Olá.
Um momento histórico da História dos Quadrinhos no Brasil chega ao seu final. Ao menos, por enquanto.
Depois de décadas de espera, os brasileiros conseguiram, finalmente e sem ter de depender de scans de páginas estrangeiras, ler na íntegra toda a fase do super-herói inglês Miracleman escrita por Alan Moore, ops, "Escritor Original". Agora, a Marvel Comics, que proporcionou o milagre não apenas aos fãs brasileiros como aos estrangeiros que também aguardavam pelo retorno das aventuras do herói, premia os fiéis leitores com um bônus: uma edição anual com histórias inéditas. Essa edição chega ao Brasil, como uma forma de fazer a transição da fase do "Escritor Original" para o início da fase roteirizada por Neil Gaiman.
MIRACLEMAN ANUAL I
Lançado em junho de 2016, mas na capa consta o mês de maio.
Esta edição anual chega no mesmo formato das edições anteriores, com leves alterações: 44 páginas, sem contar capa, sendo 21 páginas de quadrinhos e 17 de bastidores - o restante são ilustrações e créditos. Duas histórias. Ambas as histórias foram produzidas em 2014, mas uma foi escrita há muito tempo atrás - já explico. E ambas as histórias se passam antes dos eventos da série principal iniciada em 1982 na revista inglesa Warrior. A primeira há anos estava engavetada - e é a principal atração. O Incidente de Outubro: 1966 foi escrita pelo também britânico e superstar dos quadrinhos Grant Morrison, no início dos anos 1980, mas, devido ao encerramento da publicação da Warrior, em 1984, a história acabou engavetada. Em 2014, o artista e ex-editor chefe da Marvel Comics, Joe Quesada, pediu a Morrison autorização para utilizar o roteiro - e o escocês concordou, desde que Quesada desenhasse. E assim, com roteiro de Morrison, arte de Quesada e cores de Richard Isanove, vislumbramos um curtíssimo, rápido e bastante significativo episódio do passado: através do rápido e violento diálogo, á beira-mar, entre um padre e um estranho rapaz - que não é ninguém menos que Jonathan Bates, o ex-Kid Miracleman - vislumbramos por um momento como o pior inimigo de Miracleman se tornou o "dragão" sedento de destruição que confrontou o herói. A narrativa curtinha - 11 páginas - tem referências a Shakespeare, Nietzche e Beatles (inclusive na aparência do personagem!), como uma maneira de mostrar aos leitores como se formou o niilismo de Jonathan Bates. É preciso prestar atenção aos diálogos, e apreciar calmamente como se desenvolve a narrativa: já li muitos comentários negativos nas redes sociais a respeito dessa história. Uns acreditam que essa HQ nada acrescenta a respeito de Kid Miracleman e à série de um modo geral, que acabou sendo uma perda de tempo e de dinheiro; mas eu vejo como uma pequena e fundamental aula sobre como realizar uma narrativa curta. E falo disso não como um simples leitor de quadrinhos, mas também como quadrinhista e roteirista. Se concordarem comigo ou não, fica a critério de vocês. A segunda HQ da edição é 100% inédita: Família Miracleman: Seriamente Milagroso tem roteiro de Peter Milligan (famoso por séries como Skreemer, Alvo Humano e Shade - o Homem Mutável), arte de Mike Allred (célebre pelas séries independentes Madman Comics e Red Rocket 7) e cores de Laura Allred. Trata-se de uma homenagem à fase clássica de Miracleman, de quando o personagem ainda se chamava Marvelman, ou seja, à fase das HQ produzidas pelo criador Mick Anglo nos anos 1950. Mas incorporando elementos da fase do "escritor Original" - a história se passa dentro da mente de Miracleman, quando essa estava sendo condicionada pelo Dr. Gargunza a "sonhar" que estava vivendo aventuras ao lado dos parceiros Jovem Miracleman e Kid Miracleman. Bem: nessa colorida aventura, a Família Miracleman enfrenta diversas aventuras, obstáculos e perigos - porém, Miracleman começa a notar alguma coisa errada em elementos dessas aventuras, o que pode significar que está questionando, e está prestes a acordar da realidade virtual imposta por Gargunza. Na história, estão presentes diversos elementos das aventuras produzidas por Anglo: o Dr. Gargunza em planos absurdos para ficar rico, o tirano Relti da Boromânia, o antagonista Jovem Torpe, golfinhos capazes de andar em terra... enfim, quando as aventuras de Miracleman eram surreais. Apesar disso, é belamente escrita, e faz todo o sentido dentro do contexto geral da série. Nas páginas de bastidores, temos: a explicação detalhada sobre a HQ de Morrison e Quesada, incluindo o texto do roteiro original, os rascunhos de Quesada e comentários; as artes em preto-e-branco de Allred para a segunda HQ; e a tradução do roteiro original de Morrison. Essa parte interessa mais aos quadrinhistas a fim de exercitar sua arte que ao leitor em geral, consumidor passivo de HQs que não entende a proposta dessas páginas. Completam a revista as ilustrações pin-up para capas alternativas, por Jeff Smith e Joe Quesada. Vou ficar devendo a autoria da capa acima...
Agora, tenho uma boa e uma má notícia aos que acompanham as postagens deste blog desde que a série começou a ser publicada.
A boa notícia é que esta edição anual, ao contrário dos anúncios anteriormente feitos, sai a um precinho bem em conta: R$ 7,90. Algum tempo atrás, disseram que sairia a R$ 24,90, se não estou enganado...
A má notícia é que a série agora passará por um hiato no Brasil: segundo informações colhidas na internet, a Panini não trará a seguir a fase do Neil Gaiman! Segundo essas mesmas informações, a fase Gaiman para Miracleman ainda não foi concluída nos EUA - temos de lembrar que houve um trecho escrito nos anos 1990, que foi interrompido e nunca mais foi retomado devido ao processo judicial que a série enfrentou nos mesmos anos 1990. Quando a Marvel comprou os direitos da série, em 2009, cogitou que Gaiman retomasse a série de onde parou. Mas parece que está difícil. O primeiro arco já foi republicado, mas o segundo está em andamento, e não se sabe a quantas realmente anda. Se houver mais informações que não sejam as contraditórias que às vezes tenho visto, traremos.
Para encerrar, tendo em vista a oportunidade especial, a ilustração especial de hoje traz alguns personagens clássicos da série. Sim, é Miracleman duelando com Jonathan Bates, mas, em volta, flutuando no espaço, alguns dos personagens mais marcantes da série, os coadjuvantes humanos mais notórios: o finado Sr. Cream, o negro dos dentes de safira, o Dr. Gargunza, a Miraclewoman, o Jovem Miracleman - presença apenas citada na fase "escritor original" - a esposa humana de Miracleman, Liz Moran, e a filhinha sapiente Winter Moran.
E me esforcei para fazer algo que eu posso chamar de ilustração decente.
Agora... nos resta esperar pelo que vai acontecer. Ao menos, o Brasil não ficou à margem do bonde da história das HQ mundiais. Conseguimos ler a fase "Escritor Original" na íntegra. Ganhamos um especial. Agora... esperaremos o que decidirão a respeito do seguimento.
O mais que posso dizer nesse momento é...
Até mais!
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