A Páscoa é, para os cristãos, um tempo de reflexão. Afinal, o Homem da Cruz pereceu para nos salvar dos pecados. Ou pelo menos é o que os padres dizem.
A ilustração especial de Páscoa deste ano tem mais a ver com o Cristo do que com o coelho. Afinal, Cristo é o significado real desta data.
É porque esta ilustração foi baseada no mais antigo exemplar de xilogravura do mundo Ocidental, um pedaço de madeira esculpida conhecido como Tábua Protat.
A xilogravura, como todos sabem, é a técnica de se produzir, em uma tábua de madeira, uma ilustração que depois é impressa, por serigrafia, em um pedaço de papel. A xilogravura atualmente é muito mais comum na literatura de cordel nordestina, por exemplo, mas desde o século XIV foi uma das mais importantes formas de propagação do conhecimento antes da invenção da imprensa. Em verdade, a xilogravura é um tipo de imprensa rudimentar.
A xilogravura tem registros anteriores de utilização na China, bem antes do século XIV. A Tábua Protat é considerado o primeiro exemplar de uma tábua de xilogravura ocidental. Ela é datada de 1370 - 1380, e seu nome é derivado do impressor Jules Protat, que adquiriu este pedaço de madeira após a sua descoberta, em 1899, na abadia de La Ferté, na França. A tàbua atualmente é mantida na Biblioteca Nacional da França.
Mais ainda: a Tábua Protat também é considerado o primeiro exemplar de uma ilustração onde aparece um filactério, uma faixa junto à boca do personagem com a frase que ele está pronunciando. O filactério é considerado o precursor dos balões de quadrinhos, que só chegaria à sua forma definitiva no final do século XIX.
No caso, o texto que o personagem da Tábua Protat, um centurião romano, está pronunciando é Vere Filius Dei erat iste (sim, em verdade este homem é o filho de Deus, em latim). E ele aponta o dedo para um braço preso a uma cruz - portanto, representa a ilustração o momento final da crucificação de Jesus Cristo.
É claro que os personagens não se parecem muito com romanos - o autor da ilustração, desconhecido, estava sintonizado com a realidade da Europa Medieval, por isso os trajes dos "romanos" são, na verdade, de cavaleiros medievais - provavelmente da França. E, no século XIV, o conhecimento histórico não era muito grande - a Europa fora varrida pela mentalidade cristã, ainda não havia arqueologia e o conhecimento estava nas mãos do clero católico. E, pelo estado da tábua, a ilustração deveria ser maior, talvez com o Cristo inteiro.
Bem. Eu procurei reproduzir o desenho da Protat: primeiro, trocando os trajes dos romanos por uma indumentária mais romana (tenho livros de História pra usar de referência); depois, dando aos romanos as devidas funções da cena de crucificação: o centurião, o soldado que abriu o lado de Cristo com a lança, e o soldado que deu a Ele a esponja com vinagre para beber.
De todo modo, é uma imagem cristã. E mais cristã deveria ser a Páscoa. Cristã, mas não carola. Pelo menos, lembrar do Homem da Cruz e de sua mensagem. De sua importância. Eu tive essa ideia ao reler a minha História das Histórias em Quadrinhos (publicada aqui no blog) e ao encontrar, finalmente, a foto da Tábua Protat na internet. A primeira referência que tive deste pedaço de madeira foi no livro de Zilda Augusta Anselmo, Histórias em Quadrinhos, de 1975.
E é isso.
Até mais!
Créditos: wikipedia.com e blog http://cordelpotiguar.blogspot.com/.
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