Olá.
Hoje, é uma data especial: hoje, Rafael Grasel, cartunista, escritor, professor de História, redator do blog informativo, cultural e artístico Estúdio Rafelipe, criador dos personagens Letícia, Bitifrendis e Teixeirão e leitor compulsivo, completa 30 anos.
Em
2014, Rafael Grasel completa 30 anos junto com o comício das Diretas Já,
primeiro passo para a redemocratização do Brasil, com o MST – Movimento dos Sem
Terra, com o Sambódromo do Rio de Janeiro e com o primeiro aparelho de sucesso
da Apple, o Macintosh. Completa 30 anos, na área dos quadrinhos, junto com Calvin e Haroldo, Tartarugas Ninja (talvez
seja só coincidência que uma delas se chame Rafael) e Dragon Ball.
Rafael
Grasel nasceu no dia da pizza: 10 de julho de 1984, em Vacaria, RS, o mais novo
de uma família de três irmãos (tem duas irmãs mais velhas). Desde cedo,
mostrando aptidão para escrever e desenhar, e também para ler de tudo o que
passasse na sua frente, de livros infantis a gibis.
Fez
parte do antigo 1º Grau em Vacaria, e parte em Lagoa Vermelha, RS. Foi em Lagoa
Vermelha que Rafael publicou seu primeiro trabalho na imprensa, um continho
chamado Natal em Porto Alegre, no
jornal Gazeta Popular de Lagoa
Vermelha, em 1995. Foi em Lagoa que Rafael começou seus estudos de música,
tocando piano e sendo o único menino, no meio de várias meninas, a se
apresentar em um recital de piano, em 1996.
A
mudança da nomenclatura de 1º Grau para Ensino Fundamental se deu na época em
que Rafael Grasel começou a cursar o 2º Grau, que também mudou sua nomenclatura
para Ensino Médio. Em Vacaria, RS, para onde voltou em 1997. Mas, tanto no
Ensino Fundamental quanto no Médio, Rafael tinha pendor para pensar diferente
de todo mundo – por isso, foi vítima de bullying, numa época em que o termo
sequer era usado. Seu maior amigo sempre foi o primo Luís Felipe Pessoa Soares,
companheiro de criação de histórias e que se criou junto com ele. Desde
criança, Rafael era apaixonado por quadrinhos de Luluzinha, Turma da Mônica, Asterix e por animes japoneses – ele
fez parte da legião de fãs de Cavaleiros
do Zodíaco, Sailor Moon, Shurato e outros desenhos que passavam na extinta Rede
Manchete.
Foi
na entrada do século XXI que Rafael Grasel decidiu que queria desenhar
quadrinhos. Publicou algumas tiras de seu primeiro personagem efetivo, O Rato, nos jornais Correio Vacariense e no extinto Jornal
da Serra, ambos de Vacaria, RS, a partir de 2001. No primeiro, amostras; no
segundo, tiras semanais por um breve período. Todas desenhadas sobre uma escrivaninha
só sua, presente da patroa de sua irmã do meio. Enquanto isso, escrevia alguns
romances e mandava para editoras – mas o mundo editorial e artístico sempre foi
cruel com ele. Para piorar, Luís Felipe foi morar em Porto Alegre e nunca mais
voltou. Antes de ir embora, Luís Felipe começou a escrever uma série chamada Os Jovens Guerreiros de Doberrainer, que
Rafael passou a desenhar como o hobby adicional. A série de fantasia nunca
deixou a prancheta do autor, os originais continuam guardados, esperando uma
oportunidade de ver a luz do dia. Foi aí que Rafael decidiu que os quadrinhos
seriam sua melhor forma de expressão.
Rafael
continuou os estudos de música, tocando músicas gaúchas e populares num teclado
marca Casio. Mas resolveu largar. O mundo perdeu mais um músico para o
cartunismo.
Rafael
também foi vítima da erotização precoce que a televisão promovia entre o final
dos anos 90 e início dos anos 2000: já foi fã de Tiazinha e Feiticeira. E hoje
tem uma estranha fascinação por mídias eróticas, principalmente as desenhadas.
Também já foi um viciado em fliperama, vício do qual ele conseguiu se curar.
Passou mais de cinco anos com aparelho nos dentes. Os dentes tortos estão direitos dentro da boca, mas ainda não teve como arrumar um molar faltante durante o tratamento - ainda hoje existe um vão na sua boca.
Passou mais de cinco anos com aparelho nos dentes. Os dentes tortos estão direitos dentro da boca, mas ainda não teve como arrumar um molar faltante durante o tratamento - ainda hoje existe um vão na sua boca.
