sábado, 2 de novembro de 2013

Tempestade de Ideias 13

Olá.

Hoje, teremos mais uma edição do Tempestade de Ideias, o descarrego de informações sem trepanação. Alguns acontecimentos extraordinários e notícias de amigos recebidas subitamente me obrigaram a fazer esta postagem em forma de Tempestade de Ideias. OK, vamos lá.


VAMOS SENTIR SUA FALTA, MESTRE
Na noite desta quarta-feira, 30 de outubro de 2013, o mundo dos quadrinhos brasileiros foi surpreendido com uma triste notícia: faleceu o cartunista gaúcho Renato Vinícius Canini, em sua residência em Pelotas, RS.
(fonte da imagem: zerohora.clicrbs.com.br)  
Nascido em Quaraí, Rio Grande do Sul, a 22 de fevereiro de 1936, o gaúcho, conhecido por seu traço duro, econômico, com grande prevalência de linhas retas e hachuras, enfim, um estilo predominantemente pessoal e inconfundível, tem uma longa folha corrida de contribuições para os quadrinhos nacionais.
Em 1957, ele, que na infância rabiscava desenhos na calçada e descobriu cedo os quadrinhos e o cinema, começou colaborando com a revista infantil Cacique.
Em 1961, foi criada a Cooperativa Editora de Trabalhos de Porto Alegre (CETPA), que, idealizada pelo desenhista José Geraldo Barreto Dias e apoiada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, visava a progressiva nacionalização dos quadrinhos, então dominados pelas criações estrangeiras (leia-se comics norte-americanos), através do apoio e da distribuição de trabalhos de artistas nacionais. Canini integrou a CETPA junto com Getúlio Delphim, Júlio Shimamoto e Ivan Saidenberg. Para a CETPA, Canini criou o cangaceiro Zé Candango.
Após o fechamento da CETPA, cerca de dois anos depois, muito devido ao clima de instabilidade gerado pela renúncia do presidente Jânio Quadros, Canini iniciou sua colaboração com a editora Abril. Em 1969, Valdir Igayara, que, junto com Jorge Kato, integrou a primeira equipe de desenhistas Disney brasileiros, criara a revista infantil Recreio, que contou com a intensa colaboração de Canini.
Foi em 1971 que Canini iniciou o trabalho que o tornaria conhecido: ele assumiu as HQ do personagem Zé Carioca. O personagem foi criado nos EUA em 1942, mas foi em 1959 que brasileiros começaram a desenhar histórias com o personagem – e outros personagens da Disney. O primeirão foi o já citado Jorge Kato, que contava com a colaboração de Valdir Igayara. Mas os desenhistas Disney brasileiros, até a entrada de Canini, se baseavam no modelo norte-americano – o Zé Carioca seguia o estereótipo do malandro no sentido que os estadunidenses concebiam os brasileiros. Canini, nos seis anos em que desenhou as HQ do personagem, seguia, sim, a cartilha Disney, mas conseguiu imprimir seu estilo pessoal e incluiu elementos mais próximos da realidade brasileira de então, como favelas e personagens negros, o que desagradou o pessoal da Disney, fazendo com que Canini fosse substituído posteriormente. O trabalho de Canini foi tão marcante, e seu traço foi tão reconhecível que, em 2005, ele figurou entre os Mestres Disney (ao lado de Keno Don Rosa, Giorgio Cavazzano, Floyd Gottfredson e Romano Scarpa, entre outros), ganhando um álbum especial próprio com o melhor de sua fase em Zé Carioca.
Canini, entretanto, não parou por aí. Em 1974, ele colaboraria nos seis números da revista humorística Crás!, também da Abril. Foi lá que apareceu seu outro personagem mais célebre, o caubói Kactus Kid. O agente funerário que assumia secretamente a identidade do herói do velho oeste “amado pelas mulheres, odiado pelos inimigos e perseguido pelos credores” ganharia um curta-metragem de animação dirigido por Lancast Mota, em 2005, e em 2007 serviria de modelo para o troféu do prêmio HQ Mix de 2007.
Outras colaborações de Canini foram nas publicações O Pasquim, Ovelha Negra, Pancada, Mad Brasil e no fanzine Historieta de Oscar Kern.
Outros personagens de Canini que ficariam conhecidos do público foram o psicanalista Dr. Fraud, que apareceu na revista Patota, da editora Artenova nos anos 70, e o indiozinho defensor da natureza Tibica, que apareceu em 1978, no projeto Tiras da Editora Abril. Ele também emprestaria seu talento em ilustrações de livros infantis e didáticos.
Coletâneas de desenhos? Tem também. Os mais lembrados são os álbuns O Redondo pode Ser Quadrado?, Cadê a Graça que Tava Aqui? e a sua última coletânea, Pago Pra Ver, lançada em 2012. De álbuns coletivos, Canini participou de ...E o Bento Levou (Mercado Aberto, 1985), Separatismo Corta Essa! (L&PM, 1993) e Humores Nunca Dantes Navegados (Secretaria da Cultura do RS/Grafar, 2000. Tibica e Dr. Fraud também ganhariam álbuns próprios.
Prêmios? Também teve. O Ângelo Agostini, o HQ Mix de 2003 na categoria Grande Mestre e uma homenagem na FIQ – Feira Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, de 2009.
Canini deixou a esposa, Maria de Lourdes.

