sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

História das Histórias em Quadrinhos - 2a. Edição - Última parte

Olá.
Hoje, trago para vocês a última parte de minha versão revista e ampliada da minha História das HQ. Hoje, trazendo as décadas de 90 e 2000, até 2009. E com uma novidade a mais: desta vez, ao final do trabalho, também disponibilizo a lista de livros e sites que consultei para a elaboração do dito trabalho. A bibliografia, por assim dizer. E note também que muitas informações não foram incluídas, das que eu queria porventura incluir, pois muitas fontes que consultei não dispunham de informações satisfatorias, e alguns sites têm informações contraditórias, que só puderam ser usadas quando vi que batiam com outras fontes.
Bem, eis aqui o final do trabalho. E, a seguir, a História das HQ no Brasil. Provavelmente esta será publicada a partir de amanhã, 29 de janeiro, ou no domingo, dia 30, Dia do Quadrinho Nacional. Aguardem!



DÉCADA DE 90
Apesar da crise econômica, os mercados norte-americano e japonês consolidam-se (a partir do final da década de 90 é que os mangás se tornam conhecidos e populares no ocidente, ainda mais quando estes são lançados no modo de leitura japonês, invertido, que foi prontamente aprovado pelos fãs ocidentais – anteriormente, as edições ocidentais dos mangás japoneses eram “flipadas”, adaptadas ao modo ocidental de leitura). As HQ infantis, populares nas décadas anteriores, declinam: a tendência, agora, são as HQ para o público adulto. Nas HQ de super-heróis, ocorrem inovações nos tradicionais universos: a “era do chamariz” abre novas tendências. A hipervalorização da arte, com influência dos mangás, e o “quadrinho autoral” (os direitos sobre os personagens sob total controle de seus criadores, o que antes não acontecia, visto que eram as editoras que detinham esses direitos) caracterizam a chamada Era Image, que inicia-se em 1992. No entanto, essas novas características contribuíram para a criação de uma “bolha especulativa” no mercado de HQ, pois muitos fãs chegavam a comprar muitos exemplares de uma mesma revista, para revender depois mais caro. A “bolha especulativa”, que inclusive foi incentivada pelas editoras, minou o mercado de HQ, que só recupera o fôlego no início do século XXI. Destaques da década:
• 1990 – Nos EUA, Frank Miller lança duas séries, escritas por ele, pela editora Dark Horse: Liberdade, um sonho americano (a primeira aventura da personagem Martha Washington, desenhada por Dave Gibbons) e Hard Boiled – À Queima Roupa (com Geoff Darrow); Hate (Ódio!), de Peter Bagge; Baby Blues (Zoé e Zezé), de Rick Kirkman e Jerry Scott; Madman Comics, de Mike Allred; MIB – Men in Black, de Lowell Cunningham e Sandy Carruthers (essa série ganhou dois filmes, em 1998 e 2002, e uma série em desenho animado em 1998, com design do quadrinhista Miguelanxo Prado); Na Bélgica, estreiam as HQ de Largo Winch, criado em 1977 em uma série de romances escrita por Jean Van Hamme - os desenhos das HQ são de Philippe Francq; No Japão, aparecem: Crayon Shin-Chan, de Yoshito Usui (a mais irreverente kids strip do país), Yu Yu Hakusho, de Yoshihiro Togashi (o autor também é conhecido por ter se casado com Naoko Takeuchi, a criadora de Sailor Moon), Gunnm – Battle Angel Alita, de Yukito Kishiro, Sanctuary, de Sho Fimimura e Ryoichi Ikegami, Crows, de Hiroshi Takahashi (o mais famoso mangá sobre delinquência juvenil), Slam Dunk, de Takehiko Inoue (mangá que incentivou a prática do basquete no Japão), e Den-ei Shoujo (Video Girl Ai), de Masakasu Katsura;• 1991 – Nos EUA, Livros da Magia, escrito por Neil Gaiman (considerada por muitos a obra que inspirou a criação do personagem literário Harry Potter, de J. K. Rowling); Rob Liefeld, o desenhista mais criticado da