terça-feira, 26 de julho de 2016

PÁTRIA ARMADA 3 - já podemos convocar a mesa-redonda para o debate...

Olá.
Interrompemos momentaneamente uma série de postagens programadas sobre a Revolta dos Muckers para trazer até vocês notícias urgentes vindas do setor do quadrinho nacional!
Parece que os ventos estão favoráveis para os quadrinhistas brasileiros. Vários projetos estão disponíveis para financiamento coletivo (crowdfunding) – e boa parte consegue atingir a meta antes do fim do prazo estabelecido, garantindo sua publicação; brasileiros ganham mais uma vez o Prêmio Eisner, o Oscar das HQ internacionais (os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá faturam de novo, pelo álbum Dois Irmãos – é o segundo Eisner ganho em conjunto, e ainda tem os que eles ganharam individualmente); e outro quadrinhista brasileiro que começou uma série há mais de um ano consegue concluí-la! Sobre esse terceiro brasileiro que vamos falar hoje.
Os brasileiros não tiveram de esperar muito desta vez: agora, em julho de 2016, Klebs Júnior, pela editora Instituto HQ, lança o terceiro número de sua série, PÁTRIA ARMADA!

PÁTRIA ARMADA # 3, além de marcar uma virada na vida de Klebs Júnior – já que esta é a primeira série nacional que ele consegue concluir, depois de insucessos de anos passados, como Lilo, o Horror Vivo – marca também uma transição para a editora que ele ajudou a criar. Agora, o Instituto de Quadrinhos, escola, estúdio e editora, se chama Instituto HQ. Nascido em 1998 como uma escola de quadrinhos sob o nome Impacto Quadrinhos, e também preparando seus alunos para atuar no mercado internacional, o Instituto de Quadrinhos passou a ser também editora a partir de 2013. Agora, mudou o nome e o logotipo. E PÁTRIA ARMADA # 3 já é o sexto lançamento da editora.
Vamos relembrar rapidinho: PÁTRIA ARMADA apareceu em dezembro de 2014 – seu primeiro número foi viabilizado através de crowdfunding. O segundo número da série em três partes apareceu um ano depois, em dezembro de 2015. E, agora, em julho de 2016, chega o terceiro número. Que bom que não tivemos de esperar tanto desta vez para ler a conclusão da dramática aventura da Tropa de Impacto do ano 1994 de uma realidade alternativa!
Em paralelo, o então Instituto de Quadrinhos lançou outros álbuns. Nikkei – Implacável Natureza Mestiça, de Guilerme Raffide e Leandro Casco, Aurora, de Felipe Folgosi e Leno Carvalho, e O Caminho, de Roberto de Souza todos em 2015, em paralelo ao segundo número de PÁTRIA ARMADA. E, ao mesmo tempo que PÁTRIA ARMADA # 3, chega, também em julho de 2016, pela agora editora Instituto HQ, o mangá nacional Solstice Ville, de PH Marcondes – que já conta como o sétimo lançamento. E vem mais por aí... Por exemplo, Folgosi, até o momento da publicação desta postagem, está buscando financiamento coletivo para seu segundo álbum, Comunhão.
PÁTRIA ARMADA segue com sucesso de público. Já recebeu até indicações ao troféu HQ MIX, o Oscar do Quadrinho Nacional. E o terceiro número chega com roteiro e desenhos de Klebs Júnior, nanquim de Wellington Diaz, cores de Stefani Renee, letras de Flávio Soares e ilustração de capa de Danilo Beyruth.
Lembremos rapidamente a história. Em PÁTRIA ARMADA, projeto iniciado em 2000 e viabilizado apenas em 2013, somos levados a uma realidade alternativa do Brasil: nessa realidade, o Regime Militar foi abortado em 1964, porém isso acabou mergulhando o Brasil em uma guerra civil interminável entre dois grupos: os Federalistas, que querem a instalação da ditadura, e os Legalistas, defensores da democracia, que tentam impedi-los. O auge da guerra civil foi em 1972, quando duas bombas químicas foram detonadas, matando várias pessoas nos locais onde foram detonadas – São Paulo e Salvador – e contaminando outras, ocasionando, posteriormente, o nascimento de pessoas com superpoderes, os paranormais. Ambos os lados da Guerra Civil, já está revelado, utilizam essas pessoas com dons especiais em suas fileiras de exércitos. Apesar de haver uma trégua entre ambos os lados, esta não vai durar para sempre. Os federalistas começaram a se movimentar para tentar ganhar o poder, mas os legalistas estão preparados...
Bem. Só pelo argumento, PÁTRIA ARMADA já vale as páginas. Mas, se forem perguntar o que Klebs Junior pensa da política atual, melhor fazê-lo a ele pessoalmente, porque apenas pelo leitura de PÁTRIA ARMADA, ficamos com a cabeça coçando. Não temos certeza de que lado Klebs Junior está, realmente: teria sido o Golpe de 1964, na nossa realidade, um mal que veio para o bem, sim ou não?
Bão. O argumento geral da série é legal, mas o roteiro pecou – e continua pecando – pelo andamento da história, que em alguns momentos chegou a ser confuso, e pela pouca empatia que o leitor tem, ou terá, pelos personagens, que mal têm suas personalidades definidas. O humor presente é forçado, e o roteiro exige do leitor um esforço para compreender o que está realmente acontecendo. Tirando isso, é praticamente ação ininterrupta.
