quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Livro: LYTHANDE

Olá.
Hoje, vou falar de livro. Faz algum tempo que não falo de livros, né...
Bem, mas vou falar de um dos meus livros favoritos.
Há algum tempo atrás, meu primo me ensinou, junto com amigos dele, a jogar RPG (Role-Playing Game). Jogo que eu aprecio, inclusive, pela possibilidade de criar-se um personagem e jogar com ele, interagindo com um mundo especialmente criado para aventuras. Quem é do ramo sabe que os cenários medievais, cheios de magia, são os preferenciais desse tipo de jogo. Sabe, os cenários tipo Senhor dos Anéis.
Dizem que RPG é jogo de nerd, e o pior, que é jogo do demônio. Calúnias! Não acho o RPG tão ruim assim - e demoníaco é quem diz! Aliás, há quem diga que o RPG pode ser um auxiliar na escola, sobretudo nas aulas de História, pois, sendo um jogo genérico, que comporta qualquer cenário (não só o medieval), exige alguma pesquisa para situar o cenário do jogo. E é dos jogos de RPG que inclusive deriva-se minha HQ favorita, a brasileiríssima Holy Avenger.
Bem, o livro do qual eu vou falar não é sobre RPG, mas me faz lembrar esse jogo: LYTHANDE, de Marion Zimmer Bradley.
A autora americana (1930-1999) é muito conhecida pela série As Brumas de Avalon. Autora de muitos livros de fantasia, como os da série Darkover, Marion Zimmer Bradley nos oferece, neste volume, um mundo que cabe bem aos apreciadores de RPG e histórias fantásticas.
LYTHANDE - AS MÁGICAS AVENTURAS DO ADEPTO DA ESTRELA AZUL é anterior ao seu sucesso As Brumas de Avalon. Trata-se de uma série de contos que ela publicou a partir de cerca de 1978, publicadas em revistas, ambientadas em um mundo fictício, chamado Mundo dos Ladrões. No início, fazia parte de uma série concebida por Bob Asprin - segundo informa a própria autora na introdução do livro - no qual vários escritores escreviam histórias em um cenário comum - no caso, o tal Mundo dos Ladrões, um cenário medieval padrão, onde poucas pessoas são confiáveis - um mundo de feiticeiros boêmios, prostitutas, uma elite depravada e a gente honesta tentando sobreviver como pode.
Bradley colaborou com essa antologia com as histórias do misterioso mago Lythande. O presente volume apresenta seis histórias do personagem. Ou, no caso, DA personagem.
Lythande (pronuncia-se litande ou litond) é o mago da ordem da Estrela Azul (cujo símbolo brilhante é tatuado em sua testa), dedicado a errar pelo Mundo dos Ladrões no combate às ameaças das trevas até o fim dos tempos. Os magos dessa ordem guardam todos um segredo, e se esse segredo for descoberto por alguém, os magos perdem todo o seu poder.
O segredo de Lythande é o mais arriscado de todos: ele, na verdade, é uma mulher. Uma mulher que ousou penetrar em uma ordem exclusiva aos homens, e é obrigada a disfarçar-se de homem. Aí reside uma insinuação ao lesbianismo, já que Lythande, por força de seu disfarce, ama mulheres. Ela não se envolve com homens, pois são eles que podem extrair-lhe o poder se o segredo for descoberto. E ela não come ou bebe na frente de estranhos. Ah: Lythande também é uma exímia menestrel, tendo a música como forma de subsistência - pois, como ela mesma diz, a magia "não põe o feijão na mesa". Muito embora também tire algum com missões para terceiros que precisem de um mago. Ah: suas armas são duas adagas que ela porta no cinto, uma usada para ameaças reais, outra para combater seres mágicos.
São seis histórias, como eu disse. Na primeira, um mago inimigo de Lythande usa uma garota para tentar seduzir a maga, e extrair seu segredo (essa é a história mais erótica da antologia). Na segunda, Lythande é requisitado por um mago incompetente para que recupere sua varinha - em troca de um alaúde que contém o espectro de uma mulher que faz parte do passado da maga (a história mais cômica); na terceira, ao tentar salvar uma guerreira que estava sendo estuprada, Lythande recebe a contragosto a missão de levar a espada daquela a um templo de uma ordem exclusiva de mulheres - e assim, o seu segredo corre o risco de ser revelado; na quarta, Lythande precisa combater uma sereia que assola uma vila de pescadores; na quinta, a maga recebe de um príncipe boêmio a missão de desfazer o encanto de um alaúde que obriga-o a migrar de um lado a outro. A sexta história é uma "faixa-bônus", pois foi escrita por uma colega de Bradley, Vonda N. McIntyre: nela, Lythande é um coadjuvante, que ajuda um grupo de bárbaros caçadores estrangeiros a procurar um amigo deles, que foi capturado (a personagem principal do conto, a caçadora Wess, é uma das mais cativantes do livro - depois de Lythande).
Como vê, Lythande fica constantemente com a corda no pescoço nessas aventuras. Por isso, é tão interessante. E com um acento feminista imprescindível, marca registrada da autora, ativista do direito das lésbicas.
LYTHANDE, a antologia, foi publicada em 1986 nos EUA. Todos os contos possuem introdução da autora, que fala do processo de criação de cada um. A tradução brasileira é da editora Imago, publicada em 1989 (3a. Edição).
Quem puder esgravatar nos sebos e encontrar, eu digo: vale a pena. Principalmente aos amantes de RPG.
Para encerrar, um desenho que fiz do Lythande, ou pelo menos da forma como eu imaginei o herói-heroína (já que o livro não é ilustrado), com um alaúde do lado. Só ignorem a estrelinha no canto, que nada tem a ver...
Não seria má idéia se LYTHANDE fosse adaptado para o cinema, com toda essa onda de filmes de fantasia...
Até mais!

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