quinta-feira, 10 de julho de 2014

Rafael Grasel - 30 anos

Olá.

Hoje, é uma data especial: hoje, Rafael Grasel, cartunista, escritor, professor de História, redator do blog informativo, cultural e artístico Estúdio Rafelipe, criador dos personagens Letícia, Bitifrendis e Teixeirão e leitor compulsivo, completa 30 anos.
Em 2014, Rafael Grasel completa 30 anos junto com o comício das Diretas Já, primeiro passo para a redemocratização do Brasil, com o MST – Movimento dos Sem Terra, com o Sambódromo do Rio de Janeiro e com o primeiro aparelho de sucesso da Apple, o Macintosh. Completa 30 anos, na área dos quadrinhos, junto com Calvin e Haroldo, Tartarugas Ninja (talvez seja só coincidência que uma delas se chame Rafael) e Dragon Ball.
Rafael Grasel nasceu no dia da pizza: 10 de julho de 1984, em Vacaria, RS, o mais novo de uma família de três irmãos (tem duas irmãs mais velhas). Desde cedo, mostrando aptidão para escrever e desenhar, e também para ler de tudo o que passasse na sua frente, de livros infantis a gibis.
Fez parte do antigo 1º Grau em Vacaria, e parte em Lagoa Vermelha, RS. Foi em Lagoa Vermelha que Rafael publicou seu primeiro trabalho na imprensa, um continho chamado Natal em Porto Alegre, no jornal Gazeta Popular de Lagoa Vermelha, em 1995. Foi em Lagoa que Rafael começou seus estudos de música, tocando piano e sendo o único menino, no meio de várias meninas, a se apresentar em um recital de piano, em 1996.
A mudança da nomenclatura de 1º Grau para Ensino Fundamental se deu na época em que Rafael Grasel começou a cursar o 2º Grau, que também mudou sua nomenclatura para Ensino Médio. Em Vacaria, RS, para onde voltou em 1997. Mas, tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio, Rafael tinha pendor para pensar diferente de todo mundo – por isso, foi vítima de bullying, numa época em que o termo sequer era usado. Seu maior amigo sempre foi o primo Luís Felipe Pessoa Soares, companheiro de criação de histórias e que se criou junto com ele. Desde criança, Rafael era apaixonado por quadrinhos de Luluzinha, Turma da Mônica, Asterix e por animes japoneses – ele fez parte da legião de fãs de Cavaleiros do Zodíaco, Sailor Moon, Shurato e outros desenhos que passavam na extinta Rede Manchete.
Foi na entrada do século XXI que Rafael Grasel decidiu que queria desenhar quadrinhos. Publicou algumas tiras de seu primeiro personagem efetivo, O Rato, nos jornais Correio Vacariense e no extinto Jornal da Serra, ambos de Vacaria, RS, a partir de 2001. No primeiro, amostras; no segundo, tiras semanais por um breve período. Todas desenhadas sobre uma escrivaninha só sua, presente da patroa de sua irmã do meio. Enquanto isso, escrevia alguns romances e mandava para editoras – mas o mundo editorial e artístico sempre foi cruel com ele. Para piorar, Luís Felipe foi morar em Porto Alegre e nunca mais voltou. Antes de ir embora, Luís Felipe começou a escrever uma série chamada Os Jovens Guerreiros de Doberrainer, que Rafael passou a desenhar como o hobby adicional. A série de fantasia nunca deixou a prancheta do autor, os originais continuam guardados, esperando uma oportunidade de ver a luz do dia. Foi aí que Rafael decidiu que os quadrinhos seriam sua melhor forma de expressão.
Rafael continuou os estudos de música, tocando músicas gaúchas e populares num teclado marca Casio. Mas resolveu largar. O mundo perdeu mais um músico para o cartunismo.
Rafael também foi vítima da erotização precoce que a televisão promovia entre o final dos anos 90 e início dos anos 2000: já foi fã de Tiazinha e Feiticeira. E hoje tem uma estranha fascinação por mídias eróticas, principalmente as desenhadas. Também já foi um viciado em fliperama, vício do qual ele conseguiu se curar.
Passou mais de cinco anos com aparelho nos dentes. Os dentes tortos estão direitos dentro da boca, mas ainda não teve como arrumar um molar faltante durante o tratamento - ainda hoje existe um vão na sua boca.
