segunda-feira, 23 de maio de 2011

Livro: O RELATÓRIO OTA DO SEXO (Altamente recomendável!!!)

Olá.

Hoje, volto a falar de livro.

Nos últimos tempos, uma editora que está se destacando no mercado nacional de HQ é a Barba Negra, selo da editora Leya. Através dela, já saíram três obras de muita relevância, duas delas já resenhadas aqui: Mundinho Animal, de Arnaldo Branco, e Vó, de Jean Galvão. Hoje, resenho a terceira: O RELATÓRIO OTA DO SEXO, de Otacílio D'Assunção Barros, também conhecido como Ota.

QUEM?

Otacílio D'Assunção Barros nasceu no Rio de Janeiro, em 1954 (em alguns lugares, consta 1952). Ota, desde que se conhece por gente, contribuiu bastante para a História das HQ brasileiras - na maior parte do tempo, como editor. Sua carreira foi iniciada em 1970, quando foi editor dentro da EBAL, cargo que exerceu até 1973. Nesse ano, ele lança, pela editora Górrion, a revista humorística Os Birutas, de vida efêmera. Em 1974, ele consegue o cargo de editor na editora Vecchi, onde ficou responsável pela revista MAD. Sim: a vida de Ota se confunde com a edição nacional da MAD, a célebre revista de humor escrachado lançada nos EUA pela editora EC Comics, e a única dessa editora que escapou do Comics Code (Código de Ética dos Comics) por ter sido publicada no formato magazine (mais informações na parte 3 da minha História das Histórias em Quadrinhos - 2a. Edição.).

Ota é considerado o editor da MAD que ficou mais tempo na publicação em todo o mundo. Isso, apesar dos hiatos de tempo entre uma série e outra. A primeira série da MAD, pela Vecchi, vai de 1974 a 1981, ano em que Ota foi demitido da editora. Mas, desde o início, o material estrangeiro da MAD dividia espaço com o material de artistas nacionais, muitos deles revelados pela revista. Com a falência da Vecchi, os direitos de publicação da revista passaram para a Editora Record, que iniciou a segunda série em 1984. Essa segunda série também seria marcante para Ota, pois foi ali que ele também exerceu plenamente a função de cartunista, amado e odiado em medidas iguais - seu trabalho mais famoso dentro da revista é a série O Relatório Ota, onde ele faz uma análise escrachada e bem-humorada de assuntos do momento. A série da Record durou até meados dos anos 2000, quando a revista foi assumida pela editora Mythos. Depois de um novo hiato de tempo, desde 2008 a revista está sendo publicada pela editora Panini. Como editor da MAD, Ota resistiu até os primeiros meses da série da Panini, porém, por desentendimentos com o novo pessoal (a MAD atualmente é editada no Brasil por Raphael Fernandes), Ota rompeu com a MAD.

Mas a vida de Ota não se resumiu apenas à MAD. Ele já publicou cartuns em outras revistas, como Careta, Pasquim, Pasquim21, Bundas... Também foi pesquisador e autor de livros: em 1984, ele escreveu O Quadrinho Erótico de Carlos Zéfiro, que trata do maior desenhista de quadrinhos pornográficos do Brasil; ele colaborou com os pesquisadores Álvaro de Moya, Moacy Cirne e Naumin Aizen no livro Literatura em Quadrinhos no Brasil - Acervo da Biblioteca Nacional, lançado em 2002; já editou outras revistas, como a Revista do Ota, em 1993, de vida efêmera; e roteirizou a minissérie Hotel Nicanor, remake da série publicada na revista de terror Spektro, em 1994, e vencedora do Troféu HQ Mix (Hotel Nicanor foi inicialmente publicada na Spektro nos anos 70 e desenhada por Flávio Colin). Ota já foi premiado várias vezes.

O RELATÓRIO OTA DO SEXO é a sua mais nova empreitada artístico-comercial - com a ideia de revitalizar a série Relatório Ota.


UM POUCO MAIS SOBRE O RELATÓRIO OTA

Os Relatórios Ota, como já disse, são os trabalhos mais conhecidos do autor, conhecido pelo traço que chega a ser grosseiro de tão tosco, mas que passa todo o humor exigido pelo texto cheio de experimentações linguísticas. Mas, conforme o próprio Ota conta no posfácio do livro, o Relatório Ota não nasceu na MAD, e sim na revista Careta, uma revista de humor surgida no início do século passado e que, nos anos 80, havia sido ressuscitada pela editora Três (a mesma que atualmente publica a informativa IstoÉ). Na época, Ota, numa paródia a um best-seller da época, O Relatório Hite de Shere Hite (um livro sobre sexualidade montado a partir de estatísticas), publicou O Relatório Hota da Sexualidade Brasileira em 1983.

Quando Ota estava na segunda série da MAD na Record, para resolver o problema de um buraco existente na edição 25 (de 1987), ele resolveu criar (ou recriar, vai se saber a verdade) o Relatório Ota. O primeiro tema foi drogas. Com o sucesso desse primeiro relatório, na edição número 27 saiu Relatório Ota sobre Sexo. Daí em diante, o Relatório Ota tornou-se seção permanente na MAD, e ganhou diversos temas, como energia nucleart, política, super-heróis, Sadam Hussein, homossexuais... enfim. O Relatório Ota foi publicado também na série da Mythos. Mas, desde o rompimento de Ota com a MAD, os relatórios não tem saído pela série da Panini.

