Thimble Theatre;· 1920 – Nos EUA, Winnie Winkle, de Martin Branner, uma das primeiras girls strips;
· 1923 – Nos EUA, O Gato Félix, célebre personagem dos desenhos animados criado pelo australiano Pat Sullivan, chega às HQ; · 1924 – Nos EUA, Little Orphan Annie (Aninha, a pequena órfã), de Harold Gray, considerada a obra que introduz a ideologia política (no caso, de extrema direita) nas HQ; Roy Crane cria Wash Tubbs (Tubinho), série humorística que, mais tarde, se desdobra para a aventura (sendo considerada a série precursora do gênero), e gera outro spin-off, o Captain Easy (Capitão César);
· 1928 – Nos EUA, O Mickey Mouse, de Walt Disney, estréia nos desenhos animados. O personagem chega às HQ em 1930.


Na terceira parte da História das HQ, os férteis anos 30, ou "era de ouro" das HQ.
Para finalizar (e aproveitando o ensejo), fiquem agora com Letícia.

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