sexta-feira, 23 de julho de 2010

RAIO NEGRO - parte 1

Olá.
Há alguns dias atrás, adquiri as revistas do RAIO NEGRO editadas pela editora Júpiter 2, do sempre persistente José Salles. São dez números. Recentemente, saiu a edição número 11 da reedição do material criado e produzido por Gedeone Malagola, o criador do personagem. Bem, é sobre RAIO NEGRO que vou falar, mas, para ficar mais cômodo, vou dividir o post referente a esse trabalho em três partes, para não ficar muito longo. Nesta primeira parte, apresentarei RAIO NEGRO e seu criador.
CRIADOR
Raio Negro é um dos heróis brasileiros mais conhecidos do público nacional. Um dos personagens mais queridos entre os não-infantis editados no Brasil por autores brasileiros, e um dos mais homenageados também. Seu criador se chama Gedeone Malagola.


Gedeone nasceu em São Paulo, em 7 de julho de 1924, e foi um dos primeiros autores de HQ de super-heróis do Brasil. Começou a desenhar influenciado pelo pai, que era pintor. Formou-se em direito e cursou até arquitetura, mas preferiu seguir carreira como quadrinhista, exercida em paralelo com sua atividade como delegado de polícia - já que dificilmente se vive de quadrinhos no Brasil.
Suas histórias em quadrinhos já foram publicadas em muitas revistas e editoras. No início dos anos 50, ele ajudou a fundar, junto com Auro Teixeira e Victor Chiode, a editora Júpiter, uma pequena editora amadora que, apesar das limitações, lançou mais de vinte gibis antes do final de 1953! Entre as revistas publicadas por essa editora, está o título Capitão Astral, de histórias de ficção científica. A chamada Patrulha do Espaço, composta por Capitão Astral, Capitão Júpiter e Eletra, compõe os primeiros heróis criados por Malagola. (aliás, é em homenagem à editora Júpiter que José Salles mudou o nome da editora SM para Júpiter 2).
Além da Júpiter, Malagola também publicou trabalhos nas editoras Novo Mundo, Vida Juvenil, La Selva, Continental/Outubro, Paulinas... e, como não poderia deixar de ser, na Gráfica Editora Penteado, ou GEP, na qual consolidaria sua carreira.
Foi em 1964 que, para a GEP, editora fundada por Miguel Penteado (um dos fundadores daa editora Continental/Outubro), Malagola criou Raio Negro, e meio que por acaso: inicialmente, o gibi deveria ter como personagem principal outro herói criado por Malagola, o Homem Lua; no entanto, o conceito do Homem Lua foi descartado, e Raio Negro foi criado às pressas para suprir a demanda. Acabou se tornando um sucesso. Mais: Malagola também criou, dentro das revistas do Raio Negro, o herói Hydroman. E o Homem Lua também debutou na revista.
E não foi só isso: para a GEP, Malagola também escreveu roteiros para os X-Men! É verdade! Explico: os então criados X-Men da Marvel Comics não eram tão populares quanto hoje em dia. Enquanto que as revistas dos outros heróis da Marvel eram editadas pelas editoras Ebal e Bloch, a GEP ficou com os direitos de publicação do gibi dos X-Men. E, como aquele gibi não tinha muita publicidade, o material produzido por Stan Lee e Jack Kirby dividia espaço com histórias produzidas aqui, no Brasil, com a devida autorização da Marvel Comics. Essas histórias foram escritas por Malagola e desenhadas por diversos artistas.
Outros heróis para quem Malagola escreveu roteiros foi para o Capitão 7 (publicado pela editora Outubro) e Beto Carrero, pela Cluq Editorial (as aventuras do empresário e artista circense, recentemente falecido, foram editadas a partir de 1985, com arte do também finado Eugênio Collonese).
Mais: Malagola também consagrou-se com HQ de terror. Ele escreveu roteiros de Drácula, Múmia, Frankestein e Clássicos do Terror para a Editora Outubro. E tinha como parceiro nessa empreitada o também mestre R. F. Luchetti. Nos anos 2000, um álbum de terror produzido por Malagola, Lobisomem, foi editado pela finada editora Ópera Graphica.
Há alguns anos, Malagola sofreu um acidente doméstico, que o deixou imobilizado na cama, impossibilitado de desenhar. Porém, ele ainda escrevia roteiros, estava escrevendo uma biografia de Alex Raymond e colaborava com revistas, como a Mundo dos Super-Heróis da editora Europa. Sempre recebendo o devido reconhecimento dos artistas conterrâneos.
Infelizmente, Malagola faleceu em 2008, vitimado pela infecção na perna e por três paradas respiratórias. Mas não morreu esquecido: desde 2006, José Salles, pela então editora SM (atual Júpiter 2), está reeditando as aventuras do Raio Negro.
CRIATURAS
RAIO NEGRO foi editado pelas editoras GEP, Grafipar e por diversos fanzines e revistas, desenhadas por muitos talentos do quadrinho nacional - com a devida autorização de Malagola, que não deixou de roteirizar as histórias. As aventuras desenhadas pelo próprio Malagola totalizam 24 histórias.