A
partir de 2003, Rafael foi estudar em Santa Maria, RS, onde se formou bacharel
em História. No período 2003 a 2008, foi membro e assíduo frequentador do
Núcleo de Quadrinhistas de Santa Maria – Quadrinhos S. A.. Lá, junto a membros
como Marcel Jacques, Bício, Byrata e Alex Cruz, ele ampliou seus conhecimentos
sobre quadrinhos, de desenho a história dos mesmos. Desde a edição número 1, de
2003, Rafael colabora com a revista Quadrante
X, do Núcleo. E lá, criou dois de seus mais célebres personagens: Teixeirão e Letícia. Teixeirão começou a ser publicado na Quadrante X, enquanto
Letícia ganhou um espaço no caderno Teen
do jornal A Razão, de Santa Maria,
RS, junto com outros membros do Núcleo. Enquanto isso, também publicou pequenos
contos no jornal Diário de Santa Maria.
Também foi lá em Santa Maria que ele ampliou sua cultura cinematográfica e
historiográfica, participando de eventos de cinema. E lá, ele conheceu a
internet, que futuramente lhe auxiliaria bastante. Mas também passou privações
para economizar trocados – apesar disso, nunca lhe faltou dinheiro para seus
gibis favoritos. Ou quase. Dividia um
apartamento com outros estudantes universitários, e se orgulhava de ter um
quarto e uma escrivaninha só suas, e de preparar a própria comida e lavar a
louça. Em Santa Maria, Rafael Grasel conheceu o mundo dos quadrinhos
brasileiros, seu grande interesse e obsessão, e se tornou fã de Holy Avenger, Júlio Shimamoto, Emir
Ribeiro e outros. Já participou de eventos de quadrinhos de Santa Maria, e
conheceu pessoalmente cartunistas célebres como Renato Canini, Santiago, Edgar
Vasques e Chiquinha.
Mas
o destino foi outra vez cruel com Rafael Grasel: em 2008, ele foi obrigado a
voltar para Vacaria, RS. Antes de partir, designou um “substituto” no
Quadrinhos S. A.: Marcel Ibaldo, co-autor de outra criação de Rafael para a
Quadrante X, Os Super-Anões, cuja
existência durou apenas três edições a revista.
Em
Vacaria, penou longos meses de desemprego. Enquanto isso, ganhou um computador
de presente de formatura, pouco tempo depois ganhou um modem, e já estava
navegando pela internet. Em 2008, Rafael resolveu criar um blog informativo,
cultural e artístico – o Estúdio Rafelipe,
onde passou a divulgar seus desenhos, crítica de quadrinhos, livros e outros
assuntos, e seu principal veículo para divulgar seus trabalhos. Tempos depois, montou uma rede de blogs:
primeiro, o Blog da Letícia; depois,
o Blog dos Bitifrendis, personagens
criados para um concurso de tiras em um grande jornal, mas que não ganharam
apesar de estarem dentro da temática pedida; e, por sugestão de seu amigo
virtual Henrique Madeira, de Cruz Alta, RS, criador do Cruzaltino junto com Greice Pozzatto, não apenas voltou a desenhar
tiras do Teixeirão como criou um blog
próprio para ele. Fez ainda muitos contatos importantes com quadrinhistas
independentes – entre eles Rogério Martins, o Nights Yoru, criador do blog Nightsy the Comics, e Paulo Miguel dos
Anjos, o veterano criador de Benjamin Peppe.
Rafael desenhou os personagens dos dois. Ah, e sem esquecer o website Quadritiras, atual repositório auxiliar de suas tiras.
Enquanto
isso, tirou a carteira de motorista, depois de ser reprovado duas vezes no
exame prático. Isso consumiu todo o dinheiro que ganhou em seu primeiro emprego
efetivamente remunerado, como auxiliar de packing numa empresa de maçãs de
Vacaria, a “terra da maçã”. Sua função, basicamente, era embalar maçãs em
caixas e colocas as caixas numa esteira rolante para serem despachadas.
Em
2009, depois do citado trabalho como auxiliar de packing na indústria macieira
de Vacaria, e de um frustrante período como cabo eleitoral de um candidato a
prefeito que perdeu, Rafael finalmente consegue trabalho como professor, em São
José dos Ausentes, RS. Fica lá pouco mais de um ano, morando numa pensão, numa
cidade pequena e tranquila, mas cheia de jovens irrequietos que tornam aulas um
desafio. No mesmo ano, Rafael passa no concurso público para professor em
Vacaria, RS.
Em
2011, Rafael é chamado para trabalhar em escola municipal em Vacaria, RS, onde
trabalha até hoje, sendo o único professor masculino da instituição – o
restante do corpo docente, professores, diretores e secretária, são mulheres.
Rafael passou a ter certeza que o mundo é das mulheres – a presença feminina é
forte em sua vida e carreira. Por isso, desconfia desses papos de discriminação
contra as mulheres – no meio onde vive, não é a realidade dele.
