terça-feira, 26 de novembro de 2013

VELTA E RAIO NEGRO 3 - equilíbrio de forças

Olá.

Hoje, mais um gibi da editora Júpiter 2, lançado este ano. E trazendo dois personagens consagrados das HQ brasileiras, em seu terceiro encontro.
Emir Ribeiro, que para alegria de seus fãs nunca parou de trabalhar com quadrinhos, apesar da indiferença do público, conseguiu, graças ao apoio de seu até agora maior patrocinador, o polêmico e também persistente José Salles, editor da Editora Júpiter 2, lançar, em fevereiro de 2013, o terceiro crossover entre a Velta e o Raio Negro de Gedeone Malagola.

Vamos recordar: o primeiro crossover entre a Velta e o Raio Negro foi lançado em dezembro de 2008, pouco depois do falecimento de Malagola. O segundo encontro entre os dois heróis saiu em março de 2010, e tinha por atração maior trazer o vilão Garra Cinzenta, criação de Francisco Armond e Renato Silva (1937), para os dias de hoje, enfrentando os heróis. (No meio tempo, Ribeiro lançou um crossover entre a Velta e a vampira Mirza de Eugenio Colonnese.) Pois, neste terceiro encontro, o Garra Cinzenta está de volta, e desta vez aliado ao arqui-inimigo do Raio Negro, o Capitão Op-Art.
Parece que a utilização do Garra Cinzenta na trama do segundo encontro foi benéfica para os quadrinhófilos brasileiros: pouco tempo depois que Ribeiro produziu o gibi, um novo interesse pelo Garra Cinzenta foi aceso, e que foi saciado com o lançamento do álbum, pela editora Conrad, compilando a saga original. Até o lançamento do álbum, o público entusiasta só contava com os fraquíssimos scans da internet, disponíveis para download em diversos sites, que chegavam só até a metade da trama.
Bem. Parece que este terceiro crossover vem trazer um equilíbrio aos encontros dos heróis. No primeiro encontro, quem fez a maior parte do trabalho foi a lourona Velta, com seus três metros de altura, sua enorme bunda e sua capacidade de jogar raios das mãos, enquanto que o Raio Negro acabou sendo um personagem mais secundário – e, na verdade, o álbum estava quase que totalmente centrado em outra personagem heroica de Ribeiro, a androide Nova. Isso praticamente arruinou a trama. Já no segundo encontro, os dois heróis tiveram suas parcelas equilibradas de aparição na trama e de ação. O segundo volume, sim, podemos chamar de crossover. Mas, no terceiro álbum, meio que para compensar, agora é a Velta que fica em segundo plano, enquanto o Raio Negro faz todo o trabalho. Mas a trama é até melhor: supera espetacularmente o primeiro encontro, mas escorregou um pouco para superar o segundo – não ficou melhor, mas chega bem pertinho.
Antes de falar da trama, é preciso alertar uma coisa: nesses encontros, Emir Ribeiro trabalha com conceitos de realidade alternativa, não propriamente de encaixando na cronologia oficial dos dois personagens. Que o diga o primeiro encontro entre os personagens, que reformulou a origem de Nova. Ou melhor, só o primeiro encontro muda totalmente a realidade: o segundo encontro já pode ser encaixado com segurança na cronologia das aventuras de Velta e do Raio Negro.
Emir Ribeiro imagina como seria o futuro dos personagens da saga criada por Malagola: Roberto Sales, o capitão da aeronáutica, primeiro astronauta brasileiro e identidade secreta do Raio Negro, está agora aposentado, dono de uma empresa de taxis aéreos e tem até netos adolescentes; mas se mantém com a mesma aparência que tinha nos anos 60, quando encontrou o alienígena Lid, ganhou o anel de luz negra e se tornou o herói, graças a uma poção que retarda seu envelhecimento. Sua esposa, Marajoara Campos, também partilha da poção, e se mantém mais jovem e mais bela junto com o marido. Sabe-se lá se a ideia foi toda de Ribeiro, ou se a sugestão partiu de Malagola, enquanto os dois combinavam o primeiro crossover.
E vamos lembrar também: Ribeiro imaginou que James Stone, a identidade secreta do Garra Cinzenta, tenha conseguido chegar aos dias de hoje graças à seu maior ardil, o licor da vida. Os que leram a saga de Francisco Armond e Renato Silva sabem: o Garra Cinzenta matou o cientista Charles Curberry, criador do líquido que possibilita ressuscitar os mortos, para obter esse segredo; e usou esse licor para ressuscitar Katty, ex-secretária de Curberry e segunda vítima do vilão, e transformá-la na Dama de Negro, sua misteriosa assistente. O Garra Cinzenta foi morto pelo próprio assecla, o autômato Flag, que a seguir foi destruído pelo herói da história, o investigador Frederic Higgins. Mas, na trama imaginada por Ribeiro, Katty, que foi internada em um manicômio depois dos acontecimentos do álbum, fugiu e usou o licor da vida para ressuscitar Stone, mais porque se apaixonou pelo vilão; a princípio, desmemoriado, Stone parecia ter se regenerado, mas, ao encontrar seu uniforme – o terno, a capa e a máscara de caveira – Stone decide reassumir o codinome Garra Cinzenta e tocar o terror nos dias atuais, assumindo a chefia de uma gangue de bandidos comuns.
