Hoje, o Estúdio Rafelipe vai ser mais cultural. Porque hoje vou falar de um dos filmes mais marcantes da minha vida.
Antes, uma efeméride: na cidade de Santa Maria, RS, no auditório do CCSH da Universidade Federal de Santa Maria, está sendo apresentado um novo Ciclo de Cinema, com o tema Ficção Científica. O filme do qual falarei será apresentado no dia 4 de dezembro.
Este filme é um dos maiores clássicos do cinema de ficção científica de todos os tempos, e um dos últimos filmes do impressionismo cinematográfico alemão (cuja obra precursora foi O Gabinete do Dr. Caligari).
Sim. O filme, mudo, foi produzido na Alemanha, em 1926, e foi dirigido por Fritz Lang, com roteiro de sua (então) esposa Thea von Harbou.
O filme foi um dos primeiros a antever o futuro da humanidade e a presença dos robôs. Para falar a verdade, deve ser o primeiro (não tenho certeza) a ter um robô entre os personagens.
Para começar, os efeitos especiais do filme impressionam até hoje, apesar de os recursos técnicos de 1926 serem precários com relação aos de hoje. Não apenas pela ambientação impressionante - com os cenários mais ousados da época, de arquitetura imaginária e "não executável" de tão fantástica -, mas pelas verdadeiras "mágicas" feitas por Lang para dar forma aos impressionantes efeitos - como truques com espelhos e peças de papelão pintadas de neon. É pena que Lang não anteviu o futuro da moda, pois os personagens ainda vestem-se como no início do século XX...
O enredo do filme faz uma crítica da escravização do homem pela máquina e à exploração da mão-de-obra humana pela sociedade capitalista.
A história se passa no ano de 2026, em uma cidade imponente, cheia de arranha-céus gigantes, máquinas voadoras e monotrilhos. Apesar de a cidade ser próspera, ela foi construída à custa da exploração da mão-de-obra dos operários - que, ao contrário dos ricos, vive nos subterrâneos da cidade. Não por acaso a ambientação é bem sombria. Ainda existem classes sociais: a classe dominante, o "cérebro", e a classe trabalhadora, a "mão" (como são chamados). A mão é praticamente escravizada e trabalha até a exaustão na construção e manutenção das máquinas que enriquecem o "cérebro". Existe a profecia de que, um dia, surgiria o "coração" - uma pessoa que uniria a mão e o cérebro em um corpo só, ou seja, os fariam viver em paz e harmonia.
O fio condutor da trama é a história do romance entre Freder (Gustav Fröhlich), filho do homem mais importante de Metrópolis, e Maria (Brigitte Helm), que pertence à classe trabalhadora. Maria é uma espécie de profetiza dos trabalhadores, que se encarrega de dar a eles conforto espiritual. É ela que, no filme, faz a profecia citada, numa alusão à celebre história da Torre de Babel (não por acaso, o edifício mais alto da cidade é chamado de Torre de Babel). Freder apaixona-se por Maria no instante em que esta leva crianças (filhas dos trabalhadores) para conhecer a parte alta da cidade. O mocinho, assim, desce até a sala das máquinas, e fica conhecendo uma realidade que até então ele desconhecia - já que ele vivia afastado dos subterrâneos, e passava seus dias entre os membros de sua classe, no ócio e no prazer. Em uma das cenas mais significativas, uma das máquinas, após um acidente, transmuta-se (aos olhos de Freder) no Moloch, o deus cananeu pelo qual se faziam sacrifícios humanos, que engole trabalhadores.
Noutro momento, Freder - graças à intermediação de Josaphat (Theodor Loos), um ex-assessor do pai do mocinho, que foi despedido e ajuda o rapaz a descer até o subterrâneo - toma o lugar de um operário, e sente na pele a dura rotina de trabalho - dez cansativas horas diárias. Mas acaba, afinal, por ver-se frente a frente a Maria - que, além de também se apaixonar por Freder, reconhece nele o "coração" da profecia. No entanto, Fredersen (Alfred Abel), pai de Freder, que colocara um espião (Fritz Rasp) no encalço do filho, vê a moça com desconfiança - acredita que ela possa ser perigosa, a ponto de fazer os trabalhadores sublevarem-se contra a ordem estabelecida.
É aí que entra em cena Rotwang (Rudolf Klein-Rogge), o cientista louco. Ele, que vê em Fredersen um rival - já que Hel, a mulher do empresário, que morreu ao dar a luz a Freder, era o amor do passado do cientista -, constrói um robô humanóide, à imagem de seu amor perdido. Ao descobrir que Freder está se encontrando com Maria - Rotwang que mostra a Fredersen o altar dos cultos liderados pela moça -, o cientista rapta-a, e, através de um experimento fantástico, coloca a aparência de Maria no robô - a pedido de Fredersen.