década por seu estilo irregular de desenho de heróis, desenha X-Force # 1 pela Marvel, revista que foi muito vendida, num jogo de marketing similar ao do Homem-Aranha de Todd McFarlane; Frank Miller inicia Sin City, sua obra-prima e criação mais ambiciosa, pela editora Dark Horse; Pela mesma editora, sai The Mask (O Máskara), de Mike Richardson (o personagem ganha adaptação cinematográfica em 1994, por Chuck Russell, uma série em desenho animado no ano seguinte, e um segundo filme, do mesmo universo – O Filho do Máskara, em 2005, por Lawrence Guterman); Jeff Smith inicia Bone, uma das mais elogiadas HQ independentes; Na Inglaterra, Do Inferno, de Alan Moore e Eddie Campbell, na revista Taboo (em 2001, a obra ganha adaptação cinematográfica, por Albert e Allen Hughes);• 1992 – Nos EUA, inicia-se, pela DC, a saga A Queda do Morcego, na qual o Batman é aleijado (mas volta a andar posteriormente); é fundada a editora Image Comics, a partir de um desentendimento (envolvendo direitos autorais de personagens) entre a Marvel e alguns de seus desenhistas mais consagrados: Todd McFarlane, Jim Lee, Rob Liefeld, Marc Silvestri, Erik Larsen, Jim Valentino e Whilce Portacio. A editora tem como princípios fundamentais: a arte de grande impacto (a editora revela artistas como J. Scott Campbell e Greg Capullo), as obras autorais, a não-interferência dos integrantes na criação dos outros e o não-pertencimento total dos personagens pela empresa (cada desenhista possui seu próprio estúdio e, em casos mais avançados, sua própria editora, caso de Jim Lee, que criou a Wildstorm, e Marc Silvestri, criador da Top Cow [Cyber Force, Codinome: Stryke Force, Witchblade e The Darkness]). Além disso, a Image chama roteiristas famosos, como Alan Moore e Neil Gaiman, para desenvolver trabalhos de seus principais personagens – para resolver o problema dos roteiros primários. No entanto, com o passar do tempo, a editora é considerada a principal responsável pela queda da qualidade das HQ – o que não a impediu, no entanto, de ser atualmente uma das maiores editoras de HQ dos EUA, ao lado da Marvel, da DC e da Dark Horse. Primeiras obras da Image Comics, criadas no mesmo ano: Youngblood, de Rob Liefeld, Savage Dragon, de Erik Larsen, e Spawn, de Todd McFarlane (Spawn # 1 é a revista independente mais vendida da década. Além disso, o personagem foi adaptado para o cinema em 1997, por Mark A. Z. Dippé); Keno Don Rosa inicia a Saga do Tio Patinhas, uma “biografia” do personagem, em homenagem a Carl Barks, criador do mesmo; Na Espanha, Clara da Noite, de Carlos Trillo, Eduardo Maicas e Jordi Bernet; Na Suíça, Titeuf, de Zep (Phillippe Chappuis), um dos maiores sucessos da HQ humorística da atualidade; No Japão, Sailor Moon, de Naoko Takeuchi, série que redefine o conceito do shoujo mangá, particularmente dos mahou shoujo; Fushigi Yuugi, o primeiro grande sucesso de Yuu Watase; Conde Cain – God Child, de Kaori Yuki; Hana Yori Dango, de Yoko Kamio (um dos shoujo mangá mais vendidos de todos os tempos); Tenshi Nanka ja Nai (Eu Não Sou um Anjo), o primeiro grande sucesso de Ai Yazawa; aparece pela primeira vez o personagem Gon, dentro da série Flash (criada em 1985), de Masashi Tanaka. Esse personagem é o protagonista do mais famoso mangá sem palavras do Japão;
