sábado, 21 de janeiro de 2017

Guabiras, o retorno da bagaceira! (e mais um personagem "ressuscitado")

Olá.
Depois de um tempo de férias, vou aos poucos tentar retomar o ritmo de minhas atividades. Isso inclui a atualização dos blogs da Rede Rafelipe.
Hoje, volto a falar dos trabalhos de um cartunista do qual falei há algum tempo atrás. Por que demorei tanto para voltar a falar a respeito dele? Por causa do recesso dele, e das notícias a respeito dele: o cearense Carlos Henrique Santos da Costa, o Guabiras, faturou, neste início de 2017, um prêmio nacional!

Esta semana, foram anunciados os vencedores do Prêmio Ângelo Agostini, importante premiação específica dos quadrinhos nacionais, promovida pela Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo – AQC-SP. Dentre os contemplados da edição de 2017, está Guabiras, vencedor, via voto popular, da categoria Melhor Cartunista!
Faz cerca de oito meses desde que falei a respeito do “maior cartunista do nordeste”. Desenhista do jornal O Povo de Fortaleza, CE; promotor e participante ativo de eventos em seu estado natal; fanzineiro; dono de um estilo caricatural e punk; criador do Zé de Aurim e do Jhown William Rói Rói; às vezes, personagem de suas próprias tiras, junto com sua família; e principal divulgador da culinária cearense pela via gráfica. O mais representativo cartunista – que eu consigo lembrar – fora do Centro-Sul.
Além do blog próprio, principal veículo de divulgação de seus trabalhos através da internet, Guabiras tem por principal voz própria os seus fanzines. Há vezes em que ele disponibiliza, para download gratuito, via solicitação das redes sociais, a versão digital de seus fanzines, para leitura em computadores. Quem não tem como adquirir a versão impressa dos fanzines, tem de fazer uso desse recurso, mesmo, para poder conferir de que forma Guabiras trata das mazelas humanas através do desenho, regando tudo com cerveja e comida gordurosa e altamente apimentada.
E qual não foi minha surpresa quando o próprio Guabiras me comunicou que a postagem referente a ele, publicada no Estúdio Rafelipe em maio de 2016, foi incluída em uma exposição, promovida pelo próprio, com sua vida e obra! Sinal de que o Estúdio Rafelipe é um blog conhecido em terras mais distantes que o Rio Grande do Sul – do mesmo modo que o blog do Guabiras já é conhecido aqui no Rio Grande do Sul!
Nesta ocasião, vou tratar de quatro novos fanzines da última leva, adquiridos via download. No catálogo geral, ele tem muitos mais. Todos foram lançados em 2016.

ASILADOS POR PANELADA
Sem data.
Quem conhece o trabalho de Guabiras, também já viu a defesa ferrenha que ele faz da panelada, o ultracalórico cozido de vísceras de bode. Ele diz que é a melhor comida do mundo, mas eu tenho minhas dúvidas – não sou chegado nem ao equivalente gaúcho desse prato, a buchada de boi, que costuma ser servido até mesmo em festas beneficentes. Me repugna até mesmo sentir o cheiro do bucho sendo cozido em alguma cozinha. Bem, cada um com seu gosto, nada tenho contra quem goste de vísceras de qualquer animal. Bem, na defesa que uma pessoa faz da iguaria favorita, por que não torna-la personagem de uma HQ? É o que Guabiras faz nesse fanzine, uma coletânea de tirinhas estreladas por uma banda de rock formada por... ingredientes de panelada! Conheçam os Asilados por Panelada, banda punk formada por Mário Tutano, Unha de Nervo, Tripinha e Panelinha de Pressão – três ingredientes de panelada e uma panela de pressão que, inexplicavelmente, ganham vida e fazem um som cheio de fúria. Eles são truculentos e o mais hardcore possíveis, entregando o que prometem – uma alternativa à pasteurização e ao mercantilismo presentes em nossa música! Sucesso entre a gurizadinha inconformada. A cada show, há duas garantias: a de que o truculento vocalista Mário Tutano vai vomitar em cima de você do palco, e a de que você vai sair do show cheirando a carne cozida. A microssérie de tiras trata das aventuras (ou seriam desventuras?) da banda dentro e fora dos palcos, do sucesso meteórico até o final trágico, com a morte de um dos integrantes. A trajetória dos Asilados praticamente reflete a formação cultural do próprio Guabiras, regada a punk rock e quadrinhos underground. No final do fanzine, uma matéria apaixonada de quatro páginas, onde Guabiras faz a defesa de seu prato predileto. Se a panelada for mesmo tudo o que ele diz nesse texto, então, nas próximas férias ao Ceará, você já sabe o que pedir no restaurante. Talvez o maior pecado desta microssérie foi ter se fixado demais em apenas dois personagens – em Mário Tutano e em Panelinha, que acha que apenas dizer “yeah!” é prova mais que suficiente de ser altamente hardcore. Unha de Nervo e Tripinha quase não tem voz ativa dentro da série, são praticamente periféricos. Mas, no mais, é fome e vontade de dizer o que realmente se pensa unidos em um único fanzine. 19 páginas, capa e miolo coloridos – as tiras em tons de ocre e amarelo, e a matéria totalmente colorida.