O que se pode falar de RAIO NEGRO? Bem, ele é um super-herói à moda antiga, de um tempo em que a frase "o crime não compensa" não soava pueril, as histórias de super-heróis tinham como principal compromisso a diversão e o escapismo e, consequentemente, nada que dissesse respeito aos heróis precisava de explicações profundas. Suas aventuras conquistam fãs até hoje, apesar do traço simplificado de seu autor e dos roteiros com algumas derrapagens. Quer dizer, Malagola não era necessariamente um excelente roteirista e desenhista pelos padrões de hoje em dia, mas e daí? Eram os anos 60!
RAIO NEGRO é a identidade secreta do Tenente (posteriormente Capitão) aviador da FAB Roberto Sales, que foi designado como o primeiro astrounauta brasileiro (décadas antes de o Tenente-Coronel Marcos Pontes ser realmente o nosso primeiro astronauta). Naqueles tempos, o programa espacial acalentava os sonhos de muitos jovens, que cismavam em serem astronautas quando crescessem. Bem, em missão no espaço, Roberto Sales encontra Lid, um astronauta do planeta Júpiter que se encontrava em dificuldades; Sales ajuda o alienígena, e recebe dele um anel, que o transforma no super-herói de roupa colante escura e viseira, capaz de voar e atirar raios pelo anel. Ou seja, o conceito do personagem era inspirado no Lanterna Verde, da DC Comics - na época, era consenso entre os editores brasileiros a cópia de material estrangeiro, já que os comics americanos eram os que vendiam mais nas bancas. No entanto, Malagola afirma que o visual do personagem não foi inspirado no Ciclope, dos X-Men, e sim em um vilão da série Terry e os Piratas, de Milton Caniff.
Bom, Roberto Sales/Raio Negro já enfrentou os mais variados tipos de perigos: homens de fogo, robôs gigantes, feiticeiros, espiões, etc. Seus principais inimigos: tem o Homem Sem Rosto, o mago Magnus, o Dr. Medusa e o seu maior inimigo, o Capitão Op-Art.
Esse vilão é um dos mais interessantes já criados no Brasil: um cientista louco, que usa óculos com lentes de quadrados pretos e brancos e é capaz de criar ilusões de ótica na então inovadora técnica artística do Op-Art (uma variação da arte abstrata, cujo nome é uma abreviatura de Optical Art, ou arte ótica), foi criado à imagem e semelhança do próprio Gedeone Malagola! É um caso à parte no mundo dos quadrinhos: quando muitos quadrinhistas costumam se retratar como os heróis, Malagola se retratou como o principal vilão da série, e um dos maiores algozes do herói.
Mas, se é verdade que todo Superman deve ter o seu Lex Luthor, o mesmo vale para a Lois Lane: a namorada do Raio Negro é a adorável Marajoara Campos, filha do superior de Roberto Sales. Mais tarde, Marajoara se tornaria esposa de Sales. Bem, mas na maior parte do tempo, as histórias do Raio Negro seguiam a linha do "herói precisa esconder sua identidade secreta de todo mundo para não prejudicar as pessoas que ele ama".
Com o passar dos anos, RAIO NEGRO viveu várias aventuras sob o traço de outros artistas, e até se encontrou com outros heróis, como o Meteoro de Roberto Guedes e a Velta de Emir Ribeiro. Aliás, Ribeiro produziu até o momento dois números do crossover Velta e Raio Negro, já devidamente resenhados aqui, e publicadas pela Júpiter 2.
Malagola não se limitou apenas ao RAIO NEGRO, claro.
O Homem Lua também é um personagem de destaque. Misterioso e tido como imortal, o Homem Lua, que usa uma espécie de globo que cobre sua cabeça e esconde sua identidade (nunca revelada nas histórias produzidas por Malagola) atua como uma espécie de agente secreto, temido pelos malfeitores e adorado como deus por diversas tribos - aliás, muitas aventuras do Homem Lua envolvem tribos primitivas, e o trabalho do Homem Lua é desmantelar supertições e lendas que encobrem crimes e barbaridades humanas - algo parecido com as aventuras do Scooby-Doo.

O Hydroman também é um herói de destaque: morador da cidade submarina de Atlântida (de onde vieram também Namor e Aquaman), Hydroman, um ser anfíbio (respira tanto na terra quanto na água), também defende a humanidade de ameaças, sempre armado de uma pistola de raios congelantes.
E também podemos lembrar da Patrulha do Espaço, com os heróis Capitão Astral e Capitão Júpiter. Mas fica para outra ocasião...
Na próxima postagem: resenharemos as edições do Raio Negro publicadas pela SM Editora / Júpiter 2. Aguardem!
Até mais!

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