• 1993 – Nos EUA, a DC Comics radicaliza: mata seu maior ícone, o Superman (e, posteriormente, o ressuscita), em um evento que mobiliza inclusive a mídia, e, no mesmo ano, transforma o Lanterna Verde Hal Jordan em vilão, na saga Crepúsculo Esmeralda. Ao mesmo tempo, a editora cria o selo Vertigo, de HQ de teor adulto. Sob este selo, saem obras como Sandman, Orquídea Negra, Livros da Magia, Preacher e Transmetropolitan; Estranhos no Paraíso, de Terry Moore, bem-sucedida HQ independente; Hellboy, de Mike Mignola (o personagem ganha dois filmes, em 2004 e 2008, ambos por Guillermo Del Toro); Palestina – Uma Nação Ocupada, de Joe Sacco (o maior expoente do chamado jornalismo em quadrinhos, já que as histórias baseiam-se nos relatos de viagem do autor. Também são, de Sacco: Palestina – Na Faixa de Gaza,[a segunda parte de seu relato sobre o conflito árabe-israelense], Área de Segurança – Gorazde [2000], e The Fixer – Uma História de Sarajevo [2003] [estas duas enfocando a Guerra da Bósnia], entre outros); aparece também o livro Desvendando os quadrinhos, de Scott McCloud, um dos mais importantes livros teóricos sobre HQ do mundo (McCloud também escreveu Reinventando os Quadrinhos e Desenhando Quadrinhos, que integram a mesma série);• 1994 – Nos EUA, saem, pela Wildstorm/Image, Wild C.A.T.S. (posteriormente, apenas Wildcats) e G.E.N. 13, ambas de Jim Lee e Brandon Choi; Ao mesmo tempo, Todd McFarlane expande seus negócios com a criação da McFarlane Toys, empresa especializada em fabricar action figures (figuras de ação), bonecos baseados em personagens de HQ e filmes, que chamam a atenção pelo design; Pela DC Comics, sai a megasaga Zero Hora, com texto e arte de Dan Jurgens, destinada a resolver problemas de cronologia que permaneceram após a Crise nas Infinitas Terras; Pela Marvel, sai Marvels, de Kurt Busiek e Alex Ross (que, com sua arte quase fotográfica, torna-se o artista de maior destaque dos anos 90); No Japão, Meitantei Conan (Detective Conan), de Gosho Aoyama, Rurouni Kenshin (Samurai X), de Nobuhiro Watsuki, e Mugen no Juunin (Blade, a Lâmina do Imortal), de Hiroaki Samura;• 1995 – Nos EUA, Astro City, de Kurt Busiek, Brent Anderson e Alex Ross; Preacher, de Garth Ennis (o roteirista mais politicamente incorreto da década) e Steve Dillon; Witchblade, de Marc Silvestri; No Japão, Trigun, de Yasuhiro Nightow; B’tX, de Masami Kurumada; Angel Sanctuary, de Kaori Yuki; Gokinjo Monogatari (História da Vizinhança), de Ai Yazawa; estréia o anime Shin Seiki Evangerion (Neon Genesis Evangelion), produzido pelo Estúdio Gainax (escrita e dirigida por Hideaki Anno). Esta série, que posteriormente seria adaptada para mangá por Yoshiyuki Sadamoto, mudou os rumos da animação japonesa, que passou a investir também em séries para o público adulto;• 1996 – Nos EUA, sai, pela DC, O Reino do Amanhã, de Mark Waid e Alex Ross, considerada a melhor minissérie de super-heróis dos anos 90; A Marvel, por sua vez, declara-se falida, ao mesmo tempo que promove o evento Heróis Renascem, onde as revistas dos principais personagens foram desenhadas por alguns de seus ex-artistas, os fundadores da Image Comics: Rob Liefeld, Jim Lee e Whilce Portacio. No entanto, esse evento despertou polêmica, principalmente por parte de Liefeld, cuja arte foi bastante criticada e, devido aos constantes atrasos, sua parte no evento foi assumida por Lee; Ao mesmo tempo, ocorre o evento-chamariz Marvel Vs. DC, quando os personagens das duas editoras são postos para lutar uns contra os outros – sendo que alguns dos embates têm seu vencedor decidido pelos leitores, e outros pelos roteiristas (concomitante a esse evento, Marvel e DC lançam a série Amálgama, de revistas com personagens criados a partir da fusão de heróis das duas editoras); Big Guy and Rusty the Boy Robot, de Frank Miller e Geoff Darrow; No Japão, aparecem: os shounen mangá Inu Yasha, de Rumiko Takahashi, e Yu-Gi-Oh!, de Kazuki Takahashi, que inspirou o célebre card game; os shoujo mangá Shoujo Kakumei Utena, de Chiho Saito e Be Papas, Ayashi no Ceres, de Yuu Watase, e Kare Kano, de Masami Tsuda; Pokémon estréia nos games, concebido por Satoshi Tajiri e Ken Sugimori. O mangá, produzido por Hidenori Kusaka, seria um dos muitos subprodutos do jogo;• 1997 – Nos