Na postagem anterior, eu fiz um pequeno apanhado da vida e da obra de Marcelo Cassaro, um dos maiores roteiristas de HQ brasileiras (apesar de ele também desenhar muito bem). E também falei de uma de suas séries mais conhecidas, UFO Team. Hoje, vou falar de sua segunda série baseada no RPG de sua autoria, Invasão: Capitão Ninja.
CONHEÇAM O PERSONAGEM (OU NÃO)
O Capitão Ninja é um dos personagens (e alter-egos) mais famosos de Marcelo Cassaro. Criado no final dos anos 80, a partir de uma ideia maluca que o próprio Cassaro teve para uma fantasia, o Capitão Ninja chama a atenção logo de cara: afinal, trata-se de um ninja mascarado, que usa óculos de lentes vermelhas, calças camufladas e boné! Logo, trata-se de um militar ninja (ou vice-versa, vai se saber).
A estreia do Capitão Ninja as HQ foi como vilão de um episódio do Pequeno Ninja, criação de Felipe Fernandes. Mais tarde, o personagem se tornou o "anfitrião" da revista Gamers. Ganhou também uma revista de quadrinhos solo - Aventuras do Capitão Ninja - e uma ficha própria dentro do RPG Defensores de Tóquio, ao lado de uma certa Capitinha Ninja, fã e aprendiz, e um certo Capitão Samurai, rival. Só lá pela segunda metade dos anos 90 que ele deixou de ser um herói engraçado, desenhado em um estilo meio infantil, puro artifício cômico da revista Dragão Brasil, para se tornar um cara durão, caçador de alienígenas - mas não menos engraçado. E foi nessa condição que ele estrelou, junto com seus companheiros de trabalho Killbite, Deadly Eye, Ogress e Coronel Greenwood a minissérie UFO Team. Mais quadrinhos além de suas duas minisséries publicadas pela editora Trama, só os episódios curtos que ele estrelou na seção de HQ da revista de RPG Dragão Brasil. Ah: em Holy Avenger e em Dragon Bride, os desenhistas retratam Marcelo "Paladino" Cassaro como o Capitão Ninja, e é como Ninja que ele enche o saco de seus desenhistas - principalmente Érica Awano, que a certo momento ficou fula porque nunca queria desenhar o macaco caolho de uma estalagem que aparece em Holy Avenger!!!
Bem. O Capitão Ninja, segundo Cassaro, é um militar que havia sido treinado como ninja. Seu passado é misterioso - e o próprio Capitão Ninja costuma dar diferentes versões de sua origem. Mas o certo é que, tal como um Cavaleiro do Zodíaco, ele faz coisas além da capacidade física de um humano comum, apanha que não é fácil e chega a perder litros de sangue, porém em pouco tempo ele se recompõe e está pronto para outra. É um personagem aloprado - é um tremendo trapalhão, mas que bate nos adversários na mesma medida que apanha; possui um linguajar engraçadinho e desbocado (tal como um Homem-Aranha, vive fazendo piadinhas enquanto luta); não resiste a um rabo-de-saia (em suas aventuras, ele convive com inúmeras mulheres gostosas, amigas, amantes e inimigas); e é fã de animes japoneses (quando estava na Gamers, diz-se que ele chegou a paquerar a Chun-Li, a musa do videogame Street Fighter!). E nada mais se sabe sobre ele, uma vez que ele nem mesmo tira aquela máscara!
Aliás... por que razão um ninja de boné? Pode parecer ridículo, mas essa vestimenta ridícula na verdade é a sua maior vantagem: se ele é visto roubando um carro para combater alienígenas ou se ele é visto batendo em bandidos, ou destruindo os locais onde luta contra inimigos, ele não pode ser denunciado simplesmente porque a polícia JAMAIS acreditaria que seu carro foi roubado por um ninja de boné!!! A propósito: uma coisa que os amigos do herói vivem querendo saber é como ele faz o boné pular de sua cabeça toda vez que ele fica surpreso! E nem isso ele faz o favor de explicar!!!
E é assim que ele atua como agente caçador de alienígenas dentro da NORAD. Apesar de ser meio incompetente e cuca-fresca, ele carrega o fardo de haver perdido pessoas importantes no passado - gente que ele não conseguiu defender direito. Ele também faz questão de paparicar a vampira adolescente Killbite (já que a moça sofre não apenas por ter de sugar sangue para viver e ser privada de uma vida normal, mas também por ter de viver enfurnada na sede da NORAD no deserto de Cheyenne, estado do Colorado, EUA) e de encher a paciência da Coronel Greewood, sua superior (antes desta ter morrido na minissérie UFO Team).
CAPITÃO NINJA, A SÉRIE
Bem, agora que falamos um pouco sobre o que se sabe do Capitão Ninja, agora é hora de falar da minissérie que ele estrelou, lançada pela editora Trama por volta de 1998, com roteiro de Marcelo Cassaro e a arte impactante de outro Marcelo, o Caribé.
Os acontecimentos de CAPITÃO NINJA se passam antes dos de UFO Team, de modo que temos a presença, entre os personagens, da Coronel Greenwood (antes desta morrer após revelar que na verdade havia sido possuída por um alienígena bélico). CAPITÃO NINJA se propõe a apresentar um Capitão Ninja muito mais durão que nas suas incursões anteriores (apesar de ter sido Joe Prado, o desenhista de UFO Team, ter sido o primeiro a desenhar um Capitão Ninja mais musculoso e viril que o do Marcelo Cassaro).