UM MOMENTO ÚNICO NA VIDA
Eu posso dizer: mesmo sendo um cartunista menor, tive o privilégio de conhecer Renato Canini pessoalmente. Foi no 3º Encontro de Cartunistas de Santa Maria – Cartucho, de 2006. Tive também o prazer de cumprimenta-lo. E falar com ele. E ele estava junto a luminares como Byrata e Santiago.
Durante o Cartucho, o mais que pude reparar é que Canini deve ter se cansado de desenhar o Zé Carioca para fãs. Toda vez que eu olhava o Canini desenhar, era um Zé Carioca no papel, ou vestido de gaúcho, ou já velhinho.
De todo modo, eu também ganhei o meu Zé Carioca. Abaixo, vocês podem ver: ao lado do autógrafo que eu ganhei do Canini, está uma micro-homenagem minha ao mestre: uma versão meio tosca de um Zé Carioca caniniano. Não é qualquer um que recebe de um Mestre Disney as palavras “ele vai longe”. E, bem, reconheço que poderia ter pensado em algo melhor.
Sentiremos sua falta, Canini. Descansa no mesmo além onde tu encontrarás Eugênio Colonnese, Henfil, Glauco Villas-Boas, Gedeone Malagola e outros saudosos cartunistas brasileiros.

LULUZINHA E BOLINHA
Passada a seção Nota de Falecimento, vamos dar um pequeno Giro de Mercado.
Nem bem a semana chegou ao fim, já chegaram às bancas os gibis clássicos da Luluzinha e do Bolinha, antes mesmo da virada do mês. Já vale para novembro. E chega junto com a nova edição da versão adolescente da personagem. Mas neste mês de outubro, não tivemos a edição do mês do gibi do Popeye, como programado. O que está acontecendo?
E, sinto dizer: este mês, os editores escolheram as histórias menos politicamente corretas da turma da Lulu para republicar. Destaques do mês:
LULUZINHA no. 32 traz as seguintes histórias: Bancando a Babá no Dia das Bruxas traz Lulu sendo chamada para tomar conta do marmanjão do Bolinha enquanto seus pais saem, crentes que este ano ele não vai fazer nenhuma travessura – mas ele acaba fazendo, mesmo sem sair de casa; O Caso da Máscara Sumida é mais um trabalho para o Detetive Aranha, o pior inimigo do Seu Jorge, pai da Lulu; em Os Folgados, os meninos do clubinho fazem da casa da Lulu a sua própria casa, com os argumentos mais cruéis, e descobrem que a menina pode ser mais assustadora que qualquer filme de terror; em A Rã Encantada, Bolinha tenta mais um de seus absurdos truques para filar bolo na casa da Lulu, mas a menina não se deixa enganar (apenas finge); em Um Bom Negócio, Bolinha se aproveita de um velho troféu de seu pai para faturar uns trocados, mas Lulu é quem acha uma forma melhor de aproveitar o velho peixe; em O Ioiô, um brinquedo velho e disfuncional passa de mão em mão até Bolinha consertá-lo – sem querer; A Bruxinha Babá é mais uma história surreal de Lulu para Alvinho; e, em O Passeio no Aparador de Grama, quando mais um negócio do Bolinha dá errado, o gordinho tenta dar um jeito de jogar a culpa na Lulu. Completam o gibi histórias curtas da Luluzinha.
BOLINHA no. 30 traz as seguintes histórias: em Caso de Polícia, Bolinha tem uma péssima técnica de violino, e descobrimos que Luluzinha tem uma técnica pior ainda – e um ouvido idem; em Os Cavalheiros, Bolinha tem de bolar (desculpem o trocadilho) uma estratégia para tirar os meninos da Turma da Zona Norte da sua cola, mas eles não vão desistir facilmente; em O Achador de Dinheiro, Bolinha arma um plano para fazer justiça a um amiguinho que foi passado para trás por Plínio Raposo; em Bancando a Babá, Bolinha imagina que finalmente se vingará das vezes em que Lulu bancou a babá dele, mas a menina tem outros planos; Lulu, a Dorminhoca, é mais uma história maluca de Lulu para Alvinho, do tempo em que as mulheres ganhavam barba assim que envelheciam; em Jantar da Pesada, Bolinha vai comer fora e, incrivelmente, não gasta nada no restaurante; em Adivinha Quem Veio Para Jantar, Bolinha decide filar bóia na casa da Glorinha; e O Caso da Vassoura Careca é mais uma investigação do Detetive Aranha (cara, como me lembro da versão desta mesma história publicada anteriormente num gibi da Abril!).
O preço de R$ 3,10 de cada uma ainda está mantido. Diferente dos mangás, que inflacionaram muito de 2011 (data em que as revistas da Luluzinha começaram a sair) para cá.

LETÍCIA
Para complementar esta postagem, hoje temos Letícia, a minha Luluzinha. Estas são as primeiras tiras do atual arco da personagem, que já saíram em http://leticiaquadrinhos.blogspot.com.br/ desde o encerramento da publicação da série Letícia e Benjamin Peppe contra o Lixo. Como ultimamente é com isso que costumo acompanhar minhas resenhas dos gibis da Luluzinha...

BLOG DE AMIGO
Para encerrar, uma novidade.
Meu amigo e colega do Núcleo de Quadrinhistas de Santa Maria – Quadrinhos S. A., Alex Sandro Cruz, está aos poucos retomando o seu mais famoso personagem, o super-herói Capoeira Negro.
E, para marcar essa retomada, ele resolveu criar um blog próprio do personagem! E, já de saída, Alex resolveu contar um pouco sobre como o personagem foi criado.
Confiram: http://cndealexcruzde1999.blogspot.com.br/.
E desde já desejamos sucesso nessa nova empreitada. Estávamos mesmo com saudades do super-herói santa-mariense.
E é isso aí, pessoal. Até a próxima edição da Tempestade de Idéias. A aparecer se mais fatos chegarem ao mesmo tempo.
Até mais!

Um comentário:

Minerva Pop disse...

Como sempre um "post" sensacional , memoravel e bem escrito! parabéns!
Anselmo
minervapop.com