EUA, Os Invisíveis, de Grant Morrison; Transmetropolitan, de Warren Ellis e Darick Robertson; Red Rocket 7, de Mike Allred, misto de ficção científica com a história do rock’n roll; Poder Divino: As Aventuras de Max Faraday, de Jim Lee; No Japão, One Piece, de Eiichiro Oda (série considerada sucessora de Dragon Ball e um dos mangás shounen mais vendidos da atualidade), Hellsing, de Kouta Hirano, Eden, de Hiroki Endo, e Futari Ecchi, de Katsu Aki (Katsuaki Nakamura), o mangá erótico (ero comedy) mais vendido da atualidade (a ero comedy se diferencia tenuamente do hentai, ou pornográfico. Enquanto que o hentai é feito por autores anônimos, a ero comedy traz enredos mais leves, mas não menos picantes, feitos por artistas de destaque);• 1998 – Nos EUA, Planetary, de Warren Ellis e John Cassaday; Balas Perdidas, de David Lapham, tematiza a violência; Cidade de Vidro de Paul Auster, adaptação do romance de Paul Auster feita por Paul Karasik, David Mazzuchelli e Art Spiegelman; Estrada para Perdição, de Max Alan Collins e Richard Pyers Rayner (essa HQ seria adaptada para o cinema,em 2002, por Sam Mendes); Danger Girl, de J. Scott Campbell e Andy Hartnell; Estreia nos cinemas Blade – O Caçador de Vampiros, dirigido por Stephen Norrington, que adapta um personagem “do segundo escalão” da Marvel Comics. O filme é considerado a produção que inicia a onda de adaptações cinematográficas de super-heróis das HQ, gênero então desacreditado desde o quarto filme de Batman, de 1997. Blade ganha ainda duas sequências, em 2002 e 2004, e uma série de TV; Na Itália, Estigmas, de Claudio Piersanti e Lorenzo Mattotti; Na França, Rapaces [Predadores], de Jean Dufaux e Enrico Marini; No Japão, aparecem: o gekigá Vagabond, de Takehiko Inoue (biografia em mangá do célebre samurai Miyamoto Musashi); os shoujo mangá Fruits Basket, de Natsuki Takaya (Naka Hatake), e Peach Girl, de Miwa Ueda (em 2004, este mangá ganhou uma continuação, Ura Peach Girl); os shounen mangá Shaman King, de Hiroyuki Takei, Hikaru no Go, de Yumi Hotta e Takeshi Obata (HQ que renovou o interesse dos jovens pelo go, tradicional jogo de tabuleiro japonês, e também começou a consagrar Obata, um dos mais conhecidos desenhistas japoneses), Tenjho Tenge, de Oh! great (Oogure Ito) (mangá que redefine o gênero shounen de artes marciais), e Hunter x Hunter, de Yoshihiro Togashi; estréia o anime Cowboy Bebop, criado e dirigido por Shinichiro Watanabe, que se torna cult entre os fãs de animação japonesa (no mesmo ano, o anime é adaptado para o mangá, por Yutaka Nanten); Na Coréia do Sul, Ragnarök, de Lee Myung-Jin, HQ que inspirou o célebre jogo de RPG on-line;• 1999 – Nos EUA, 300 (Os 300 de Esparta), de Frank Miller (considerada a última grande obra de Miller, foi adaptada para o cinema em 2007, por Zach Snyder); Alan Moore, em parceria com a Wildstorm, então incorporada à DC Comics, lança o selo America’s Best Comics (ABC), pelo qual saem as seguintes séries, todas escritas pelo autor inglês: Tom Strong (arte de Chris Prouse), Promethea (arte de J. H. Williams III), Top Ten (arte de Gene Ha) e A Liga Extraordinária (arte de Kevin O’Neill; esta HQ ganha adaptação cinematográfica em 2003, por Stephen Norrington), além do título Tomorrow Stories; The Authority, de Warren Ellis e Brian Hitch, inaugura a chamada “Era de Concreto” dos super-heróis, caracterizada pelas histórias violentas, sintonizadas com a realidade (principalmente após o 11 de Setembro de 2001); 100 Balas, de Brian Azzarello e Eduardo Risso; The Goon, de Eric Powell; No Japão, Love Hina, de Ken Akamatsu, Toraware no Minoue (Destino Cativo), de Matsuri Hino. Beck, de Harold Sakuishi (célebre mangá tematizando o universo da música), e Naruto, de Masashi Kishimoto, a série de maior sucesso dos anos 2000.