O RELATÓRIO OTA DO SEXO, publicado em 2010 pela Leya/Barba Negra, marca o novo projeto de Ota: publicar uma série estendida dos Relatórios Ota em formato livro. Como o próprio Ota falou, O RELATÓRIO OTA DO SEXO é só a ponta do iceberg. Já foi anunciado que sairá, em breve, o segundo volume, O Relatório Ota da TPM.


O NOVO RELATÓRIO OTA DO SEXO

Este livrinho, como guia de iniciação sexual ou informativo sobre sexo, não é um livro para ser levado a sério. Para usufruir do RELATÓRIO OTA DO SEXO, você já precisa ser iniciado no assunto, ou pode cometer o risco de cometer algumas lambanças na hora do prazer. Mas, como livro de humor, é ótimo. É o Ota como conhecemos e amamos (ou odiamos).

O escracho já começa na página de advertência, quando o Ota explica que, nas ilustrações, as faixas de "censurado" que cobrem as partes "pudendas" dos personagens foram substituídas, nos homens, por cenouras, e nas mulheres, por alfaces. "Para que o livro possa ser adotado nas escolas públicas nesses programas do governo...", diz ele.

O Relatório sobre sexo é dividido em oito partes, todas elas ricamente ilustradas pelos desenhos grosseiros do Ota - mistura texto com cartum. Começa com Sexo nos Tempos Antigos, um "apanhado" da evolução das práticas sexuais desde os tempos das cavernas, passando por Adão e Eva, os Gregos, os Romanos, os Chineses (ainda vem com aquele estereótipo que oriental tem tudo piiih pequeno...), indianos, na Idade Média, no Brasil Colonial (estranha-se aquela de que "os portugueses comiam as índias e depois as índias comiam os portugueses... entendeu o raciocínio?)...

Depois, em Sexo para Iniciantes, Ota disserta sobre diferenças entre os sexos, tamanho do pênis, homossexualismo, gravidez indesejada... a seguir, em Sexo Seguro, um pouco sobre como prevenir doenças venéreas, camisinha e um relato sobre como dois jogadores de futebol contornaram a falta de camisinhas em uma orgia (a fórmula relatada é uma das partes mais difíceis de entender do livro, pois foi escrita num rigor matemático infernal!); Sexo no Casamento trata das relações humanas no casamento: convivência, despedida de solteiro, a prática sexual no casamento (que atualmente tem sido como férias: uma vez por ano e olhe lá!!!), amantes... Já em Sexo à Distância, Ota conta a evolução da troca de mensagens indecentes e do namoro à distância, desde as cartas até a internet, passando pelo telefone e pelos tempos em que era preciso digitar códigos de mais de 100 caracteres para poder acessar os chats...

A seguir, a seção proibidona: Sexo bizarro disserta sobre taras, sadomasoquismo (a fusão entre o sadismo, a prática de torturar o parceiro, e o masoquismo, o de tirar prazer da dor, é tratada por Ota como "uma das primeiras fusões de empresas de que se tem notícia") e necrofilia; Sexo Proibido fala de temas hoje um pouco mais pesados, como pedofilia e incesto; e, finalmente, em Sexo na Terceira Idade, Ota fala das práticas sexuais na velhice, inclusive do uso de próteses penianas (estranhamente, o cartum onde ele fala da "prótese cenouriana" saiu repetido na página seguinte). E, por fim, temos o posfácio, onde Ota conta a história dos Relatórios Ota, e ainda republica os dois Relatórios Ota do Sexo Originais: o Relatório Hota da Careta, de 1983 (é assim mesmo, com H, num trocadilho com o Relatório Hite), e o Relatório Ota do Sexo da revista MAD, de 1987 (detalhe: no relatório da MAD, ele ainda republicou alguns dos cartuns do relatório da Careta!!!).

Cada capítulo deste RELATÓRIO OTA ainda tem os "comentários" de Nino e Neno, as duas mosquinhas que sempre sobrevoam a cabeça do Ota (sim, o Ota que aparece nesse Relatório é o auto-retrato do Autor!!!).

Como eu disse, RELATÓRIO OTA DO SEXO não é um livro para ser levado a sério. É mais um escracho sobre quase tudo o que se sabe sobre o sexo. Ota tem um texto bem-humorado, cheinho de piadas, e ele pontua algumas páginas com a aparição de sua cabeça, nos cantos das páginas, soltando opiniões extras. Ota ainda faz muitas referências aos quadrinhos e a fatos recentes - como o caso Bruno, o goleiro do Flamengo que foi acusado de jogar a amante para os cachorros.

Mas um fato relatado nesse relatório não é correto: nunca se deve usar duas camisinhas, uma por cima da outra, na hora da piiih! Não como os tais jogadores defutebol fizeram no tal relato em Sexo Seguro...

Para quem quiser reviver um tempo feliz que já se foi, ou para quem quiser conhecer este mestre do humor nacional, O RELATÓRIO OTA DO SEXO está à venda nas bancas e livrarias, ao preço módico de R$ 12,90!!! É para rir para valer!!! O prefácio deste volume é da cartunista Fabiana Bento, a Chiquinha, "afilhada" do Ota.

Ah, sim: para conhecerem mais sobre o cara, visitem seu sáite pessoal: www.ota.com.br/. E saibam mais sobre as outras publicações da Barba Negra/Leya no site: http://www.editorabarbanegra.com.br/.

Para encerrar esse assunto, mais duas da minha série Somente com Camisinha. Para hoje, escolhi as mais escrachadas - e as que menos foram aprovadas pelos que conheceram minha série.
Nunca é demais reforçar: camisinha sempre!!!

Até mais!

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