sábado, 25 de outubro de 2008

História das Histórias em Quadrinhos - 7a. Parte

Olá.
Depois de uma brevíssima interrupção, eis aqui a sétima parte da História das HQ, trazendo os movimentados anos 80, época de investimento no mercado adulto e florescimento do mercado mangá no Ocidente.
Constatem:



DÉCADA DE 80É a época em que se cristaliza o conceito dos “quadrinhos adultos”: as edições tornam-se mais luxuosas e as histórias mais violentas. A arte dos álbuns de luxo ficaria mais requintada, com o uso de técnicas como a aquarela e a colagem. Os japoneses começam a se tornar conhecidos no mercado ocidental (as obras publicadas no Japão anteriormente citadas só chegam ao ocidente a partir do final da década de 80), e aparecem como os maiores produtores e consumidores de HQ, ao lado dos americanos. Aliás, dali em diante, a produção japonesa influenciaria a ocidental. Destaques:
· 1980 – Na França, Enki Bilal, artista nascido na Iugoslávia, inicia sua Trilogia Nikopol (composta por Os Imortais, A Mulher Enigma e Frio Equador), a mais conhecida da vasta obra de ficção científica do autor (e que foi adaptada, em 2004, para o cinema, [Immortel, escrito e dirigido pelo próprio Bilal]; Alejandro Jodorowsky e Moebius iniciam O Incal, uma das mais importantes HQ de ficção científica de todos os tempos (posteriormente, Jodorowsky expande o universo do Incal em outras séries: Antes do Incal, com arte de Zoran Janjetov, e A Casta dos Metabarões, com arte de Juan Gimenez); No Japão, Dr. Slump, de Akira Toriyama, seu primeiro grande sucesso antes de Dragon Ball;· 1981 – No Japão, Captain Tsubasa (Super Campeões), de Yoichi Takahashi, mangá que estimulou a prática do futebol entre os jovens;· 1982 – Nos EUA, Maus, de Art Spiegelman, HQ agraciada com o prêmio Pullitzer de literatura; Pela DC, sai Camelot 3000, de Mike W. Barr e Brian Bolland, considerada a primeira HQ “adulta” da editora (essa HQ é revolucionária pelos elementos “adultos” que introduz, até então inéditos no gênero heróis: violência acima dos padrões de então, nudez e até lesbianismo); Groo, o Errante, de Mark Evanier e Sergio Aragonés; Os irmãos Gilbert e Jaime Hernandez iniciam a revista Love & Rockets, importante publicação underground; Dreadstar, de Jim Starlin; Na Inglaterra, V de Vingança, de Alan Moore e David Lloyd, na revista Warrior (que também publica Marvelman [Miracleman nos EUA], de Moore e Alan Davis) – a obra chega aos EUA em 1988, de carona no sucesso de Watchmen, e ganha adaptação cinematográfica em 2006, por James McTeigue; No Japão, saem: Akira, de Katsuhiro Otomo (uma das HQ de ficção científica mais influentes do mundo, e grande representante do gênero gekigá, ou mangá underground, gênero equivalente ao dos quadrinhos “adultos” ocidentais [Otomo também dirige, em 1988, a adaptação de Akira para anime, bem como os filmes Memories, de 1996, e Steamboy, de 2004, exemplos da contribuição do autor para a animação japonesa]), e Kaze no Tani no Naushika (Nausicäa do Vale do Vento), de Hayao Miyazaki, um dos mais importantes animadores japoneses da atualidade, à frente do estúdio de animação Ghibli (dentre a obra de Miyazaki nos animes, podemos destacar: Tenku no Shiro Rapyuta [Laputa - Castelo no Céu, 1986], Tonari no Totoro [Meu Vizinho Totoro, 1988], Mononoke Hime [Princesa Mononoke, 1997, o maior sucesso de bilheteria nos cinemas japoneses], Sen to Chihiro no Kamikakushi [A Viagem de Chihiro, 2001, o primeiro anime japonês a ganhar o Oscar de Melhor Longa-Metragem de Animação, em 2003], Hauru no Ugoku Shiro [O Castelo Animado, 2004], entre outros);· 1983 – Nos EUA, Ronin, de Frank Miller; American Flagg, de Howard Chaykin; Em uma história dos Omega Men, personagens interplanetários da DC Comics, aparece pela primeira vez o personagem Lobo, um dos heróis mais violentos das HQ (por Keith Giffen e Roger Slifer, mais tarde por Alan Grant e Simon Bisley, sob novo conceito); Na Itália, aparece, na cidade de Bolonha, o grupo vanguardista Valvoline (um de seus fundadores foi Lorenzo Mattotti), que revolucionou as HQ italianas, tanto no aspecto estético quanto linguístico; O Clic, de Milo Manara (o artista italiano é considerado o maior autor erótico das HQ, ao lado de nomes como Guido Crepax, Paolo Serpieri, Rotundo, Magnus e Vittorio Giardino. Além de suas obras-solo [entre elas, Giuseppe Bergman, publicada em 1978, Kama Sutra e Gullivera], Manara é conhecido pelas parcerias com artistas como o cineasta Frederico Fellini [Viagem a Tulum], Hugo Pratt [El Gaucho e Verão Índio], Neil Gaiman [uma história do álbum Sandman: Noites Sem Fim] e Alejandro Jodorowsky [a série Bórgia]); Na Espanha, Torpedo, de Jordi Bernet e Enrique Sanchez Abuli, quadrinho de violência cínica que destaca-se na produção espanhola (com efeito, Barcelona e Bruxelas tornam-se os principais centros irradiadores de HQ na Europa, enquanto que França e Itália enfrentam uma crise de mercado nos anos 90); · 1984 – Nos EUA, Calvin and Hobbes (Calvin e Haroldo), de Bill Waterson, uma das últimas grandes kids strips; na DC Comics, o inglês Alan Moore assume os roteiros do personagem Monstro do Pântano, revolucionando a série e tornando-a um clássico das HQ; A Marvel inicia o megaevento Guerras Secretas, que, apesar de irregular, exerce grande importância na cronologia dos heróis da editora; Teenage Mutant Ninja Turtles (As Tartarugas Ninja), de Kevin Eastman e Peter Laird, uma das mais bem-sucedidas HQ independentes de todos os tempos; Na Inglaterra, A Balada de Halo Jones, de Alan Moore e Ian Gibson, na revista 2000 A. D. (concomitante com o trabalho do autor com Monstro do Pântano);Na Itália, Little Ego, de Vittorio Giardino (paródia erótica do Little Nemo in Slumberland de McCay); No Japão, Akira Toriyama inicia Dragon Ball, o mangá mais vendido de todos os tempos e uma das séries de maior sucesso no Ocidente; · 1985 – Nos EUA, Will Eisner publica o livro Quadrinhos e Arte Seqüencial, um dos mais importantes livros teóricos de HQ; a DC lança a saga Crise nas Infinitas Terras (texto de Marv Wolfman e arte de George Perez), com o objetivo de tornar seu universo de super-heróis mais coeso; Em uma história do Monstro do Pântano, é introduzido o personagem John Constantine, que mais tarde ganharia seu próprio título (Hellblazer); Pela Marvel, sai Moonshadow – um conto de fadas para adultos, de John M. DeMatteis e Jon J. Muth; Na Itália, Druuna, de Paolo Serpieri, uma das mais importantes personagens eróticas das HQ italianas; No Japão, Appleseed, de Masamune Shirow, autor mundialmente consagrado por suas obras de ficção científica;· 1986 – Nos EUA, surgem as revolucionárias séries: Batman – O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller (que definiu o padrão a ser usado, dali em diante, nas HQ do personagem, bem como o estilo de narrativa usado por Miller influenciou diversos artistas e, principalmente, cineastas), e Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons (a partir desta obra, o mito do super-herói começa a ser fortemente questionado - e a obra ganha adaptação cinematográfica em 2008, por Zach Snyder), ambas pela DC, que também inicia uma grande reformulação, pós-Crise nas Infinitas Terras, de seus super-heróis (a mais famosa é a do Superman, pelas mãos do inglês John Byrne, que fez importantes trabalhos para a Marvel e a DC - mas hoje, é mais lembrado pelas diversas brigas com essas editoras); pela Marvel, saem dois trabalhos escritos por Frank Miller: Elektra Assassina (arte de Bill Sienkiewicz) e Demolidor: a Queda de Murdock (arte de David Mazzuchelli); com a compra da Marvel pelo empresário Ron Perelman, inicia-se a chamada “era do chamariz”, marcada pelas agressivas estratégias de marketing das editoras e pelas sagas quilométricas, que chegam a se estender por diversos títulos, tudo para chamar a atenção dos leitores e aumentar as vendas de HQ. Nesse ambiente, Mike Richardson funda a editora Dark Horse, famosa por seus vínculos com Hollywood, que permitiu as adaptações em HQ de personagens célebres do cinema, como Robocop, Star Wars, Alien, Predador e Exterminador do Futuro, bem como adaptações cinematográficas de seus personagens, como O Máskara; Kate Worley e Reed Walker lançam Omaha, a Stripper; Usagi Yojimbo, de Stan Sakai; Concreto, de Paul Chadwick; Na França, Cédric, de Raoul Cauvin e Laudec, na revista Spirou; No Japão, Chibi Maruko-chan, de Sakura Momoko, mangá shoujo do qual é derivado o segundo anime mais assistido da televisão japonesa (atrás apenas da versão animada de Sazae-san), e Saint Seiya (Cavaleiros do Zodíaco), de Masami Kurumada, série responsável por um verdadeiro “boom” japonês no Ocidente nos anos 90, graças à versão em anime (posteriormente, aparecem títulos complementares da série em mangá: Episódio G, de Kurumada e Megumu Okada, lançado em 2002; Next Dimension, de Kurumada, de 2006; e Lost Canvas, de Kurumada e Shiori Teshirogi, também de 2006) · 1987 – Nos EUA, Batman: ano um, de Frank Miller e David Mazzuchelli; Violent Cases, de Neil Gaiman e Dave McKean; Na Alemanha, Der Bewegte Mann (O Homem Ideal), de Ralf König, o mais bem-sucedido cartunista alemão da atualidade (König, criador também da série Conrad e Paul, tematiza o mundo dos homossexuais, e com isso estes ganham seu espaço nas HQ. O Homem Ideal ganha adaptação cinematográfica em 1994); No Japão, Crying Freeman, de Kazuo Koike e Ryoichi Ikegami;· 1988 – Nos EUA, aparece Sandman, com textos de Neil Gaiman, considerado, com certo exagero, "deus" entre os fãs de HQ (o autor inglês, mais Alan Moore e Frank Miller, tornam-se, com suas histórias densas e adultas, os principais destaques dos anos 80 e 90. Além disso, Moore e Gaiman consolidam a “invasão britânica” nos EUA, quando diversos roteiristas e artistas da Irlanda e do Reino Unido, como Grant Morrison, Alan Davis, Brian Bolland e Dave McKean, fazem sucesso nas editoras americanas); Batman – A Piada Mortal, de Alan Moore e Brian Bolland, torna-se um dos maiores clássicos do personagem; Na saga Batman – Morte em Família, o segundo Robin (Jason Todd) é assassinado, e de uma forma polêmica: quem decidiu seu destino foram os leitores norte-americanos, através de votação por telefone; O canadense Todd McFarlane, que na década seguinte se torna o primeiro milionário da indústria das HQ, assume a arte do personagem Homem-Aranha, tornando o título o mais vendido até então (muito se devendo a isso o fato de Spider-Man no. 1, a edição de estréia do artista, ter tido nove versões de sua capa, fazendo muitos fãs comprarem a mesma edição da revista para colecionar todas, procedimento que a editora Marvel repetiria com outros títulos); São instituídos, nesse mesmo ano, os importantes prêmios Eisner e Harvey de HQ (homenagem, respectivamente, a Will Eisner e Harvey Kurtzmann); No Japão, Mai, a Garota Sensitiva, de Kazuia Kudo e Ryoichi Ikegami, Patlabor, de Masami Yuuki, e Berserk, de Kentaro Miura;· 1989 – Nos EUA, Dilbert, de Scott Adams, sátira do mundo corporativo que torna o artista uma das revelações dos anos 90; O Corvo, de James O'Barr, a mais famosa HQ gótica (que ganha uma célebre adaptação cinematográfica em 1994, dirigida por Alex Proyas[famosa pelo fato de seu ator principal, Brandon Lee, ter morrido acidentalmente durante as filmagens], mais três filmes em 1996, 2000 e 2005, e uma série televisiva em 1998); Daniel Clowes inicia a publicar, em capítulos, na revista Eightball, Como uma Luva de Veludo Moldada em Ferro, HQ que coloca seu autor entre os maiores nomes do underground; o coreano Jim Lee, o artista cujo estilo de desenho foi o mais copiado dos anos 90, assume a arte dos X-Men, influenciando a série a partir de então; Orquídea Negra, de Neil Gaiman e Dave McKean; Batman – Asilo Arkham, de Grant Morrison e Dave McKean (no mesmo ano, é lançado o primeiro filme do Batman, dirigido por Tim Burton [o personagem estrela outros cinco filmes, em 1992, 1995, 1997, 2005 e 2008]. Dos tantos títulos caça-níqueis lançados no embalo do filme, Asilo Arkham é, por excelência, a obra-prima do ano); No Japão, Ranma ½, de Rumiko Takahashi, atualmente a mais rica mangaká do país e representante maior da categoria das mulheres desenhistas de shounen mangá (outros exemplos são Hiromu Arakawa [Fullmetal Alchemist] e Katsura Hoshino [D. Gray-Man]); Kokaku Kidotai (Ghost in the Shell), de Masamune Shirow (sua obra mais conhecida, de clara inspiração no movimento cyberpunk); e com RG Veda, o grupo CLAMP inicia sua carreira (formado por quatro mulheres [Satsuki Igarashi, Mokona Apapa, Mick (Tsubaki) Nekoi e Nanase (Ageha) Ohkawa], remanescentes de uma grande turma de fanzineiros, o grupo é um dos mais queridos entre os fãs dos mangás e animes japoneses nos anos 90 e 2000; seus mangás, inicialmente dirigidos ao público feminino, conquistam também os rapazes e adultos, com seus enredos densos e sua arte bastante convencional. Entre as obras do CLAMP, destacam-se também: Tokyo Babylon [1991], X [1992], Guerreiras Mágicas de Rayearth [1994], Sakura Card Captor [1996], Chobits [2001], entre outros).Outros destaques da década são os desenhistas italianos Massimo Rotundo (autor de Ex Libris Eroticis e O Detetive Sem Nome, este escrito por Luigi Mignacco) e Magnus (Roberto Raviola, autor de Necron e As 110 Pílulas), destacados autores de HQs eróticas, Os italianos acabaram se tornando, ao longo do tempo, os maiores especialistas em HQ eróticas e de faroeste.

Em breve: os anos 90.
Fiquem agora com Letícia.

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