sábado, 11 de dezembro de 2010

ARTMAX - Mozart Couto, o John Buscema brasileiro

Olá.
Certo dia, em um sebo de Vacaria, comprei três raridades editoriais. De duas eu já falei: a edição de Pagando o Pato, de Ciça, publicada pela editora Circo; O Impeachment, de Geandré; e a revista que vocês vêem aqui embaixo, ARTMAX - ESPECIAL ERÓTICO.

Esta revista, publicada provavelmente em 1987 - a única pista está na ilustração de capa, pois nem consta nos créditos o ano de publicação - , pela editora Nova Sampa, traz uma amostra do trabalho de um dos quadrinhistas brasileiros mais admirados: Mozart Couto.

MOZART
Mozart Cunha do Couto nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais (não consegui descobrir o ano de nascimento), onde reside até hoje. Dono de um traço realista, bonito e muito bem acabado - que o faz ser comparado ao artista que admira, o americano John Buscema, o mais famoso desenhista de Conan, o Bárbaro, e importante desenhista da editora Marvel Comics - , Mozart Couto começou sua carreira por volta de 1979, no estúdio Bico de Pena, de Cláudio Seto. Nos anos 80, Mozart desenhou diversas histórias de ficção científica e de bárbaros guerreiros, além de diversas capas, para revistas diversas, principalmente das editoras Press e Noblet. Entre os personagens que criou nesse período, podemos destacar: Hakan, obra com nítida referência em Conan; Zamor, um de seus primeiros personagens; e Ubajara, um índio guerreiro cujas aventuras tem um quê de brasilidade. Couto também colaborou com a Calafrio, a revista de terror da editora D-Arte de Rodolfo Zalla.
Em 1986, Mozart Couto fatura o prêmio Angelo Agostini.
Em 1988, Mozart Couto produz trabalhos para a Europa, por encomenda da Agência Internacional Comu. Em 1993, Couto produz HQ para os Estados Unidos. Porém, a parte mais expressiva de seu trabalho continuou aqui, no Brasil. Embora ele tenha se consagrado com seus trabalhos em arte fantástica - cheios de monstros humanóides, bárbaros musculosos, guerreiras de corpo escultural e fantásticas cenas de luta - , Mozart Couto também produziu histórias tendo como fundo o Brasil, sua cultura e tradições (cujos melhores exemplos são as aventuras de Ubajara e o álbum Crônicas da Província). Ele se dá bem em qualquer estilo. Couto também produziu desenhos para livros didáticos de diversas editoras.
Dentre os álbuns que ele desenhou entre o final dos anos 80 e início dos 2000, também destacamos: para a editora Opera Graphica, BioCyberDrama, com texto de Edgar Franco; e os dois volumes do teórico Desenhando Arte Fantástica. Além do gibi Brakan, com texto de Júlio Emílio Brás, que durou 2 números. Já pela Desiderata, aparecem, em 1999, Crônicas da Província, e, em 2007, A Boa Sorte de Solano Dominguez (ambas com texto de Wander Antunes).
Enfim, é difícil fazer uma explanação completa da obra de Mozart Couto, que já publicou em inúmeras revistas. As informações constantes na internet vêm de forma fragmentada, e o site pessoal do autor foi desativado - clicando no link http://www.mozartcouto.com.br/, caímos no álbum dele no Picasa.
Atualmente, Couto dedica-se à ilustração e à elaboração de tutoriais de desenho para jovens quadrinistas. Conheça as aulas dele em: http://blogdodesenhador.blogspot.com/.

A REVISTA ARTMAX
Essa revista tinha, segundo consta, a pretensão de ser uma coletânea de incentivo à HQ nacional, ainda nos anos 80, quando a crise de mercado ainda não havia atingido o setor brasileiro.
A revista abre com um texto de preâmbulo:

MOZART COUTO, RODVAL MATIAS, WATSON PORTELA, SEABRA, ATAÍDE BRAZ, JULIO SHIMAMOTO, JULIO EMILIO BRAZ, GUSTAVO MACHADO, FERNANDO BONINI, VILACHÃ, WILDE PORTELA, ROBERTO CAMARA, EROS MAICHROWICZ, FRANCO DE ROSA, NELSON PADRELLA, FLAVIO COLIN, CLAUDIO SETO, CARLOS MAGNO, FISCHER, ITAMAR, OLENDINO, LIESENFELD, PAULO IKOMA, ALAIN VOSS, SÉRGIO MACEDO, GLAUCO, OFELIANO, ROBERTO KUSSUMOTO, LUIZ GUSTAVO, PAULO HAMASAKI, PAIVA, SCHIAFFINO, DEODATO, RODOLFO ZALLA, JAYME CORTEZ, SÉRGIO LIMA, EUGENIO COLONNESE, GEDEONE MALAGOLA, CARLOS ZÉFIRO, JUAREZ ODILON, LANZELOTTI, RENATO SILVA, GETULIO DELPHIM, ARAGÃO, MAX YANTOK, ANDRÉ LEBLANC, RUBENS CORDEIRO, NICO ROSSO, PRIMAGGIO MANTOVI, RUI PEROTTI, MAURÍCIO DE SOUZA, ANGELO AGOSTINI...
Estes são apenas alguns dos artistas que fizeram a história do quadrinho nacional.
Infelizmente, muitos, são desconhecidos do grande público.
Estamos, então, abrindo este espaço com o objetivo de resgatar a memória do quadrinho brasileiro e, um pouco, da dignidade de seus artistas.

ALVARO YOSHITAKA OMINE

Um preâmbulo exemplar. Vale para os dias de hoje. Porque, em matéria de quadrinho nacional, nada mudou.
Bem. A revista, como a capa não deixa mentir, traz quatro histórias desenhadas por Mozart Couto - e todas, de alguma forma, envolvem erotismo. As três primeiras são de sexo puro, misturado com o terror. Mas em todas as histórias aparece a arte agressiva e detalhada de Mozart Couto.
A primeira história é Os sonhos de Ssara - Tortura. Traz uma aventura erótica de Ssara, uma loira de coxas grossas, que de repente é acordada por três estranhos indivíduos, que propõem a ela um jogo de sadomasoquismo. Altamente erotizada.
As duas histórias seguintes flertam com o terror. Toda mulher tem uma aranha tem roteiro de Nelson Padrella e arte-final de Cláudio Seto, e traz dois viajantes perdidos no mato, um homem e uma mulher. Ao parar num rio para se banhar, de repente os dois começam a transar. Porém, o homem não consegue sair de dentro, causando-lhes uma dor extrema.
In Sectus (também com roteiro de Padrella) traz um casal em um iate no meio da floresta. O homem começa a violentar a mulher - que está nua - enquanto ela começa a ser devorada por estranhos insetos com aparência humana. A protagonista não consegue escapar.
Após o pôster de página central assinado por Rodval Matias, fechando a edição, temos Ubajara - A Cura. O índio Ubajara, uma versão indígena de Conan - mas sem se afastar da brasilidade - , precisa fazr uma longa viagem, para encontrar uma erva medicinal que pode salvar a vida de seu pai. Ele acaba caindo em uma armadilha de uma tribo inimiga, e só um estranho gigante pode salvá-lo.
É Mozart Couto como o conhecemos desde sempre. E esta revista vale a pena ter n coleção de qualquer admirador de quadrinhos nacionais. Não é à toa que Mozart Couto pode ser chamado de "o John Buscema brasileiro".
É pena que a ARTMAX nunca foi para a frente. Ou pelo menos não tenho conhecimento de nenhum outro número da revista. É uma pena: seria uma boa vitrine para desenhistas nacionais.

ILUSTRAÇÕES DE HOJE
Já que falamos em arte fantástica, hoje vou apresentar um grupo de personagens que criei nessa temática: Os Jovens Guerreiros de Doberrainer.
Esta série foi criada no início dos anos 2000 pelo meu primo Luís Felipe Pessoa Soares. Mas quem desenhou os personagens fui eu. E, por diversão, fomos criando a série dos personagens guerreiros - já desenhei vários capítulos, porém nunca publicamos nenhum deles. Todos escritos pelo Luís Felipe e desenhados por mim.
Quem já viu a arte original da série, gostou. E olha que elas nunca vieram a público até hoje. Bem, então deixo aqui duas ilustrações - uma em preto-e-branco e outra colorida, produzidas em épocas distintas (a colorida desenhei e colori no computador hoje mesmo).
Os Jovens Guerreiros de Doberrainer são três jovens que vivem em um planeta fictício, Doberrainer. Os três, além de dominarem os elementos da natureza, utilizam-se de animais-monstros - animais comuns, mas de tamanho avantajado e com poderes especiais - como meio de transporte, mascote e arma de batalha, às vezes.
Bem. O Felipe nunca mais escreveu as aventuras dos guerreiros. Mas um dia eu pretendo retomar a série - nem que seja preciso começar do zero. Porém, desenhar Os jovens guerreiros de Doberrainer foi um momento muito especial. Afinal, serviu de treino para minha futura carreira nos quadrinhos. Descobri, dando forma às ideias do meu primo, que gosto realmente de HQ. Por isso essa série é tão especial.
Até mais!

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