Outros artistas japoneses bastante representativos, basicamente do gênero gekigá, são: Suehiro Maruo, autor de O Vampiro que Ri, e Hideshi Hino, autor de A Serpente Vermelha e Panorama do Inferno, dois dos maiores representantes do gênero ero-guro (mangá erótico-grotesco, subgênero dos mangás de terror); Taiyo Matsumoto, autor de Tekkon Kinkreet (Preto e Branco), que combina o traço característico do mangá com o dos quadrinhos europeus, criando um mangá fora do comum; e Kia Asamiya, autor de Silent Mobius e Dark Angel, conhecido pelos trabalhos feitos no ocidente, como Batman Mangá. Aliás, é o caminho também traçado por artistas como Yoshitaka Amano, que desenhou alguns arcos de Sandman. Por outro lado, aparecem artistas ocidentais que desenvolvem um traço similar ao japonês. É o caso de Adam Warren (Dirty Pair, Titãs: Pedra, Papel e Tesoura, G.E.N. 13 – Grunge: O Filme, entre outras) e Jill Thompson (Dead Boy Detectives e Morte: A Festa, ambas histórias do universo de Sandman). Também acabam aparecendo parcerias entre autores japoneses e ocidentais, como é o caso de Astra, que apareceu inicialmente como um espetáculo musical, por Jerry Robinson, Shojin Tanaka e Ken-Ichi Oichi, e que posteriormente foi adaptado para o mangá.
Destaque também para as HQ feministas, feitas exclusivamente por mulheres, questionando o mundo masculino ou mesmo simplesmente analisando o mundo em sua forma peculiar. Nesse gênero, podemos incluir a obra da argentina Maitena Burundarena (Mulheres Alteradas, Mulheres Superadas, Curvas Perigosas).
Foi também mais ou menos nessa época que iniciou-se a disseminação das webcomics, ou as HQ feitas especialmente para divulgação na internet – sejam histórias publicadas exclusivamente na rede mundial de computadores, como forma de divulgação de artistas, seja HQ consagradas disponibilizadas nos meios digitais – os populares scans.