Em
2013, completa sua pós-graduação em História. E, atualmente, vive em um
esplendor de gibis, livros e revistas, passando a maior parte do tempo em um
quarto com cada vez menos espaço, escrevendo, desenhando e lendo – mas com a
certeza de que é um maldito dentro da sociedade brasileira, afinal ele exerce
duas profissões malditas no Brasil: é professor de escola pública e cartunista, em um mundo que prefere valorizar
cantores de funk e sertanejo universitário, jogadores de futebol e atores de
novela, que prefere gritar em sala de aula e reclamar da vida a fazer alguma
coisa.
Mas
não se arrepende de ter largado o teclado.
Enquanto
isso, Rafael, sempre que pode, continua publicando trabalhos em gibis
independentes, jornais e livros – muito poucos, entretanto, remunerados. Procura
espaços onde se encaixar no meio independente de quadrinhos. Já teve muitas
frustrações, promessas não cumpridas e coisas do gênero. Mas continua no meio
quadrinhístico e no magistério como uma diversão. Uma diversão que lhe rende
frutos com frequência – mas não tem um ano em que ele não passe por uma pequena
crise financeira. Parafraseando Lourenço Mutarelli, ele vive “numa momentânea
crise financeira – há 30 anos”. Mas nunca deixou de pagar contas em dia, pagar
taxas para manter seu estilo de vida, nunca precisou pedir dinheiro emprestado
a gente fora da família, e nunca lhe faltou dinheiro para comprar livros,
revistas, gibis...
Nunca
teve problemas graves de saúde, que necessitassem cirurgias. Tem problemas de
coluna, um pequeno déficit de atenção, uma pequena tendência à misantropia –
não gosta muito de ficar perto de gente, principalmente das que falam, falam,
mentem, riem de sua cara e gritam a seu redor – e ainda não encontrou a mulher
de sua vida. Mas disso ele não sente falta. Ainda. Mora com os pais, e ajuda
nas contas da casa. Já não faz mais a própria comida, mas gosta de lavar louça.
Ele ainda segue a tendência de ser diferente dos outros, embora aos olhos da
sociedade pareça agir como todo mundo. Ele garante ser honesto e não tolerar
corrupção, política ou pessoal. Prefere penar a buscar a via mais fácil de
progredir na vida. Tem uma mãe e um pai muito queridos. Tem três sobrinhos, muito queridos, e uma avó ainda viva. Nunca saiu dos limites do Rio Grande do Sul, mas adora
viajar – de preferência sozinho. Suas cidades favoritas? Cidreira, Porto Alegre
e Santa Maria. Passou – e ainda está passando – pela crise de meia-idade que
ele pensou que nunca ia passar. Ganhou seu primeiro aparelho de celular na faculdade, e só precisou trocar de aparelho uma vez - seu velho celular funciona muito bem. Comprou um notebook, que usa para escrever seus textos. Não liga para dietas ou conselhos sobre saúde –
entope-se de biscoitos, doces e salgadinhos, mas come sua cota diária de carne,
leite, frutas e verduras. Evita
participar de papos sobre política, evita se envolver com grupos de esquerda ou
direita, mas não simpatiza com o PT nem com o governo vigente. Católico, temente
a Deus, nunca recusa um convite para ir à missa, nem um chimarrão, como bom
gaúcho. Está a ponto de enlouquecer junto com o mundo. Acham que ele é
irritadiço, e é verdade. Acham que ele é mal-humorado, o que não é verdade –
ele pode ser tranquilo e bem-humorado se o deixam em paz, na dele, se não
gritam perto dele. Fica sentido quando o repreendem, quando percebe que fez
coisa errada. Aprendeu a aprender com seus erros. Nunca mais se esquece dos
erros que cometeu. Se arrepende fácil dos micos que pagou. Orgulha-se de não beber nem fumar, nem usar drogas. Nunca fez essas coisas. E se considera
alguém feliz, apesar de tudo. Inclusive de dificilmente sair das tirinhas
publicadas na internet. Nessa lida, consumiu dezenas de lápis, canetas, folhas
de papel ofício, uma CPU de computador e três roteadores de internet.
Esta
sincera autobiografia, que eu acho que é mais um desabafo, vem ilustrada com alguns desenhos já publicados no
passado, nada inédito, que dizem muito sobre ele. Ainda hoje, ele se comunica
melhor com os traços do que com as palavras.
E
não pretende parar de levar sua palavra através da internet ou dos traços
saídos de seus lápis e canetas. E fica triste quando tanta gente excelente
desiste dos desenhos ou desativa seus blogs.
Rafael Grasel, 30 anos.
4 comentários:
Parabéns, Rafael!
Um grande artista e trabalhador!
Ah, e um bom amigo, é claro.
Um forte abraço!
Parabéns, Rafael!
Um grande artista e trabalhador!
Ah, e um bom amigo, é claro.
Um forte abraço!
Parabéns meu caro, e que Deus lhe ilumine hoje e sempre!!!!
Nossa, já escreveu tua auto biografia, rsrsrs. Feliz aniversário, Rafael, que a tua crise de idade passe rápido! Muito sucesso pra ti!!!
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