Bão: lembrando que, no segundo encontro, Velta e Raio Negro não chegaram a enfrentar Stone diretamente; prenderam foi um bandido que usava seu uniforme. Por isso, o Garra Cinzenta ainda está à solta, e visto que os dois heróis haviam detonado seu novo negócio, ligado ao tráfico de drogas, jura vingança.
Agora, sim, podemos falar da trama do álbum.
Como todos os gibis editados por Ribeiro, VELTA & RAIO NEGRO 3 tem capa cartonada, miolo preto-e-branco e diagramação mais profissional, o que diferencia o gibi das edições normais da Júpiter 2. O gibi, desta vez, sai num tamanho ligeiramente maior que os dois primeiros (22,5 x 15 cm contra 21 x 15,5, em média). Na parte dos desenhos, constatamos: Emir Ribeiro não aprendeu a lição. Ele insiste em desenhar os personagens com erros de anatomia. Ainda mais a Velta, que tem bunda grande, mas seios pequenos e pontiagudos como os de uma pré-adolescente. E ele, desta vez, dispensou um pouco o seu estilo “econômico”, procurando resumir as tramas em poucos quadros por página, mas enchendo-os de balões de texto. Mas prevalece o estilo atual de Ribeiro: um traço detalhado, cheio de sombras e efeitos de cinza, e personagens que carecem de movimentos mais amplos. Estilo que ele aplica desde que desenhou para as editoras norte-americanas, no início dos anos 90.
Well: o gibi é composto de duas histórias, todas escritas e desenhadas por Ribeiro. Na primeira trama, O Rapto de Marajoara, acontece o encontro entre Velta e Raio Negro. Na trama, um casal retira de um asilo um velho que eles alegam ser seu tio Duarte. Esse “tio” é o Capitão Op-Art, envelhecido e decrépito, e o casal é Katty e o Dr. Stone. Em casa, Stone usa o licor da vida e células-tronco para restaurar a inteligência e a saúde de Duarte, mas a recuperação só acontece horas depois – tempo suficiente para que o Garra Cinzenta cuide de seus atuais negócios e, quando volte, encontre a casa cheia de armadilhas implantadas pelo Capitão. Esclarecidos os mal-entendidos, Op-Art e Garra Cinzenta firmam uma parceria, e decidem começar seu plano de vingança contra o Raio Negro, fazendo uso de um ardil: raptar Marajoara Sales, esposa de Roberto Sales, pedir resgate e atrair o Raio Negro para uma armadilha. Como dito antes, é o Raio Negro quem faz todo o trabalho nesta história: Roberto Sales cogita pedir ajuda a Velta, mas há também um fator surpresa: não é Roberto Sales quem usa o anel de luz negra e age como o Raio Negro, mas seu neto adolescente, Gérson! De alguma forma, o impulsivo adolescente descobre o segredo do avô e decide usar, meio que escondido, o anel para resgatar a avó e enfrentar uma androide à imagem de Marajoara, parte da armadilha! Mas ele também soube preparar armadilhas para os bandidos... Uma adição interessante à cronologia do personagem, certamente. Quem sabe no próximo encontro o argumento ganhe um melhor desenvolvimento. E quem sabe a Velta consiga mais cenas de ação. Ah: a Velta, com novas roupas e um novo penteado, aparece ora como ela, ora como sua identidade secreta, a adolescente Kátia Maria Lins (com um pensamento demasiadamente moralista). E o final da trama guarda uma surpresa aos fãs...
A segunda história é com o Raio Negro e o outro maior herói de Malagola, o Homem Lua. A história de A Volta do Homem Lua serve para explicar uma das maiores pontas soltas que ficou desde o segundo encontro entre Raio Negro e Velta: a história da poção que mantém a saúde de Raio Negro e Marajoara intactas por décadas. Na trama, o Homem Lua, auto-exilado, decepcionado com a realidade nacional, envelhecido e dependente de recursos científicos para manter a saúde, chama o Raio Negro para obter o segredo de sua vitalidade – como os dois começaram as suas aventuras nos anos 60... É aí que Raio Negro conta como obteve a poção de rejuvenescimento de seu inimigo, Magnus, o mago, e como descobriu seus efeitos. E decide partilhar da poção com o Homem Lua, ansioso por voltar à ação. Uma explicação interessante. Mas desconto para o excessivo moralismo presente na trama.
Como extras, apenas anúncios de publicações de Ribeiro e da Júpiter 2 e uma ilustração dos heróis, na 4ª capa, por Wellington Santos, o criador do herói Vulto.
Para adquirir a revista, ao preço de R$ 3,00, escrevam ou para José Salles (smeditora@yahoo.com.br) ou para Emir Ribeiro (emir_ribeirojp@yahoo.com.br ou emir.ribeiro@gmail.com). Conheçam outras publicações da Júpiter 2 no blog http://jupiter2hq.blogspot.com.br/. E outras do incansável Emir Ribeiro em www.emirribeiro.com.br.
É isso aí.
Para encerrar, ilustração especial by Rafael Grasel! Velta e Roberto Sales numa sacada de um prédio, vendo o Raio Negro cover. Evocando as sugestões deixadas por Ribeiro na trama do presente álbum. Cores a lápis, por isso não estranhem, por favor.
Em breve, mais Júpiter 2 para vocês.
Até mais!

Um comentário:

Minerva Pop disse...

Muito legal....mas sempre via o Cyclope (x-men) no lugar do raio negro