CRIATURAS NOCIVAS # 2
Lançado em maio de 2016.
Quase dois anos após lançar o primeiro número desse título, estrelado pelo coelho hardcore Jhown William Rói Rói, Guabiras dá à luz o segundo número de CRIATRAS NOCIVAS, estrelando Zé de Aurim, seu personagem mais representativo. Reunindo todo o material publicado até a data acima, nos fanzines e nos jornais, com o maloqueiro feioso e gozador – segundo informações, inspirado em um amigo do cartunista. Quem não conhece o vagabundo de dentes podres, nariz sempre escorrendo, infecto da cabeça aos pés e que está sempre dependendo da caridade alheia para descolar um rango ou uma bebida – e às vezes devolvendo essa “caridade”, feita muitas vezes de má vontade, com um insulto – tem neste fanzine um banquete de verdadeira sordidez, humor negro e risadas com o “pus seco da pereba viva”, em todas suas facetas! As tiras e quadrinhos são distribuídos em ordem aleatória, ignorando datas de elaboração – mas dá para encontrar as primeiras tiras com a presença do ilustre cidadão das pocilgas de Fortaleza. As tiras são distribuídas por temas – tem Zé de Aurim mendigando, bancando o bicheiro, tratando dos dentes, “assaltando” restos de comida nos restaurantes... e não podem faltar a HQ longa clássica Apenas Dando um Rolê, com a participação do próprio Guabiras, e o arco de tiras O Livro de Aurim, o maloqueiro como único sobrevivente do apocalipse terrestre. Também não faltam aqui as matérias Zé de Aurim é o Cara!, toda feita de fotomontagens com Zé de Aurim e gente famosa, e Finalmente Zé de Aurim Mostra a Cara!, um dossiê a respeito do homem (real) que inspirou o personagem. Também estão presentes as aparições de Aurim em cartuns de um quadro e os anúncios que o personagem faz de alimentos de qualidade duvidosa. Prepare seu estômago e divirta-se! 46 páginas, capa colorida e miolo preto e branco.

LIXO HUMANO # 1
Lançado em julho de 2016 (ou melhor, 3018).
Como tantos outros fanzines do autor, este aqui, até o momento em que escrevo, estacionou no número 1 e ficou. Da presente leva, é o mais pesado dos fanzines: como sugere o nome, é uma reunião de tiras, cartuns e desenhos que criticam, com raiva e ferocidade, as mazelas humanas: o consumismo, o culto aos ídolos, a internet, a rebeldia “modinha” e... o próprio Guabiras. Nem ele escapa da autocrítica, em suas aventuras etílicas e lembranças sórdidas de acontecimentos do passado. Dentre os destaques: a história curta de duas páginas, Encosta, Vagabundo!, com Guabiras levando uma dura da polícia; a republicação da sequência de tiras A Culpa é do Aquecimento Global (do fanzine Toicim # 1), com atualizações; as sequências inéditas Histórias Reais da Vida Virtual, Lixo Humano e No Problem!, criticando tudo o que foi exposto acima (as tiras são, por isso, em boa parte, carregadas de sexo e escatologia); e a HQ curta Pulseira VIP, ocupando as duas capas internas. De resto, cartuns variados – incluindo a “prova” de que Sid Vicious, o ex-baixista dos Sex Pistols, está vivo. 22 páginas, capa colorida e miolo preto e branco.