ANOS 2000
Após o período da especulação da década passada, o mercado recupera o fôlego, graças sobretudo ao cinema. Nessa década, os estúdios cinematográficos passam a investir em adaptações de HQ, principalmente de super-heróis, muitos com bastante sucesso, graças ao avanço nos efeitos especiais, que permitem reproduzir os superpoderes dos heróis convincentemente, e ao maior respeito possível aos conceitos das HQ. Ao mesmo tempo, muitas reformulações nas HQ clássicas entram em curso; o investimento maior está nas HQ adultas, sobretudo as graphic novels. O mercado japonês é bastante valorizado. E, no final da década, outro gênero que ganhou maior investimento são as biografias de personalidades em forma de HQ. Citemos apenas alguns destaques de 2000 a 2009, até porque a história não termina por aqui:
• 2000 – Nos EUA, Jimmy Corrigan – The Smartest Kid on Earth, HQ autobiográfica de Chris Ware, eleito pela crítica o melhor livro do ano; A Marvel Comics balança novamente o mercado, em várias frentes: nesse ano, estreia a adaptação cinematográfica de X-Men, por Bryan Singer, cujo sucesso reacende o interesse dos produtores cinematográficos pelas HQ (os mutantes ganham mais dois filmes, em 2002 e 2006); ao mesmo tempo, a editora lança a linha editorial Marvel Ultimate, que é a repaginação do universo Marvel clássico destinada às novas gerações. Nisso, o cineasta Kevin Smith assume os roteiros do personagem Demolidor, dando novo vigor às suas aventuras, o que não acontecia desde a saída de Frank Miller do título (no ano seguinte, Smith faz o mesmo com as histórias do Arqueiro Verde, na DC). Esse é apenas um exemplo de uma nova tendência: cineastas e produtores de séries de TV escrevendo HQ. Outros exemplos notáveis são J. Michael Straczynski (criador do seriado televisivo Babylon 5), que escreveu histórias do Homem Aranha e Quarteto Fantástico, e Joss Whedon (de Buffy, a caça-vampiros), escrevendo a série Os Surpreendentes X-Men; No Japão, aparecem os shoujo mangá Nana e Paradise Kiss, ambas de Ai Yazawa (Nana torna-se o mangá shoujo mais vendido da atualidade), e Imadoki!, de Yuu Watase; Love Junkies, de Kyo Hatsuki, uma das mais destacadas ero comedies da década.• 2001 – Nos EUA, a editora Marvel cria: a linha Marvel Knights, com histórias dos super-heróis clássicos em uma linguagem mais adulta; e o selo Marvel Max, equivalente ao selo Vertigo da DC, publicando histórias de teor adulto, entre elas Viúva Negra, Alias, Poder Supremo e Zumbis Marvel; a minissérie Origem, de Paul Jenkins, Andy Kubert e Richard Isanove, é uma tentativa de dar um passado “oficial” ao personagem Wolverine, até então cercado de mistérios; No Japão, Hagane no Renkinjutsushi (Fullmetal Alchemist), de Hiromu Arakawa, Lovely Complex, de Aya Nakahara, e Nodame Cantabile, de Tomoko Ninomiya; aparece também Trinity Blood, baseado na série de romances de Sunao Yoshida, desenhado por Kiyo Kujou;• 2002 – Nos EUA, Y: The Last Man, de Brian K. Vaughan e Pia Guerra; Global Frequency, de Warren Ellis; Frank Miller lança Batman – O Cavaleiro das Trevas 2, continuação da série de 1986 (a qualidade dessa série é considerada, entretanto, inferior à da primeira); Estreia a adaptação cinematográfica de Homem-Aranha, o maior sucesso do ano (o herói ganha mais dois filmes, em 2004 e 2007 – todos os filmes foram dirigidos por Sam Raimi). A partir daí, cinema e HQ se tornam grandes aliados na popularização dos super-heróis – logo, heróis como Hulk, Quarteto Fantástico, Motoqueiro Fantasma, Hellboy, Demolidor e Elektra ganham seus próprios filmes (alguns deles, mais de um); A Editora Marvel lança a série Mangaverse, com versões de seus principais personagens com traços similares aos japoneses; Na Argentina, Ricardo Liniers inicia a tira Macanudo, sua HQ mais conhecida, combinação de humor, ironia e poesia; Na França, a iraniana Marjane Satrapi inicia Persépolis, HQ biográfica que retrata o Irã contemporâneo (em 2007, essa HQ é adaptada em desenho animado, dirigido por Satrapi e Vincent Paronnaud, que foi indicado ao Oscar de Melhor Animação no ano seguinte); No Japão, Cinderalla, de Junko Mizuno, artista de grande influência no cenário pop japonês, representante do estilo kawaii noir, que combina o bonitinho típico do shoujo mangá com o grotesco dos mangás de terror; aparecem também os shoujo mangá Full Moon Wo Sagashite, de Arina Tanemura, e MeruPuri, de Matsuri Hino; e também aparece Elfen Lied, de Lynn Okamoto;• 2003 – Nos EUA, Blankets (Retalhos), celebrada autobiografia em HQ de Craig Thompson; o arco de histórias do Batman Hush (Silêncio), de Jeph Loeb e Jim Lee, firma este como um dos melhores desenhistas do personagem na atualidade; Runaways (Fugitivos), de Brian K. Vaughan e Adrian Alphona; 30 Dias de Noite, de Steve Niles e Ben Templesmith (essa HQ ganha adaptação cinematográfica em 2007, por David Slade); é lançado o crossover LJA e Vingadores, de Kurt Busiek e George Pérez, considerado o melhor encontro entre heróis de diferentes editoras; RED – Aposentados e Perigosos, de Warren Ellis e Cully Hamner (em 2010, essa HQ ganha adaptação cinematográfica, por Robert Schwentke); No Japão, Zettai Kareshi, de Yuu Watase;
• 2004 – Nos EUA, 1602, de Neil Gaiman, Andy Kubert e Richard Isanove, pela Marvel; pela DC, sai a linha All-Star, em resposta à linha Ultimate da Marvel, onde são apresentadas visões diferenciadas dos heróis clássicos por autores consagrados. Os primeiros títulos são: Superman, de Grant Morrison e Frank Quitely, e Batman e Robin, de Frank Miller e Jim Lee; À Sombra das Torres Ausentes, de Art Spiegelman, uma das primeiras produções artísticas tematizando os atentados de 11 de setembro de 2001; Ultra, dos Luna Brothers (os filipinos Jonathan e Joshua Luna), pela Image; Fábulas, de Bill Willingham e Lan Medina; Ex-Machina, de Brian K. Vaughan e Tony Harris; No Canadá, Brian Lee O’Malley inicia Scott Pilgrim, cultuada série que incorpora elementos dos videogames e dos mangás japoneses (em 2010, essa série ganha adaptação cinematográfica, por Edgar Wright); Na França, Eu Sou Legião, de Fabien Nury e John Cassaday; No Japão, Bleach, de Tite Kubo (Noriaki Kubo), D. Gray-Man, de Katsura Hoshino, e Death Note, de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata;• 2005 – Nos EUA, a DC, após uma complicada rede de histórias interligadas (iniciadas com a série Crise de Identidade, de Brad Meltzer e Rags Morales), lança a saga Crise Infinita, a mais recente tentativa de reformulação de seu universo de super-heróis - e que foi concluída com a série Crise Final, na qual a editora retomou alguns dos conceitos da Era de Prata dos Super-Heróis; Surrogates (Substitutos), de Robert Venditti e Brett Weldele (Esta HQ ganha adaptação cinematográfica em 2009, por Jonathan Mostow); Estreia, no cinema, uma revolucionária adaptação de uma HQ para o cinema: Sin City, dirigida por Frank Miller e Robert Rodriguez. O sucesso do filme faz com que Miller, antes avesso a adaptações cinematográficas de suas obras, dedique-se também ao cinema – tanto que ele mesmo dirige, em 2008, a adaptação cinematográfica do Spirit de Will Eisner; Jerry Robinson cria o prêmio Bill Finger Award For Excellence in Comic Book Writing, premiação específica aos roteiristas de HQ, que é entregue junto com o prêmio Eisner (o nome homenageia o primeiro roteirista das aventuras do Batman); No Japão, Vampire Knight, de Matsuri Hino;• 2006 – Nos EUA, a Marvel Comics lança a polêmica megasaga Guerra Civil, que abre caminho para a reformulação de seu universo de super-heróis (uma das conseqüências mais notáveis do evento foi a polêmica morte do herói Capitão América, no ano seguinte); estréia Lost Girls, de Alan Moore e Melinda Gebbie (série iniciada em 1991, na revista inglesa Taboo, mas que só naquele ano, em uma série de álbuns, pôde ser concluída. Obra erótica e polêmica, que foi censurada em vários países de língua