Olá.
Nos
dias passados à aprovação do impeachment da presidenta, tudo parece tranquilo,
enquanto o Senado ainda não começou a votação final. É uma boa oportunidade
para mudar de assunto. Pensar em algo que não seja política. Etc.
Então,
hoje vou falar de algo inofensivo: quadrinhos. Vou falar de Recruta Zero. Mais
precisamente, do terceiro volume da série O LIVRO DE OURO DO RECRUTA ZERO,
lançado pela editora Pixel Media, selo do grupo Ediouro. Bem, desnecessário ter
dito isso, né?
Well.
Como todos que nos acompanham sabem, a Pixel resolveu, no início de 2016,
suspender o gibi bimestral do Recruta Zero, que estava sendo publicado há quase quatro anos. O número 23, lançado em dezembro de 2015, foi o último. Todos foram
resenhados aqui, no Estúdio Rafelipe. Ou seja, a resistência acabou.
O
gibi regular do Recruta Zero, que também trazia um mix de outros personagens da
megacorporação King Features Syndicate, era o único gibi regular da Pixel que
resistia em bancas. De todos os gibis em formatinho lançados pela editora, com
personagens clássicos, foram caindo, como dominós: primeiro, o do Popeye; depois, os da Harvey Comics – Gasparzinho, Riquinho e Brasinha; seguidos, depois, pelos
clássicos da Luluzinha e do Bolinha, meio que acompanhando a queda
de Luluzinha Teen (este, produção
brasileira que até que resistiu bem); e agora, o Recruta Zero. Acabou, então, uma diversão para a fila do banco, da
lotérica, do consultório médico... Agora, só restaram os malditos aplicativos
para smartphone para passar o tempo.
E a
Pixel, por seu turno, agora está se dedicando aos álbuns. Novos álbuns de
personagens clássicos estão sendo lançados. Hagar
o Horrível, Mutts, Garfield, um novo do Popeye
da fase Bud Sagendorf... Teve até um do Tarzan
e outro do Flash Gordon! Descontando
também os baseados em sucessos recentes, como The Witcher. Mas desses falamos outra hora.
Nossa
prioridade é mesmo o Recruta Zero. Por conta da distribuição setorizada e dos
critérios nem sempre muito claros para a distribuição, o terceiro volume do
LIVRO DE OURO DO RECUTA ZERO chegou a algumas praças agora, em abril de 2016. E
o álbum foi lançado em outubro de 2015!
O
LIVRO DE OURO DO RECRUTA ZERO – VOLUME 3 foi lançado em celebração aos 65 anos
de criação do personagem do estadunidense Mortimer Addison Walker, o Mort
Walker. Lembrando que o personagem foi lançado em 1950, inicialmente como uma
tira sobre universitários. Aí, meses depois, e à beira do cancelamento da tira,
Walker resolve alistar o personagem no exército – era a época da Guerra da
Coreia. E a tira cresceu, se tornando uma das mais lidas em todo o mundo.
Sucesso ainda maior quando Walker incluiu, no microcosmo do quase esquecido
Quartel Swampy, uma série de personagens simpáticos, cheios de personalidade, e
retratos competentes da falta de competência presente nas Forças Armadas dos
Estados Unidos.
Bem,
não vou precisar contar novamente a história do Recruta Zero aqui no blog,
certo?! Há um marcador no blog, “Recruta Zero”, onde vocês podem acessar
postagens anteriores que contam essa história, corrigem informações
anteriormente dadas, etc.
Vamos
relembrar rápido: o primeiro volume da coletânea especial da Pixel saiu em maio
de 2014; e o segundo, em novembro de 2014. O terceiro, como já tido, é de
outubro de 2015. Tal como as coletâneas anteriores, tem 128 páginas (sem contar
capa), coloridas, em papel couché, capa cartonada.
Bueno.
O terceiro volume da coletânea, tal como o segundo volume, traz uma seleção de
tiras e páginas dominicais do personagem, do período 1963 – 1994, considerada a
“fase áurea” do personagem. O traço de Mort Walker já está praticamente mais
estabilizado no estilo “arredondado” que todos conhecem.
Mas,
desta vez, as tiras não estão separadas por títulos e/ou temáticas e/ou
personagens. Quer dizer, não claramente.
As
tiras e dominicais seguem “corrido”, sem títulos. Mas dá para notar a separação
das mesmas em módulos, dedicados a um personagem específico ou situação pela
qual esteja passando.
Assim,
temos tiras trazendo o preguiçoso, atrapalhado, azarado e espertalhão Zero
dormindo, cumprindo ordens dos superiores, dirigindo um jipe, dormindo,
apanhando, pregando peças, dormindo, ficando de guarda, fazendo burradas,
dormindo. Temos tiras do nêmesis de Zero, o gordo, glutão, irascível e meio
boçal Sargento Tainha – que completou 65 anos em março de 2016 – comendo,
xingando, usando o banheiro, comendo, tremendo diante de mulheres, socando o
pobre Zero, correndo atrás dele, comendo, sendo alvo das reclamações do Tenente
Escovinha, fazendo burradas, comendo.