QUADRINHOS PUNKS # 1
Também lançado em julho de 2016 (ou melhor, 21016).
Também tem tiras e cartuns punks, mas sua violência é mais moderada que no Lixo Humano – se excetuarmos, claro, os desenhos violentos e retratando mutilações. Há muita republicação de material antigo – várias das tiras publicadas, estreladas por Guabiras, saíram anteriormente nos fanzines Pataca, Toicim e Guia Ilustrado do Alcoolismo. O mesmo para tiras estreladas por Zé de Aurim, alguns cartuns e falsos anúncios. Mas calma, turma, tem material inédito também! Como na HQ curta Zé de Aurim Tirando o Ranho, publicado anteriormente no formato de mini-fanzine. E alguns cartuns que foram publicados pela primeira vez na internet. E isso é tudo, por enquanto. Mais recomendado para quem perdeu algum material publicado por Guabiras. 20 páginas, capa colorida e miolo preto e branco.

Bem, foi pouquinha coisa, mas significativa. Agora, com o reconhecimento nacional, é pouco provável que segurem o nosso Guabiras de agora em diante. Inclusive já foi anunciado mais fanzines e mais material inédito com Zé de Aurim. Estamos aguardando ansiosamente pra ver. E te prepara para encarar a panelada: não duvido que constará no menu nos próximos meses – e anos, se o Grande Desenhista do Universo permitir.
O que será que Guabiras dirá desta postagem?

PARA ENCERRAR...
...resolvi desenterrar mais um personagem criado no passado!
Apresento a vocês, hoje, Camicaos, o masoquista!
Quando ainda estava fazendo tiras por hobby, se bem me lembro foi antes de 2003, quando entrei para a faculdade; enfim, dentre alguns experimentalismos que fiz, concebi um sujeito cuja atividade é a automutilação. A inspiração veio de uma matéria da revista Superinteressante, da Editora Abril, mostrando um grupo performático chamado Kamikaos, que, dentre outros feitos, costumam enfiar agulhas em partes do corpo e se pendurar por ganchos presos à pele. O espetáculo é grotesco e chocante.
Bem. A partir daí, esbocei um cara que vive uma vida comum, mas, em casa, pratica o autoflagelo – se chicoteia, enfia agulhas no corpo, dorme em cama de prego... e sustenta tudo isso trabalhando em escritório. Como tantos projetos de infância, nunca mostrei esse a ninguém. Não é do tipo de trabalho que sai em jornais convencionais, é mais udigrudi, estilo Chiclete com Banana.
Para a presente ocasião, me ocorreu de dar uma reativada no personagem. E produzi seis tirinhas com o personagem. Perdão pelos defeitos no desenho, usei uma canetinha cuja tinta já estava no fim. E esse momento, durante o embalo da arte-final de um trabalho, é piiih.
Gostaram? Se o povo quiser, produzo mais. Ideias para a continuidade da série eu tenho, depende do pessoal, agora. Deixem seu comentário.
Tem dias que dá vontade mesmo de produzir quadrinhos udigrudi. Como se eu já não fosse “udigrudi” só com o que tenho feito até agora... Ainda me encontro no submundo... Não sou do tipo elegível para faturar um Ângelo Agostini. Vou ter de trabalhar mais. Por hora, este blog é o veículo de que disponho para ajudar outro a serem notados e, quem sabe, ser notado.
Aguardem novidades.

Até mais!

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