O plano de Fredersen é destruir a confiança dos trabalhadores em Maria. O robô, sob a aparência da moça, transforma-se em uma "mulher fatal", que seduz os homens e leva-os à ruína. A certo momento, a falsa Maria lidera um levante dos trabalhadores, que invadem a sala de máquinas para destruí-la, em resposta à exploração. No entanto, Rotwang tem um plano a mais: por vingança pela morte de Hel, o robô é peça-chave para o plano do cientista para destruir Fredersen. Cabe a Freder tentar resolver essa situação, salvar Maria e impedir a destruição de Metrópolis. Enfim: cabe ao "coração" exercer sua função mediadora.
A história do filme constitui uma aventura à parte. É porque do filme original, um quarto acabou se perdendo, mutilado de tantas edições que sofreu ao redor do mundo. Só recentemente o filme foi parcialmente recuperado para lançamento em DVD. Existem várias "versões" de METROPOLIS pelo mundo. Bem, a primeira que eu assisti o filme, foi uma versão editada, de baixa velocidade, que eu não gostei muito. Aí, um amigo me emprestou a versão mais recente do filme, mais próxima do original, recuperada com base nas partituras da trilha sonora original - aí, eu gostei do filme, pois o trabalho de restauração deixou a fita mais fácil de entender.
Uma das cenas cruciais do filme foi justamente uma das partes perdidas, que só pôde ser reconstituída através de fotos: a cena em que Rotwang posta-se frente a um busto de Hel - assim, é possível entender que o robô foi construído à sua imagem. Na primeira edição do filme feita nos Estados Unidos, a sequência foi cortada, para dar a entender que o robô foi construído a fim de substituir os trabalhadores.
Outra curiosidade: antes de se casar com Fritz Lang, Thea Von Harbou era casada com Rudolf Klein-Rogge. Quando a Alemanha converteu-se ao nazismo, a partir de 1933, Von Harbou e Klein-Rogge simpatizaram com o novo regime. Já Lang não; este exilou-se da Alemanha no mesmo ano - caminho seguido também por Brigitte Helm.
Bem, entre curiosidades, lendas e fatos, METROPOLIS é reconhecidamente um clássico do cinema, que vale a pena ser conferido. E, como tal, inspirou muitos cineastas, artistas e músicos.
Um deles é Freddie Mercury, da banda Queen. Dois clipes de músicas dele e da banda foram inspirados em METROPOLIS. Hoje trago um deles: Love Kills. Bom, não tenho como saber ao certo se é mesmo o clipe original, já que eu encontrei no YouTube, ou se foi montagem de cenas do filme com a música. Mas aqui temos um pequeno trailer de METROPOLIS, já que pratcamente conta toda a história de Freder e Maria. Um METROPOLIS de quatro minutos.
Acompanhem a tradução da letra:
O amor não dá nenhuma compensação
O amor não paga nenhuma conta
O amor não dá nenhuma indicação
O amor simplesmente não sustenta
Amor mata-perfurando seu coração
Amor mata - te marca desde o começo
É só um passatampo da vida arruinando seu coração
Permanece por toda vida, não deixa você partir
Porque o amor (amor) o amor (amor)
O amor não te deixa em paz
O amor não te dá folga
O amor não é uma negociata
Ei o amor não dá justificativa
Golpeia como uma lâmina fria
Amor mata - perfurando seu coração
Amor mata - te marca desde o começo
É só um passatempo da vida quiemando sua alma
Te traz problemas não te deixa partir
Porque o amor (amor) o amor (amor)
O amor não te deixa em paz.
Ei o amor pode brincar com suas emoções
Um convite aberto ao seu coração
Ei amor mata
Brinca com suas emoções
Um convite aberto para o seu coração
Para o seu coração
Amor mata, amor mata, hey hey
Amor mata (amor mata)
Amor mata (mata mata mata)
O amor pode brincar com suas emoções
Um convite aberto
Amor mata - ei - perfurando seu coração
Amor mata - te marca desde o começo
É só um passatempo da vida arruinando seu coração
Não te deixa partir
Amor mata - ei - perfurando seu coração
Amor mata - te estraçalhando em pedaços
Não deixa partir, não deixa partir
Amor mata
E, para encerrar, uma das artes que fiz para o Ciclo de Cinema. Foi feito à pedido do meu amigo Alexandre Maccari. Um Darth Vader lutando contra um militante comunista. Blockbusters contra o cinema "sério", o cinema político...
Pena que tenha saído pequenino, pois tirei a imagem do meu e-mail... Esqueci de escanear o original, que aí sim ficaria grande.
Ufa! este foi um dos posts mais longos que já escrevi!
Até mais!
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