Temos
o cachorro de Tainha, o quase humano Oto, andando junto a ele e tendo luz
própria com suas tiradas.
Temos
o mulherengo recruta Quindim, o melhor amigo de Zero, se arrumando para sair,
correndo atrás de mulher e levando foras – isso, quando não está dando duro ao
lado de Zero. Temos o intelectual Platão como uma espécie de pilar moral da
tropa. Temos o obtuso Dentinho com suas trapalhadas e sua obediência às ordens
ao pé da letra.
Temos
o Cuca, o cozinheiro de talento duvidoso, com suas criações culinárias
questionáveis – em parte porque tem a ajuda de Zero na cozinha.
Temos
o irritadiço e mauricinho Tenente Escovinha tentando impor algum tipo de ordem
no atrasado Quartel Swampy – e, por extensão, no Sargento Tainha, os dois não
podem dividir o escritório. Temos o algo tranquilo Capitão Durindana, cuja
função é mesmo servir de escada aos demais. Temos o negro Tenente Mironga, em
seu papel de... hã... de negro nas Forças Armadas dos Estados Unidos (sem
ofensa aos negros que leem este blog).
Temos
o pouco competente General Dureza, fazendo de tudo por um pouco de atenção do
Pentágono – isso quando não está bebendo seus martinis ou tentando jogar golfe.
Temos a esposa dele, Martha, tentando deixar o velho sob controle.
Temos
a desengonçada secretária Srta. Blips, tendo de aturar ordens controversas.
Temos a estonteante secretária Dona Tetê, em conflito constante com o velho
General – mas meio sem saber. Temos a sargenta Lorota, disputando uma migalha
de atenção do Sargento Tainha. E temos Bella, a gata de estimação de Lorota, e
sua cara de poucos amigos.
Ainda
temos o Médico do quartel, sofrendo por ter seus conselhos ignorados.
Meio
que discretamente, temos o Capelão, o pilar moral de um quartel cheio de
pecados. E, com sorte, ainda dá para encontrar o Major, outro escada da tira –
no caso, do General Dureza.
Porém,
ficaram de fora tiras com o rebelde Roque e o cambista Cosme. E como o geek
Gizmo surgiu no início do século XXI, também está de fora.
Mas
há um extra interessante no fim do livro: algumas tiras com uma personagem hoje
esquecida do universo do Zero. Trata-se de Mimosa (Bunny), a mais longeva
namorada de Zero, surgida em 1959, e que permaneceu em tal condição durante 40
anos, até sumir da tira, simplesmente. Hoje, é Dona Tetê a namorada “oficial”
do recruta. Mimosa já fez uma aparição no gibi regular do Zero.
Outro
extra do livro é uma tentativa de finalmente vermos os olhos de Zero, por baixo
dos chapéus e dos capacetes. Mal sucedida, aliás. Somente uma vez conseguimos
vislumbrar, em todo mercado brasileiro de quadrinhos, uma tira em que Zero
mostrava os olhos, e foi na coletânea O Melhor do Recruta Zero, da L&PM. Mas mesmo nos Estados Unidos isso não
acontece – Walker sempre escondeu os olhos de Zero.
Algumas
das tiras desta coletânea já foram publicadas anteriormente no gibi regular,
algumas com pequenas alterações nos textos – quem colecionou o gibi da Pixel,
como este que vos escreve, vai reconhecer. E várias mantém as onomatopeias
(palavras simbolizando barulhos) originais da versão norte-americana! É que, no
trabalho de edição, a Pixel trocou as onomatopeias exóticas de Walker por
versões mais reconhecíveis pelo leitor brasileiro – ainda que reclamasse
diminuir a qualidade da versão nacional da tira.
O
álbum custa R$ 24,90 – teve aumento em relação aos anteriores. Mas ainda é
acessível aos leitores que estão sentindo falta de quadrinhos mais clássicos,
mais... século XX. Para quem já cansou de super-heróis e mangás atulhando as
nossas maiores bancas.
Para
encerrar, como faz muito tempo que não ponho aqui, vou deixar para vocês mais
um trecho já publicado do arco atual de tiras de meus personagens praianos, os
Bitifrendis – uma das maiores audiências da Rede Rafelipe. A página dos personagens no Facebook foi uma das que mais teve crescimento, pelo que pude
constatar. Mas bem modesto – em sete meses no ar, ainda são pouco mais de 30
seguidores.
E,
por hora, ficamos por aqui.
Espero
que a próxima postagem não seja sobre política. Já estamos todos cansados de
toda essa intriga que não nos traz nada de proveitoso – nem curtidas no
Facebook.
Até
mais!
Nenhum comentário:
Postar um comentário