A história começa quando o Capitão Ninja está combatendo contrabandistas de armas nas ruas de Chicago, EUA. Após derrotar (e de maneiras sutilmente cruéis) os bandidos, ele e o delegado de polícia são surpreendidos por uma criatura de aparência humanóide, coberta de metal líquido moldado em forma de garras e asas.
Num segundo momento, quando o Capitão já está de volta na base da NORAD, ele é chamado pela coronel Greenwood para averiguar a aparição de um OVNI nos céus. E eis que seus piores temores se confirmam, ao ser, dentro de seu jato supersônico, transpassado no peito por uma lâmina metálica: a tal criatura humanóide é Nicole Margot, uma jovem que o Capitão Ninja deveria proteger anos atrás, mas que acabou sendo levada pelos aliens. A moça, acreditando que o Capitão Ninja havia a entregue para os aliens - quando na verdade ele tentou impedir, mas acabou gravemente ferido e não conseguiu impedir o rapto - , está louca atrás de vingança.
Nickie, que havia sido vítima de experimentos cruéis por parte dos aliens, têm a sua pele revestida de nano-robôs que formam o metal líquido em seu corpo e, que além de se juntarem formando garras, lâminas e asas, podem regenerar qualquer ferimento - o Capitão Ninja só se salvou da morte no avião porque amputou o braço de Nicole e conseguiu alcançar a alavanca do assento ejetor.
E o Capitão Ninja, cansado de bancar o "ninja bonzinho", além de ter de encarar as dores de seu passado, precisa fazer Nickie voltar à razão e perceber que não vale a pena odiá-lo (mas claro que isso não pode dar certo). Mas os diálogos entre o Capitão Ninja e Nickie mostram que nenhum deles está a fim de dar o braço a torcer.
O que mais chama a atenção na arte de Marcelo Caribé é que ela foi totalmente pintada a mão (acho), e com um efeito esfumaçado e sujo, que realça o clima claustrofóbico. Pode não ser lá totalmente perfeita, e com alguns deslizes, mas é legal: Caribé realça a anatomia dos personagens com jogos inigualáveis de luz e sombra e explosões de cores em tom pastel. Sem falar que o Capitão Ninja ficou bastante caricatural, apesar de durão: os óculos vermelhos dele crescem e diminuem conforme a expressão facial, dando ao personagem uma aparência próxima ao do herói O Máskara.
Como em quase todas as histórias escritas por Cassaro, somos brindados com a presença de mulheres gostosas e exuberantes - e, aqui, Caribé caprichou: a vampira Killbite, a coronel Greenwood e a Nickie (o ápice dessa experiência se dá quando, ao usar uma arma especial, o Capitão Ninja extrai o metal líquido da garota, deixando-a nua - calma, pessoal, ela é desenhada em ângulos em que seus seios e genitália não aparecem explicitamente).
Outros destaques da arte: a cena do flashback do rapto de Nickie, na segunda parte da série, é mostrado todo em tons de verde, ressaltando o clima de recordação; e, no terceiro número, a cena dos experimentos pelos quais Nickie passou, que ocupa seis páginas: em três, as cenas aparecem pintadas em verde; e, dooutro lado da página, as mesmas cenas são em tons de vermelho, incluindo o recordatórios com os pensamentos do sofrimento de Nickie. A técnica que mostra a verdadeira tortura pela qual a garota passou é assustadora, e o resultado final surpreendente.
Na parte do roteiro, a parte que soou meio falsa foi a do diálogo trocado entre o Capitão Ninja e Nickie no jato supersônico: só mesmo o Capitão Ninja para conseguir conversar normalmente no assento de um avião a jato em alta velocidade, com uma grande lâmina no peito, com o vidro quebrado e recebendo as rajadas de ar direto na cara. Parece absurdo, mas como duvidar do universo criado por Marcelo Cassaro?! Mas, no mais, o texto é de alto nível (as letras são de Míriam Tomi), somos brindados com as tradicionais piadinhas do Capitão Ninja, e o final é surpreendente. Bem, se em UFO Team não foi ele quem salvou o dia (quem derrotou o inimigo foi o alien metaliano que estava prisioneiro), em CAPITÃO NINJA ele o faz? Eu acredito que não.
Ah: CAPITÃO NINJA também é complementado por uma historinha curta, em três partes, Treinadora, com roteiro de Cassaro e arte de Wagner Fukuhara, desta vez mais convencional. Nela, o Capitão Ninja está encarando um jovem metaliano (os alienígenas insetóides de metal são os principais adversários do herói), quando é surpreendido (e seu boné alcança a altura máxima) pela treinadora do alien, uma espadachim humana!!! O final desta HQ curta é não menos surpreendente. E mais: no número 1, uma pequena matéria onde Cassaro explica a evolução do personagem; e, no número 2, uma muito bem-humorada (suposta) entrevista de um tal de Jô Soares com o Capitão Ninja, onde ele conta detalhes de sua vida (ou não)!
Vale a pena ter na estante! Tanto as edições normais quanto o encadernado reunindo as três edições podem ser conseguidas em sebos e gibiterias - mas com sorte. Com mais esta série, Marcelo Cassaro provou mais uma vez que sim, nós brasileiros sabemos desenhar histórias de super-heróis!!!
Para encerrar, uma ilustração minha do Capitão Ninja. Bem, eu fiz o melhor que pude, mas as espadas dele nem parecem espadas ninja, não é? Buá!
Na próxima postagem: Predakonn, mais uma série do universo Invasão. Adivinhem quem fez os desenhos, além do roteiro?! Saibam na próxima postagem!!!
Até mais!!!
Um comentário:
Ótimo artigo, meus parabéns! Agora, faltou mencionar a personagem Gladiadora!
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