A partir de 2003, Rafael foi estudar em Santa Maria, RS, onde se formou bacharel em História. No período 2003 a 2008, foi membro e assíduo frequentador do Núcleo de Quadrinhistas de Santa Maria – Quadrinhos S. A.. Lá, junto a membros como Marcel Jacques, Bício, Byrata e Alex Cruz, ele ampliou seus conhecimentos sobre quadrinhos, de desenho a história dos mesmos. Desde a edição número 1, de 2003, Rafael colabora com a revista Quadrante X, do Núcleo. E lá, criou dois de seus mais célebres personagens: Teixeirão e Letícia. Teixeirão começou a ser publicado na Quadrante X, enquanto Letícia ganhou um espaço no caderno Teen do jornal A Razão, de Santa Maria, RS, junto com outros membros do Núcleo. Enquanto isso, também publicou pequenos contos no jornal Diário de Santa Maria. Também foi lá em Santa Maria que ele ampliou sua cultura cinematográfica e historiográfica, participando de eventos de cinema. E lá, ele conheceu a internet, que futuramente lhe auxiliaria bastante. Mas também passou privações para economizar trocados – apesar disso, nunca lhe faltou dinheiro para seus gibis favoritos. Ou quase.  Dividia um apartamento com outros estudantes universitários, e se orgulhava de ter um quarto e uma escrivaninha só suas, e de preparar a própria comida e lavar a louça. Em Santa Maria, Rafael Grasel conheceu o mundo dos quadrinhos brasileiros, seu grande interesse e obsessão, e se tornou fã de Holy Avenger, Júlio Shimamoto, Emir Ribeiro e outros. Já participou de eventos de quadrinhos de Santa Maria, e conheceu pessoalmente cartunistas célebres como Renato Canini, Santiago, Edgar Vasques e Chiquinha.
Mas o destino foi outra vez cruel com Rafael Grasel: em 2008, ele foi obrigado a voltar para Vacaria, RS. Antes de partir, designou um “substituto” no Quadrinhos S. A.: Marcel Ibaldo, co-autor de outra criação de Rafael para a Quadrante X, Os Super-Anões, cuja existência durou apenas três edições a revista.
Em Vacaria, penou longos meses de desemprego. Enquanto isso, ganhou um computador de presente de formatura, pouco tempo depois ganhou um modem, e já estava navegando pela internet. Em 2008, Rafael resolveu criar um blog informativo, cultural e artístico – o Estúdio Rafelipe, onde passou a divulgar seus desenhos, crítica de quadrinhos, livros e outros assuntos, e seu principal veículo para divulgar seus trabalhos.  Tempos depois, montou uma rede de blogs: primeiro, o Blog da Letícia; depois, o Blog dos Bitifrendis, personagens criados para um concurso de tiras em um grande jornal, mas que não ganharam apesar de estarem dentro da temática pedida; e, por sugestão de seu amigo virtual Henrique Madeira, de Cruz Alta, RS, criador do Cruzaltino junto com Greice Pozzatto, não apenas voltou a desenhar tiras do Teixeirão como criou um blog próprio para ele. Fez ainda muitos contatos importantes com quadrinhistas independentes – entre eles Rogério Martins, o Nights Yoru, criador do blog Nightsy the Comics, e Paulo Miguel dos Anjos, o veterano criador de Benjamin Peppe. Rafael desenhou os personagens dos dois. Ah, e sem esquecer o website Quadritiras, atual repositório auxiliar de suas tiras. 
Enquanto isso, tirou a carteira de motorista, depois de ser reprovado duas vezes no exame prático. Isso consumiu todo o dinheiro que ganhou em seu primeiro emprego efetivamente remunerado, como auxiliar de packing numa empresa de maçãs de Vacaria, a “terra da maçã”. Sua função, basicamente, era embalar maçãs em caixas e colocas as caixas numa esteira rolante para serem despachadas.
Em 2009, depois do citado trabalho como auxiliar de packing na indústria macieira de Vacaria, e de um frustrante período como cabo eleitoral de um candidato a prefeito que perdeu, Rafael finalmente consegue trabalho como professor, em São José dos Ausentes, RS. Fica lá pouco mais de um ano, morando numa pensão, numa cidade pequena e tranquila, mas cheia de jovens irrequietos que tornam aulas um desafio. No mesmo ano, Rafael passa no concurso público para professor em Vacaria, RS.
Em 2011, Rafael é chamado para trabalhar em escola municipal em Vacaria, RS, onde trabalha até hoje, sendo o único professor masculino da instituição – o restante do corpo docente, professores, diretores e secretária, são mulheres. Rafael passou a ter certeza que o mundo é das mulheres – a presença feminina é forte em sua vida e carreira. Por isso, desconfia desses papos de discriminação contra as mulheres – no meio onde vive, não é a realidade dele.
Em 2013, completa sua pós-graduação em História. E, atualmente, vive em um esplendor de gibis, livros e revistas, passando a maior parte do tempo em um quarto com cada vez menos espaço, escrevendo, desenhando e lendo – mas com a certeza de que é um maldito dentro da sociedade brasileira, afinal ele exerce duas profissões malditas no Brasil: é professor de escola pública  e cartunista, em um mundo que prefere valorizar cantores de funk e sertanejo universitário, jogadores de futebol e atores de novela, que prefere gritar em sala de aula e reclamar da vida a fazer alguma coisa.