A história, passada em um ano 1994 alternativo, se concentra na vida dos soldados da tropa legalista comandada pelo misterioso Coronel Samuel Venâncio, cada um com sua motivação e seu modo de pensar a vida e a realidade nacional. A história começa quando o Coronel Venâncio alista compulsoriamente em suas fileiras a desajustada Cristina Menezes, uma adolescente capaz de manipular emoções, que tem dificuldades de se adaptar ao torturante e humilhante treinamento militar. Porém, ela faz amigos entre os outros paranormais membros da tropa: o amargurado índio Tenente Guari, capaz de manipular eletricidade; o ainda mais amargurado Zeverildo, o nordestino de pontaria precisa; a irreverente velocista Glória de Holanda; o ainda mais irreverente Teco, o GPS humano; o negro gigante Reginaldo “Rasta” Borin; a maternal telepata gaúcha Maria da Graça Koeller; o soldado Gustavo, com poder de soltar fogo das mãos; e a superforte Renata Oliveira da Silva.
Well. Nas edições anteriores, a Tropa de Impacto, a unidade que integra todos esses personagens, ataca uma instalação federalista em Divinópolis, que está produzindo secretamente armas químicas. Durante o ataque, que termina com a destruição da instalação, a Tropa de Impacto descobre outros paranormais nas fileiras federalistas (entre elas a malvada Encosto, com poder de invisibilidade), bem como um plano para detonar uma nova bomba química em São Paulo. A bomba está a caminho disfarçada em uma ambulância, exigindo, portanto, uma corrida contra o tempo por parte dos legalistas. Nas batalhas que seguem há duas grandes baixas: Gustavo, morto durante o ataque à instalação química, e Renata, que aparentemente se sacrifica para impedir que tropas federalistas capturem os soldados. Nos intervalos, os soldados aproveitam para contar suas histórias pessoais, algumas marcadas pela tragédia.
Enquanto isso, há mais gente se movimentando. Na sede do governo, está mais do que claro que políticos representando interesses dos federalistas estão envolvidos na operação – entre eles o chefe das Forças Armadas, Marechal Afrânio, e o duvidoso Bispo Lenir, chefe da Igreja Secular. Já no submundo, um misterioso personagem, o Anarquista, está promovendo ataques terroristas com o objetivo de alertar a população...
OK, a terceira parte começa quando a ambulância contendo a bomba já está a caminho de São Paulo. O episódio começa com o leitor descobrindo alguns segredos a respeito do passado do Coronel Venâncio e o de Graça; e com uma Cristina cada vez mais amargurada porque, além de ter perdido amigos, ninguém responde suas perguntas – o máximo que recebe são palavras de consolo. Mas ela, e os outros paranormais, tem seu papel no desenrolar do capítulo – depende deles impedir a devastação provocada pela bomba, três vezes mais poderosa que as de 1972; o plano é reduzir seus efeitos nocivos com anuladores, a ser jogados dentro da ambulância. Primeiro, vai depender de Graça encontrar, com seu poder telepático, a ambulância; e, depois, vai depender de Cristina, de Rasta e de Guari – principalmente de Cristina conseguir superar seus medos e frustrações – para tornar a bomba inofensiva.
Mas a ofensiva não significará o final do conflito... Novas possibilidades para novas histórias estão abertas.
E, como já conhecemos os personagens, já está mais fácil, nesta edição, criar empatia com os mesmos. São necessárias, claro, várias leituras dos números anteriores para identificar os personagens. O roteiro e os desenhos já estão menos confusos – já conseguimos saber quem é quem na aventura, de que lado estão. Pena não ter final feliz. Ah: e o leitor mais atento irá reconhecer, entre os membros do governo em reunião, alguns rostos conhecidos...
Bem. O gibi tem 44 páginas, contando capa. Inclui, além da história, páginas que simulam propagandas e páginas de revistas de amenidades, que, além de explicar detalhes da realidade de PÁTRIA ARMADA, aumentam a dúvida sobre o pensamento político de Klebs Junior; e tem contribuições de outros desenhistas, fazendo ilustrações pin-up dos personagens: Fábio Laguna e Thiago Ribeiro; José Carlos Silva e Rod Fernandes; Rodrigo Urbano e Arnaldo Pereira; Leno Carvalho e Maurício Wallace; Daniel Brandão e Max Flan; e Wellington Diaz e Áriz. E páginas propagandeando os próximos lançamentos da Instituto HQ.
E temos nova oscilação de preço: PÁTRIA ARMADA # 3 sai por R$ 12,90. Só de lembrar que o # 1 custou R$ 15,00, e o # 2, R$ 9,90... Será mesmo a crise econômica?
E aguardem: para breve, está programado um novo álbum de PÁTRIA ARMADA, desta vez com a colaboração de outros artistas brasileiros! Aguardemos.
Para encerrar, desta vez, resolvi fazer alguns desenhos novos. Faz tempo que não publico neste blog pin-ups de personagens brasileiros. Então, hoje, resolvi fazer duas ilustrações com membros da Tropa de Impacto de PÁTRIA ARMADA – excluídos os que morreram.
Tá, sei o que vocês devem estar pensando. Meu desenho não é digno do Instituto HQ – até porque tenho dificuldades “mils” para desenhar armas O estilo do Instituto HQ é o realista, o desenho “de mercado”, o qual certamente não me encaixo. Mas como bom brasileiro, eu não desisto de tentar me firmar com meu próprio estilo. Se Klebs Júnior conseguiu concluir sua série, por que eu haveria de desistir?
Em breve, novidades aos meus 17 leitores.

Até mais!

Um comentário:

Quiof disse...

Pátria Armada seria lançada em 2000 pela Brainstore como o título Tropa de Choque 1994, mas acabou sendo cancelada.

https://omelete.uol.com.br/quadrinhos/noticia/quadrinhos-de-impacto/