inglesa); Os Mortos Vivos, de Robert Kirkman e Tony Moore (em 2010, essa série ganha uma adaptação em forma de série de TV pelo canal americano AMC); Criminal, de Ed Brubaker e Sam Phillips; Os Leões de Bagdá, de Brian K. Vaughan e Niko Henrichon; aparece a editora Virgin Comics, braço artístico do conglomerado Virgin de entretenimento, em parceria com a empresa indiana Gotham Entertainment, conhecida por convidar grandes nomes do entretenimento, como o escritor Deepak Chopra e o cineasta Guy Ritchie, para escrever HQ. Entre os títulos lançados pela editora, estão: Snakewoman, de Shekhar Kapur, Zeb Wells e Michael Gaydos, e 7 Brothers, de John Woo, Garth Ennis e Jeevan Kang. Em 2008, no entanto, a Virgin, por causa das baixas vendas, fecha as portas; Na França, Aya de Yopougon, de Marguerite Abouet e Clément Oubrerie, premiada HQ que tematiza a vida na África; Na Alemanha, Cash – I See a Darkness (Cash – Uma Biografia), de Heinhard Kleist (biografia em HQ do cantor americano Johnny Cash); No Japão, Fairy Tail, de Hiro Mashima;• 2007 – Na França, Kiki de Montparnasse, de José-Louis Bocquet e Catel Muller (biografia em HQ da famosa modelo francesa do início do século 20); No Japão, K-On!, de Kakifly, o mais célebre mangá musical;
2008 – Nos EUA, Kick-Ass, de Mark Millar e John Romita Jr. (em 2010, essa série ganha adaptação cinematográfica, por Matthew Vaughn); Na França, O Pequeno Príncipe, adaptação em HQ do livro infantil de Antoine de Saint-Exupéry (publicado em 1943), por Joann Sfar (artista conhecido, também, pelas séries O Grande Vampiro, O Pequeno Vampiro e O Gato do Rabino); Em Israel, estréia o documentário em animação Valsa com Bashir, dirigido por Ari Folman e indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2009 (esse filme é adaptado para HQ, por Folman e David Polansky); No Japão, Bakuman, de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata.• 2009 – Nos EUA, o grupo Disney compra a Marvel Comics; Na Inglaterra, é lançado Logicomix – Uma jornada épica em busca da verdade, dos gregos Apostolos Doxiadis, Christos H. Papadimitriou, Alecos Papadatos e Annie di Donna (biografia em HQ do matemático e filósofo Bertrand Russell).Além dos mangás japoneses, outro tipo de HQ oriental, recentemente, foi descoberta pelo ocidente: os manhwa, as HQ produzidas na Coréia do Sul – o governo daquele país, inclusive, incentiva a produção local de HQ. Alguns exemplos notáveis de manhwa são: Ragnarök, de Lee Myung-Jin, Chonchu, o guerreiro maldito, de Kim Sung Jae e Kim Byung Jin, Che, de Kim Yong-Hwe (biografia do guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara, projeto semelhante ao dos argentinos Oesterheld e Breccia dos anos 60) e Priest, de Hyung Min-Woo. Isto, só para citar os manhwa de maior sucesso no ocidente.

Fontes bibliográficas:
ALMANAQUE ABRIL 95. São Paulo: Ed. Abril, 1995. p. 725-729
ANSELMO, Zilda Augusta. Histórias em Quadrinhos. Petrópolis: Vozes, 1975.
CIRNE, Moacy; MOYA, Álvaro de; D’ASSUNÇÃO, Otacílio; AIZEN, Naumim. Literatura em Quadrinhos no Brasil – Acervo da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Fundação Biblioteca Nacional, 2002.
MOYA, Álvaro de (org.). Shazam! 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1977.
PACHECO, Eloyr (org.) Almanaque Shoujo Mangá – O Poder da Sedução Feminina. São Paulo: Escala, 2009.
REVISTA KABOOM! no. 1. São Paulo: Eclipse, s. d.

Fontes da internet:
http://www.mundohq.com.br/
http://www.universohq.com.br/
http://www.omelete.com.br/
http://www.henshin.com.br/
http://www.batmanatrajetoria.hpg.ig.com.br/
http://www.wikipedia.com/
http://www.alanmooresenhordocaos.hpg.ig.com.br/
http://hqmaniacs.uol.com.br/

Para encerrar, quatro tiras inéditas de Letícia. Encerrando assim mais um arco, com o início da convivência da menina com seu gatinho. E continuem acompanhando a personagem também em http://leticiaquadrinhos.blogspot.com/.
Até mais!

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