Mas não se arrepende de ter largado o teclado.
Enquanto isso, Rafael, sempre que pode, continua publicando trabalhos em gibis independentes, jornais e livros – muito poucos, entretanto, remunerados. Procura espaços onde se encaixar no meio independente de quadrinhos. Já teve muitas frustrações, promessas não cumpridas e coisas do gênero. Mas continua no meio quadrinhístico e no magistério como uma diversão. Uma diversão que lhe rende frutos com frequência – mas não tem um ano em que ele não passe por uma pequena crise financeira. Parafraseando Lourenço Mutarelli, ele vive “numa momentânea crise financeira – há 30 anos”. Mas nunca deixou de pagar contas em dia, pagar taxas para manter seu estilo de vida, nunca precisou pedir dinheiro emprestado a gente fora da família, e nunca lhe faltou dinheiro para comprar livros, revistas, gibis...
Nunca teve problemas graves de saúde, que necessitassem cirurgias. Tem problemas de coluna, um pequeno déficit de atenção, uma pequena tendência à misantropia – não gosta muito de ficar perto de gente, principalmente das que falam, falam, mentem, riem de sua cara e gritam a seu redor – e ainda não encontrou a mulher de sua vida. Mas disso ele não sente falta. Ainda. Mora com os pais, e ajuda nas contas da casa. Já não faz mais a própria comida, mas gosta de lavar louça. Ele ainda segue a tendência de ser diferente dos outros, embora aos olhos da sociedade pareça agir como todo mundo. Ele garante ser honesto e não tolerar corrupção, política ou pessoal. Prefere penar a buscar a via mais fácil de progredir na vida. Tem uma mãe e um pai muito queridos. Tem três sobrinhos, muito queridos, e uma avó ainda viva. Nunca saiu dos limites do Rio Grande do Sul, mas adora viajar – de preferência sozinho. Suas cidades favoritas? Cidreira, Porto Alegre e Santa Maria. Passou – e ainda está passando – pela crise de meia-idade que ele pensou que nunca ia passar. Ganhou seu primeiro aparelho de celular na faculdade, e só precisou trocar de aparelho uma vez - seu velho celular funciona muito bem. Comprou um notebook, que usa para escrever seus textos. Não liga para dietas ou conselhos sobre saúde – entope-se de biscoitos, doces e salgadinhos, mas come sua cota diária de carne, leite, frutas e verduras.  Evita participar de papos sobre política, evita se envolver com grupos de esquerda ou direita, mas não simpatiza com o PT nem com o governo vigente. Católico, temente a Deus, nunca recusa um convite para ir à missa, nem um chimarrão, como bom gaúcho. Está a ponto de enlouquecer junto com o mundo. Acham que ele é irritadiço, e é verdade. Acham que ele é mal-humorado, o que não é verdade – ele pode ser tranquilo e bem-humorado se o deixam em paz, na dele, se não gritam perto dele. Fica sentido quando o repreendem, quando percebe que fez coisa errada. Aprendeu a aprender com seus erros. Nunca mais se esquece dos erros que cometeu. Se arrepende fácil dos micos que pagou. Orgulha-se de não beber nem fumar, nem usar drogas. Nunca fez essas coisas. E se considera alguém feliz, apesar de tudo. Inclusive de dificilmente sair das tirinhas publicadas na internet. Nessa lida, consumiu dezenas de lápis, canetas, folhas de papel ofício, uma CPU de computador e três roteadores de internet.

Esta sincera autobiografia, que eu acho que é mais um desabafo, vem ilustrada com alguns desenhos já publicados no passado, nada inédito, que dizem muito sobre ele. Ainda hoje, ele se comunica melhor com os traços do que com as palavras.
E não pretende parar de levar sua palavra através da internet ou dos traços saídos de seus lápis e canetas. E fica triste quando tanta gente excelente desiste dos desenhos ou desativa seus blogs.

Rafael Grasel, 30 anos.
Até mais.

4 comentários:

Fabrício disse...

Parabéns, Rafael!
Um grande artista e trabalhador!
Ah, e um bom amigo, é claro.
Um forte abraço!

Fabrício disse...

Parabéns, Rafael!
Um grande artista e trabalhador!
Ah, e um bom amigo, é claro.
Um forte abraço!

Anônimo disse...

Parabéns meu caro, e que Deus lhe ilumine hoje e sempre!!!!

Cruzaltino disse...

Nossa, já escreveu tua auto biografia, rsrsrs. Feliz aniversário, Rafael, que a tua crise de idade passe rápido! Muito sucesso pra ti!!!